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sábado, 13 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 13 Ago.

A derrapagem de 2.000 milhões de euros no défice deste ano foi, em larga medida, culpa do eleitoralismo da classe política portuguesa, acusou o chefe de missão do Fundo Monetário Internacional, Poul Thomsen, "No período de eleições, durante os últimos meses, os políticos estiveram mais ocupados com as eleições do que com a implementação das medidas", insistiu.

Para que servem os EXAMES? Para darem uma ajuda!

"Os maiores desafios ainda estão para vir" 
Poul Thomsem, chefe da missão da troika do FMI, diz que Portugal começou bem, mas os desafios mais difíceis ainda estão por chegar, acrescentando que "as medidas que o Governo anunciou deixam-nos confiantes que os objectivos serão alcançados", contudo, "o Governo tem de lançar uma reforma estrutural que permita um maior controlo sobre as empresas privadas, sector público e também a nível local".
É bem feito para quem defende os exames ser vexado com esta prova oral feita perante um júri que não tem outro crédito para além do crédito!
Se fosse em linguagem de professor, dir-se-ia que embora esta seja a avaliação do 1º período e apesar de reguila, o aluno até se portou bem, mas vamos a ver se aguenta este nível, porque a matéria mais difícil vem a seguir e vamos ver se tem bases e se aguenta a nota…
Até é provável que os objectivos do ciclo (quais?) sejam alcançados, mas tem de dar uma volta na forma de estar na sala, no empenho, nos TPC e na relação com os outros, o que o deverá obrigar a uma reforma estrutural da sua atitude.
E para o conseguir, terá que controlar o comportamento dos alunos das outras turmas(?), da sua própria turma, dentro e fora da sala de aulas…
"Portugal fez progressos relevantes para reforçar solidez da banca" 
Rasmus Ruffer, o líder da missão do BCE, disse que as autoridades portuguesas deram passos importantes também ao nível da regulação, notou que "as autoridades portuguesas fizeram progressos relevantes e deram passos necessários para reforçar a solidez do sector bancário" e considerou que "as autoridades também deram passos significativos para controlar e avaliar o sector bancário". Admitindo que a banca portuguesa enfrenta um ambiente desafiante, a troika considera, contudo, que "os bancos conseguirão atingir os níveis mínimos de capital requeridos", afirmou.
Continuando com o mesmo estilo e lembrando-me das reuniões de avaliação em que o/ professor/a de Português, ou de Matemática garantia que o aluno era uma máquina, porque até tinham 3 e 4 às suas disciplinas, parece que também o professor Ruffer se esqueceu de que há mais vida para além do setor bancário, incidindo a sua avaliação no reforço, no controlo e na avaliação desse setor…
Assim, ninguém tem dúvidas de que todo o trabalho realizado pelo governo e avaliado agora pelo júri, se limitou às contas, deixando de fora o aluno, nas suas variadas e significativas dimensões.
No entanto, na avaliação da banca portuguesa, o nível foi fraquinho e até disse que tem um problemazito, que até pode servir de motivação e que é o de conseguirem os níveis mínimos de capital requeridos, que é o mesmo que dizer que não tem papel… Na melhor nota cai a nódoa!
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Ecos da blogosfera – 13 Ago.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 12 Ago.

Cerca de um milhão de pessoas afetadas pela suspensão do reembolso direto - Dentistas
Cerca de 1.000.000 de pessoas, essencialmente beneficiários do complemento solidário para idosos, serão afetadas pela suspensão do reembolso direto aos utentes do SNS, disse o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, revelando que "acima dos 65 anos mais de 50% dos idosos (...) são desdentados totais" e que grande parte "não tem capacidade económica" para aceder a este tipo de tratamento.

No xadrez dos “jobs for the bosses”, soma e segue…

Braga de Macedo à frente da AICEP e do IAPMEI

Jorge Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva (e militante do PSD), deverá ser o escolhido pelo Governo para liderar o organismo que resultar da fusão da AICEP com o IAPMEI.

