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sábado, 26 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 26 nov.

As “mascotes” do nosso orgulho e do nosso pudor…

A subserviência do nosso Primeiro-ministro e da tropa instalada neste miserável governo à chanceler alemã e sua agenda privada só não se torna mais escandalosa porque é, em certa medida, um traço distintivo da nossa nacionalidade, uma característica tipicamente portuguesa. O "agradabilismo", esta faceta mui nobre e nacional, é das coisas mais patéticas e praticadas neste país de moços de recado, "jotinhas", trepadores de aparelho e engraxadores de serviço que caracterizam em boa medida a nossa classe política (pelo menos a quem tem acesso ao poder), a mesma que normalmente representa o  cidadão comum e é (infelizmente) a face visível de um povo lá fora. Esta gente continua a ser o nosso futuro. Estes embriões nascidos nas sedes partidárias onde o aroma a graxa barata está entranhado e se agarra a tudo o que por ali passa serão os políticos de amanhã.
Este medo comum, esta fobia doentia sentida por todos os que passam por cargos de elevada responsabilidade quando obrigados a confrontar/enfrentar líderes estrangeiros com que privam fez com que Durão Barroso recebesse nos Açores uma cimeira na qual se que se comportou como o rapazola de laçarote que serviu os cocktails aos senhores da Guerra. Mas não valeu a pena? Claro que sim, dirá ele. Uma triste figura, digo eu. E ainda o estranho caso de José Sócrates enrolado nos trapos de Kadhafi, abraços sorrisos e beijos. Uma tenda armada. Não me lembro de o ouvir comentar ou a lamentar a sua tétrica e desumana morte.
Mais recentemente, e após termos descoberto que o líder madeirense (pela voz do próprio) tinha afinal um buraco maior do que se pensava, Coelho abanou as orelhas inquieto ao mesmo tempo que criticava abertamente o que considerava ser uma "situação inadmissível". Resultado: o líder madeirense (para mim tão ou mais estrangeiro que todos os outros) venceu as eleições e lá foi Passos dar-lhe um abracinho. Patético. Simplesmente ridículo. Seguiu-se o "Sr. Silva" no palco do mesmo teatrinho representativo-democrático da nação decadente… O beija mão ao senhor do disparate, até o lorde da república das bananas é temido no burgo dos bajuladores.
Merkel não precisa de bater com a Der Spiegel no rabiosque de Pedro. Ele é extremamente obediente e ensinado. Assim foi moldado por defeito no aparelho, no torno "democrático". Passos é mais alemão do que muitos alemães, mais europeísta do que a maioria dos europeus e mais "troikista" do que a própria Troika. A obediência, a subserviência do nosso governo aos mandos e desmandos da europa, do mundo e de meia dúzia de especuladores de pacotilha só não são simpáticas porque são diretamente proporcionais aos sacrifícios que os portugueses têm de despender para cada um deste baixar de calças. Por cada festinha que o nosso Coelho recebe é mais uma palmada no lombo de todos nós. Por cada aplauso que estes senhores ouvem lá fora (para mais tarde disfrutarem, obviamente...) menor é a esperança deste país. Maior o buraco. Mas "tudo pelo povo", é claro. Viva Portugal.
Tiago Mesquita

Contramarés sem contrapé… 26 nov.

As operadoras portuguesas de telecomunicações praticam produtos e preços iguais, numa total ausência de concorrência, revela um inquérito da DECO, que comparou as práticas das operadores de 8 países europeus e Portugal é o único onde tal acontece, em comparação com a Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Itália.

A “chanceler de ferro” orgulhosamente só?

O “Nein” de Merkel está a destruir a UE – Quem teme a Alemanha? (4)
Sozinha contra todos, Angela Merkel recusa-se a reforçar o papel do BCE e as obrigações europeias. Mas, mesmo na Alemanha, alguns especialistas alertam contra a sua obsessão pela disciplina, que pode semear o caos em toda a Europa.
A cenoura e o pau, eis em resumo as propostas da Comissão Europeia perante a crise da dívida soberana. A cenoura são obrigações a uma taxa comum a todos os países da zona euro, aquilo a que se tem chamado "eurobonds", visando criar uma forma de responsabilidade partilhada.
O pau é o reforço dos controlos e das sanções contra os endividados. Com um programa destes, era de acreditar que o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, marcasse pontos mesmo junto de Angela Merkel.
Voltou a falhar. Apesar de rebatizar as obrigações europeias para "obrigações de estabilidade" e mesmo a cenoura só sendo entregue depois de engolida a pílula amarga do plano de austeridade, Berlim continua a responder com um não rotundo.
Angela Merkel começou por achar “deslocado” discutir-se as obrigações europeias. No entanto, foi ela a própria a encomendar um estudo de viabilidade na matéria. A questão é agora tanto mais oportuna quanto os mercados atacam não apenas os Estados devedores, mas também países como a Áustria e a Holanda. Interessa absolutamente à Alemanha proteger esses importantes parceiros.
Muitos culpam a Alemanha
No entanto, só a regra e a disciplina contam, aos olhos de Angela Merkel. A Chanceler de Ferro faz orelhas moucas aos argumentos de economistas cada vez mais numerosos, para os quais a resolução da crise passa por dois elementos: as obrigações europeias e o apoio do BCE na compra da dívida.
Com a sua atitude, Angela Merkel não se expõe apenas a novos debates acesos com Durão Barroso, que há muito vem lamentando a indecisão da Alemanha face à crise. A Alemanha arrisca-se também a ficar cada vez mais isolada. Angela Merkel já não conta com um punhado de apoiantes em Paris, Haia e Helsínquia.
O Presidente francês já se distanciou na questão do BCE e a Alemanha dá agora o flanco a novos ataques: o orçamento para 2012 está muito aquém de corresponder à política de rigor pregada pela chanceler. Pela primeira vez, na quarta-feira, os mercados começaram a expressar dúvidas sobre a notação da Alemanha e não acorreram a comprar as suas obrigações, habitualmente tão requisitadas.
Além disso, diversos sinais indicam que a crise da dívida continua a agravar-se. Se a zona euro vacilar e Angela Merkel bloquear todas as tentativas de recuperação, muitos dirão que Berlim é culpada – e com razão.
MERCADOS FINANCEIROS
Primeiro revés para Berlim
"Alemanha leva de volta os seus títulos" destaca Die Welt, após a dececionante reação dos mercados financeiros à emissão de obrigações alemãs. O diário explica que o país se debate com um problema que os seus parceiros europeus desconhecem: as taxas de juro aplicadas são inferiores a 2% (1,98%), rendimento demasiado baixo para interessar aos investidores. Como resultado, a Alemanha só conseguiu vender um terço dos títulos ao preço proposto. "Um desastre total" consideram alguns analistas; um episódio, segundo outros, que não põe em causa a capacidade de refinanciamento de Berlim nos mercados.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 25 nov.

