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sábado, 1 de janeiro de 2011

É tempo de Balanço para se saber quem está a ganhar

O comércio entre a China e os países lusófonos aumentou 50% entre Janeiro e Novembro, atingindo 63 mil milhões de euros, face a igual período de 2009, segundo dados oficiais.
As estatísticas dos Serviços de Alfândega da China indicam que a China comprou entre Janeiro e Novembro deste ano, aos 8 países de língua portuguesa, produtos no valor de 42,6 mil milhões de euros contra vendas aos mesmos países de 20 mil milhões de euros. Estes números traduzem aumentos homólogos nas importações chinesas de 45% e nas exportações da China de 60% relativamente a 2009.
O Brasil é o principal parceiro lusófono da China com um volume de trocas comerciais de 43 mil milhões de euros, mais 47,4% do que entre Janeiro e Novembro de 2009. As exportações da China para o Brasil totalizaram 16,4 mil milhões de euros – mais 78% – enquanto as importações atingiram 26 mil milhões de euros, mais 32,8% relativamente a 2009.
Com Angola, o 2º parceiro entre os países de língua portuguesa, as trocas comerciais atingiram 17 mil milhões de euros, mais 57,8% do que nos primeiros 12 meses de 2009. As compras chinesas fixaram-se em 16 mil milhões de euros – mais 70,3% – e as vendas totalizaram 1,3 mil milhões de euros, menos 14%.
Para Portugal, o 3º parceiro comercial da China, seguiram mercadorias chinesas no valor de 1,6 mil milhões de euros, contra compras chinesas de 512 milhões de euros, valores que traduzem aumentos de 32,4% e 60,7%, respectivamente. Até Novembro, as trocas comerciais entre Portugal e a China atingiram os 2,2 mil milhões de euros, mais 38% do que em igual período de 2009.
Só em Novembro, as trocas comerciais entre a China e a lusofonia atingiram 6,2 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 21% face a Outubro, com as importações da China a atingirem 4,2 mil milhões de euros e as exportações a acumularem 1,9 mil milhões de euros.
Em 2003, a China estabeleceu Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com a lusofonia.
Lusofonia à parte, mas tendo em conta os objectivos da plataforma de Macau, é tempo de se fazer um balanço, para verificarmos se há cooperação ou aproveitamento económico/comercial.
Sem contas precisas, mas numa análise “a la minute”, verificamos que a China importou mais dos países lusófonos, do que antes, o que nos leva a recordar a “sentença” de Samora Machel, que dizia que, num negócio, ou ganham as duas partes, ou não é negócio.
Verifica-se também que o Brasil é o “melhor” parceiro comercial da China, já que tem o maior volume e ganhou em exportações.
Com Angola aconteceu o mesmo, com valores menores, mas maior percentagem de exportações.
Com Portugal (o pai da língua), os valores do comércio são residuais e as exportações tiveram um défice.
Na globalidade dos 8 países lusófonos, apenas sobraram para os restantes 5 países, 800 milhões de euros, o que é mesmo residual, ou inexistente.
Resumindo, a política comercial da China, apoiada na lusofonia, beneficia os países emergentes, traz prejuízos para Portugal e esquece-se dos países mais pobres. Que é o mesmo que dizer que, nem tudo está bem.
Repescando a sentença de Samora, as “regras” têm que mudar, para se ter direito a falar de lusofonia e economia, ou seja, em NEGÓCIO.
Olho vivo!

