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sábado, 8 de janeiro de 2011

Para reflectirmos e nos olharmos ao espelho...



O Operário em Construção
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. (Lucas, cap. V, vs. 5-8.)

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De facto, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse facto extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão – 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento 
Não sabereis nunca o quanto 
Aquele humilde operário 
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia 
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia 
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado 
Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um facto novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que reflectia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objectos
Produtos, manufacturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fracturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Vinicius de Morais

PISA para que te quero? E a ARTE/ESTÉTICA?

“The Miracle Maker” - OST/ by Alex Evan Dovas
Num mundo cada dia mais embrutecido, onde as relações humanas estão coisificadas, a EDUCAÇÃO ESTÉTICA pode servir de alento, no sentido de dar visibilidade às diversidades sociais. O ensino formal (brasileiro), via de regra, tem-se mostrado ineficiente na formação de estudantes que apresentam diferentes formas de aprender e de se expressar. Um currículo engessado, essencialmente disciplinar, eurocêntrico, onde os educadores exercem uma prática pedagógica notadamente focada na sua área de conhecimento, não tem possibilitado um diálogo mais horizontal e, portanto, menos excludente, entre educadores e educandos.
Para a educadora Graciela Ormezzano, a EDUCAÇÃO ESTÉTICA procura priorizar a imaginação, o lúdico e “o amplo espectro da estética do quotidiano que considera o design, a arquitetura, o artesanato, a música popular, a comunicação audiovisual e a arte da rua, assim como todos os estilos de sociabilidade”. Nesta direcção, a estreiteza curricular do ensino formal, esmagada por uma avaliação certificativa e que atende, sobretudo, parâmetros burocráticos, as subjectividades são anuladas e descartadas do universo escolar. Tal análise torna-se ainda mais dramática no ensino formal nocturno, onde é comum as salas de aula esvaziadas, professores desmotivados e estudantes desmobilizados na relação com os diferentes saberes. O quadro da situação, todavia, é muito mais complexa, pois exige formação contínua de qualidade aos educadores e a ressignificação do espaço-tempo no ambiente institucional de ensino, ainda bastante contaminado pela “lógica da fábrica” (padronização das tarefas escolares, temáticas estanques e controlo da ‘produção’).
A EDUCAÇÃO ESTÉTICA está longe de ser a panaceia para todos os males educacionais (brasileiros). Entretanto, a arte pode minimizar as variadas ‘carências’ afectivas e cognitivas de crianças e jovens em situação de risco social; ressocializar adolescentes marginalizados por um modelo económico pautado na competitividade e no consumo exacerbado; recuperar a auto-estima de jovens mulheres violentadas; enfim, fazer da EDUCAÇÃO ESTÉTICA uma possibilidade de ressignificação da vida. Afinal, ninguém nasce bandido ou santo, como bem assinalam os educadores Pablo Gentili e Chico Alencar.
Assim, continua a ser o objectivo maior da educação formal pública (brasileira) e de todo o acto educativo ‘humanizar os homens’, como bem nos alertava a filósofa Hannah Arendt e o educador popular Paulo Freire.
Jéferson Dantas, Historiador e Doutorando em Educação (UFSC), Pesquisador e articulador da formação contínua das escolas associadas à Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz, Florianópolis/SC

A verdadeira CARICATURA do nosso Estado

O DN iniciou a 7 de Janeiro uma série de trabalhos de investigação. Hoje conheça aquilo que foi ontem publicado na edição impressa: as entidades financiadas pelo Orçamento que escapam ao controlo do Tribunal de Contas. Veja aqui os trabalhos:
por João Cristóvão Baptista, Rui Pedro Antunes e Sónia Simões
Tribunal de Contas só recebeu a contabilidade de 1724 organismos e fiscalizou apenas 418. Isto num universo de 13 740 entidades, entre administrações central, local e regional, empresas, institutos e fundações que estão sob sua jurisdição e que consomem metade do PIB.
por Rui Pedro Antunes com S.S.
Desde que rebentou a crise em 2008, já foram criadas 88 fundações em Portugal, num total de 639. Especialista acredita que algumas não são criadas pelas razões "mais idóneas" e chama-lhes 'Fundações, SA'.
por Rui Marques Simões
28 milhões de euros em publicidade, 15 milhões em viagens, 600 mil euros em concertos de Tony Carreira e 82 mil em flores para a residência de José Sócrates: são só alguns exemplos dos contratos de ajuste directo feitos pela administração pública, desde 2008. A lista é longa e vai de esculturas milionárias a tapetes de Arraiolos.
Uma década perdida por causa do "monstro"
por João Cristóvão Baptista
Portugal foi um dos países do mundo em que o PIB menos cresceu nos últimos dez anos. A Comissão Europeia aponta o tamanho da máquina estatal como um dos factores de atraso.