Santana Lopes (militante do PSD), a convite de Passos Coelho vai dirigir a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sem ser remunerado, por já receber a subvenção vitalícia pelo exercício de cargos políticos.
Eu sei que é pura coincidência que os escolhidos pelo governo para os postos mais caros de administração de empresas públicas sejam do PSD, ex colaboradores de Cavaco Silva, independentes “anti Sócrates” e alguns do CDS, mas fica sempre a dúvida de que o critério tão apregoado de “as pessoas certas para os lugares certos” recaia apenas neste ARCO, tanto mais que o desempenho, também nestes dois casos, nada tem a ver com cargos/opções políticas, mas apenas com a competência técnica necessária para a função.
Quanto a Braga de Macedo, por muito competente que seja, nunca deixará de ter colado na testa aquela frase, que lhe deu nome: “Portugal é um oásis!” como se viu que nem era, nem é, também com o desempenho que teve (até foi substituído por Eduardo Catroga, presume-se que por incompetência), precisamente num governo de Cavaco, em que foi subscritor da outorga, a 2 agentes da extinta PIDE, de uma pensão por “altos serviços prestados à pátria”, previamente exarada pelo Supremo Tribunal Militar. De há uns tempos para cá, mandava uns bitaites na TV e tinha solução para tudo…
Quanto a Santana Lopes, que desde menino sempre rondou o poder, teve um sucesso relativo ao ser eleito como Presidente da Câmara da Figueira da Foz (coisa fácil, dado o seu atraso nesse tempo) e um sucesso maior ao se eleito como Presidente da Câmara de Lisboa (coisa fácil, dado que o anterior era João Soares), de resto somou sempre derrotas com desilusões, que culminaram com o pedido de demissão do XVI Governo Presidente da República em que era Primeiro Ministro, depois de o PR ter dissolvido o Parlamento, o que não quer dizer que quem não tem perfil para PM não tenha para dirigir a SCML. Desde sempre e também de há uns tempos para cá, manda(va) uns bitaites na TV e também tinha solução para tudo… Fica-lhe bem não ter remuneração por já receber a subvenção vitalícia pelo exercício de cargos políticos, mas não seria um bom critério para por os outros nas mesmas condições, a trabalhar “de borla” para o Estado?
Mas pelo que dizem os estrategas políticos, ou “mentideros”, tudo se resume a um jogo de xadrez, em que PPC e PP vão reposicionando as respetivas peças, na tentativa de comerem a rainha… Assim, como Paulo Portas apanhou o MNE (e desapareceu), PPC procura esvaziar-lhe a área da diplomacia económica, entregando-a a Braga de Macedo. Na política social, entregue a um ministro do CDS, a entrega da Santa Casa a Pedro Santana Lopes, deixará aquele ainda mais cercado e controlado, que já estava, com o Secretário de Estado do PSD.
E como se vê, TUDO A BEM DA NAÇÃO!
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Mais um TSUnami em tempo de férias!

Eu não disse que aquela homilia intitulada “Uma pequena reflexão de Verão” não passava de uma mensagem encriptada, que trazia água no bico? Mas se fosse só água, ainda vá lá, mas um TSUnami e como os outros em tempo de férias, é covardia da natureza (dos homens)…

Mas primeiro fique a saber o que é o tal TSU, que deu pano para mangas durante a campanha eleitoral, como um dos vários pelos púbicos denunciados pelo Dr. Catroga:
7 respostas para saber tudo o que precisa sobre a TSU
O que é a TSU?
Sigla de Taxa Social Única. A TSU é a contribuição paga mensalmente à Segurança Social pelo empregador e pelos trabalhadores.
Quanto é?
Desde 1995 que, no total, a TSU representa uma contribuição de 34,75%, dividindo-se este valor pelos empregadores e trabalhadores. Para os primeiros, a taxa aplicada actualmente é de 23,75%, para os segundos de 11%. Entre 1986 e 1995, a TSU total estava fixada nos 35,5%, com a factura para os empresários nos 24,5%.
Como se aplicam estas taxas no recibo de vencimento?
Peguemos no exemplo mais fácil. Um trabalhador que tenha um salário bruto de 1000 euros paga 110 euros à Segurança Social, enquanto a empresa que o emprega paga outros 237,5 euros. No total, a Segurança Social arrecada 347,5 euros por mês com este trabalhador.
Podem ser cobradas taxas reduzidas?
Sim. Alguns sectores ou profissões têm direito a taxas mais baixas. No entanto, para 72% dos trabalhadores por conta de outrem - que representam 70% da massa salarial - a entidade empregadora paga os 23,75%.