Electricidade sem extras, já? Querias…

Um dos grandes objectivos da Petição pela redução dos Custos de Interesse Geral na electricidade será cumprido a 13 de Janeiro. O debate promovido pelo grupo parlamentar do PSD conta com a presença da DECO, da Confederação da Indústria Portuguesa, da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos e da EDP.
As 169.474 assinaturas de consumidores recolhidas em apenas 15 dias na iniciativa foram entregues a 14 de Dezembro. Numa semana, as audiências foram rapidamente marcadas. A DECO reuniu-se com os grupos parlamentares e com a Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia.
O Presidente daquela comissão, o deputado do PS, António José Seguro, que será o relator da petição, reconheceu que “a sensibilidade a esta petição é imensa. O movimento cívico exige a clarificação do pagamento de um serviço essencial.”
Acompanhe os desenvolvimentos desta acção no portal da DECO, em:
Na continuação do movimento cívico que abordou a Petição da DECO, ficamos à espera do resultado, mas sobretudo da argumentação para continuarmos como dantes…
Em Democracia, também é assim. 

O MELHOR 2011, com as migalhas de 2010!

Ecos da blogosfera – 1 Jan.

Do Ladrões de Bicicletas

Será que é por sermos bonzinhos que nos lixam?

Portugal é dos países europeus que mais defende a igualdade de direitos entre religiões. A conclusão é de um estudo elaborado por uma Universidade alemã sob a orientação de um Sociólogo das Religiões e divulgado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.
O documento “Religião e Política” revela que 89% dos portugueses crê que todos os grupos religiosos devem “ter direitos iguais”, seguidos pela: França (86%), Dinamarca (72%), Holanda (82%) e Alemanha (49% no Oeste e 53% nas regiões ocidentais).
A pluralidade religiosa produz conflito ou enriquecimento cultural? 80% dos portugueses voltaram a revelar-se tolerantes, a par dos dinamarqueses e holandeses. Seguiram-se os alemães (70%) e os franceses (59%).
Somos os primeiros em alguma coisa!
É bonito saber que somos bons e sobretudo tolerantes, mas é um bocado deprimente sermos levados a pensar que, por isso, abusam da gente, mesmo que não seja por isso.
Não sei se vem a propósito, ou tem ligação, mas a Alemanha da Sra. Merkel, continua dividida dentro de si, até no preconceito e dentro da Europa, pelo mesmo preconceito (50% de intolerantes). E este(s) preconceito(s) tem que ter reflexo no dia-a-dia, como se tem visto e ouvido, há quase um século e nunca mais se convertem.

Mais vale tarde do que “Já! Agora!” Entretanto…

O Ministério das Finanças adiou para 2011 as mudanças na regulação do sector financeiro previstas para 2010, que tinham sido anunciadas em 2009.
A reforma da supervisão financeira em Portugal vai introduzir um novo modelo, em que só haverá 2 entidades, quando actualmente existem 3 (BdP, CMVM e Instituto de Seguros de Portugal).
O BdP deixará de ter toda a supervisão da Banca, para passar a ter apenas a sua Supervisão Prudencial, competência que alargará também às seguradoras e intermediários financeiros. Uma nova instituição, com base na CMVM, ficará com responsabilidade sobre a Supervisão Comportamental destas entidades.
O Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças disse que “a aprovação do novo modelo de supervisão financeira fica adiada para 2011”, o que levará a ajustamentos no calendário da sua aplicação, que está previsto para demorar cerca de 3 a 6 meses.
A crise financeira que se declarou no final de 2008, na sequência da falência do banco de investimentos dos EUA, Lehman Brothers, e a necessidade de os Estados do Ocidente injectarem quantias maciças de dinheiro no sistema financeiro para evitar a sua falência sistémica, evidenciou a necessidade de reformas, que nalguns casos já estão decididas.
EUA e Reino Unido já aprovaram novas regras para a banca e na União Europeia arranca um novo modelo no dia 1 de Janeiro, no âmbito do qual serão criadas 3 autoridades europeias para supervisionar os bancos, as seguradoras e os mercados, com sede em Paris, Londres e Frankfurt. Será também criado um Conselho Europeu para prevenir riscos sistémicos.
A supervisão continua a ser competência em primeiro lugar dos Estados, mas a UE passa a dispor de um sistema de vigilância e arbitragem comum.
Ou seja, em 2008 concluiu-se que havia necessidade de reformas na supervisão financeira para prevenir riscos sistémicos, anunciou-se em 2009, para entrarem em vigor em 2010. Mas, o nosso Governo achou que não havia pressa, porque havia mais regulamentação e mais importante a fazer (taxas moderadoras e viagens de ambulância, etc.) e deixou para 2011, que entretanto folgam as costas. E regulamentar de forma a abranger a “Supervisão Prudencial” e a “Supervisão Comportamental”, não se faz do pé para a mão…
Finalmente, já se começa a dizer com à vontade, que os Estados (neoliberais) do Ocidente injectarem quantias maciças de dinheiro (dos contribuintes) no Sistema Financeiro para evitar a sua falência sistémica, o que não aconteceu no nosso território (mas entramos pelo BPN dentro).
Vão gozando com o POVO…