As Boas Acções e os Maus Accionistas

O BPN perdeu cerca de 200 milhões de euros em depósitos nos últimos quinze dias, após o banco se ter tornado o centro das atenções das eleições presidenciais e do Parlamento, disse à Lusa fonte ligada à instituição.
Esta é a segunda vaga de “fuga” de depósitos no BPN desde que foi nacionalizado em Novembro de 2008, depois de ter passado de um total de depósitos de clientes de 4,5 mil milhões de euros em 2008 para os actuais três mil milhões de euros. No passado, segundo a mesma fonte, grande parte destes depósitos foram “transferidos” para a Caixa Geral de Depósitos (CGD), sendo que actualmente, em termos de tabela de remuneração de depósitos, o BPN está a oferecer mais 0,25% do que o banco estatal.
O BPN, gerido pela CGD desde que o banco foi nacionalizado, em Novembro de 2008, registou nos primeiros nove meses de 2010 um resultado líquido negativo de 42,2 milhões de euros, face ao prejuízo de 87 milhões de euros obtido em igual período de 2009, segundo dados da própria instituição.
Líder do CDS-PP acusou José Sócrates de estar a proteger Vítor Constâncio, antigo governador do Banco de Portugal e camarada de partido e teve de pedir «calma» a Teixeira dos Santos.
Durante o debate quinzenal no Parlamento, grande parte da manhã em volta do caso BPN, Portas recordou que Vítor Constâncio tinha prometido que a nacionalização do banco nada ia custar aos contribuintes.
Veloso Azevedo, empresário de construção civil da zona de Braga, tinha um contrato de compra e venda assinado com Oliveira Costa, o principal arguido do processo BPN, e alienou cerca de seis milhões e meio de acções da SLN, a ex-proprietária do banco, por 3,04 euros por acção.
Com esta iniciativa, denunciada por Paulo Portas, líder do CDS, na Assembleia da República, o Estado, via BPN, ajuda a sustentar o grupo (agora designado Galilei), e que está a atravessar um mau momento.
Portas disse que o BPN tinha adquirido, em Outubro de 2010, dois anos depois da sua nacionalização para não falir, seis milhões e quinhentas mil acções da SLN, por 3,04 euros por acção. Isto perfaz um investimento de mais de 20 milhões de euros. Paulo Portas esclareceu ainda, com base em documentos, que cada acção tinha valor nominal de um euro.
O secretário-geral da CGTP afirmou hoje que o caso BPN é uma “montanha de fraudes e esquemas” para enriquecimento de alguns e reflecte o “jogo de interesses” entre os poderes económico e político nos últimos anos.
Está tudo de acordo, menos alguns, que estão à espera da desobriga da Páscoa, mas já falta pouco.
Não serão precisas mais achas, mas isto é que começou e acabará por ser o nosso cangalheiro. Quem transporte o caixão, não deve faltar, para segurar nas (b)orlas…