E isenções?
O Estado concede isenções com o objectivo de incentivar a criação de emprego e a manutenção de postos de trabalhos. As principais isenções activas são: jovens à procura do primeiro emprego (47% das isenções) e/ou desempregados de longa duração; emprego a reclusos em regime aberto; contratação de trabalhadores com deficiência e recuperação de regiões com regime de interioridade.
Os empregadores portugueses pagam uma TSU elevada?
Em comparação com o resto da Europa, não. Aliás, entre os Estados membros da União Europeia, Portugal é até dos países onde os empregadores pagam menos, bem abaixo da média. Se a escala de comparação forem os países da OCDE, as contribuições dos patrões portugueses são das mais elevadas.
Não fica dúvida de que esta sigla tem a ver com o pagamento à SEGURANÇA SOCIAL, mensalmente, pelos trabalhadores e pelo empregador.
E ficamos a saber que uma empresa que agora paga 237,5 euros (no exemplo dado) passará a pagar apenas 200,0 euros, arrecadando mensalmente de cada trabalhador a diferença (37,5 €), o que somará mais de quinhentos euritos/ano por cada trabalhador… Será que vão baixar o preço dos produtos? Ou comprar um topo de gama?
Claro que numa perspetiva “lógica”, quanto mais ganhar o patrão, mais possibilidades tem de investir, de criar mais postos de trabalho, de reduzir o desemprego, de pagar mais impostos, de tornar o país mais rico e assim pagarmos a dívida. Fácil, barato e dá milhões…
Entretanto os trabalhadores continuam a pagar o mesmo, enquanto não pagarem mais para compensar o dos patrões, ou para meterem no fundo para o despedimento, mas esse já ficou mais baratito…
Mas, parece que comparativamente com o TSU do resto dos Estados membros da UE, Portugal é dos países em que os patrões pagam menos e bem abaixo da média. Então como é? A troika enganou-se, ou enganou-nos? No entanto diz-se que se a escala de comparação for a dos países da OCDE, as contribuições dos patrões portugueses são das mais elevadas. E então as do resto dos Estados membros da UE? Façam lá um desenho…
O estudo sobre "desvalorização fiscal", que visa aliviar os custos das empresas com as pessoas, assume uma descida da Taxa Social Única na ordem dos 3,7%, colocando-a próxima de 20%. Se a medida for totalmente paga através do IVA, a taxa de imposto média terá de subir cerca de 2,2%.
De acordo com o estudo que acaba de ser divulgado pelo Ministério das Finanças, "em termos de impostos indirectos, o IVA aparece como aquele que maior margem tem para financiar esta medida, em particular pelo potencial de receita que pode gerar caso se pretenda alterar as taxas reduzida e intermédia, ou limitar algumas das isenções existentes". "Acresce, porém, que tal alteração, quer pela natureza regressiva, quer pelo tipo de bens que abrange, acarreta um custo social elevado o qual merece ser ponderado".
O corte da TSU incluído na proposta de referência custará "cerca de 400 milhões de euros" por cada ponto reduzido. Ou seja, a redução sugerida custará quase 1.600 milhões de euros.
1 – Redução da TSU para todos os sectores de actividade
2 – Incidência na criação líquida de emprego
3 – Incidência sectorial
4 – Redução da TSU para salários mais baixos.
“Logicamente” que, seja qual for a alternativa, vai-se tirar à SEGURANÇA SOCIAL e alguém tem que repor o retirado. Quem será? NÓS TODOS, consumidores, com o aumento do IVA. Assim, passamos a ser acionistas dos bancos e agora do comércio, porque da indústria já seremos com o TSU. E ficamos todos proprietários de tudo, como no finado comunismo e tão falidos como ficaram os utentes desse sistema. Este pessoal do governo e da troika, afinal são da esquerda radical…
Pelos vistos, o Ministério das Finanças fez, ou mandou fazer um estudo, que concluiu que o IVA é quem tem mais possibilidades para financiar esta medida, como se o IVA fosse algum capitalista…
Mas, o mesmo estudo, desconfia que pela natureza regressiva e pelo tipo de bens que abrange, acarreta um custo social elevado e por isso merece que se pense bem… São mesmo de esquerda!
O pior é que é preciso sacar 1,6 mil milhões de euros a alguém, para compensar o que se vai dar aos “empregadores”, que é a quantia que vai sair da SEGURANÇA SOCIAL e vai por por terra a tão falada sustentabilidade.
Afinal, não são de esquerda… Bolas!
Redução da TSU vai na linha da privatização da Segurança Social - CESP 

