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sábado, 25 de dezembro de 2010

O mais do que isto/É Jesus Cristo,/Que não sabia nada de finanças/Nem consta que tivesse biblioteca...

“Jesus entre os Doutores”
Em vésperas da maior festa dos católicos, o estilo de liderança de Jesus Cristo pode também servir de fonte inspiradora para os empresários. Ou Moisés, que liderou o povo de Israel para o libertar da escravidão egípcia. Em versão profana, o IN deixa agora gravado em papel os cinco principais mandamentos de cinco líderes de PME portuguesas.
Não matar, não roubar, não cobiçar as coisas alheias. Os 10 mandamentos entregues por Deus ao profeta Moisés nem sempre são cumpridos pelos cristãos. Porque há o homem e a sua circunstância. Mas há algo imutável: a sabedoria dos clássicos, devidamente adaptada ao estilo de cada um.
O empresário Carlos Barbot não tem a presunção de inventar a roda. Prefere utilizar uma "linguagem corrente" para descrever os seus cinco mandamentos da gestão da Tintas Barbot. No lugar dos termos "altamente pomposos" que se encontram traduzidos em "livros de gestão de referência", opta por "traduzi-los de forma simples, directa e sem rodeios".
O primeiro é de uma simplicidade desarmante: "Faz só o que sabes", aconselha Barbot. Contra "a tendência de os gestores terem a ambição de tocar em áreas que não dominam", considera que "apenas devem abraçar projectos para os quais toda a estrutura esteja capaz de dar resposta". Também defende que os líderes de PME devem "concentrar-se num projecto novo de cada vez", e que quem lidera deve ser "reconhecido sem necessidade de afirmação ou fazer por lembrar que 'ali quem manda é ele'". Além de "um pouco de sorte", considera que há que "trabalhar todos os dias". É que, "nos tempos que correm, é preciso estar "sempre alerta". Porque "as oportunidades passam por nós a uma velocidade alucinante."
Mário Ferreira, presidente da Douro Azul, é também defensor de uma gestão pragmática. De uma assentada, debita uma mão cheia de mandamentos: "Gerir bem o tempo; comprar bem; procurar parceiros e parcerias assentes no médio e longo prazo; manter sempre a palavra mesmo que possa sair prejudicado; e ser pontual." Detalhe do terceiro mandamento: "Para comprar caro e vender barato, qualquer um sabe", remata o futuro primeiro turista espacial português.
Mas quando a crise abana os alicerces de uma empresa, a gestão torna-se dura, mais urgente e focalizada no imediato. É o que se passa na Habiserve, promotora imobiliária que esteve à beira da falência. No lugar da anterior e "irresponsável" gestão profissional da empresa, o empresário Vítor Duarte colocou os seus filhos Nuno e Paulo, formados em Gestão de Empresas e que vieram da indústria farmacêutica e da venda de sofás, respectivamente.
A Habiserve já saiu dos "cuidados intensivos", mas continua sob apertada vigilância. Sem surpresas: ter uma tesouraria equilibrada assume-se como um mandamento dourado na gestão dos irmãos Duarte. "A tesouraria da empresa é muito importante, pois uma quebra, nem que seja momentânea, pode trazer graves problemas e pôr em causa todo o trabalho desenvolvido. Por isso, o controlo dos gastos deve ser permanente, bem como o controlo das receitas e a análise dos seus respectivos desvios", justificam.
Já no sector da indústria farmacêutico, o horizonte ganha uma nova dimensão, a inovação um lugar cativo e permanente. E isso lê-se nas boas práticas de gestão traçadas por Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma. Logo à cabeça, o incontornável mandamento da "visão estratégica". Seguem-se a diferenciação pelo domínio das competências e a capacidade de inovar. Já sobre o trabalho, Barradas considera que este "tem de ser levado à exaustão", mas "sempre orientado para os resultados". Finalmente, o accionista maioritário da Bluepharma defende que a comunicação "é a verdadeira chave do sucesso" em qualquer organização. E explica: "Quando os valores da empresa, a visão estratégica e os objectivos são claramente estabelecidos e comunicados, as equipas robustecem-se e transformam em realidade o que antes parecia inalcançável."
Para João Miranda, CEO da Frulact, não há volta a dar: liderança forte, equipa de gestão competente e uma estratégia clara formam o tripé da sua gestão. Acresce a aposta em investimentos criteriosos. Porque "a época de abundância (falsa, diria) parece ter acabado, pelo que aumenta a responsabilidade em seleccionar os melhores projectos que assumam um risco comportável e não ponham em causa o desenvolvimento sustentável". Miranda considera ainda fundamental criar "o melhor ambiente no trabalho".
Nota final: reparou que não leu dois mandamentos iguais?
Rui  Neves
O que quer dizer que as normas “científicas” não existem (ou são elásticas), que a intuição é a regra, mas com formação adequada (e obrigatória) e sobretudo tem que haver valores a defender e a sublimar, faltando acrescentar a responsabilidade e consciência social das empresas e empresários, que está naturalmente colada subconscientemente aos valores.