7º de “Dez olhares sobre a Europa” - Petra Hůlová

A mulher é o futuro da Europa, pode ler-se em algumas revistas. Mas muito perspicaz será aquele que for capaz de prever como será esse futuro. A romancista checa Petra Hůlová apresenta a sua visão trágico-cómica.
"Esta já está a preparar-se para usar a burqa", diz o meu marido, apontando, a sorrir, para a nossa filha de seis meses, que acaba de puxar instintivamente o cobertor até aos olhos. Gracejamos muitas vezes, ao imaginarmos como poderá ser a Europa do futuro dos nossos filhos: quando a Internet se tiver tornado um símbolo de um passado distante, como aconteceu com o telegrama e com o fax, e quando, ao recordarmos as nossas representações actuais do futuro, as pessoas se torcerem de riso, como com todos esses filmes de ficção científica da época do cinema mudo. Mas, de facto, não podemos deixar de pensar no futuro.
Experimentem! Aliás, não é verdade que se espera que todos os europeus responsáveis se preparem para o futuro? É certo que o cidadão europeu não pertence a um povo primitivo, não é como esses fatalistas que vivem sem se ralar com o amanhã, ainda que não ter Internet, nem bicicleta, nem autoclismo na casa de banho, não faça de alguém um ser inferior. O mesmo se pode dizer do uso da burqa, apesar de, na Europa, os muçulmanos não serem muito apreciados. No entanto, estes sentem-se em casa na Internet e, em muitos casos, muito melhor do que na França ou na Alemanha onde nasceram.
O futuro da Europa pertence às mulheres?
Hoje, o debate sobre os muçulmanos e a Europa está no auge. Até no meu país natal, a República Checa, onde encontrar um muçulmano nas ruas de uma das  cidades não é coisa muito fácil. "Não interessa", afirmam alguns dos polemistas checos de direita. "Que vão todos para o diabo!" Até agora, no meu país, à falta de um número suficiente de muçulmanos, estes dirigem os seus ataques contra os ciganos, os vietnamitas e, por vezes, as mulheres.
Até as revistas mais conformistas, cheias de belas imagens, dedicadas à área casa e jardim, dizem que o futuro da Europa pertence às mulheres. Afirmar isto não tem, pois, nada de extraordinário e as pessoas que se opõem a tal ideia são apenas aquelas que têm qualquer coisa contra as mulheres ou que imaginam as europeias do futuro usando burqas e pensam que, vestidas dessa maneira, terão maior dificuldade em governar. Desde que, evidentemente, ainda haja alguma coisa para governar – no fundo, a questão mais importante.
A espécie europeia está em vias de se extinguir, lentamente e, segundo alguns, a culpa é das mulheres emancipadas, às quais deveria pertencer o futuro da Europa. Quanto mais elevado é o seu grau de formação, mais independentes são financeiramente e menos filhos têm, essas desgraçadas! Algumas feministas defendem que a culpa é dos homens, porque foram eles que inventaram a pílula contraceptiva, para poder gozar plenamente os prazeres da carne, sem o risco da procriação. Mas será que o regresso colectivo ao preservativo iria inverter a situação? Dificilmente.
Na República Checa somos particularmente alérgicos às instruções
Quando olho para a nossa filha, da qual só vejo espreitar, sob as cobertas, dois pequenos olhos azuis e uma cabecinha careca de bebé, imagino-nos às duas, europeias, dentro de 30 ou 40 anos. Então, já terei ido juntar-me ao exército das reformadas exasperantes. Iremos invadir as ruas, aos magotes, umas velhas amargas, daquelas para quem o passado era melhor, como sempre acontece quando os velhos olham para trás, para a sua própria juventude. Um pouco senil e sem ilusões, irei protestar, com os meus contemporâneos, contra a quarta geração de livros digitais, daqueles que se podem meter no bolso como um bilhete de amor, sempre com o meu telemóvel de décima segunda geração ligado, para o caso de os meus netos quererem falar comigo, enquanto a minha filha, a caminho de uma reunião, voa a 500 km/h numa auto-estrada virtual. Com o vidro aberto, a burqa a flutuar elegantemente ao vento. A auto-estrada estará cheia de mulheres idênticas.
As europeias dos anos 2040 voltarão a lutar (quantas vezes o fizeram já!) pela emancipação. Desde que, evidentemente, tudo corra bem e consigamos lá chegar. Não estou com isto a referir-me às euro-regiões, à moeda única ou à ideia da Europa, mas sim às cidades, aos patrimónios e às pessoas. Como nos filmes-catástrofe, imagino um desastre ecológico, o colapso da Internet, o aparecimento de uma epidemia. Perante a possibilidade de tais catástrofes se verificarem, as perspectivas da extinção lenta da espécie europeia ou de haver na Europa uma maioria de muçulmanos parecem bem aprazíveis. Quanto às mulheres, mesmo que voltassem a ficar em casa isso não seria, no fundo, assim tão grave. Na verdade, não seriam precisas muitas coisas para nos livrarmos desta visão sombria do futuro. Bastaria que nascessem mais crianças, que vivêssemos mais modestamente e que fossemos menos gastadores.
Olho para a minha filha, deitada ao meu lado, e tomo consciência de que, dentro de alguns anos, serei eu quem falará com ela usando "ses", enquanto ela me vai lançar olhares carregados. "E és tu quem me diz o que devo fazer?" É sempre a mesma coisa. Os estímulos só servem para irritar. Ao fim de 40 anos de experiência comunista, nós, na República Checa, somos particularmente alérgicos aos estímulos. Que ninguém se lembre hoje de querer fazer engenharia do futuro! Excepto, talvez, quando se trate de um fórum ou de um seminário, em que se apresentam comunicações e se discute inocentemente. E chega. Aliás, a História não mostra que os acontecimentos têm sempre um desfecho diferente daquele que se esperava? Sem dúvida. Aqui temos uma conclusão bem simpática. Mas quem acredita realmente nela?
Petra Hůlová

Ecos da blogosfera – 8 Jan.