Ecos da blogosfera – 12 Ago.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 11 Ago.

Quase 60% das instituições de solidariedade do distrito de Setúbal estão em falência técnica. As instituições aumentaram o endividamento bancário em 1,9 milhões de euros e as dívidas aos fornecedores subiram 1,1 milhões de euros. O presidente da União Distrital daquele distrito alerta para a diminuição de respostas sociais da parte das instituições.

A globalização mundializou as mesmas “injustiças”…

Escola de Atenas, Raffaelo Sanzio (1483-1520) - Platão (ao centro, à esq.) e Sócrates
A justiça é uma incógnita no mundo que nos consome. Há muito mais pessoas preocupadas e ocupadas com o seu orçamento no final do mês e com outras questões da vida, do que com a justiça. A justiça está ao relento sem cobertor e calor, abandonada e fria. Não somos justos connosco; não somos justos com as escolhas que fazemos. Nem sempre somos coerentes com as atitudes tomadas, o que se abre de imediato, consequente a isso, a porta ao arrependimento e à culpa. Quando não agimos aos apelos da consciência, a frustração acaba por tomar lugar nas nossas vidas. Diariamente, há vidas soterradas por não haver esta preocupação de agir justamente. A verdade é que falamos muito de justiça e fazemos pouco dela!
Que não me entendam mal. Não se trata de se ajustar a nada, não é justeza ou ajuste de contas, mas uma permissão da consciência para se agir autenticamente. Simplesmente deixar que o agir siga o ser, “agere sequitur esse”. Não era por acaso, que os gregos antigos diziam: “As coisas belas são difíceis”. Difíceis, porque as coisas feias como as injustiças estão por toda a parte, em todo o lugar. Basta darmos uma olhadela de relance nos nossos trabalhos, nos nossos salários, nos serviços sociais, nas políticas públicas, na saúde, na educação, nos transportes públicos, nas escolas públicas. É engraçado, se compararmos o valor do maior salário com o valor do menor salário neste país. A discrepância é alarmante. Isso só para ficarmos no salário. Imagine se ampliarmos ainda mais as comparações sociais (no Brasil), ficaremos assustados com tamanha injustiça. Só para termos uma ligeira ideia da desigualdade social (no nosso país), entre os ricos, muitos recebem remunerações astronómicas, além de possuírem um património invejável.
A “Fundação Getúlio Vargas” divulgou o ano passado, no mês de fevereiro, que o segmento dos mais ricos no país representam cerca de 10,42% da população, ou seja, 19,4 milhões de pessoas que concentram nas suas mãos 44% do rendimento nacional. Excessiva riqueza nas mãos de poucos. Se bem que tem muito político neste país assaltando os cofres públicos descaradamente, o que também é uma tremenda injustiça social. Como se não bastasse, as mordomias acumuladas em telefones, residências, viagens e gratificações escandalizam bruscamente a população mal remunerada, que tenta mais exercer justiça e se preocupar com ela. Por causa disso, os políticos no mundo inteiro ocuparam o último lugar em credibilidade profissional. Segundo uma pesquisa feita no ano passado, a classe política é a menos confiável pela população. Um descrédito por causa da injustiça, diga-se de passagem.
Platão, na sua obra clássica A República, mostra-nos que a justiça é um desejo universal, um anseio de todos os seres humanos, em toda a parte. Ela não é apenas um conceito no meio de um emaranhado de conceitos, mas uma condição para que a filosofia e o viver sejam aplicados. Não nos podemos esquecer de uma questão aqui pertinente, a liberdade. Pois, o que dá sentido à nossa liberdade é a justiça. Sem justiça é impossível haver liberdade, intencionalidade, consciência. O ideal perfeito de uma cidade justa proposta por Platão na Politéia, ou República, é a possibilidade de se pensar no meio do que é real, a injustiça, o que deveria existir e não existe, a justiça, um valor ideal que não se perde de vista. A justiça, por isso, tem um alcance ético: ver não só o que acontece, as injustiças, mas o que deveria acontecer, a justiça. O facto de a consciência alimentar a esperança ou a desesperança de que é possível a justiça, coloca-nos entre aqueles para quem a vida tem sentido. Apoderados desse anseio, longe de nós qualquer negação pelos interesses coletivos daqueles mais necessitados da sociedade, como também da realização plena dos seus direitos. Nenhum de nós se pode dar ao luxo de ceifar uma vida digna às gerações presentes e futuras.
Dito isto, imaginem-se agora detentores de um poderosíssimo anel capaz de os deixar invisíveis, com a oportunidade de fazer o que bem quiser, certo ou errado, justiças ou injustiças. O que diria para si mesmo? Faria o que deveria ou não?
Vejamos o que nos diz Platão sobre a justiça: “Giges era um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-o e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes factos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder” (PLATÃO. A República. Lisboa: Gulbenkian, 4ª ed., 1983, pp. 55-60).
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva

Ecos da blogosfera – 11 Ago.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 10 Ago.

Investigadores da Escola Superior de Biotecnologia da UCP detetou a existência de bactérias com resistência a antibióticos na água que sai das torneiras nacionais e nas ETAR, mesmo depois de tratadas, o que só por si não constituem ameaça para a saúde humana, mas podem transmitir essa resistência a antibióticos a outras bactérias nocivas, tornando-as também imunes.
A investigação prossegue para avaliar o papel dos hospitais na propagação destes organismos.

Estamos informados! O pior ainda está para vir…

Os portugueses são os mais pessimistas da Europa quando questionados sobre os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, revela o Eurobarómetro Standard da Primavera 2011, cujos resultados foram publicados pela Comissão Europeia.
De acordo com o estudo produzido por encomenda das autoridades de Bruxelas, “os europeus começam a mostrar-se mais optimistas em relação às perspectivas económicas, declarando muitos deles que o pior da crise já passou. 43% dos europeus consideram que o impacto da crise no mercado de trabalho atingiu já o seu o seu ponto mais alto”, enquanto 47% acham que o pior ainda está para vir.
Embora a tendência geral no âmbito da UE seja positiva, permanece um certo cepticismo nos países que se encontram ainda em recessão e que registam um desemprego crescente, nota o relatório e por isso se verificam diferenças consoante os países são mais optimistas ou mais pessimistas.
A maior parte dos Estados Membros “consideram que o impacto da crise económica no mercado de trabalho atingiu já o ponto culminante”. Opinião inversa foi evidenciada nos países que lutam contra a crise, como Portugal (80%) e a Grécia (78%). Portugueses e gregos figuram assim como os mais pessimistas de 13 países onde predomina a ideia de que "o pior está para vir".
Há estudos, ou sondagens que nem mereceriam o trabalho e muito menos os custos para chegar a conclusões que são evidências, mesmo evidentes! Mas mesmo assim, as leituras que se fazem desses estudos, como é o caso, demonstram que os especialistas, ou os jornalistas, são tão fraquinhos em matemática a ponto de não reconhecerem o valor relativo dos números…
Como é que havendo 43% de europeus para quem a crise no mercado de trabalho já atingiu o ponto mais alto e 47% acham que o pior ainda está para vir, se pode pensar e publicar que a tendência geral na UE é positiva? Então 47 não é mais do que 43?
E não é insultuoso para os leitores interpretarem-nos os resultados (cujos números não souberam interpretar) com o maior ceticismo dos países em recessão e com o desemprego a crescer? A iliteracia pode ser muita, mas não será tanta! Sabendo-se que 80% dos portugueses e 78% dos gregos são por isso os mais pessimistas dos 13 países mais pessimistas, é óbvio e é óbvio também que os portugueses estejam mais céticos do que os gregos porque estes já sofreram na pele e nós ainda esperamos pela receita e os seus efeitos, sabendo antecipadamente que isto vai de mal a pior…
Pelo que se vê, dia a dia e agora hora a hora, só os inconscientes, ou os crentes nos respetivos secretários gerais dos partidos com que simpatizam não conseguem ver que o pior está para vir e que o terreno está a ser preparado...
Mas, a ser verdade, que “um pessimista é um otimista esclarecido”, não se deve aplicar neste caso, porque os portugueses não serão os mais informados e se o são, deve ser em outros assuntos, mas não em política, muito menos nos seus direitos e era tão bom que o fossem…
Foram os 48 anos de fascismo que nos moldaram, ou os 37 de “democracia” quadriénica que nos formataram? Começam as dúvidas…

Ecos da blogosfera – 10 Ago.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 9 Ago.