Austeridade: suicídio, ou assassinato em série?

O prémio Nobel da Economia em 2001 e antigo vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, afirmou em Espanha, onde proferiu na Corunha a conferência "Pode o capitalismo salvar-se de si mesmo?", que as políticas de austeridade constituem uma receita para "menos crescimento e mais desemprego" e considerou que a adopção dessas políticas "correspondem a um suicídio" económico,
O economista sugeriu ao novo governo espanhol que vá "além da austeridade" e que proceda a uma reestruturação das despesas e da fiscalidade como medida básica para criar emprego, recomendando em particular uma fiscalidade progressiva e um apoio ao investimento das empresas. Para o Nobel da Economia de 2001, "a menos que Espanha não cometa nenhum erro, acerte a 100% e aplique as medidas para suavizar a política de austeridade, vai levar anos e anos" a sair da crise.
O antigo vice-presidente do Banco Mundial disse que as reformas estruturais europeias "foram desenhadas para melhorar a economia do lado da oferta e não do lado da procura", quando o problema real é a falta de procura.
Por isso, rejeitou as propostas a favor de mais flexibilidade laboral: "Se baixamos os salários, vai piorar a procura e a recessão", alertou Stiglitz, defendendo que "é necessário" que a flexibilidade seja acompanhada por "compensações do lado da segurança" para os trabalhadores.
"Em economia, há um princípio elementar a que se chama efeito multiplicador do orçamento equilibrado: se o governo sobe os impostos mas, ao mesmo tempo, gasta o dinheiro que recebe dos impostos, isto tem um efeito multiplicador sobre a economia", explicou, apresentando a sua receita para sair da crise.
Há gente, que até sabe do assunto, a começar pelo ministro das Finanças (o 12º melhor da EU – o que continua a se depreciativo) e pelo da Economia, seguido de outros economistas, políticos, comentadores, blogueiros e outros “crentes”, que procuram defender o indefensável quando gastam palavras, ditas ou escritas, sobre as vantagens da austeridade e vincando que é a única e inevitável solução para a saída da crise, que é o mesmo que dizer, para pagarmos no tempo mínimo imposto, as dívidas contraídas durante largos anos...
Agora vem Stiglitz, com muitos zeros à direita, em termos de classificação e competência reconhecida dizer, ou melhor, insistir na rejeição deste remédio, como tantos outros galardoados com o Nobel o tem feito, fazendo os mesmos raciocínios básicos, que todos nós fazemos, por instinto, ou por sermos mesmo básicos.
Sucintamente, Stiglitz afirma o seguinte:
1 - A austeridade constitui uma receita para menos crescimento e mais desemprego;
2 – Em consequência, a adopção dessas políticas levam ao suicídio económico;
3 – Sugere ao novo governo espanhol que vá além da austeridade;
4 - Proceda a uma reestruturação das despesas e da fiscalidade para criar emprego;
5 - Recomenda uma fiscalidade progressiva;
6 - Apoio ao investimento das empresas e
7 – Alerta, que mesmo que tudo corra a 100% e mesmo que aplique medidas para suavizar a austeridade, serão precisos anos e anos para sair da crise.
E ao dizer o que disse, apresenta as causas do fracasso que “prevê”, naturalmente com base nos resultados já recolhidos, contrariando os resultados das reformas estruturais europeias, que apenas procuram melhorar a economia do lado da oferta e aniquilar o lado da procura, quando o problema real e a prioridade estão na falta de procura.
E ao contrário das soluções da troika, dos nossos governantes e dos nossos empresários, condena a flexibilidade laboral tout court e a baixa dos salários, por piorarem a procura e gerarem recessão, defendendo que a haver flexibilidade, deve ser acompanhada com programas de segurança para os trabalhadores.
Tudo exatamente ao contrário das opções dos nossos governantes “iluminados” e subservientes dos funcionários de 5ª, ou 7ª categoria da troika e da serial killer, Sra. Merkel…
Mas a realidade que vai emergindo gradualmente com a aplicação das medidas suicidas é esta, no que ao nosso país diz respeito:
- Queda do PIB prevista pelo Governo será de 2,8% (OCDE já prevê 3,2%);
- O desemprego, em 2012, vai chegar aos 13,8% e poderá chegar aos 17,5% em 2013;
- Mais de metade dos desempregados não recebe subsídios;
- A falência de empresas aumenta e pela primeira vez o número de famílias falidas ultrapassa-as;
- O défice ficará nos 6% este ano, caindo para os 4,7% em 2012 e para os 3,5% em 2013, altura em que o país já deveria conseguir atingir a meta de 3% acordada a nível europeu,
- A actividade económica e o consumo privado caem todos os meses, representando  uma perda de 2,4% no trimestre terminado em Outubro de 2011, em  termos de variação homóloga;
- As exportações estão a diminuir e a procura interna é negativa, nas vertentes de consumo e investimento, mantendo uma tendência negativa.
Como se constata, Stiglitz já nem faz previsões, recolhe dados e para lhe dar “alguma” razão, uma agência de rating, agora acompanhada pela chinesa Dagong, atiram-nos de novo para “lixo”, o país e 5 bancos portugueses, pela INEVITABILIDADE das soluções em curso.
Stiglitz só se engana na suposição do suicídio, porque parece ser mesmo a vontade e a estratégia da “mulher do leme” (que será a última a deixar o barco), porque não acredita que há alguém num cockpit a querer deitar o barco ao fundo, o que já FEDe… e isso é que seria evitável, se se mudasse de rumo.

