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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Haja esperança...

Está a chegar a hora... “MUDE”!

Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade.
Sente-se noutra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde passa.
Apanhe outros autocarros.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspetivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de TV, compre outros jornais... leia outros livros. Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade.
Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia, numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todos os dias. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce noutros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão noutra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outra pasta de dentes... tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear noutros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Vá a outros cinemas, a outros cabeleireiros, a outros teatros, visite novos museus.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda!
Edson Marques

Com comentário do autor a quem desejo Bom 2013


Contramaré… 31 dez.

Mais de 2/3 dos gregos, incluindo o ministro das Finanças, Yannis Stournaras, preveem que 2013 será um ano pior que 2012.
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, considerou que 2013 "será um ano difícil" porque "a solidariedade não é sem condições. Ela depende da manutenção dos esforços de reforma". Para o ministro das Finanças grego, "agora é a parte difícil que começa", salientando que há "muito trabalho a fazer".

domingo, 30 de dezembro de 2012

Defender direito à Saúde e à Educação de “peito feito”!

Foi para ajudar Raúl Cardona que os moços d'esquadra de Gerona decidiram tirar a roupa para um calendário solidário. Proibidos de usar símbolos oficiais da polícia, as pistolas são de brincar e os bonés falsos, mas as vendas do calendário estão a correr bem.
"Há 10 anos a minha mãe teve um cancro. A Associação Espanhola contra o Cancro ajudou-a muito. A ela e a toda a nossa família, nesses momentos difíceis. Fazem um trabalho que não podemos agradecer o suficiente, por isso decidi fazer algo espacial para os ajudar", explicou Raúl Cardona.
O seu primeiro passo foi encontrar outros moços d'esquadra que alinhassem no seu projeto de calendário solidário, com fotos de nus. "No fim éramos 16, 10 homens e 6 mulheres. E na maior começámos a preparar o calendário", afirma Cardona.
Jogos de futebol, aulas, exercícios de treino ou simplesmente uma parada em que os agentes lançam os bonés ao ar, são todas situações retratadas no calendário dos moços d'esquadra de Gerona.
A ideia dos calendários sexy e solidários parece estar a ganhar adeptos em Espanha. Na semana passada surgiu a notícia de que as mães do colégio Evaristo Calatayud de Montserrat, perto de Valência, conseguiram o dinheiro que queriam angariar para comprar um autocarro de transporte escolar com calendário em que surgiam seminuas e em poses sexy.
Um grupo de mães de um colégio de Valência, na Espanha, decidiu aparecer num calendário sensual para tentar arrecadar dinheiro para recuperar o transporte escolar para seus filhos.
Segundo María Gilabert, uma das mães dos alunos do colégio Evaristo Calatayud da cidade valenciana de Montserrat, faria qualquer coisa pelo filho.
Em Espanha parece que é o que é preciso fazer para chamar a atenção.
O problema, afirmam as mães, é que os 80 alunos deste centro ficaram sem transporte por decisão da Secretaria de Educação e que os seus filhos, a cada dia, têm que percorrer 6 km para chegar ao colégio. A responsável da Educação do governo valenciano, María José Catalá, comentou que "respeita" a decisão das mães, mas declara que na "redistribuição" das rotas de transporte foram seguidos "os requisitos legais"
Só para mostrar que a vontade de se “chegar lá” pode passar por se perder a vergonha e envergonhar quem nos governa…
E viva Espanha! 

Ecos da blogosfera – 30 dez.