BCE empresta 75,8 mil ME a 35 dias a bancos europeus
O Banco Central Europeu emprestou aos bancos europeus 75,8 mil milhões de euros numa operação de refinanciamento a 35 dias, aos quais se juntaram outros 157,1 mil milhões de euros da operação regular semanal do banco central. No último leilão com prazo mais alargado, que decorreu a 27 de julho, o BCE emprestou aos bancos europeus 85 mil milhões de euros com uma maturidade de 91 dias.

Cá, homilia dominical! Lá fora todos à rasquinha!

Uma pequena reflexão de Verão
Caras amigas e amigos,
O ritmo de tomada de decisões que nos impusemos, bem como a nossa imperiosa necessidade de cumprir os acordos a que o País se comprometeu têm vindo a impor uma agenda exigente que eu encaro como o nosso Grande Desafio como nação e como povo.
Sabemos bem que o nosso ponto de partida é extremamente débil e que a instabilidade no sistema Financeiro Europeu e Americano são travões para um percurso já de si cheio de sacrifícios, tanto na intensidade como no tempo. Esta é a nossa realidade e um dos meus compromissos com os Portugueses é nunca ocultar a realidade, de forma que todos compreendam as razões e os objectivos deste grande esforço colectivo.
Há, evidentemente, um enorme trabalho pela nossa frente ao qual todos os Portugueses são chamados. Mas também julgo que restam poucas dúvidas quanto à nova forma de fazer política e de nos relacionarmos com o universo civil da nossa sociedade: queremos transmitir o que fazemos e por que o fazemos. Achamos que é de elementar justiça prestar contas ao País, quando, afinal, estamos a trabalhar e a gerir o dinheiro dos Portugueses. E queremos que a Sociedade Portuguesa mude de vida para encontrar um rumo de prosperidade que nos permita, a nós e aos nossos filhos, olhar para o futuro com confiança e optimismo. Essa é a razão última deste enorme esforço, deste nosso desafio.
Não me comprometo com resultados rápidos nem com sacrifícios suaves. Não seria realista. Mas não duvido que, passada esta profunda e longa tempestade, teremos um país muito mais bem preparado para compreender, competir e vencer num mundo que assiste diariamente a importantes transformações.
Neste Grande Desafio há valores que não devemos nunca deixar para trás: dar e contar com o apoio das nossas famílias e dos que nos são próximos, nunca perder de vista a ética e o valor do compromisso para com a sociedade e, finalmente, ter a clara noção de que somos um povo de vencedores que nos agigantamos perante as maiores adversidades. Este é o momento! E constato com orgulho uma reacção nobre, realista e empenhada da generalidade da nossa sociedade.
Vou agora estar uns dias com a minha mulher e as minhas filhas para recuperar algum tempo do meu papel enquanto marido e pai. Vai ser um período mais curto do que seria a nossa vontade, mas será o possível dentro das actuais circunstâncias. Procurarei aproveitar intensamente o tempo disponível: afinal é nas situações mais simples que podemos encontrar os momentos de maior felicidade.
Um abraço forte e continuação de um bom Verão,
Pedro Passos Coelho
Lendo nas entrelinhas, vou tentar descodificar a mensagem, que deve ter sido escrita por alguém do SIED.
Portugueses!
A nossa nação, tendo perdido a sua soberania e com o povo que temos, pobre, idealista, e desempregado foi obrigada a aceitar o grande desafio imposto por estrangeiros amigos, que nos emprestaram dinheiro, demonstrando uma atitude tão submissa e silenciosa, que me orgulha.
Como somos pobres, mas honrados, teremos que pagar e queremos que seja mais depressa do que os próprios credores exigem. Já não nos bastava a dívida herdada para ainda termos que assistir e sofrer com a guerra dos “mercados”, de que somos crentes e acérrimos defensores, que constatamos agora que ataca o sistema financeiro mundial e de que seremos as principais vítimas, mesmo que seja contra a Europa e os EUA e que poderá travar o nosso garantido sucesso.
Já todos perceberem, já que tanto os media insistem e há tanto tempo, que os sacrifícios enormes que vocês tem pela frente não é para todos, já que há 3.000.000 de pobres e empobrecidos, que ainda atrapalham as contas, 700.000 desempregados, que ainda recebem subsídios, os mais avantajados nas contas, que merecem apoio pelos postos de trabalho que criam e pelos salários que pagam, os senhores que guardam o dinheiros dos das contas avantajadas, que são os pilares da nossa independência, sem contar com as crianças com menos de 16 anos e os licenciados que ainda não podem trabalhar. Feitas as contas, pouca gente resta para colaborar no Grande Desafio (cheira a Mao Tzé-Tung, mas tem impacto) no qual o leitor está incluído e se não aguentar, não conte com o Estado para nada, conte com a sua família e com a vizinhança, que é um dos valores a valorizar.
Como sabem, comprometi-me a explicar as razões e os objectivos desta empreitada, o que não faço agora porque gastaria muito tempo, mas espero que todos já tenham compreendido, pelas explicações que os economistas e comentadores tem dado na TV, embora também me tenham confundido e levado a enganos de que tenho sempre pedido desculpa, tão só porque o dinheiro é vosso e a vida também. Mas podem acreditar que queremos e vamos conseguir mudar a vida dos portugueses nos próximos anos, piorando-a, para deste modo atingirmos mais rapidamente a prosperidade almejada.
E como já vão reconhecendo, pelo treino que vos é dado em crescendo que é nas coisas mais simples que está a felicidade, quanto menos tiverem, mais felizes serão e essa é a verdadeira riqueza.
Não pensem que as próximas décadas chegam para se ver os resultados das medidas que deixei a levedar, nem vos passe pela cabeça que os sacrifícios vão ser tão leves como vos prometi, mas pedir-vos-ei desculpas, tantas vezes quantas forem precisas.
Um abraço e sorte no euromilhões (ou que faça parte da lista pública dos nomeados) e continuação de um Verão tão mau como o que temos todos merecido.
Entretanto, como a realidade é mais complicada do que a análise do nosso primeiro, os outros Primeiros parece que acordaram para a realidade dos “mercados”, de que são crentes e acérrimos protetores e descobriram que foram apunhalados pelos especuladores, logo que foram para férias…
Líderes mundiais multiplicam-se em contactos por causa da crise
O Banco Central Europeu agendou, para esta tarde, uma reunião de urgência sobre a crise das dívidas soberanas na Europa e sobre a desclassificação do “rating” dos Estados Unidos. Essas preocupações juntaram, ontem, os vice-ministros das Finanças do G20 numa videoconferência e multiplicam-se os contactos entre os líderes europeus, para tentar acalmar os mercados.