Contramarés sem contrapé… 25 nov.

Portugal vai pagar um total de 34.400 milhões de euros em juros, correspondente ao valor total a pagar ao longo do prazo dos empréstimos do programa de ajuda da troika (CE, BCE e FMI), valor foi apresentado pelo Ministério das Finanças. O total do crédito oferecido a Portugal no âmbito do programa de assistência da "troika" é 78 mil milhões de euros.

Se não houver pobres, como irão os ricos para o céu?

No nosso tempo, nada rivaliza com a economia, em termos de poder. Há menos de dois séculos atrás, Karl Marx chocava o mundo ao dizer que a política (estou a simplificar) seguia a economia. Faz 50 anos, a direita usava argumentos religiosos, espirituais, morais para enfrentar o "materialismo ateu", que reduzia a riqueza do ser humano, criado à imagem de Deus, à vulgaridade económica. Mas como bem disse, embora grosseiramente, James Carville, o diretor de marketing de Bill Clinton que foi decisivo para o eleger presidente dos Estados Unidos: "O que conta é a economia, seu estúpido".
Este facto tem vários desdobramentos. O primeiro fortalece a democracia. Acabou, quase por completo, pelo menos nos países em que há comunicação de massas, a ideia de que os pobres acatariam a sua condição porque Deus assim o quis. Uma notável peça de Pedro Calderón de la Barca, "O grande teatro do mundo", sustentava, na década de 1630, que cada um deveria contentar-se com a sua condição social, do miserável até ao monarca, e cumprir o seu papel (daí, a referência ao teatro) adequadamente. Hoje, nem pensar. Na nossa sociedade, todos querem viver melhor. Mesmo quem está no topo da escala social e poderia nada almejar a mais, continua a desejar subir. Quanto aos mais pobres, nenhum argumento religioso os convencerá de que devem suportar a sua situação, digamos, cristãmente. Um arcebispo de Diamantina, líder da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, disse certa vez que é preciso haver pobres, e mesmo muito pobres - porque, se não houver, como é que os ricos conseguirão ir para o céu, não podendo exercer a virtude da caridade? Admirável esta preocupação de salvar os ricos no Além, ainda que às custas dos pobres aqui e agora. Mas acabou. Mais ninguém diria essa tolice, hoje.
Vencer a pobreza só é possível com a economia
Portanto, os pobres querem, dos governos, que os ajudem a melhorar de vida e a deixar a pobreza. A classe média quer subir na vida e os ricos, pouco numerosos mas com bala na agulha, também. Isso faz que (em países como o nosso) a grande maioria de pobres tenha bem claro o que deseja da democracia: que ela seja social, isto é, que não fique só na política, mas mexa também na estratificação da sociedade, tornando-a mais justa. Esse fator, fortemente democrático, está ligado ao primado da economia nos nossos tempos.
Mas há outro lado, que é pouco democrático. Porque quem entende de economia? Bem poucos. O sufrágio universal impôs-se. Os eleitores têm cada vez mais consciência do que desejam e querem. Mas o instrumento para realizar essa prosperidade crescente, ou pelo menos para acabar com a miséria, reduzir a pobreza e baixar a desigualdade, é arcano - isto é, de difícil compreensão. Por outras palavras: está numa ciência (ainda que não exata), cujo domínio exige especialização e conhecimento profundo. Daí que as eleições tenham um alcance limitado. Isto porque, entre o dia da eleição, que é quando se manifesta a democracia, isto é, a soberania popular, e os 4 anos de gestão dos negócios públicos, onde a economia prevalece, há uma distância - e mesmo um abismo.
Tudo isto, tanto o aspecto democrático, que consiste num povo que não aceita mais a pobreza como natural ou santa, como o lado pouco democrático de uma gestão das coisas cuja compreensão escapa à esmagadora maioria, traz consequências para as democracias. Primeira e óbvia: nunca se promete uma recessão, um empobrecimento. O que se oferece é o contrário. Vejam a Califórnia, tema de reportagem de novembro na "Vanity Fair", acessível na Internet: o Estado quebrou, vários municípios ricos quebraram, sobretudo porque uma emenda constitucional de perfil conservador exige 2/3 do Legislativo para aumentar qualquer imposto. Kaputt. É um caso extremo, mas que mostra que os políticos, quando concorrem a uma eleição, têm de omitir o que vão fazer, ou mesmo mentir. De onde José Serra (mude-se o nome) tiraria os aumentos que prometeu, no mês final antes da eleição de 2010 (mude-se a data), para o salário mínimo e a bolsa-família (mude-se o nome do subsídio)? Não o acuso; apenas digo que nenhum político pode agir de outro modo. Vão prometer. Então, a emancipação do povo, que consiste em ele não acatar mais a pobreza, vem junto com sua infantilização: ao povo, não se conta a verdade.
Daí, outra consequência: o primeiro ano de governo é de cortes e talvez de recessão. Já o ano da eleição tem que ser próspero, custe o que custar. Os economistas ficam de cabelos em pé ao verem isto, claro. Mas, por outro lado, as suas receitas só eles entendem. Pouca gente mais. Alguém acredita que Fernando Henrique Cardoso (qualquer PM) entendia profundamente de economia? Ele conhece finamente a sociedade, os seus processos e a sua política. Emprestou a sua competência para viabilizar o “Plano Real”, e com ele ganhou 2 mandatos presidenciais. Mas a economia tem segredos. Por isso, quem entende dela - ou quem convence os outros que entende dela - tem acesso direto aos governantes.
E aqui vem o nosso último problema. Quase todo o receituário dos economistas, salvo os keynesianos e os (poucos) marxistas, é conservador. Propõem cortes de gastos públicos, redução de direitos sociais, até mini-recessões. Não há como defender isto junto do povo, seja este grego, italiano ou brasileiro. Há alternativas? Claro que sim. A Argentina renasceu sem esse receituário. O Brasil superou 2008 sem essas receitas. A Islândia recusou-se a cumpri-las. Claro que, noutros casos, o caminho será outro. Mas geralmente só se diz a receita quase única, aquela que nunca passaria numa eleição. Daí que, se a democracia exige uma economia em crescente prosperidade, a atuação dos economistas nem sempre seja muito democrática.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 24 nov.