A imprensa na Europa (hoje) - 4/5

O diário sueco Svenska Dagbladet decidiu reduzir as suas páginas literárias e desenvolver a sua rubrica arte de viver. Esta escolha, que deve permitir alcançar um público mais vasto, assinala o empobrecimento da imprensa, denuncia um dos críticos despedidos.
A 6 de novembro de 2012, dia de aniversário da batalha de Lützen [onde se presenciou a vitória de Pirro dos suecos protestantes sobre os Habsburgos católicos em 1632, durante a guerra dos Trinta Anos], o novo responsável das páginas culturais do Svenska Dagbladet, Martin Jönsson, e a sua nova responsável pela rubrica literária, Lina Kalmteg, enviaram-nos uma carta, a mim e a vários colaboradores das páginas culturais do jornal, entre os quais, alguns dos mais conhecidos e experientes.
Esta carta informava-nos de que o jornal iria doravante abrir mão das nossas críticas literárias, uma vez que nos encontrávamos no início de uma nova era e que o número de jornalistas culturais independentes era excessivo. O serviço de Cultura expressou o desejo “da formação de um grupo mais pequeno com o qual [este] iria trabalhar, para uma cobertura parcialmente alterada da atualidade literária”.
O que aconteceu foi que, por motivos económicos, a direção do jornal decidiu rever em baixa o orçamento atribuído aos críticos literários e focar-se mais nas páginas culturais sobre “a arte de viver”, os meios de comunicação social e outros conteúdos mais ligeiros.
Uma "luta das classes"
O despedimento dos colaboradores culturais do Svenska Dagbladet não é um caso isolado, é uma consequência comum da crise internacional da imprensa. Para fazer face à concorrência da imprensa online e a outros meios de comunicação virtuais, os diretores de jornais sentem-se obrigados, embora não seja uma justificação, a rever em baixa as suas ambições intelectuais para poderem aumentar o número de leitores.
Resultado: os colaboradores culturais são despedidos ou postos de parte, e substituídos por jornalistas cujo papel é “jornalificar”, ou até mesmo “metroficar”, os conteúdos culturais, sob a forma de reportagens da arte de viver e outros artigos simplificados que podem facilmente ser consumidos no autocarro ou no metro. O fenómeno que afeta hoje em dia o Svenska Dagbladet há já muito tempo que está em marcha no seio do Dagens Nyheter, do Göteborgs-Posten e de outras publicações por todo o mundo.
Ao mesmo tempo, o que aconteceu pode ser visto como a fase final de uma longa “luta das classes” entre duas categorias de colaboradores da imprensa diária. A primeira é composta por jornalistas licenciados que adquiriram experiência nas redações dos jornais televisivos e das revistas de reportagem da esfera mediática – uma “classe inferior” de um ponto de vista histórico, que passou a dominar as páginas culturais. A outra categoria é constituída por colaboradores culturais que ganharam experiência no meio universitário ou literário – uma “classe superior” de um ponto de vista histórico, mas que, no entanto, está prestes a ser afastada da imprensa diária.
Mudança de rumo
O verdadeiro declínio das páginas culturais começou por volta de 2000 e foi imposto quase sempre do mesmo modo em todos os grandes diários, quando os leitores começaram a cancelar as suas subscrições aos jornais em suporte de papel para os ler gratuitamente em formato eletrónico na Internet. Durante muitos anos, as páginas culturais do Svenska Dagbladet foram poupadas, apesar da precariedade financeira do jornal, nomeadamente graças a colaboradores fiéis e a leitores oriundos de meios burgueses cultivados, também eles fiéis.
Mas não por muito mais tempo, o novo proprietário do jornal, [o grupo norueguês] Schibsted, exigiu cortes drásticos e uma mudança de rumo. Mats Svegfors e Peter Luthersson, dois intelectuais do jornal, que desempenhavam cargos importantes, demitiram-se e foram imediatamente substituídos por pessoas mais viradas para o marketing, provenientes do meio jornalístico.
Quais serão as consequências destas mudanças para os subscritores? Um jovem jornalista independente motivado não é caro, e é talvez possível poupar dinheiro a curto prazo, ou até mesmo seduzir novos leitores nesta nova geração que, esperemos nós, irá apreciar a nova linha editorial do jornal, centrada na “arte de viver”, privilegiando portanto a moda, a decoração, as viagens, o entretenimento e personalidades famosas da literatura.
Uma vitória de Pirro
Mas é simultaneamente uma escolha arriscada, na medida em que a burguesia instruída, que constituía até agora uma audiência fiel, começa a cancelar as suas subscrições. É também muito provável que a maioria dos jovens amadores das rubricas “arte de viver” deixem de vez os jornais em suporte de papel passando apenas a consultar a imprensa online e outros meios de comunicação eletrónicos. O processo já está muito adiantado. Por outro lado, os leitores exigentes do meio universitário passarão a comprar revistas intelectuais.
Os jornalistas culturais de renome conseguirão em princípio salvar os seus interesses, embora os jornais como o Dagens Nyheter ou o Svenska Dagbladet tenham deixado de ter meios para pagar o preço justo pelos seus artigos. Muitos deles já criaram os seus próprios blogues ou sites Web, o que lhes permite criar laços com os leitores. A longo prazo, conseguirão talvez rendimentos decentes ao trabalhar para o meio universitário, as fundações culturais e as editoras com uma ambição intelectual.
O domínio dos jornalistas da imprensa diária nas páginas culturais acabará muito provavelmente com uma vitória de Pirro. Estes jornalistas serão talvez, juntamente com os jovens jornalistas independentes, as principais vítimas do desemprego, e não os críticos literários experientes e os outros colaboradores que mostram ser “apostas seguras” no universo da cultura.