Ecos da blogosfera – 9 Ago.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 8 Ago.

Economia mundial abranda e Portugal acentua queda
A actividade económica a nível global deverá continuar a desacelerar, ou mesmo contrair em alguns casos, indicou a OCDE.
Em Junho, a queda foi generalizada e também os EUA dão sinais de desaceleração. Por grupos de países, a zona euro foi a que registou maior quebra neste indicador (-0,6 pontos percentuais), com Portugal a ver agravada a sua quebra na actividade económica, que regista quebras mensais e em Junho recuou para os 99,9 pontos, o pior valor desde Dezembro de 2009.

Mas isto é “dar com o PES” nos empobrecidos!

O governo apresentou o Programa de Emergência Social que vai abranger um universo de 3.000.000 de portugueses. Este número é impressionante. E isto porque o plano do ministro Pedro Mota Soares se destina a pessoas que não conseguem ter 2 refeições por dia, aos casais desempregados com filhos, aos cidadãos que viram as suas casas penhoradas e não têm dinheiro para pagar uma renda normal e aos muitos que precisam de matar a fome em instituições sociais.

A verba que o Estado disponibiliza para esta emergência está longe de ser colossal. 400 milhões de euros são uma gota de água no imenso despautério que por aí vai em projectos ruinosos em que poucos ganham muito com o dinheiro dos contribuintes. Importa que seja aplicado com critério, de forma transparente e sirva essencialmente para dar condições a quem está no terreno para responder melhor e mais depressa a tanta desgraça. E que esteja preparado para o pior, isto é, para o que aí vem a curto prazo. O cenário é negro e mesmo que tudo corra muito bem não há forma de evitar que muito mais portugueses venham a cair na miséria e na fome nos próximos anos. É tão certo como 2 e 2 serem 4. Com a economia em recessão profunda, o desemprego a aumentar todos os dias, os inevitáveis cortes salariais, a inflação, os impostos a serem usados como tapa-buracos de um monstro insaciável e as crises que chegam a Portugal da Europa e dos Estados Unidos, não vale a pena ter esperança, ser optimista ou tentar descortinar no horizonte qualquer sinal de bonança para a tempestade quase perfeita que se abateu sobre o país. O mais trágico de toda esta situação é que os salários baixos, os impostos altos, o aumento das horas de trabalho, a poupança forçada sabe-se lá bem de quê e todos os sacrifícios possíveis e impossíveis podem muito bem não servir para coisa nenhuma. Nesta fase da crise, o melhor é viver o dia-a-dia, é sobreviver de manhã à noite, sem projectos para o futuro. Os crentes sempre podem entregar o seu destino a Deus. Os outros nem isso. A descrença generalizada não é boa conselheira, é verdade. Pode até ser perigosa para a coesão social e a paz nas ruas. Mas é uma forma realista de olhar para o presente sem qualquer futuro.