A TODOS, um BOM NATAaaaAL...

Em 2008 éramos! E agora? Estatísticas para que?

Dados finais do INE mostram que a diferença de rendimentos entre ricos e pobres continua a reduzir-se, mas ainda é de 6 vezes.
"Estima-se que em 2008 o rendimento monetário líquido equivalente de 20% da população com maior rendimento tenha sido 6 vezes superior ao rendimento de 20% da população com menor rendimento", diz o INE no Anuário Estatístico de Portugal.
E apesar das desigualdades se terem atenuado face aos resultados referentes a anos anteriores - (em 2005 o índice foi de 6,7 e em 2003 situara-se em 7) - o indicador continua a reflectir uma situação de maior desigualdade relativamente à média europeia, onde o rácio é de 4,8.
Segundo os mesmos dados, o risco de pobreza atingia em 2008 17,9% da população portuguesa, um valor ligeiramente inferior aos 18,5% registados no ano precedente. O número está no entanto ‘mascarado' pelas transferências sociais, sem as quais o risco de pobreza seria de 24%.
A vantagem dos estudos estatísticos como este é que contam para a história, dado que estão referenciados a 2008, o que nos deixa saudade.
Se servem para avaliar e rectificar o caminho, estamos feitos, porque o presente nem é fruto do passado e não pode ser base para o futuro.
A população residente em Portugal aumentou em 10.463 habitantes no ano passado, ascendendo a 10.637.713 indivíduos, o que traduz uma taxa anual de crescimento de 0,1%, segundo o Anuário Estatístico do INE.
“Este aumento foi totalmente determinado pelo comportamento do saldo migratório, que apresentou um crescimento mais intenso do que no ano precedente, interrompendo o perfil descendente registado desde 2003”, assinala o INE.
A taxa de crescimento natural – óbitos menos nascimentos - foi negativa. A média das taxas de crescimento da população entre 1990 e 2009 foi de 0,3%, que resultou dos contributos do saldo migratório em 0,23% e da taxa natural em 0,06%.
O peso da população idosa mantém a tendência crescente, em consequência das tendências de diminuição da fecundidade e de aumento da longevidade.
A taxa de fecundidade geral reduziu-se em 1,7 p.p. face a 2008.
O índice de longevidade foi de 46,8.
Aqui já se vai até 2009, se calhar para calcularem a Taxa de Sustentabilidade, que é o mesmo que procurar uma justificação tola para sacarem algum aos reformados, só por haver mais idosos, o que dá mais vigor durante mais tempo…
Mais gente para maior taxa de desemprego…
A população activa em Portugal diminuiu em cerca de 42 mil indivíduos (-0,8%) no ano passado, contrariando a tendência de aumento verificada ao longo dos dez anos terminados em 2008, indica o INE.
O emprego diminuiu no ano passado, a uma taxa de -2,8%, contrariando a tendência dos cinco anos anteriores.
No emprego assalariado a maior redução verificou-se nos contratos a termo que apresentaram uma quebra de -1,3%.
Inversamente, em 2009 a contracção do emprego mais do que anulou a criação de emprego registada entre 2004 e 2008.
Mais gente, menos a trabalhar, igual a mais desemprego.
Tudo em 2009. E em 2010? E em 2011?
Bolas, tanto trabalho para nada!