“Pessimista é um otimista bem informado”. Cuide-se!

Nos últimos anos, uma "overdose" de livros sobre optimismo inundou as livrarias. Há manuais que ensinam a levar o optimismo à prática, correntes que defendem que quanto mais visualizarmos um futuro brilhante, maior probabilidade existe de ele se concretizar.
Entre a psicologia positiva impulsionada pelo seu fundador, o americano Martin Seligman, e promessas de felicidade à vista, frases como "o optimismo ajuda a ser feliz", "sorria, seja optimista", "pensar de forma positiva" aparecem como receitas. 
Porquê esta "obsessão" com o optimismo? É mesmo condição essencial para viver bem? Deveríamos olhar para 2013 e ter expectativas altas?
Primeiro, afinal somos todos um pouco mais optimistas do que julgamos, segundo Tali Sharot, professora britânica no Departamento de Ciências Cerebrais da University College London, e directora do laboratório de estudo Affective Brain, que repegou numa teoria dos anos 1980 e escreveu o livro The Optimism Bias - Why are we wired to look at the bright side. A sua tese é a de que as nossas expectativas em relação ao futuro são, em geral, sempre melhores do que a realidade confirma. Definindo o preconceito optimista: "O optimismo é esperar acontecimentos positivos no futuro, o preconceito optimista é a diferença entre as expectativas e os resultados. O preconceito significa que se sobrevaloriza a ideia de acontecimentos positivos e subestima a probabilidade de acontecimentos negativos." 
Se alguém nos disser que somos muito espertos, a tendência é valorizarmos essa informação; se disser que não somos espertos, a tendência é achar que quem o disse também não o é, refere. "O mesmo se passa em relação ao futuro: se alguém disser que é provável termos um aumento de salário, ficamos com essa expectativa; se alguém disser que duvida de que vamos ter um aumento, ficamos a pensar que ainda é possível", explica. 
Embora estejam ligados, optimismo e felicidade e pensamento positivo não são a mesma coisa. "Podemos estar felizes num momento e não ter expectativas positivas quanto ao futuro ou não estarmos bem no momento, mas esperar o melhor. O pensamento positivo faz-nos pensar positivamente no momento, optimismo não força a pensar que as coisas estão a correr bem, está ligado à projecção."
Tali Sharot não descarta o lado negativo do optimismo, que pode levar a investir na bolsa e a perder tudo, por exemplo, ou a subestimarmos riscos e não tomarmos precauções como ir ao médico. Mas o psicólogo clínico americano Edward C. Chang, que dirige um laboratório na Universidade do Michigan dedicado ao optimismo-pessimismo, é mais crítico. 
Para ele, o pessimismo "ajuda-nos a estar alerta". Questiona se, ao contrário do que vários estudos apontam, o pessimismo pode ser positivo em alguns contextos e o optimismo negativo noutros. Entre as várias pesquisas que Chang fez, uma foi sobre o "preconceito optimista", que "não existe praticamente em culturas asiáticas - como na japonesa e entre os asiático-americanos". "Quando se pergunta às pessoas qual é a probabilidade de coisas boas ou más lhe acontecerem, o típico americano-europeu vai responder que a probabilidade de alguma coisa má lhe acontecer é mais baixa do que a média e a probabilidade de alguma coisa boa lhe acontecer é mais alta do que a média. Quando se pergunta a japoneses e a asiático-americanos é ao contrário." 
Chang defende que há uma "diferença normativa" entre culturas asiáticas e ocidentais, porque para muitos asiáticos as noções de obrigação, honra, respeito pelos pais são extremamente importantes. "As crianças asiáticas são ensinadas a não ofender os pais e aprendem a antecipar situações desafiantes de forma a garantir que o resultado é sempre positivo, não apenas para si, mas também para a família. Usam assim a estratégia do pessimismo: antecipam todas as coisas que podem correr mal, os obstáculos, conseguem ter uma noção dos recursos disponíveis e tomar as medidas necessárias - ou seja, muitos asiáticos podem usar essa estratégia pessimista porque ela simplesmente funciona." 
Expectativas e realismo