Portugal ainda tem o apoio da União Europeia e do FMI. O mais certo é que os 78 mil milhões não cheguem para as encomendas da nação e, já agora, de economias, como a italiana, que estão pelas ruas da amargura. Como o tsunami está mesmo a chegar, não há tempo a perder na montagem de uma estrutura de guerra que vá para o terreno salvar as pessoas da fome de hoje e também de amanhã. Com planos de emergência que vão necessariamente ter um horizonte temporal mais alargado e sem um fim à vista. O que ontem os portugueses ouviram deve ser um solene aviso à navegação. Numa passagem de nível pode salvar-se uma vida com o velho "pare, escute, olhe". Numa desgraça social como a que Portugal está a viver, o "pare, escute, olhe" não salva coisa nenhuma. Serve apenas para muitas pessoas perceberem que amanhã podem ser os beneficiários desta emergência contra a fome.

“Editorial” de António Ribeiro Ferreira

"Estas são medidas concretas para ajudar a suportar melhor os sacrifícios que os portugueses têm de fazer, é isto que é justiça social", argumentou o deputado do PSD, Fernando Negrão e garantiu que até 2014 “ninguém será deixado para trás".

Num comentário ao PES, Sónia Fertuzinhos garantiu que os socialistas "não defendem, nem nunca defenderão a lógica assistencialista de apoios sociais às pessoas".

Jerónimo de Sousa, criticou o PES, que cria estigmas, perpetua situações de pobreza, constitui uma "migalha" que não resolve os problemas e algumas das medidas contribuem para aumentar a exclusão.

Para o BE, "sem se taxarem os mais ricos não há possibilidade de um verdadeiro plano que responda às dificuldades das pessoas".
Tenho que começar por dizer, que simpatizo com o atual ministro da Solidariedade e Segurança Social, pelo seu empenho nas funções de que foi incumbido, mas mais pela sua coerência doutrinária e não político-partidária. Mas, como o fazer tem que ter uma sustentação ideológica, a boa fé, neste caso não basta, porque o assistencialismo governamental, não é senão a governamentalização institucional dos cidadãos, com todas as consequências que a sociologia “prevê” e os sociólogos deviam denunciar…
Quando lemos o que os políticos dizem, com, ou sem formação na matéria, percebemos que a perspetiva de cada um se limita ao campo de visão do seu partido, sem qualquer síntese objetiva e científica do fenómeno. Já Pierre Bourdieu se lamentava do silêncio dos intelectuais e académicos sobre medidas governamentais específicas e das suas áreas, para também nós constatarmos o mesmo e assistirmos a opiniões individuais, algumas verdadeiras heresias.
E custa ouvir um ex juiz, Fernando Negrão e deputado do PSD, dizer sobre o PES que ISTO É QUE É JUSTIÇA SOCIAL e ficar satisfeito (acreditando) que até 2014 ninguém será deixado para trás. Mesmo que fosse verdade e se fizesse prova, não é função dos governos levar o país para a frente, com os homens do leme? Pobres objetivos!
Por outro lado vem os socialistas dizer tout court, que nunca defenderão a lógica assistencialista, com tantas culpas no cartório e sem pedirem desculpa por tanta asneirada.
Jerónimo de Sousa, vem dizer que o assistencialismo cria estigmas, perpetua a pobreza e algumas medidas contribuem para aumentar a exclusão, que é um paradigma irrefutável, que o passado e a sociologia explicam.
Já o BE assegura, que se não se taxarem os mais ricos não há possibilidade de um verdadeiro plano para responder às dificuldades das pessoas, sem colocar em questão a justiça e as consequências do assistencialismo…
O que era bom para compreendermos as causas e os efeitos de um plano assistencialista, gostávamos e todos merecíamos ouvir as opiniões abalizadas de sociólogos, como a de Alfredo Bruto da Costa, de Boaventura Sousa Santos, de António Barreto e de outros, sem que eles ficassem à espera que lhes perguntassem e tomassem a iniciativa de desmontar o que nos parece óbvio, pela nossa formação judaico-cristã…
Mas, se desconfiamos da opinião dos políticos, acreditamos mais na análise de um jornalista, no caso António Ribeiro Ferreira, que não anda longe da dos vários partidos, mas não tem qualquer “rótulo” e como os políticos (da esquerda radical e da pragmática) conclui que todos os sacrifícios possíveis e impossíveis podem muito bem não servir para coisa nenhuma, que como se começa a ver e Fernando Negrão verá, não vai servir mesmo de nada, antes pelo contrário, logicamente...
Dar por um lado e tirar pelo outro, nem a esperança lhes resta, não só aos pobres, mas também aos empobrecidos!

Ecos da blogosfera – 8 Ago.

domingo, 7 de agosto de 2011

Contramarés sem contrapé… 7 Ago.

“É inevitável Portugal sair do euro”, diz ex-director do FMI
Desmond Lachman disse que “Portugal não vai conseguir aguentar as políticas do FMI sem grandes cortes da despesa e sem deixar o Euro”, entendendo que é melhor a saída portuguesa do euro agora do que daqui a dois anos. Considera que Portugal tem uma situação mais frágil do que a Grécia e não percebe como é que os portugueses vão conseguir pagar a dívida e aguentar a austeridade, que vai resultar em “recessão profunda e deflação”.