Este é o sabor - Pedro Tamen

Ponte de Yoko Okuyama
Isto é o que se oferece à delicadeza das mãos
este é o árido mar em que os ramos não servem
este é afinal a maravilha sonhada
tão diferente dos sonhos
este é o vento que resta para os ventos da ressaca
este é o clima temperado
mas já sem especiarias
isto é o pífaro de lata o cavalinho o bote
estes são os alísios que mais ninguém recebe
nas faxes disponíveis
essa é a cor de asno fugitivo
esta é a manhã com lua
este é o sapato mais que o pé
esta é a cama com mulher nenhuma
lençol e cobertor colcha e colchão
este é o som silenciosíssimo
impossível de imaginar
é a pêra de terra é a marga tão clara
nada frutificado
nada santificado
nada petrificado
esta é a ponte passadiça
a ponte passageira
que se passa parado
que se passa passado.
Pedro Tamen

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo, porque o Natal já era...

O RELÓGIO – Ary dos Santos

(adereço conceptual para usar no pulso)
Pára-me um tempo por dentro.
Passa-me um tempo por fora.
O tempo que foi constante
no meu contratempo estar
passa-me agora adiante
como se fosse parar.
Por cada relógio certo
no tempo que sou agora
há um tempo descoberto
no tempo que se demora.
Fica-me o tempo por dentro
passa-me o tempo por fora.
Ary dos Santos

Balanço de 10 anos. Aprendemos, ou constatamos?

X Lições dos primeiros X Anos do Século XXI – in “Público”
A desregulamentação do sector financeiro provocou a crise e deixou aos Governos a tarefa de a resolver, à custa dos contribuintes. Alguns Estados ficaram presos nos mercados de dívida. Foi uma lição esquecida da Grande Depressão do séc. XX.
Quando o poder económico se desloca do Ocidente para o Oriente e a crise financeira acelera essa transferência, mudam também as condições do combate pelos valores universais que ainda vemos como património da humanidade.
Durante sete anos consecutivos o país foi governado por maiorias absolutas. Primeiro à direita, em coligação. Depois à esquerda, por um só partido. Mas o tipo de base parlamentar dos governos pouco influiu no desenvolvimento da sociedade.
Há duas alternativas para o futuro: ou a organização da zona euro muda, avançando para uma união mais forte, ou Portugal terá de se desenvolver pelos seus próprios meios. Mas, em 2002, já sabíamos que o crédito fácil não chegava para crescermos.
O mundo deixou de ter um "centro" para ter vários. A Ásia adoptou os pilares da sabedoria ocidental e ressurge. Não é do "declínio" americano ou ocidental que se trata, mas da "ascensão do Resto" do mundo.
Os fracassos mais evidentes da década revelam os seus próprios porquês. Vencer, por exemplo, o desafio das alterações climáticas e da biodiversidade - dois problemas com vastas implicações sobre o planeta - implica mudar o paradigma da sociedade.
Desde que Giordano Bruno foi queimado pela Inquisição por ter falado, no século XVI, de outros sóis com planetas à volta que a humanidade se confronta com esta questão: estamos sozinhos no Universo? Na última década ficámos mais perto da resposta.
O jovem criador do Facebook, Mark Zuckerberg, criou uma nova forma de sociabilizar (e um negócio multimilionário) ao perceber que estamos dispostos a partilhar muito mais do que julgávamos possível há poucos anos. Porém, o sucesso da rede social mais usada em todo o mundo não é um fenómeno isolado daquilo que se foi passando no resto da Internet ao longo de uma década em que a partilha foi um conceito-chave.
As relações entre as pessoas mudaram radicalmente em dez anos. Hoje a identidade de género e da liberdade sexual é uma realidade espelhada nas leis: despenalização do aborto, casamento gay, mudança de identidade de género e sexo.
No espaço de uma década, o consumidor de drogas passou de criminoso a doente. A estratégia de combate à toxicodependência aplicada em Portugal rompeu com a abordagem moralista. Hoje é elogiada na Europa, mas há muito por fazer.