A revanche de quem perdeu a II Guerra Mundial?

Ninguém sabe exatamente as implicações do predomínio alemão na Europa – e os alemães menos do que ninguém. Um comentador do Spiegel busca a resposta em dois livros, um dos quais diz que o país perdeu a alma e o outro que tem génio.
A Alemanha venceu a Segunda Guerra Mundial na semana passada. Uops! Disse alguma coisa que não devia? Evidentemente, não foi com armas, e os alemães de hoje não têm nada a ver com o que se passou. Nós, os novos "alemães bons”, ganhámo-la, à custa de milhares de milhões de euros.
A antiga União Europeia já não existe. A de que nos falavam na escola e nos editoriais. Aquela que prometia a todos “cappuccinos” e uma vista folgada do Mediterrâneo para os alemães aposentados. Aquela que ia incorporar a Alemanha, ou domesticá-la, e sei lá que mais. Era, contudo, por uma razão deste tipo que Helmut Kohl e François Mitterrand trocavam umas opiniões, de tempos a tempos, enquanto todos os outros observavam.
O alemão de hoje é o alemão bom. Pelo menos, foi o que me disseram os suíços com quem falei. Querem saber o que sente, o que pensa, o que quer, o alemão bom, o que paga as falências dos Estados, do grego, do português, em breve talvez do italiano. "Seguido da França", de acordo com um título de Le Monde. Quem ousa, nestas condições, ainda falar de parceria Merkel-Sarkozy?
"A alma alemã"
A Alemanha chegou onde nunca pensaria chegar – e os alemães ainda nem sequer notaram. É um pouco como na guerra no Afeganistão: enquanto não se pôde dizer a palavra guerra, ninguém imaginava que era disso que se tratava. Hoje, toda a gente discute números, mecanismos de estabilidade, etc., simplesmente para evitar debater o que aconteceu: a Europa tornou-se dependente da Alemanha, e só da Alemanha.
Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, deu uma entrevista à edição britânica do Financial Times na qual apresenta o seu projeto de convergência fiscal, que está, naturalmente, em conformidade com os critérios alemães.
Temos, pois, Angela Merkel como único mestre a bordo, e uma Europa alemã, de que não sabemos nada, exceto que os italianos já não podem ser italianos nela. Ninguém sabe as implicações exatas deste predomínio – e os alemães, que não sabem quem são, como é a sua alma, se é que a têm ou sequer se desejam tê-la, muito menos que qualquer um.
E é por isso que acaba de sair, para nos ajudar a encontrar orientação na crise, um tijolo sobre o qual está inscrito em letras douradas: "A alma alemã", e cujo objetivo é ensinar-nos, de A a Z, o que nos torna alemães, desde Abendbrot [jantar], Abgrund [abismo] e Arbeitswut [obsessão pelo trabalho] até Winnetou [índio criado pelo escritor Karl May], Wurst [salsicha] e Zerrissenheit [desunião]. Em quase 600 páginas, os autores propõem uma versão de "bonito livro de sala" para uma obra de reflexão. A primeira impressão é de um livro indigesto e laborioso.
Antigos revolucionários que se tornaram pequeno-burgueses
Os lugares comuns são passados em revista, às vezes com humor, outras com afinco. Thea Dorn e Richard Wagner, os autores, chafurdam até aos joelhos no Romantismo e só raramente tocam no presente – a alma alemã deve ter-se perdido algures nas florestas do século XIX. Thea Dorn e Richard Wagner afirmam sentir hoje uma "nostalgia crescente da Alemanha" tanto entre as vítimas da lei Hartz IV como nos antigos revolucionários de 1968 que se tornaram pequeno-burgueses. A Alemanha, dizem, “extraviou-se”.
Vistas do exterior, as coisas parecem bastante diferentes. "O génio alemão" é um livro muito mais digerível – apesar das suas quase mil páginas – e bastante notável, em que o autor, o britânico Peter Walson, evoca, sem exageros, a sua profunda admiração pela cultura alemã. Explica com inteligência e descontração como o presente foi sendo forjado sobre o modelo alemão. Bum! A revolução, a desmistificação, o cosmos, a alma, o presente em estado bruto: em poucas palavras, o mundo em que vivemos é alemão.
São estas as obras de que precisamos para acalmar o nosso triunfalismo cultural sobre a Europa? Por dentro, uma alma de meter medo, por fora, o génio absoluto? Claro que é bom não voltar a passar por um povo inquietante, estúpido e ingénuo. Por outro lado, quem somos? Somos tecnocratas que passeamos com Goethe debaixo do braço.

Contramarés sem contrapé… 24 nov.