E porque não? O “alterne” não é melhor…

Slavoj Zizek é um pensador daqueles que fogem à regra. Filósofo esloveno, comunista convicto, afeito à Psicanálise e ao cinema com todas as suas facetas, não perde um segundo de pessoalidade e ironia nas suas colocações. Um sujeito polémico, mas incrivelmente otimista. Talvez duas forças destoem de seu temperamento, curioso e engraçado ao mesmo tempo. Pude perceber um pouco do universo do seu pensamento pelas entrevistas que concedeu recentemente à Globo News, como também pela sua vinda recente a São Paulo, onde participou de uma série de outras entrevistas, uma delas publicada na Revista Cult, junho de 2011, nº 158.
O mais engraçado das suas declarações ultimamente foi o facto de admitir a possibilidade de um sorteio para se chegar ao poder, como numa espécie de lotaria. Imagine assistir da sua casa a um sorteio dos seus candidatos pela TV ou pela rádio, ou mesmo pela internet. O que diria disso? Pois é. Uma alternativa discutida por esse filósofo que não diz nada à toa. Há por trás dessa ideia alguma coisa de muito, mas muito séria. Não é uma ideia de se jogar fora.
Repare bem que estamos em tempos de uma desconfiança muito grande na democracia, no seu sistema eleitoral, no caminho que se faz para se chegar ao poder em qualquer parte do mundo. As nossas eleições estão cada vez mais caras e ditam um ritmo de corrupção indesejada pela opinião pública. As ditaduras espalhadas pelo mundo estão a cair (caso da Tunísia e do Egito) porque não respondem às expectativas populares de subsistência mínima que vai da comida à economia passando pela ecologia. Ora, se assistimos à queda de regimes de extrema esquerda, também assistimos a grandes estragos em regimes políticos de extrema direita ao longo da história. Experiências de governo parecem ter frustrado a humanidade nos últimos decénios, ainda assim insistimos em voltar a alguns, como é o caso da insistência de Zizek pelas ideias de Marx e outros que defendem a força quase imorredoura das manifestações populares, das reivindicações das camadas trabalhadoras em benefício da solidez do Estado e da qualidade de quem o governa. Com uma boa dose cómica nas suas palavras, Zizek não abre mão das suas convicções pró comunistas que vão da fina crítica ao liberalismo económico dos países capitalistas, propondo uma derrubada gradual e não imediata do capitalismo à eleição de governantes por sorteio.
(No Brasil, as reeleições parecem ser um entrave quanto à alternância do poder, muito embora se questione em algum momento a qualidade deste poder.) Segundo Zizek, mesmo na Grécia, palco fundador da democracia, “as pessoas já sabiam que é preciso haver algum elemento de contingência na democracia. O único jeito pelo qual a democracia funcionaria seria combinar qualificação e contingência” (Rev. Cult, junho 2011, nº 158, p. 17).
Zizek sorri da fragilidade do sistema capitalista ao qual estamos submetidos, lembrando a crise económica de 2008 que assustou todos e a sua relação com a democracia: “Há limitações na democracia como a conhecemos, mas os principais candidatos à sua sucessão não funcionaram bem... Em 2008, os bancos ocidentais estavam em pânico e não forneciam crédito. Na China, o poder central apenas ordenou aos bancos que o fizessem. É por isso que a Europa retrocedeu e a China cresceu... Os sonhos do século XX acabaram. Vocês, brasileiros, têm a sorte de não terem recebido uma dose muito grande de populismo. Na Argentina, o peronismo foi a pior catástrofe que aconteceu” (idem).
Ao comparar o populismo de Lula com o de Chávez, lança-se totalmente a favor de Lula: “Não vamos confundir populismo com apelo popular... Mas o trágico em Chávez talvez seja o facto de ele ter dinheiro demais, de modo que pode mascarar as dificuldades em vez de as enfrentar” (idem). Para ele, o genial da democracia é o que as sociedades mais maquiam e escondem, a ideia de que o trono do poder estará sempre vazio: “E se dissermos que o trono está sempre vazio? O trono é ocupado apenas temporariamente e reocupado pelas eleições livres” (idem). É aqui onde mora o fiasco do sistema eleitoral (brasileiro), as eleições não são tão livres assim. Há o direcionamento dos media pelas propagandas sem limites quase que escolhendo por nós. Há o uso do dinheiro público desenfreado no período eleitoral que financia as mais questionáveis formas de adquirir voto. Há a cumplicidade popular que não resiste à estrutura corrupta das eleições no país: Ou por necessidade ou por oportunismo. A democracia está absolutamente restrita, muitas vezes, às condições de propaganda e marketing, bem como às estruturas de lista pronta dos partidos.
Com todo este cenário desolador da política (brasileira), ainda assim é possível pensar seriamente numa “lotaria” do poder? Diz Zizek que sim: “Quando Veneza era superpotência nos séculos XIV e XV, as suas regras para a eleição eram a coisa mais louca. Não digo loucura completa, com a escolha de idiotas. Há regras para que os idiotas não cheguem lá. Mas, no limite, deve ser uma lotaria” (idem). Diante do estado de coisas desarrumadas em que se encontra a estrutura das eleições democráticas (no Brasil), unindo-se ao nefasto desgaste sem critério com que se elegem as pessoas mais despreparadas possíveis ao poder, não seria demais, tampouco exagero, criar uma malha fina com critérios rigorosos para que o Estado ganhe pessoas dignas, qualificadas e que atendam aos apelos populares de ecologia, economia e bem-estar social.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica

Ecos da blogosfera – 7 Ago.