Poema de Natal - Bocage

Presépio - Gregório Lopes, 1490-1550
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.

Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas de, e para a comunidade Lusófona

de Cabo-Verde


de Portugal


do Brasil

Chove. É dia de Natal - Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.


E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.


Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.


Deixo sentir a quem a quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.


Fernando Pessoa

Mesmo assim, este ano ainda há Natal…





Não digo do Natal – digo da nata

Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.

Pedro Tamen

Ecos da blogosfera – 24 Dez.

Do Ladrões de Bicicletas

Natal – Fernando Pessoa

Nasce um Deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
Fernando Pessoa - Poemas Ocultistas

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pobres dos nossos Ricos – Mia Couto


A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem...
Mia Couto

Portugal, afinal não é tão mau como dizemos…

Alexander Ellis, Embaixador Britânico em Portugal
Casado com uma portuguesa, adepto do Sporting
reconhece a capacidade nacional do desenrasca
O Embaixador Britânico em Portugal, Alexander Ellis, estando de saída, em jeito de despedida, deixou-nos um decálogo notável, um desenho a corpo inteiro de Portugal e dos portugueses, que, porventura, nenhum de nós o saberia dizer, menos ainda escrever, já que tem um blogue, “Crónica de um Embaixador”, que o Expresso reproduz.
Para não ficarmos apenas pelo meu negativismo, talvez estas duas crónicas que escreveu nos mime o ego, porque bem merecemos.
Obrigados Sr. Embaixador e um Bom Natal para si!
Coisas que nunca deverão mudar em Portugal
Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento é de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim,  eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade,  para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies  do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples,  acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim-de-semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8.  As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem-feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9.  A curiosidade sobre,  e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes,  nos nomes. Portugal é um pais ligado,  e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10.  Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços.
Feliz Natal.
20 de Dezembro de 2010
E quando voltou, depois de 15 anos
Chegou a época do espírito natalício. Então, deixemos de lado quaisquer miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas - não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há 15 anos. Agora, de volta, quero sugerir 10 coisas, entre muitas outras, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo aqui coisas que já eram, e ainda são, fantásticas (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria). Aqui ficam algumas sugestões de melhorias:
- Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem - o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2008. A experiência de conduzir na marginal é agora de prazer, não de terror. O tempo do Fiat Uno a 180km/h colado a nós nas auto-estradas está a passar.
- O vinho; já era bom, mas agora a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. Também se pode dizer a mesma coisa sobre o azeite e outros produtos tradicionais.
- O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.
- A zona da Expo; era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário entre os melhores que há no Mundo.
- A saúde; muitas das minhas colegas têm feito esta sugestão - a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2008.
Os parques naturais; viajei muito este ano do Gerês a Monserrate ; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.
- O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar - mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.
- A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido ; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e - o mais importante de tudo - não há medo. Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.
- O metro de Lisboa. É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.
- As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria - recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical. Em termos de imagem, parece-me um elogio!
Esta é a minha lista. E a sua?
18 de Dezembro de 2009