A agência de notação financeira chinesa Dagong baixou o rating da dívida soberana de Portugal de BBB+ para BB+, com perspetiva negativa "devido à deterioração da situação económica e fiscal do país" e prevê que o Produto Interno Bruto de Portugal desça 1,7% em 2011 e 3,5% cento em 2012.
A agência de notação financeira Fitch cortou  hoje o rating de Portugal de 'BBB-' para 'BB+', passando  a nota do país para um nível já considerado 'lixo' ('junk'). 

Democracia, tecnocracia, povo, mercados financeiros...

A roda continua a girar. Com as eleições do dia 20 de novembro, a Espanha é o 3º país da UE a mudar de Governo desde o início do mês. E o 6º, após Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia e Itália, cujo executivo caiu ou renunciou, arrastado pela crise.
Democracia, tecnocracia, povo, mercados financeiros... Estes termos têm vindo a aparecer muitas vezes nos teclados dos colunistas. A forma como George Papandreu e Silvio Berlusconi foram empurrados para a saída e substituídos por especialistas que respondem ao mesmo tipo de perfil – Lucas Papademos e Mario Monti são economistas, que exerceram altas funções no seio da UE e trabalharam para o banco de negócios Goldman Sachs – levanta questões legítimas sobre a governação da Europa e a responsabilidade democrática.
Além dos todo-poderosos mercados financeiros, os dois principais arguidos são o Presidente francês Nicolas Sarkozy e, sobretudo, a chanceler alemã Angela Merkel.  O doravante célebre “Grupo de Frankfurt”, que reúne à volta dos seus dois dirigentes os presidentes de diversas instituições europeias e a diretora do FMI, fomenta uma fantasia de conspiração que visa colocar os países europeus sob uma direção de inspiração alemã e rigorista.
Mas fazemo-nos, por instantes, de advogado do Diabo. Após o acordo de 26 de outubro sobre a dívida grega, o comunicado de um referendo na Grécia destruiu por completo os pequenos progressos feitos para uma resolução da crise, e George Papandreu, apesar das suas competências, foi desacreditado até mesmo perante os seus amigos políticos.
Quanto a Silvio Berlusconi, que prova há anos a sua inaptidão pessoal e política a governar, não houve quem se queixasse por ele ceder o seu lugar a um homem que inspira confiança aos seus parceiros.
Há muito que nos queixamos da falta de um líder na Europa para denunciar o facto de Merkel e Sarkozy terem assumido a responsabilidade de travar a aceleração de uma crise, que todos sabem que coloca em perigo a própria existência da construção europeia.
Assim sendo, essas medidas de urgência não passam de um tapa-buracos. Por um lado, constata-se claramente que a crise continua a propagar-se, passando agora a ameaçar a França e a Áustria, além da Espanha e da Bélgica. Por outro lado, o fosso que separa os 17 países da zona euro dos outros 10 países da UE faz com que se receie uma nova paralisia política da União. Esta última será portanto incapaz de definir as linhas de uma saída da crise e de um projeto político que permita remediar o défice democrático.
Deste ponto de vista, convém estar atento ao confronto crescente entre a Alemanha e o Reino Unido, cujo início se presenciou esta semana. No mesmo dia, em dois discursos, Angela Merkel e David Cameron expressaram duas visões totalmente contraditórias da Europa.
A chanceler pede mais disciplina, coordenação e controlo e mostra-se disposta a ceder partes de soberania nacional. O primeiro-ministro britânico prefere a flexibilidade de uma rede, mas a rigidez de um bloco, e quer recuperar competências em Bruxelas.
Numa União onde os governos não sabem quanto tempo esta irá durar e onde a desconfiança face à Alemanha aumenta, prevê-se que o debate necessário sobre o modelo político seja agitado.
PS – Já depois deste artigo de 18 de Novembro, a Hungria pede "assistência" ao FMI e a Bruxelas e a Comissão Europeia avança três modelos de eurobonds, contra a opinião de Merkozy, mas já sem uma recusa vigorosa, assistindo-se, pouco a pouco, à aceitação de todas as propostas dos partidos da “esquerda radical”, de muitos economistas de renome, incluindo prémios Nobel e académicos de várias faculdades de economia de todo o mundo.
Realmente, a urgência é para ontem!
Foto

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 23 nov.

Pelas razões que entender... e HÁ MUITAS e más!

Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.
Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.
Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.
Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!
Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.
António Aleixo

Contramarés sem contrapé… 23 nov.

O presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas, que dirige o Egito desde o derrube de Mubarak em 11 de Fevereiro, admitiu a realização de um referendo para decidir se o povo egípcio pretende que os militares abandonem o poder. Em paralelo, assegurou que as eleições presidenciais vão decorrer "até ao final de junho de 2012".
Milhares de pessoas responderam ao discurso com a palavra de ordem "Fora, fora!".

Não queremos ser europeus alemães!

