(per)Seguidores

domingo, 12 de junho de 2011

Exportar a Arquitetura portuguesa, ou transacionar Arquitetos portugueses?

Porto: Património Mundial da Humanidade
Depois de receber o "Nobel" da Arquitectura, Souto Moura foi homenageado na FAUP, onde apresentou os "Concursos" que desenvolveu entre 1979 e 2010.
"Não me sinto no auge"
O reconhecimento do Prémio Pritzker 2011, não lhe trouxe, para já, grandes vantagens. "Não me sinto no auge. Sinto-me preocupado, pois queria continuar a trabalhar", esclarece. "Fico feliz com estas iniciativas, mas os problemas não se resolvem com estas coisas", diz. "Os grandes escritórios passaram a médios e despediram metade das pessoas. Não há encomendas, nem públicas, nem privadas", explica. E, diz, se "não há dinheiro, não há arquitectura".
Há anos, quando um compositor musical (penso que austríaco) recebeu um prémio internacional, quando lhe perguntaram o que sentia, só disse: “O melhor elogio que me podem fazer, é darem-me trabalho!”.
Ao registar a preocupação de Souto Moura, quando diz que o que queria era continuar a trabalhar e não há encomendas, nem públicas, nem privadas, porque se não há dinheiro, não há arquitectura, não pude deixar de ir buscar ao sótão da memória, as palavras daquele músico.
Emigrar parece ser mesmo a solução para a arquitetura em Portugal, disse-o Souto Moura quando recebeu o Prémio Pritzker 2011 e afirmaram-no alunos e professores daquele curso da Universidade Técnica de Lisboa.
E sobre o vaticínio que o premiado fez acerca da inevitabilidade de os arquitetos portugueses terem que emigrar, se quiserem trabalhar na área da sua formação, outros nomes “sonantes” vieram a terreiro, sacar algum mérito para a classe e dizer umas coisas sobre o futuro dos colegas mais novos e em formação.
A saída de arquitetos portugueses de Portugal não é uma fatalidade, mas um dado novo, normal e "interessantíssimo", disse o arquiteto José Mateus, responsável pela Trienal de Arquitetura e afirmou que "a solução para a arquitetura portuguesa é emigrar", que na conjuntura atual, de crise, deve ser vista mais como "uma possibilidade do que como um problema".
Não sei se José Mateus emigrou e gostou, mas está cá e conheço muito pouca gente que goste emigrar por prazer, ou mais valia, daí não entender e muito menos concordar que se diga que é interessantíssima a “solução” para uma situação que se diz que não é uma fatalidade.
Parece-me, que se há Arquitetos a mais, ou obras a menos, o racional seria abrandar a formação nesta área, com prejuízo para as Faculdades Privadas, mas com benefícios para as Faculdades Públicas e para o Estado, até porque o curso é dos mais longos e dos mais caros.
Não dá para aceitar que se continue a formar novos profissionais, transformando-os em bens transacionáveis, com base na falácia da mobilidade (que é uma coisa boa para os outros)…  
A arquitetura portuguesa tem grande qualidade, mas pouco apoio político para se promover no exterior, disse o arquiteto José Barbosa, autor do edifício Vodafone, eleito um dos melhores de 2010 pelo site ArchDaily, "custa aceitar essa realidade, mas o mercado imobiliário está muito deprimido" e como tal, a alguns arquitetos portugueses não resta outra solução do que emigrar. "Neste caso é quase obrigação e não uma ambição", "Não é caso para pegarmos nas malas e ir já procurar trabalho lá fora, mas é quase uma inevitabilidade e fala-se disso com alguma mágoa", disse.
De acordo com o que eu disse acima, José Barbosa também considera a hipótese de emigrar, não uma ambição, mas quase uma obrigação, que mesmo considerando-se como uma inevitabilidade (hoje em dia tudo se reduz à inevitabilidade e parece que o livre arbítrio morreu) fala-se disso com alguma mágoa. Inevitável!
A arquiteta Helena Roseta, atual vereadora da Câmara de Lisboa e ex-presidente da Ordem dos Arquitetos, referindo-se às declarações de Souto de Moura sobre a necessidade de os arquitetos portugueses terem que emigrar, afirmou que "É negativo porque o mercado de trabalho está difícil, mas quando [a arquitetura] emigra leva a marca de Portugal com ela. Temos uma influência na arquitetura mundial muito superior à escala do país".
Em primeiro lugar, parece-me que Helena Roseta confunde a Arquitetura Portuguesa e os Arquitetos Portugueses, não só porque os nossos arquitetos laureados tem a maioria das suas obras em Portugal e quando as fazem no estrangeiro, não levam para lá as armas e bagagens…
Em segundo lugar, os trabalhos destes nossos arquitetos enquadram-se nas chamadas “obras de autor”, que nem aqui, nem no estrangeiro se pode extrapolar, quer para uma qualidade generalizada, quer para saídas profissionais avalizadas, como se fossemos uma marca, muito menos portuguesa, dada a atipicidade das respostas que a globalização vai gerando.
Se emigrar fosse bom, estes e muitos mais arquitetos não estariam aqui, em Portugal, na sua e nossa terra, até porque a Arquitetura tem alicerces, num território, numa história e numa cultura…

2 comentários:

  1. Miguel,
    tudo isso... e como concluis muito bem, "a Arquitetura tem alicerces, num território, numa história e numa cultura…"!

    ResponderEliminar
  2. Andy
    Por isso é que a arquitetura deve ser feita por quem vive no território, faz parte da história e vive dentro dos parâmetros da sua cultura. Exportar arquitetura de um lugar para outra, desenquadrada, é piroso, e daí...

    ResponderEliminar