UE: 1 análise + 1 comentário + 1 reparo

Gritar Viva a Europa parece ser um brado melancólico. A União Europeia está frouxa, em particular no seu núcleo duro, a zona do euro. A liderança de sentinela está aquém da carga de responsabilidades e desafios. Obviamente nem falo de bufões como o italiano Silvio Berlusconi, mas da dobradinha Angela Merkel/Nicolas Sarkozy. O motor propulsor do projecto europeu são os alemães e os franceses, mas a máquina está emperrada no meio da constante tarefa de apagar incêndios económicos. Alguns desafios e obstáculos no projecto europeu foram subestimados ou deliberadamente ignorados, a destacar a criação de uma união monetária (o euro), sem uma união fiscal.
Obviamente, existe um preço para uma União Europeia mais rigorosa, mais ampla e mais eficiente. Exige menos soberania nacional e aumenta o ónus dos sócios ricos, em particular a Alemanha, para segurar o arrastar, a fragilidade e as indulgências dos sócios mais pobres ou vulneráveis da periferia, que vão de paisecos como a Grécia, Portugal e a Irlanda, a outros, como a Espanha e a Itália, que, se quebrarem, podem levar o edifício europeu ao desabamento. E a periferia precisa de se comportar muito bem.
Relutantes em pagar a conta, os alemães sabem também como é vital preservar o projecto europeu. O país que renasceu da ignomínia nazista na II Guerra Mundial está consciente de que pode ser forte e influente, desde que esteja dentro do santuário europeu. A potência alemã deve proteger e não ameaçar. Porém,  hoje a crise incomoda a sua população, menos inclinada a sacrificar-se pelos primos europeus da periferia. Por outro lado, na periferia, existe ressentimento contra a Alemanha.
Isto exige um jogo político ardiloso da primeira-ministra Angela Merkel. Ela tem compromissos domésticos, mas também continentais. E secundada pelo francês Sarkozy (com o qual muitas vezes não está afinada),  Merkel precisa liderar o coro de que os líderes europeus farão tudo o que for necessário para assegurar a estabilidade do euro e, por extensão, do projecto continental. Nada disso é fácil pela razão da relutância dos alemães em pagar contas e do quadro de inevitável austeridade em vários países europeus que pode trazer instabilidade social e estagnação económica por um bom tempo.
Existem graves problemas económicos na Europa, mas, no fim de contas, as soluções são políticas. Se o caminho inevitável para salvar o euro for uma união fiscal mais rígida, um grande desafio será vender o projecto em termos políticos. Na expressão da empresa de consultoria e análise de risco Stratfor,  uma união mais sólida vai significar decisões sobre taxação e apropriação, ou seja, quem paga, quanto e como, para quem. E aqui estamos a falar de actos políticos, intromissão na soberania nacional e um aprofundamento de iniciativas colectivas. É difícil imaginar uma centralização fiscal sem uma efectiva autoridade política (e militar),  igualmente centralizada. E realmente eu não sei dizer de cabeça quem é o Presidente-fantasma da União Europeia (na informação inútil, é o belga Herman van Rompuy).
Infelizmente, parece que a Europa não está preparada hoje para passos tão largos, embora, ironicamente, a urgência da crise talvez os apressem. Claro que o resultado pode ser tombos maiores ou passos insuficientes diante dos buracos imensos no meio do caminho. Uma crise não manejável em países mais importantes da zona do euro, Espanha ou Itália, pode ser maior do que as promessas ou mesmo do reforço  da rede de protecção para ajudar os sócios do clube europeu em situação dramática. No cenário de défice e divida na Europa, existe um superávit de cépticos se o euro e o projecto europeu vão aguentar o desafio. Para os cépticos, a execução ficará a cargo dos alemães, com a paciência exaurida para arcar com tantos pacotes de resgate.
O colapso europeu será uma tragédia e não apenas para os europeus. O mundo precisa de uma Europa forte e integrada, que irradie os seus valores e lições históricas. Em países emergentes existem surtos triunfalistas de que a era dos EUA e da Europa já era. É verdade que a União Europeia em muitas situações colide com os primos dos Estados Unidos da América, mas as suas convergências são muito maiores do que as divergências. Ainda bem. Está aí um bloco que propaga o melhor modelo para a humanidade no que respeita à democracia, ao império da lei, à obediência aos contratos e a um estado, que embora excessivo e oneroso, em especial na Europa, está ao serviço do cidadão.