“A Europa fala alemão” - Quem teme a Alemanha? (2)
“A Europa fala alemão”, anunciou o deputado da CDU, Volker Kauder. Mas, não exageremos, previne o Berliner Zeitung. Uma associação de democracias livres tem um aspeto um pouco diferente.
Matt Kenyon
Já lá vai o tempo em que se podia dar uma gargalhada inocente ao ver a caricatura de turistas alemães em Itália, como retratado por Gerhart Polt no seu excelente filme de 1988, "Man Spricht Deutsch" ("Aqui fala-se alemão"). Dois anos antes da unificação da Alemanha, era evidente que este chauvinismo néscio alemão existia, de facto, nos parques de campismo e estava bem enraizado nas ‘Stammtischen’ (mesas reservadas para os clientes regulares) dos bares em diversos locais – mas que, apesar disso, a classe política da Alemanha ocidental tinha uma atuação bastante europeia, sem indícios de quaisquer ambições hegemónicas.
Agora, o escritor britânico Timothy Garton Ash recomenda que se adicione um novo verbo ao idioma inglês: o verbo 'to Kauder', que joga com a palavra alemã ‘Kauderwelsch’, que significa "disparate". Ou seja, "a linguagem das conversas dos bares de esquina catapultada para a cena política europeia". Ash referia-se ao discurso proferido no congresso da CDU pelo presidente do grupo parlamentar CDU/CSU, Volker Kauder. Nele, o homem de confiança da chanceler Merkel declarou, com alguma vivacidade: "De repente, a Europa está a falar alemão!"
Kauder não se referia ao projeto liderado pelo partido, tão persistente quanto mal sucedido, para fazer do alemão o idioma comum europeu em Bruxelas. Referia-se ao desejo alemão de uma política europeia de poupança e estabilidade – ou, por assim dizer, uma política de austeridade. Não passaram 25 anos, e a caricatura tornou-se realidade.
Desejo de hegemonia alemã
A Europa receia a superioridade alemã, e para os alemães esta não apresenta qualquer problema. Os governantes alemães celebram-na como um sucesso. A convicção expressa pelos turistas no filme de Polt – de que a Itália seria um país bonito se não fossem os italianos – não é muito diferente do que se ouve dizer hoje junto do Governo de Berlim.
Depois das catástrofes provocadas pelo desejo de hegemonia alemã, exercido por Bismarck, Wilhelm II e Hitler, que terminou no completo colapso político e moral do Estado-nação alemão, a integração da República Federal na Comunidade Europeia (ocidental) sempre seguiu dois objetivos: o regresso a uma comunidade internacional, e a garantia de que a Alemanha nunca mais aspirasse a ter um grande poder.
É uma conquista histórica de Konrad Adenauer, Willy Brandt e Helmut Kohl, que seguiram esta política durante décadas, de forma credível e com êxito. Mas quando em 1990 se tornou previsível que iria voltar a emergir no seio da Europa uma Alemanha reunificada e muito mais forte, a partir dos dois estados alemães anteriormente divididos, nos países vizinhos e também em alguns círculos alemães, a garantia desse status quo deixou de ser a mesma.
Helmut Kohl e os seus seguidores responderam com uma citação de Thomas Mann: "Não queremos uma Europa alemã, mas uma Alemanha Europeia." Como penhor, até abandonaram o marco alemão, o estimado símbolo do milagre do pós-guerra na Alemanha.
Palavreado otimista diplomático
Mas, com isto, começou a dar-se uma mudança na mentalidade, subtil no início, mas que se tornou tangível em 2009, com a decisão do Tribunal Constitucional da Alemanha sobre o Tratado de Lisboa, uma decisão que reforça a soberania do Estado-nação alemão de uma forma que aponta para uma Europa alemã. Na verdade, foi preciso a crise do euro para transformar uma opinião teórica legal numa prática política, e num estilo muito mais rígido do que os juízes de Karlsruhe, alguma vez, poderiam ter planeado.
É de certa forma meritório para Volker Kauder que, com o seu discurso convencido e arrogante, tenha conseguido penetrar a névoa do palavreado otimista diplomático. O que tem isso a ver com uma Europa democrática e diversificada, onde todos são iguais perante a lei, quando, sob a liderança alemã, as medidas de austeridade sonhadas por Berlim são impostas aos países do sul da zona do euro como uma necessidade essencial para a qual não há alternativa, e postas em prática pelos chamados governos de especialistas? E como é que a pressão política de Berlim sobre o Banco Central Europeu deverá enquadrar-se com a sua tão proclamada independência?
Pode dar-se crédito a Angela Merkel por não se ter voluntariado para este papel. Mas o poder económico da Alemanha, adquirido através do grande sucesso do euro e da política de austeridade dos últimos anos, está agora a obrigá-la a cuidar dos interesses da Alemanha. E assim, o desejo grego de fazer um referendo foi recebido com ameaças, e até a França foi conduzida para o rumo alemão. E assim, este trilho vai acabar por levar a uma Europa central personalizada pelos desígnios alemães, constituída apenas por países da zona euro – e em breve, talvez só os mais fortes.
A paixão de Angela Merkel pela Europa, só agora descoberta, parece uma coisa boa. Mas é uma Europa muito diferente da união de democracias livres e iguais que um dia os seus mentores sonharam.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 22 nov.

O “Centralão” centraliza as mesmas preocupações…

Nunca como antes o país viveu “uma crise tão grave”, nem estiveram tão em causa as “conquistas sociais” da Revolução dos Cravos: “O Serviço Nacional de Saúde, as pensões sociais, a dignidade do trabalho, a tendencial gratuitidade do ensino”. “Tudo isto pode estar em jogo de perder-se, mas também é a própria democracia que pode vir a ser posta em causa, dadas as exigências dos mercados especulativos e desregulados e a dependência que deles tem a comunicação social”, alerta.
Mário Soares questiona a fraqueza dos líderes europeus perante a crise económica e financeira, para a qual, lembra, veio a avisar nos últimos anos e que já levou 3 países a pediram ajuda externa: Grécia, Irlanda e Portugal (ao que se deve acrescentar a Itália e a Hungria).
Europeísta convicto, Soares admite que Portugal, desde a adesão à então CEE, “habituou-se a viver acima dos seus recursos”. Portugal está a ser “a 3ª vítima da ganância dos mercados especulativos e da audácia criminosa das agências de rating”.
A crise - diz ainda Soares – “só pode agravar-se” quando se chega “a uma situação tão estranha”, em que “os mercados comandam os Estados ditos soberanos - em vez de ser o contrário”.
A presidente da Assembleia da República portuguesa, Assunção Esteves, defendeu que a política deve voltar a assumir o papel central na sociedade, sendo vital que a Europa decida a revisão dos tratados europeus e criticou a atuação dos partidos europeus na atual crise. "Os partidos europeus estão a falhar o seu papel. Estão silenciosos. Ninguém ouve falar do papel do PPE do PSE nesta crise", afirmou.
Segundo a responsável, a "política perdeu peso para o poder económico", pelo que é necessário que a União Europeia esteja unida e decida a revisão dos tratados europeus e acredita que "numa folha A4 se podia mudar a Europa toda."
Das duas análises feitas por duas figuras com crédito político que chega e basta, quer se concorde com cada um, ou não, há algumas preocupações comuns, seja a da sobrevivência da DEMOCRACIA como regime europeu no futuro muito próximo, seja a constatação e o repúdio de uma inversão de poderes, entre o político e o económico, ganhando preponderância este (embora hoje se deva apelidar de poder financeiro).
E enquanto Mário Soares sublinha a ameaça da perda de direitos e a desregulação do mercado pelo poder político, com a conivência do poder dos media, Conceição Esteves denuncia o silêncio dos partidos do Parlamento Europeu e fruto da democracia por terem sido eleitos diretamente por nós, reduzindo a solução (política) a uma folha A4.
Perante tão lúcidas visões, que qualquer cidadão bem informado aceita e assina por baixo, tem que haver tramas e tramóias que cegam aqueles que não querem ver. Inocentemente divertidos com uma pseudo guerra entre a esquerda e a direita, a extrema direita avança em todos os países, ameaçando mesmo a democracia, levando-nos a ver filmes que já vimos a preto e branco, mas agora de tão coloridos, até nos podem parecer socialmente aceitáveis…
Cautela com caldos de galinhos, podem fazer mal a muita gente, como já se sente.