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BPP vs BPN ou Alegre vs Cavaco

Moral para consumo externo e não-Ética para o interno

Portugal dá 7,3 milhões de euros no aumento de capital do Banco Africano de Desenvolvimento

De acordo com o comunicado, este aumento de capital visa cumprir três objectivos: "aprofundar a cooperação e a luta contra a pobreza nos países africanos", em especial nos de língua oficial portuguesa; "manter a sustentabilidade dos processos de desenvolvimento dos países membros regionais" numa altura em que são feitos ao banco cada vez mais pedidos de financiamento; e "contribuir para diversificar os mercados de internacionalização das empresas portuguesas" - porque as que apostam em África também recorrem a esta instituição bancária.Portugal participa com 7,3 milhões de euros, mas o banco vê triplicar o valor do seu capital social, que se situa agora nos 100 mil milhões de dólares.

A contribuição portuguesa, justifica ainda o Conselho de Ministros, assume "particular relevo no que respeita ao alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, bem como dos compromissos assumidos por Portugal a nível dos fluxos de Ajuda Pública ao Desenvolvimento".
Além disso, actualmente, a presidência do Conselho de Governadores do BAfD é exercida em conjunto pelo ministro das Finanças português e pelo Governador do Banco de Portugal. E será em Portugal que se realizará, em Junho deste ano, a reunião anual da Assembleia de Governadores do banco.
Tirando as boas intenções apresentadas, cheira que tal doação se deve mais à presidência do Conselho de Governadores do BAfD ser exercida pelo nosso Ministro das Finanças e pelo Governador do BdP, que querem dar nas vistas, à nossa custa seguramente, para além das despesas altas e inevitáveis para a coroação de ambos na Assembleia de Governadores do BAfD e constar nos respectivos currículos.
É tempo de lhes dizer que, quem não tem dinheiro não tem luxos e de lhes perguntar o que ganha Portugal e o Povo português com isto. Eles ganham prestígio, mas que o paguem.
Mas o pior é que.
Portugal poderá ter em 2011 a terceira pior recessão do mundo

A revista britânica The Economist prevê que este ano Portugal tenha a terceira pior evolução do PIB em todo o mundo, com uma recessão de mais de um por cento, juntando-se a um coro de instituições que não acreditam na previsão de crescimento marginal de 0,2 por cento da economia inscrito pelo Governo no Orçamento para 2011.
A previsão da Economist Inteligence Unit (uma empresa do mesmo grupo da revista que se dedica à investigação) para Portugal é apenas menos má do que a de Porto Rico e da Grécia, para os quais prevê contracções do produto interno bruto (PIB) de respectivamente mais de quatro por cento e de 3,6 por cento para a Grécia.
Ou seja, isto parece com o que se passa em Portugal com o Banco Alimentar, em que são os Pobres a ajudar os Mais Pobres e em que quem ganha mais são os donos supermercados…
É muita MORAL para os de fora (bem transacionável) e pouca ÉTICA para os de cá de dentro (bem não transacionável), mas sem resultados na Economia Imperial.
Deus que os ajude e a nós que não nos desampare (mais)…

Mais uma vez! Raquel Camarinha – a nossa soprano

Concert Apéritif
12 janvier à 20h30, Les Rendez-Vous d’Ailleurs
Avec: Raquel Camarinha, soprano & Simon Drappier, contrebasse