A Europa, em particular, com os esforços de integração no pós-guerra, é um exemplo de repúdio pelos conflitos militares e acomodação de diferenças religiosas, étnicas, culturais e ideológicas. Claro que é um projecto imperfeito e que de certa forma peca pela ambição. Em contrapartida, a ambição é uma virtude em muitas situações.  É um conforto escutar a voz da Europa quando países da Ásia, África e América Latina descambam na violação dos Direitos Humanos. Muita gente rebate que os europeus com o seu passado colonial e barbaridades dentro de casa não têm moral para pontificar e se intrometer. Pelo contrário. A velha Europa errou e aprendeu. Tem muito para dizer e vamos esperar que o seu projecto de união sobreviva e se consolide.
Caio Blinder – “veja” – Nova York
Comentário de Abílio Santos
Enquanto português e europeu, sinto necessidade de temperar a minha análise da realidade com uma perspectiva de “Novo Mundo”.
O projecto europeu não existe, nunca existiu e não vai existir(?). É muito mais um projecto de neocolonização institucional do que um projecto económico, social ou político. Como sabe, na sua génese está a necessidade de regular o mercado (vital para a reconstrução pós-guerra) do carvão e do aço em cinco países da Europa Central e progrediu para a regulação económica geral desse espaço. O problema é que essas nações renascidas da guerra não sabiam nem pretendiam operar num regime de mercado livre, aberto e concorrencial e necessitavam de um mercado proteccionista e ampliado. É assim que se processa a expansão até os actuais 27.
A actual crise económica foi sendo anunciada ao longo dos últimos anos através das políticas europeias (eufemisticamente apelidadas de integração ou de solidariedade), que mais não fizeram que definir as melhores condições de operação económica para os mesmos 5 países (com algumas excepções pontuais). Em troca de transferências de capital, aniquilaram (informar-se sobre PAC-Política Agrícola Comum e outras políticas industriais e comerciais) os sistemas produtivos de países periféricos ou com menor representação política. Portugal, por exemplo (como muitos outros países europeus) é pago para não produzir agro-alimentares ou para destruir a sua frota pesqueira, ou focar o seu desenvolvimento industrial – tudo sempre visando diminuir a concorrência interna. Estas nações usufruíram de transferências financeiras significativas ao longo dos anos, mas destruíram a capacidade produtiva – gerando menos riqueza que o seu potencial e sofrem de maior necessidade de investimento com “natural” recurso a financiamento externo para financiar a sua economia. Hélas! Entende-se melhor a opção do Reino Unido, Noruega ou Suíça… O saldo económico da entrada na UE para países como Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia, “Ex-Leste Europeu”, até mesmo a Itália, é francamente negativo.
A Europa continua a ser um excelente lugar para se viver.
Os europeus da minha geração (40) são muito diferentes dos europeus arrogantes que vejo mencionados nos comentários abaixo.
Quem conhece a Europa, sabe que é uma sociedade fervilhante, solidária e culta – Este é o maior património da Europa.
A Europa ainda é um lugar onde se podem cultivar valores e ser uma referência civilizacional, mas apenas se se livrar da UE tal como existe hoje: Ou avança para um federalismo pleno ou liberta os estados membros do jugo neocolonial que se instalou.
Abílio Santos
A análise de Caio Blinder, no blogue da “veja”, retirando a classificação de paisecos a alguns países europeus com história e cultura que chegue para dar e vender, é correcta, mas com as achegas do português, Abílio Santos, nos comentários, levanta quase todos os problemas e “soluções” para o processo de consolidação da União Europeia, mais como uma Cultura, do que uma Sociedade Anónima. Mas…
Quer o artigo, quer o comentário, omitem nas soluções, com que concordo, a legitimidade democrática dos líderes europeus, que tem que advir de eleições, com os votos das populações dos 27 países, com Partidos (de todos os países e aliados por famílias ideológicas), Programas (dos respectivos Partidos/Famílias) e Candidatos (de todos os países).
Se a democracia não for o aval para um Governo (Federal) Europeu, ficará tudo na mesma, com os “donos da bola” a mandarem nos jogadores e nos árbitros e com os resultados viciados, que é o que está a acontecer com a Comissão Europeia e tantos outros órgãos de “tecnocratas”, designados.
Deitemos todos os "muros" abaixo, outra vez! 

