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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Explicando a Lusofonia, sem fazer um desenho…

- Mas afinal o que é essa história de lusofonia? É o facto de falarmos português, é? Todo aquele que fala português é lusófono, é isso?
- Pode ser. É o ponto de partida. Mas acho que a lusofonia é antes de tudo, um processo histórico e vivo, que começou aquando das expedições marítimas portuguesas, e desde então, não tem parado de evoluir. Não contentes de levarem os seus negócios, os portugueses levaram por Oceanos fora aquilo que define um povo: a sua língua, os seus costumes, a sua cultura.
- Peraí... Então tás ma dizer que a tal lusofonia que tem vindo a ser promovida não passa da continuação do colonialismo português? Da imposição e permanência da cultura destes aos povos que colonizaram?
- Não! Eu disse que foi um ponto de partida. É inegável que, se hoje se fala português em terras tão longínquas como o Brasil, Macau, Angola, Moçambique, etc... é porque houve esse processo de Descobrimentos, comércio, colonização. Tudo isso marcou perduravelmente os destinos de todos os povos envolvidos, quer sejam os portugueses, quer sejam os autóctones que eles encontraram em cada porto. Mas hoje, a Lusofonia é mais uma mistura, uma miscelânea de tudo o que constitui a(s) cultura(s) desses povos. Todos eles enriqueceram a lusofonia com palavras, sons, sabores, cores, visões, modos de pensar e de viver. A Lusofonia é uma obra em constante evolução, é pôr à mesma mesa pastel de bacalhau e cachupa, regado com maruvo ou vinho verde, ao ritmo de um semba ou duma marrabenta; é estabelecer um acordo ortográfico pra melhor o desacordar, é viajar até Goa com o Camões, andar descalço no Moçambique Sonâmbulo de Mia Couto, rever o Makulusu na prosa do Luandino Vieira, ver a areia vermelha que se levanta a cada correria pelos musseques de Luanda; é combater com a determinação de Amílcar Cabral, é curtir a nonchalante morabeza cabo-verdiana ao som dum batuco animado; é atravessar o Atlântico e reencontrar em Salvador da Bahia a ginga africana, os sabores do mufete agrementado de especiarias da Amazónia, os mil palacetes de fachadas coloridas e igrejas rococó que ornam a paisagem de Lisboa menina e moça em constante reinvenção...
- Fala sério? Lusofonia é ISSO TUDO?
- Não, meu amigo, a Lusofonia não é só isso! A lusofonia és tu, que ao quereres saber, alargas a definição, incluindo as tuas sensações, memórias, experiências, emoções... E cada pessoa que se interessar, falar, se interrogar sobre os limites e fronteiras da Lusofonia, estará apenas a ampliá-la, a provar quão infinita ela é. Se a Língua Portuguesa é uma Pátria como escreveu Fernando Pessoa, a nossa Pátria comum, a Lusofonia, é a sua História. E por definição, a História está em curso, continua a ser escrita hoje, aqui, agora.
Que tal escrevermos uma linha também?
Pois é!
A Lusofonia é a aculturação de todos os povos que falam a mesma língua e por ela foram assimilando culturas diferentes, natural e historicamente, que começou com o colonialismo, de que ninguém, hoje, tem qualquer culpa, nem deve sentir qualquer arrependimento. Todos os povos, de todo o mundo, de todas as épocas históricas, foram sempre "colonizados", acontecendo hoje e cada vez mais esse processo.
Parece-me obsessiva esta estigmatização do colonialismo (ou será do colonialista?), que ninguém atribui à "Common Wealth", que foi muito mais colonizadora, mais extractora do que absorvente do que a portuguesa.
Claro que neste trabalho muito bem construído pedagogicamente, falta aqui um “novo vector”, o do Comércio (trocas comerciais), em que a língua hoje, é mais um instrumento importantíssimo nas relações globalizadas e que foram a razão primeira das descobertas ou achamentos.
Retiremos os traumas e pecados dos nossos antepassados, colonizados e colonizadores e construamos uma relação fraterna, como se de uma grande família fosse, com as quezílias que a família gera, mas que não podemos escolher.
Já escrevi mais do que uma linha…

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