Programme:
Laurent DURUPT | Doubble-b pour contrebasse amplifiée
Commande du Cabaret Contemporain et du Fonds d’Action Sacem
Luciano BERIO | Sequenza III, pour soprano
Gilles SCHUEHMACHER Poème de Rilke nº1, pour soprano et contrebasse
Pascal DUSAPIN In and Out, pour contrebasse solo
Gilles SCHUEHMACHER | Poème de Rilke nº2, pour soprano et contrebasse
Luciano BERIO Sequenza XIVb, pour contrebasse (transcrite du violoncelle par Stefano Scodanibbio)
Laurent DURUPT | Voz, pour soprano et électronique
Commande du Cabaret Contemporain et du Fonds d'Action Sacem
Informations pratiques:
- Tarif : 10 €
Réservations :
- Par téléphone au 06-76-94-82-36 (Laurent Jacquier)
- Par mail en écrivant à l'adresse : communication.cabaret@gmail.com
(la salle des Rendez-vous d'Ailleurs ayant une capacité de seulement 50 places, il est fortement conseillé de réserver pour ce concert)
Préventes / se rendre à cette adresse :
Les Rendez-Vous d’Ailleurs
109, rue des Haies – 75020 Paris

6º de “Dez olhares sobre a Europa” - Philippe Perchoc

A UE comporta-se como uma adolescente complexada, que não sabe o que fazer do seu corpo em evolução, observa o investigador francês Philippe Perchoc. É, no entanto, na procura de novos sonhos com os países que se querem juntar a ela que crescerá e assumirá o seu papel no mundo.
Há alguns meses, conversava no Metro com um diplomata estónio e defendia que a Europa tinha sido o continente das utopias e que, hoje, já nada a faz sonhar. Uma parisiense virou-se e disse-me: “A Europa? Utopia? Qual o quê! É apenas um clube de magnatas que se alimentam à custa da arraia-miúda.” 
Pedaços de conversa nos transportes públicos ou a leitura de qualquer diário mostram que a Europa está com um problema, antes de mais em relação a si própria. Todos os meios de comunicação social trazem o psicodrama diário da Europa, a sofrer para sair da adolescência. Considerada no longo prazo, a Europa política mal saiu da infância. Sessenta anos de história não é sequer o tempo de duração do reinado de Luís XIV. E esta Europa adolescente toma de repente consciência que o seu corpo se alterou, desde a pequena Europa dos Seis, cresceu e fez dela um adulto mundial, com as responsabilidades inerentes. Esta crise de adolescência é uma das causas do divórcio entre os cidadãos e o projecto europeu.
A Europa tem dificuldade em gostar de si nas suas novas proporções. Não escolheu verdadeiramente crescer, foi empurrada pela história e pela queda do Muro. Hoje, acha-se demasiado grande, demasiado complicada. Por um lado, sente-se tentada a anular este alargamento rápido. Alguns intelectuais franceses, como Max Gallo, defendem a ideia de “um assalto ao poder franco-alemão” e de uma aliança com a Rússia por cima da cabeça dos pequenos Estados-membros. Por outro, vivem-se querelas intermináveis para saber quantos funcionários vão compor o novo Serviço Europeu de Acção Externa, em vez de se falar das missões deste novo serviço. Qualquer debate sobre o tipo de intervenção é rapidamente afogado nos meandros das dissensões sobre os meios. A União parece ter perdido confiança si e qualquer interesse no futuro, como demonstrou a cacofonia sobre a Europa 2020.
No entanto, a Europa é realmente a única a ver-se tão feia. Por todo o mundo, há intelectuais a manifestarem a sua paixão por este modelo europeu e a apontarem o lugar que este continente deveria tomar na nova governação mundial. Mas na Europa, o nosso doentio olhar para o umbigo priva-nos de qualquer progresso. Quando a China, a Índia, os Estados Unidos, o Brasil e a África demonstram confiança no seu futuro, a Europa parece paralisada pelo medo. Quase lamenta ter deixado de ser a Europa anã que vivia ao abrigo do Muro, protegida pelos Estados Unidos.
A crise gripou os dois motores da construção europeia: a solidariedade e a procura da eficácia. Por um lado, os chefes de Estado interrogam-se, em Bruxelas, se devem ajudar cada país em dificuldade. Por outro, só são capazes de montar mecanismos complicados, tentando preservar a independência de cada órgão. Ora, quando um membro é atacado, todo o corpo fica em perigo. Mas a cabeça (o Conselho Europeu) interroga-se se é avisado intervir e o coração (a Comissão Europeia) parece ter cessado de bater e emitir ideias novas, dar impulso ao corpo gordo da Europa. É necessário deixar de olhar para o umbigo e pensar outra vez na Europa como “nós”. A crise continental do “eu” é provocada pela crise de 27 pequenos “eus”.
Porque a Europa tem uma relação complicada consigo própria, vive uma relação complexada com os outros. No entanto, não tem nenhuma razão para se desculpar de ser como é. Incluindo com os que lhe batem à porta. Em vez responder com um reflexo de medo – “quem vem lá?” – devíamos ouvir: “Sim, o que deseja?”. Com efeito, os europeus, obcecados por eles mesmos, o seu funcionamento, os seus problemas monetários, esquecem que é realmente possível construir algo com alguém que não se lhe assemelha completamente. Ora, nunca se pergunta aos turcos, aos sérvios ou aos islandeses qual é o seu sonho de Europa. Quais seriam as suas prioridades quando entrassem para o clube. Como imaginam a Europa no mundo dentro de 50 anos. Nada disso, para começar.
O que falta hoje aos europeus é um grande projecto. Poder-se-ia mesmo dizer uma utopia. Os desafios não faltam: pacificar as relações internacionais como se pacificaram as relações europeias, ser um actor essencial do desenvolvimento sustentável ou construir a grande economia solidária do conhecimento do futuro. Mas para isso, é necessário reagir.
Philippe Perchoc