Tali Sharot começou a interessar-se por este tema quando estudava a memória numa pesquisa sobre o 11 de Setembro. Na altura, estava mais interessada nos acontecimentos negativos e neutros. "Queria ver se o mecanismo responsável pela forma como as emoções mudam a memória era o mesmo que o responsável pela forma como as emoções mudam a imaginação do futuro." Concluiu que sim. Quanto à memória, o que fica retido não é se uma coisa é positiva ou negativa, mas se provocou excitação, tenha ela sido agradável ou desagradável. Olhar para a frente implica criar expectativas - e estas não se mudam facilmente. "Há estudos que dizem que o preconceito optimista tem uma componente genética, mas há ainda o nosso ambiente, a forma como crescemos, e alguns estudos mostram que se pode aumentar o optimismo - fazer planos específicos, por exemplo, porque se consegue visualizar o resultado." 
O optimismo ou o pessimismo estão ligados às expectativas e a investigadora britânica cita um estudo em que se concluiu que pessoas com expectativas mais altas são as que se sentirão melhor, seja qual for o resultado - isto porque, se for negativo, interpretam o resultado como algo determinado por uma entidade externa, não como consequência das suas acções. O exemplo é o de um estudo com alunos que falharam num exame: os optimistas atribuíram o falhanço ao exame, os pessimistas a eles próprios. Autoconfiança e optimismo podem estar relacionados, diz Sharot, porque em ambos os casos se sobrestima o positivo e subestima o negativo. E nos dois casos activa-se o mecanismo da ilusão, responsável pela nossa tendência "em descartar informação negativa sobre como somos e sobre o nosso futuro"
Uma das conclusões curiosas na pesquisa de Sharot é a de que as pessoas mais realistas são as que têm depressão moderada. Quem tem depressão severa não tem sequer um preconceito optimista - ou seja, há uma grande dose de ilusão no optimismo. "Somos todos um pouco iludidos em relação a nós e ao futuro", diz. "Somos iludidos sobre o controlo que temos sobre as nossas vidas e sobre o ambiente. Isto é bom, muito adaptável, mantém-nos saudáveis física e mentalmente e faz-nos andar para a frente. O preconceito optimista não é a única maneira de nos iludirmos: ver também implica ilusão, sabemos que não vemos o mundo exactamente como ele é, não vemos os pontos cegos que sabemos existirem. O cérebro cria as ilusões e, se víssemos tudo sem as ilusões, a vida ia ser muito difícil." Saber que temos um preconceito optimista é "como sabermos que não conseguimos ver os pontos cegos, como sabermos que temos ilusões visuais", ou seja, não altera em nada os nossos níveis de optimismo. "Só porque sabemos que existe não desaparece." 
A ausência de ilusão e o pessimismo funcionam, curiosamente, como antídoto em alguns casos. O psicólogo fez uma pesquisa para saber os efeitos de acontecimentos negativos em optimistas e pessimistas e o resultado foi que "os grandes optimistas experienciaram mais sintomas depressivos do que os pessimistas". "Ou seja, há uma vulnerabilidade em ser-se optimista cego. Os pessimistas antecipam: a vida é dura. O pessimismo pode ajudar-nos a sobreviver e, no longo prazo, a conquistar melhor as coisas, porque aprendemos a desenvolver estratégias e precauções de modo a termos planos B."
Chang insiste que é preciso cuidado na associação entre pessimismo e depressão, que os dois não estão necessariamente ligados - "o pessimismo num asiático pode ser visto como uma doença mental, quando faz parte de uma norma cultural". E defende que, se há várias pesquisas que mostram que o optimismo é um bom catalisador da motivação, também há investigação que mostra que, quando se olha para a personalidade como algo maleável, o ser-se pessimista não influencia essa mesma motivação. Citando outro estudo: "Perguntou-se a americanos, antes do exame, qual era a nota que os estudantes esperavam. A maior parte respondeu de forma optimista. Duas semanas depois, perguntaram que nota achavam que tinham tido no exame e a maioria reviu as suas previsões para uma nota mais baixa. Porquê? Para manterem os seus níveis de felicidade - se tivessem uma nota intermédia, ficariam contentes, ou seja, o pessimismo pode ser útil para um resultado positivo." 
As passagens de ano são normalmente repositórios de expectativas para o futuro. Portanto, à beira de saltar para 2013, deveremos ser pessimistas ou optimistas? 
"As duas coisas!", responde Chang. Não se trata de ver o pessimismo e optimismo como "vício e virtude", mas de encontrar o "equilíbrio" de "um duo dinâmico", defende. "[Devemos assim] esperar que as coisas possam correr mal e portanto sermos conservadores nas previsões, investimentos, julgamentos, emoções, etc. Mas devemos continuar a ter esperança de que as coisas podem melhorar. Optimismo e pessimismo são como um fluxo que nos fazem andar - pessimismo para nos manter com os pés no chão, optimismo para acreditar que podemos mudar."

Contramaré… 30 dez.