Ecos da blogosfera – 23 Dez.







Auto-retrato – Ângelo Ochôa
Olhos castanhos, gordo, agreste cara;
meio bronco nos pés; alta postura;
aspeito incerto, de alegria ou de tristura;
nariz dobrado a meio, feroz, torto;
ânimo vário, mas mais brando agora;
co’a idade inclinado a mover-se-lhe coração ferido;
p’los cafés matando os dias;
a sorrisos gentis nunca insensível, digo, a cândidas musas;
quase só p’lo confesso suportando padres;
eis Ochôa: Luas asas lhe deram desta a devaneio.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social?

“Nunca na história de Portugal houve tantos desempregados. Nunca foi tão fácil despedir”. As palavras são da deputada do BE, Mariana Aiveca, no arranque do debate de urgência, no Parlamento, sobre as alterações às leis laborais, que acusou o Governo de declarações contraditórias nos últimos dias e criticou a criação de um fundo para financiar os despedimentos.
“O fundo terá dinheiro, mas não dizem de onde vem. Adivinha-se a solução espanhola, com o financiamento pelos impostos e pela Segurança Social”, sugere e conclui: “O trabalhador pagará o seu despedimento”.
Portugal ou Espanha: onde é mais caro despedir? A resposta varia conforme o motivo, do número de anos de casa do trabalhador e da sua remuneração.
Mas uma coisa é certa: quando se trata da não renovação de contratos a prazo as empresas nacionais ficam em clara desvantagem, isto porque, na Espanha se exige 8 dias de indemnização por ano trabalhado e em Portugal a indemnização é de 3 ou 2 dias por cada mês. Ou seja, num contrato a 6 meses, a empresa espanhola paga 4 dias de indemnização, já a empresa portuguesa tem de pagar 18 dias (3 por cada mês).
Nos casos em que a lei fixa indemnizações mínimas às empresas, as situações variam muito. Por exemplo, o despedimento colectivo é mais barato em solo português, já que o processo é mais fácil e simples: “Em Espanha o processo é muito difícil, as empresas acabam por pagar muito acima do estipulado na lei”.
A ministra do Trabalho e da Solidariedade Social disse que é “prematuro” falar na criação de um Fundo Social para ajudar à despesa com os despedimentos, porque o assunto está na agenda da discussão com os parceiros sociais.
“Não podemos estar já a prever o resultado da negociação, e só no final é que veremos as conclusões em relação a algumas ideias e propostas”, disse Helena André.
A ministra do Trabalho acredita que “das negociações irão, certamente, sair medidas que possam potenciar o desenvolvimento do país”, nesta altura de grandes dificuldades económicas.
Um dos objectivos é “apoiar as empresas e os trabalhadores a responderem à mudança em termos de mercado de trabalho, de processos de produção e de competitividade”, disse.
Traduzindo.
Quando uma especialista em Trabalho vem dizer que não se pode prever o resultado da “negociação” sobre o tal Fundo para facilitar o despedimento, está a quer dizer que, sendo especialista, já sabe. Por isso lhe chama Fundo Social, o que quer dizer que é o Estado que vai inchar e dá razão à Deputada do BE, quando diz que é o próprio trabalhador, mais os restantes contribuintes, que vão pagar um “seguro”, porque os empresários já dizem que vão “retirar o cavalinho da chuva”…
Quando uma especialista em Trabalho vem dizer que os objectivos são, apoiar as empresas e os trabalhadores a responderem à mudança em termos de mercado de trabalho, de processos de produção e de competitividade, quer dizer que está em curso um processo para facilitar os Despedimentos (beneficiando os “empresários”), que os processos de produção vão melhorar (substituindo os trabalhadores por robots) e que a COMPETITIVIDADE, com a Espanha, os restantes países e até com os orientais, será feita apenas com a baixa do preço do trabalho em Portugal (a solução mais básica, à merceeiro e à portuguesa).
Já está tudo escrito, com sinais de fumo, e onde há fumo há fogo…
Grande especialista, com um grande currículo! Só lhe falta ser Socialista...