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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Filosofar é: “Voar contra o vento” - II

Filosofar desde os primeiros anos
“Pipas”, de Juliana Duclós
Teria sentido então as crianças, nas escolas, limitarem-se a receber repasses de informações e aprenderem a reproduzir conhecimentos estáticos e acabados? Aprenderem concepções e verdades absolutas que engessam o processo de ação e reflexão diante do mundo e da sua própria existência? Nisto é que reside, em boa parte, a problemática, em todos os níveis, do ensino da filosofia: um repasse mecânico de teorias desarticuladas da realidade.
Rever esta perspectiva de ensinar uma filosofia estritamente conteudista, para um ensino filosófico notadamente crítico e metodologicamente articulado, é um desafio, pois a partir de uma aprendizagem filosófica temos a possibilidade de desenvolver nas crianças e jovens diferentes saberes. Como? Por meio de uma prática pautada na vivência social, cultural e política, contribuindo para o exercício crítico, criativo e criterioso de uma consciência cidadã.
Para buscar um ensino da Filosofia que ocupe o seu espaço e seja condizente com o momento histórico, é fundamental que o ensino filosófico parta do seu próprio existir e da sua contribuição histórica. Não podemos pensar um programa que contemple toda a história da Filosofia, bem como fica difícil visualizar um ensino filosófico só com temáticas soltas, sem um eixo, um fio condutor. Junto a isto, é fundamental também considerar a pluralidade que faz parte da própria essência da Filosofia e é expressa nas diversas correntes e linhas filosóficas.
Então, como deveria esse ensino acontecer? Partindo do conjunto de conceitos e concepções que os indivíduos apresentam, junto aos conteúdos filosóficos, buscando uma nova visão, via investigação e discussão. Assim, conseguir-se-iam subsídios para uma análise teórica e compreensão do quotidiano do aluno.
Um ensino filosófico no currículo precisa ser dialógico e dinâmico junto dos outros conteúdos. Um ensino filosófico de qualidade não se limita à interdisciplinaridade dos conteúdos ou da interação com a realidade, a experiência dos alunos, ou mesmo da definição da linha epistemológica do professor, ou ainda da estrutura curricular voltada para a história da Filosofia ou os temas atuais. É preciso levar em conta os procedimentos metodológicos adequados, os instrumentos e a visão de avaliação, condizentes com as aprendizagens filosóficas das crianças.
Onde poderemos chegar soltando os pensamentos?
Um ensino filosófico, com as crianças, os adolescentes e jovens, portanto, na educação infantil, no ensino básico e secundário, deve contribuir para a formação de uma consciência crítica, abrir o entendimento para as formas atuais de dominação e opressão que estão presentes em todas as relações sociais da vida diária, manifestas sob ideologias, convenções e alienações.
Deve-se aprender a pensar, e também a desenvolver um pensar filosófico, que se traduzem numa crítica constante à cultura dominante, às suas manifestações diárias, que levam a um pragmatismo reducionista da vida. Para nós, a premissa básica reside em reconhecer que todos os homens são filósofos, enquanto pensam e agem racionalmente, como dizia Gramsci, sendo papel peculiar da escola a formação para o aprimoramento constante desta racionalidade.
Portanto, abrir espaços para uma educação filosófica com as crianças, adolescentes e jovens é, acima de tudo, buscar um novo posicionamento diante da realidade social, ou seja, sair do senso comum e ir para a consciência crítica. Isso não está só a cargo do ensino da Filosofia, não será só ela que possibilitará ao aluno as mudanças de atitudes perante o mundo, que o fará agir como sujeito da sua história. Porém, é da sua essência e do seu fazer alcançar tais finalidades quando são aprendidas e vivenciadas na escola junto às demais disciplinas.
Entramos na ideia kantiana de aufklarung, do esclarecimento, da maioridade. A criança e o jovem devem aprender a pensar, isso significa sair da menoridade. Estarão sempre na menoridade quando não houver meios para pensar por conta própria, não forem desafiados a viver autonomamente. Menoridade é depender do outro para pensar.
Prof. Dr. Silvio Wonsovicz

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