Contramarés sem contrapé… 22 nov.

Após mais de uma década em banho-maria, a Comissão Europeia avança com 3 propostas concretas para dar corpo à possibilidade de os Estados do euro emitirem conjuntamente eurobonds, abrindo caminho a um expediente considerado fundamental para travar a crise de confiança e salvar o euro. A Alemanha repete que não são solução para a crise, mas não fecha a porta.

Primeiro ELA, depois ELA e só depois ELA!

O mito da disciplina germânica - Quem teme a Alemanha? (1)
Berlim revela estabilidade em plena crise – e os mercados financeiros mostram-se confiantes. No entanto, o país não respeita os critérios de disciplina orçamental. Uma atitude simultaneamente arrogante e perigosa.
Os investidores dos mercados financeiros e os dirigentes políticos alemães, de facto, têm pouco em comum: regra geral, os primeiros não compreendem por que motivo os segundos precisam de tanto tempo para aplicar as decisões tomadas nas cimeiras de crise. Em contrapartida, os primeiros são os bodes expiatórios apontados pelos segundos assim que se trata de atribuir a culpa da crise a alguém.
Surpreendentemente, uns e outros estão de acordo sobre uma questão: a opinião que têm sobre a política orçamental alemã. Sendo sólida, é um exemplo para todos os países endividados do sul da Europa. Mesmo quando a realidade mostra algo bem diferente, ninguém quer pôr em questão esta verdade geral.
Isto permitiu a Volker Kauder, chefe do grupo parlamentar da CDU-CSU [no Bundestag], regozijar-se recentemente, no congresso do partido, com o facto de, na Europa, agora, "falar-se alemão". Este chauvinismo fanfarrão resume bem a política da chanceler alemã. Desde o início da crise do euro, na primavera de 2010, que o leitmotiv de Angela Merkel se pode resumir a isto: se toda a gente conseguisse, como os alemães, fazer economias, não haveria problemas.
Há uma coisa que temos de reconhecer em Angela Merkel: realmente foi bem convincente. Os investidores dos mercados financeiros, em todo o caso, acreditaram visivelmente na chanceler. Enquanto impõem um aumento das taxas de juro na quase totalidade dos países da zona euro relativamente à aquisição de obrigações do Estado, entregam o dinheiro quase a troco de nada ao ministro alemão das Finanças.
Guardiões europeus da disciplina
Os argumentos racionais não permitem sequer compreender como chegámos a este ponto. Naturalmente que, se olharmos mais atentamente, percebemos que países como a Espanha ou a Itália não estão assim tão mal, bem pelo contrário, se tivermos em conta a subida das suas taxas de juro. E que a Alemanha, em especial, não é o exemplo de rigor que pretende fazer crer.
Nos primeiros prognósticos, a Comissão Europeia conta com uma taxa de endividamento de 81,7% do PIB para a Alemanha, em 2011. É claramente mais que o limite de 60% prescrito no Pacto de Estabilidade Europeia – o mesmo que o governo federal repete consecutivamente aos países do sul da Europa e que tanto gostaria de reforçar. Quem quer prescrever um endurecimento das regras melhor faria que as cumprisse primeiro.
Jean-Claude Juncker, chefe do Governo luxemburguês, tem direito a sentir-se indignado com o paternalismo alemão. Apesar da crise que atravessa, a Espanha, por exemplo, está muito mais próxima de cumprir o pacto de estabilidade, com uma taxa de endividamento de 69,6%, que a Alemanha. Até mesmo os holandeses (64,2%), ou os finlandeses (49,1%) estão mais bem colocados que os alemães para se arvorarem guardiões europeus da disciplina orçamental.
A única coisa que nos deixa confiar atualmente nas finanças públicas alemãs é o nível do défice relativamente baixo do país, ou seja, a dívida suplementar atribuída ao desempenho económico. O facto de ser muito inferior ao dos países em crise do sul da Europa tem múltiplas razões – mas nenhuma que esteja ligada à imagem de exemplo de rigor que o Governo dá de si próprio.
Gastos do orçamento federal aumentaram
Pelo contrário: a Alemanha não poupa. Os gastos do orçamento federal chegaram mesmo a aumentar recentemente e é provável que se situem à volta dos 300 mil milhões de euros nos próximos anos, de acordo com a previsão orçamental. O programa de austeridade adotado durante o período mais crítico do outono passado pouco evoluiu para além da regra de ouro que os alemães gostam de apregoar na Europa.
Se o nível do défice baixar é apenas por causa da conjuntura favorável destes últimos 18 meses. Permitiu que a Alemanha arrecadasse receitas fiscais superiores ao que havia sido previsto, estimulando o PIB. Como é uma proporção calculada com base no endividamento suplementar, o rácio défice-PIB regride. Mas nada disto está muito relacionado com as medidas de austeridade.
A boa saúde económica do país até este momento não é o resultado de uma ascese – pelo menos não a do Estado. Se o made in Germany também chega ao estrangeiro é sobretudo graças aos empregados alemães que fabricam produtos de qualidade a custos relativamente vantajosos.
Ao fazer o elogio arrogante da disciplina do estado alemão, o atual Governo faz imensos estragos na Europa. Na Grécia, em Espanha ou na Itália, onde eram estimados pelas suas virtudes – pelo menos, antigamente – os alemães são agora considerados os pais arrogantes do rigor, que pretendem ensinar às pessoas do resto do continente como devem viver e trabalhar. E isto não pode funcionar indefinidamente.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ecos da blogosfera – 21 nov.