Queriam passear de ambulância e à borla, queriam?

O Ministério da Saúde vai deixar de garantir, a partir de 1 de Janeiro, o pagamento do serviço de transporte de doentes não urgentes que tenham rendimentos superiores ao salário mínimo nacional.
Esta decisão surge na sequência de uma auditoria encomendada pela Autoridade Central do Sistema de Saúde e realizada pela Price Waterhouse Coopers, em que concluiu que as 5 Administrações Regionais de Saúde gastaram 94,1 milhões de euros em 2009, tendo detectado situações de facturação de viagens fictícias, pagamentos em excesso e reembolsos sem o respectivo comprovativo, entre outras irregularidades.
No despacho ontem publicado em Diário da República que determina que o pagamento do transporte de doentes não urgentes é garantido aos utentes nas situações que “preencham simultaneamente os seguintes requisitos: em caso que clinicamente se justifique e em caso de insuficiência económica”. No primeiro caso, “a justificação clínica é feita pelo médico e deve constar no processo clínico do doente e da respectiva requisição”.
Até parece que os familiares de um doente, que independentemente da situação clínica, até poderá ter dificuldades motoras, chamam uma ambulância para passear o “enfermo”.
Embora se diga que tudo vai ser regulamentado (nestas coisinhas há regulamentação e minuciosa) como será possível que o médico, que não está próximo do doente, dê o aval para a viagem? E se precisar de ir de helicóptero, o custo da “bandeirada” será o mesmo?
Fazendo contas e se alguém for mais que uma vez ao mês, viagens mais taxas moderadoras, lá se vai a pensão/reforma. E serão estes gastos reduzidos no mês seguinte aos 485 €?
Sorte, sorte, tem quem ganha 480 €!
Mesmo assim, Bom Ano!

CARDÁPIO - Astrid Cabral

Nosso cardápio diário
inclui carnes assadas
e angústias bem passadas.
Inclui sangrentos nacos
cobertos de molhos pardos
que sabem a desgosto.
Inclui mil hipocrisias
devidamente empanadas
e servidas à francesa
bem antes da sobremesa
de frutas esquartejadas.
Inclui entre as iguarias
amizades congeladas
sonhos em banho-maria
deleites de amor requentado
em rançosos azeites.
Ódios com pó de pimenta
e as trémulas gelatinas
de dúvidas coloridas.
Inclui o tédio guarnecido
de exóticos temperos.
Inclui o medo camuflado
em camadas de batatas.
Inclui a morte servida
sem o menor escrúpulo.

Astrid Cabral

Ecos da blogosfera – 31 Dez.