Ecos da blogosfera – 07 Jan.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

The “American way of life” or the “American dream”?

Os pobres nos Estados Unidos são mais do que se admitia, com 1 em cada 6 norte-americanos a debater-se com a pobreza, devido, designadamente, aos crescentes custos com os cuidados de saúde.
Os dados preliminares dos censos revelados, mostram, contudo, que os programas governamentais, como créditos fiscais e senhas de consumo alimentar, mantiveram muitas pessoas fora da pobreza, permitindo que a pobreza não subisse ainda mais durante a recessão de 2009.
Os valores apurados indicam que a pobreza, com referência a 2009, envolve 15,7% da população, o que corresponde a 47.800.000 de pessoas, muitas das quais com 65 ou mais anos.
Nada me move contra os americanos, muito menos nesta altura em que mantenho ainda alguma esperança na liderança de Obama, nem o mal dos outros nos trás remédio para a nossa pobreza. No entanto, há “verdades” que é preciso desmistificar quanto ao estilo de vida americano, que por desinformação ou propaganda, leva muitos portugueses a pensarem que o céu ficava a Ocidente.
Claro que o que está na origem do que se passa hoje nos EUA, tem a ver com a falácia do sistema político-financeiro, com origem nesse país e que alastrou por todo o mundo ocidental e que só pode continuar a agravar-se, tendo em conta que, a Europa em 2008 já tinha 17% de sua população, 85 milhões de pessoas, sujeita à pobreza.
Problema e muito sério, é a manutenção do Sistema, sem medidas que impeçam a repetição do sucedido, com a agravante de os prevaricadores/especuladores terem sugado o dinheiro perdido aos respectivos cidadãos e tenham continuado a usurpar o Poder Político, maquiavelicamente…
O American way (Português: Estilo americano), também conhecido como American way of life (Estilo de vida americano), é uma expressão referente a um suposto "estilo de vida" praticado pelos habitantes dos Estados Unidos da América. É exemplo de uma modalidade comportamental desenvolvida no século XVII e praticada até hoje. Refere-se a um ethos nacionalista que se propõe aderir aos princípios de "vida, liberdade e procura da felicidade" (direitos inalienáveis de todos americanos de acordo com a Declaração de Independência). Pode relacionar-se o American way com o American dream.
Durante a Guerra Fria a expressão era muito utilizada pelos media para mostrar as diferenças da qualidade de vida entre as populações dos blocos capitalista e socialista. Naquela época, a cultura popular americana abraçava a ideia de que qualquer indivíduo, independente das circunstâncias da sua vida no passado, poderia aumentar significativamente a qualidade de vida no futuro através de determinação, trabalho duro e habilidade. Politicamente, o American way acredita na crença da "superioridade" da democracia dita livre, fundada num mercado de trabalho competitivo sem limites.
Na actualidade, a expressão tornou-se novamente presente, graças à crença espalhada, quer por Bush pai, quer por Bush filho,  de que o estilo de vida americano não pode ser ameaçado nem negociado. Bush pai utilizou o American way em 1992 para recusar propostas de diminuição das taxas de gás carbónico, dizendo que o American way "não pode ser negociável". Já Bush filho utilizou-se da expressão para convencer a população americana a apoiá-lo na "instauração da democracia" no Afeganistão e no Iraque, dizendo que o American way não pode ser ameaçado por outras nações.