O socialismo vai caindo! Berlusconi foi o 4º…

O plano de ataque ao socialismo/social democracia
Silvio Berlusconi dominou a Itália por 17 anos, mas deixou o cargo derrubado pelo poder do mercado, com a zombaria dos romanos a soar nos ouvidos, amargurado e isolado ao dirigir-se para a residência do presidente Giorgio Napolitano, onde renunciou oficialmente ao cargo.
Depois de entregar a renúncia, Berlusconi deixou o Palácio Quirinale por uma entrada lateral enquanto milhares de manifestantes gritavam "palhaço! palhaço!", o insulto tradicionalmente reservado para políticos italianos que caíram em desgraça.
A saída do primeiro-ministro há mais tempo no poder na Itália pôs fim a semanas de turbulência nos mercados financeiros que deixaram o país dependente da ajuda do BCE para conter uma crise que ameaça toda a zona do euro.
O Partido Popular venceu as eleições legislativas com maioria absoluta com 44% dos votos. O PSOE sofre uma das maiores derrotas de sempre, com 29% dos votos.
Mariano Raroy, o vencedor destas eleições, promete um "esforço solidário" para combater a crise, mas avisa que não há milagres.
Há muita(?) gente que diz e defende, que todos os governos socialistas europeus vão caindo como baralhos de cartas, por serem os responsáveis pela bolha americana de 2008 e pelas aldrabices avaliativas das agências de rating, também elas americanas e talvez tenham razão, embora a realidade não prove a tese.
Na Europa e desde que classificaram determinados países membros como PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), 4 dos quais tinham governos ditos socialistas (exceto a Itália), raciocinando basicamente, era fácil tirar conclusões imediatas, sem que houvesse qualquer correlação política, a não ser pelos Mercados, naturalmente neoliberais.
Na Irlanda, mudou-se para manter a política que a oposição contestava…
Em Portugal, mudou-se para piorar a política que a oposição contestava…
Na Grécia, sem eleições, mudou-se para piorar a política que a oposição contestava…
Na Itália, sem eleições, mudou-se para piorar a política que a oposição contestava…
Na Espanha, mudou-se para manter a política que a oposição contestava e só agora vem dizer que NÃO HÁ MILAGRES! E as bolsas já estão a cair...
Entretanto, a Dinamarca, que era governada à direita, fez cair o respetivo governo e elegeu um governo de maioria de esquerda, com um governo social democrata à cabeça, para repor medidas que consideravam socialmente degradantes.
Na Alemanha, a maioria no poder perdeu 6 das 7 eleições regionais, que podem pré anunciar uma alternância em 2013, para a social democracia e ecologistas (de esquerda).
Em França, apesar da “eliminação” de Strauss Hahn como candidato socialista para derrotar Sarkozy (as sondagens previam), este não tem garantias de continuar no lugar em 2012, trocando com o candidato do PSF.
O que é facto e indesmentível, é que em todas as eleições europeias havidas nos tempos da crise, houve troca de governantes, uma alternância natural, como a última esperança em dias melhores, mas não em melhores dirigentes.
Não se pode entrar nesta análise, sem ter em conta que, politicamente falando, socialismo e social democracia, são a mesma coisa, com algumas nuances históricas, fruto das circunstâncias. E por isso, os países mais ricos, com menos desigualdades e com mais preocupações e soluções sociais, são os sociais democratas (socialistas), que praticam, sem desvios, os princípios e valores dessa ideologia.
Há outra constatação que convém ter em conta, que é a de a crise ser muito mais aguda, ou quase exclusiva na zona euro, o que nos deve levar a por em dúvida as tais origens ideológicas.
Os EUA, que se saiba, não são socialistas, nem se situam na Europa, estão piores do que nós, mas assobiam para o lado em relação à responsabilidade, embora vão tirando algum proveito, não tanto e diretamente o país, mas muitos americanos que vão conduzindo a crise e enriquecendo individualmente à sua custa.
Não é preciso ser adivinho para prever que nos países em crise, com eleições no futuro próximo, mesmo que não intervencionados pelas troikas, a alternância é a única alternativa, para manter um sistema capitalista em falência, sem freios nos dentes (por falta de soluções do poder político), que todos reconhecem que já “deu o que tinha a dar” e vai sacando o que pode, enquanto pode.
Não queiramos esquecer, que os movimentos sociais, “Primaveras árabes”, “Indignados”, “Ocupe Wall Street” e outros que surgirão, tem todos a mesma motivação, fruto das mesmas políticas, que não são todas socialistas/sociais democratas.
Às vezes é preciso usar uns óculos especiais para se ver a realidade em 3D, se se perceber a rede de dependências financeiras que a figura acima nos mostra, para não cairmos no conto do vigário…
Só cai quem quer, mas não se empurre ninguém, tapando-lhe os olhos…