O "cabaz de Natal" dos professores e da escola pública

 

Do Octávio V. Gonçalves

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sinopse do debate Cavaco vs Alegre

Na "Aldeia da Roupa Branca" são proibidas lavagens

Lavagem das escadas da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim
O papa Bento XVI vai publicar na quinta-feira um Decreto para combater a lavagem de dinheiro, anunciou o Vaticano, 3 meses depois da abertura de um inquérito contra dois dirigentes do Banco do Vaticano (IOR).
O Decreto, ou “motu proprio”, destina-se à “prevenção e luta contra as actividades ilegais no domínio financeiro e monetário” e vai instaurar uma Autoridade de Informação Financeira do Vaticano.
O documento vai também criar uma lei sobre “a prevenção e luta contra o branqueamento de dinheiro proveniente de actividades criminosas e o financiamento do terrorismo”, segundo comunicado do Vaticano.
Segundo a agência especializada em informações religiosas i.Media, estas disposições permitirão, a prazo, que o Vaticano integre a lista dos Estados respeitadores das normas da luta contra o branqueamento, a chamada “lista branca” da OCDE e do GAFI.
Em meados de Setembro, o Presidente do Instituto das Obras Religiosas (IOR - Banco do Vaticano) e um outro dirigente começaram a ser investigados pela justiça italiana por presumível violação da lei italiana contra o branqueamento. Os dois dirigentes não são suspeitos de branquearem dinheiro, mas de omitirem movimentações de fundos de um total de 23.000.000 €.
O Vaticano, que manifestou a sua “perplexidade e estupefacção” a propósito dessa investigação, afirmou na altura uma “vontade clara, manifestada várias vezes, de total transparência no que diz respeito às operações financeiras do IOR”.
Conhecido como o “banco dos padres”, o IOR gere as contas das ordens religiosas e das associações católicas. É uma estrutura que beneficia do estatuto extra-territorial atribuído ao Vaticano, pelo que não está obrigada a respeitar as normas financeiras em vigor para os bancos italianos, no entanto, desde 2003, a justiça italiana tem competência para investigar o IOR e o Banco de Itália para o supervisionar.
Para não parecer falso moralista, não vou classificar a “violação”, só por ser dentro da instituição religiosa católica. A história recente já mostrou que, independentemente das ideologias, ou dos sistemas, na prática quem as/os viola são as pessoas, só porque são pessoas.
De salientar, com a mesma isenção, que no caso, o órgão máximo (político) da instituição reagiu imediatamente, para eliminar as causas e assim sanar os efeitos.
Quem dera que este comportamento servisse de exemplo para os nossos políticos e não só, precisamente na área da Banca e das Finanças.
Mas por cá, Santo só temos o Teixeira e a Moral parece andar arredada da política…

Com 1% do total dos gastos, o SNS já está garantido!

Os desempregados com rendimento superior ao Salário Mínimo Nacional (485 €) vão começar a pagar taxas moderadoras a partir de 1 de Janeiro de 2011.
Com a imposição deste limite, também os Reformados que recebam mais de 485 € deixam de estar isentos das taxas.
A medida abrange ainda os cônjuges e filhos menores, tanto no caso dos desempregados inscritos nos centros de emprego, como os pensionistas. No caso dos pensionistas, para continuarem a beneficiar do regime especial de comparticipação de medicamentos, terão de provar que a soma dos rendimentos do agregado familiar, dividida pelo número de pessoas, não ultrapassa os 14 salários mínimos (6.790 €).
As taxas moderadoras representam cerca de 1% do total dos gastos da Saúde.
“Quando um Governo aumenta as taxas moderadoras é porque já ultrapassou as fronteiras da razoabilidade”, disse António Arnaut, criador do SNS, considerando a alteração, mesmo implicando apenas um pequeno aumento “tem um significado verdadeiramente anti-ético”.
Arnaut sublinhou que “a saúde é um direito fundamental” consagrado na Constituição da República como “tendencialmente gratuito e não tendencialmente pago”.
“Um socialista ético não pode tomar uma medida destas”, criticou, frisando que “esse aumento, apesar de reduzido, vai sobrecarregar muitas pessoas que contam o seu dinheiro por cêntimos”.
O socialista defende que “se os sacrifícios fossem equitativamente repartidos, não seria necessário estendê-los às classes que são sacrificadas há milénios”, afirmando que “os mais carenciados, que precisam de mais protecção do Estado, continuam a ser sacrificados”.
Acrescentando que se deixaram “imunes a estes sacrifícios os grandes capitalistas que auferem grandes rendimentos”, referindo-se à distribuição dos “dividendos de meia dúzia de grandes empresas, como a PT”. Frisou ainda o princípio ético do Estado Social, onde cada um deve pagar impostos segundo as suas possibilidades.
Com 1% de “poupança” para começar a comprar um direito fundamental, não é anti-ético, é proscrição.
E ainda bem que não aumentaram o Salário Mínimo Nacional. Há males que fazem bem à saúde. 
Afinal ainda HÁ UM SOCIALISTA!

Na Madeira (Portugal) e na Europa a Pobreza é brutal

Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz foi um dos intervenientes no seminário 'Pobreza e Exclusão Social'
Veio à Madeira falar de pobreza. Que conceitos de pobreza abarca esta definição? Quando falamos de pobreza falamos do quê?
Quando falo de pobreza falo no sentido seguinte: A pobreza tem duas componentes. Por um lado implica uma situação de privação, em que as pessoas não têm as suas necessidades humanas básicas satisfeitas. E necessidades humanas básicas não são só materiais, são culturais, são sociais, são espirituais. Mas é preciso que essa situação de carência seja devida a falta de recursos. Porque se não for devido à falta de recursos, o problema não representa um problema de pobreza mas um problema social, que até pode ser grave, mas não é pobreza. Daí que eu diga que a luta contra a pobreza tem de resolver dois problemas: O problema da privação (uma pessoa que não tem para comer, tem que ter para comer), sob o signo da emergência. Mas, além disso, tem que ajudar a pessoa a conquistar a sua autonomia financeira, a sua autonomia em matéria de recursos. Senão a pessoa fica eternamente dependente de meios extraordinários e isso não é libertá-la da pobreza. A pessoa só fica liberta da pobreza quando tem meios próprios para viver como as outras pessoas.
É por isso que o professor defende que "a pobreza é a cauda da desigualdade"?
A desigualdade não é só em matéria de recursos. A desigualdade abrange todos os aspectos que interessam à vida das sociedades e das pessoas. A desigualdade tem uma cauda. E essa cauda, segundo um autor inglês, define e pobreza como sendo a cauda da desigualdade. Porque a desigualdade, enquanto conceito, é um conceito comparativo. É uns têm mais do que outros. Ao passo que a pobreza não. Ela, além de ser, 'outros têm mais do que os pobres', há o problema de que, aquilo que o pobre tem, não chega para satisfazer as necessidades humanas básicas.
É por isso que o paradigma mudou e hoje é "os pobres são pobres, porque os ricos são ricos"?
Esse é um paradigma que um economista está a lançar neste momento. Precisamente porque ele deu conta de que o paradigma anterior que falava do ciclo de pobreza como sendo 'os pobres são pobres porque os pobres são pobres'. Por outras palavras: uma vez entrado na pobreza é muito difícil sair dela. Este conceito não tem em conta o reflexo da desigualdade sobre a pobreza. Ele quer que a gente analise a pobreza, também à luz da desigualdade. É por isso que diz que o paradigma novo tem de ser 'o pobre é pobre, porque o rico é rico'.
O professor defende que é preciso 'dar o peixe e também a cana'?
Exactamente. Estamos um pouco habituados a ver o problema em termos de alternativa. Ou o peixe ou a cana. O problema não se põe assim. É preciso 'o peixe' porque a pessoa tem de comer imediatamente e não pode 'ir pescar'. É preciso dar o 'peixe' mas não basta porque a pessoa fica sempre dependente de quem o vá 'pescar'. É por isso que, além de 'dar o peixe' é preciso 'dar a cana' para que ele se torne autónomo.
Qual o diagnóstico da situação? Quais são os factores geradores de pobreza?
Não tenho o conhecimento do que se passa em particular na Madeira. Mas pelo que se passa em Portugal, em geral, há três áreas onde é preciso actuar para combater a pobreza: A área da Educação e Formação Profissional; a área do Mercado de Trabalho e sistema de salários. Há pobres que estão empregado. E, portanto, o problema não é do desemprego, é de baixo salários. O desemprego não estava muito representado entre os pobre mas agora, com a crise, vai passar a estar. Só que ainda não temos estatísticas sobre a pobreza depois da crise. Estou à espera que se publiquem para ver qual a importância do desemprego entre os pobres. E, finalmente, o Sistema de Segurança Social. 1/3 dos pobres portugueses são pensionistas. Porque as pensões estão abaixo do limiar da pobreza. Sem 'mexer' com a Segurança Social de forma a que a pensão mínima tenha, pelo menos o valor do limiar de pobreza, também não se pode resolver a pobreza dessas pessoas.
Tem-se por assente, e as estatísticas valem o que valem e cada um as usa como quer, mas tem-se por assente que, à volta de 20% da população portuguesa é pobre. Estamos a falar à volta de dois milhões de habitantes...
Sim. Há quem fale em 17%, 18%, 20%. Ultimamente tem sido mais à volta de 18%.
Mas a tendência de 2002 para cá tem sido de decrescer para atingir, em 2015... Se continuarmos a esse ritmo, em 2015 ainda seremos à volta de um milhão e meio de portugueses pobres. À volta de 15% da população.
E na União Europeia, qual é o panorama?
Na União Europeia, o objectivo que está definido pelo Conselho Europeu é que, dos 80 milhões de pobres que há na UE, passem para 60 milhões no ano de 2020.
E com as políticas que estão a ser traçadas, com a crise económica que aí temos, é possível atingir esse objectivo? Não sei se será possível ou não. Acho que é um objectivo pouco ambicioso mas foi o que o Conselho Europeu decidiu.
No estudo que fez, em relação à Madeira, o professor apresentou um gráfico...
Sim, mas o estudo não é sobre a Madeira...
Sim, mas há um gráfico indicativo sobre a pobreza em que teríamos cerca de 30% de pobres persistentes [ao longo dos seis anos que durou o estudo] e 88% de pobres de longa duração [em situação de pobreza durante dois ou mais anos]. Tem dados mais recentes sobre a realidade madeirense? Isso é durante o período de 1995 a 2000.
E estaria disposto a fazer um estudo sobre a realidade?
Isso não depende de mim. Depende das pessoas que promovam a feitura de um estudo. Que pode ser uma entidade pública ou privada. Isso não depende de mim e depende das condições de trabalho com que se poderia fazer um estudo desses.
É o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz. Havia uma representação na Região, qual o ponto da situação? Seria bom termos cá uma representação?
As comissões regionais são comissões diocesanas que não têm nenhuma relação com a comissão nacional. A Comissão que tinham na Madeira era de Justiça e Paz da Diocese do Funchal. Não se integra na nacional. Tem total autonomia, independência mesmo em relação à Comissão nacional.
E a Comissão Nacional, o trabalho que tem feito...
É sobretudo divulgar problemas de justiça e paz à luz da doutrina social da Igreja.
E em relação à Rede Europeia Anti-Pobreza. Existe um coordenador português, o Pe. Jardim Moreira...
O Pe. Jardim Moreira é coordenador da delegação portuguesa da Rede. A Rede tem um presidente que é irlandês.
Há alguma ligação entre a Comissão Justiça e Paz... tem acompanhado o trabalho dessa rede?
Por alto.
Artur de Freitas Sousa e Emanuel Silva – dnotícias.pt – 30/10/10