Carlos Braga, dirigente do MUSP, vê neste tipo de declarações um reflexo de uma “política de Direita em que se privilegia os interesses dos grandes grupos económicos em desfavor do que são os interesses e os direitos das pessoas em terem acesso aos serviços de saúde” e lembrou ainda que o “Estado cada vez investe menos nos cuidados de saúde primários optando antes por fazer o tratamento da doença depois de a mesma ser declarada”.

sábado, 29 de dezembro de 2012

A ANA vendeu-se, a AdP vai por água abaixo e nós?

No final de Setembro, o défice das administrações públicas terá ficado nos 6,1% do PIB, revelam as contas dos técnicos do Parlamento, que concluem que a meta do Governo de conseguir um défice de 5% para o conjunto do ano "afigura-se extraordinariamente difícil de alcançar".
Nem mesmo as receitas da concessão da ANA chegarão para Portugal cumprir a meta acordada com a ‘troika'. Os cálculos da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) apontam para um défice entre 5,9% e 6,3% no final de 3.º trimestre, em contabilidade nacional. O número final só será divulgado pelo INE a 28 de Dezembro.

A privatização dos sectores das águas e resíduos deu na quinta-feira um importante passo com a aprovação, em Conselho de Ministros, de uma proposta de lei que permite o acesso dos privados aos sistemas multimunicipais. A privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), a empresa pública que gere os resíduos no universo Águas de Portugal, com conclusão prevista para o 1.º semestre do próximo ano, fica mais perto.
Segundo informações que têm vindo a público, já há interessados nesta privatização – o presidente da Águas de Portugal chegou a avançar que seriam uma dezena de empresas, não as identificando mas dizendo tratar-se de entidades portuguesas, espanholas, francesas, chinesas e brasileiras. A privatização poderá render aos cofres públicos 150 a 180 milhões de euros. 
Neste último Conselho de Ministros de 2012, foi também aprovada a proposta de lei orgânica da Entidade Reguladora de Águas e Resíduos (ERSAR), considerada pelo Governo como “o ponto de partida para a reestruturação do sector da água e resíduos" em 2013. A proposta dá maior autonomia e novos poderes ao regulador, que passa a poder fixar tarifas e aplicar sanções pecuniárias. Cria-se também um novo órgão, o conselho tarifário.
Pelo que nos informam, o défice previsto (mais uma “previsão” furada) vai além da crença do Gaspar e dos resultados da sua folha de Excel.
E para “salvar a face”, lá tiveram que prostituir a ANA, privatizando-a, e como a mercadoria era boa, lá conseguiram umas massas, que podem permitir fazer de conta que reduziremos o défice até à “previsão”, se a Eurostat deixar contabilizar o apuro conseguido, o que acontecerá, para dar um aval ao governo, à troika e sobretudo à estratégia de ambos, que se traduz em vender alguns anéis, entre outras imoralidades.
É fácil perceber-se, que para o ano, com “previsões” ainda mais arriscadas e seguramente mais falíveis, mais difícil será reduzir ainda o défice para valor mais baixo, que nem mesmo o novo saque feito através dos impostos ajudará, o que só será possível com a prostituição de outra mercadoria boa, mas o que nos resta já é só a Águas de Portugal (a RTP é só para o DOTOR brincar aos berlindes), cuja privatização foi adida para 2013. É fácil perceber-se, que lá para o fim do ano que está a chegar, iremos, mais uma vez, ao saco das joias, esvaziá-lo…
Para tanto, o governo já vai preparando o terreno, sabendo que há interessados dispostos a “correrem riscos” em benefício do interesse nacional, embora com a garantia de que os lucros são certinhos, apesar de os resíduos virem a reduzir (obviamente) e começar a haver concorrência com os “catadores” de lixo, que farão a separação seletiva do que for comestível, se não houver legislação que proíba esta atividade paralela…
E em 2014? Talvez a TAP… Não esquecer que em 2015 haverá eleições (se entretanto o povo não quiser exercer o seu direito soberano de escolher novos governantes) e o saco azul estará vazio, restando apenas umas tantas mentiras para enganar os incautos (esperemos que o povo tenha aberto os olhos e muitos já os tenham fechado) para novos assaltos ao património pessoal, como nos regimes ditatoriais, de esquerda ou de direita…
E nos anos seguintes?
É pena não poderem privatizar o fabrico do pão, ficando garantido na Constituição (as privatizações são para isso) o assistencialismo privado, com os dois alimentos mais básicos e suficientes para a sobrevivência, passando “os mais desfavorecidos" a viver “a pão e água” e à luz de velas…
Não haverá procura (privada) para o mercado de dedos?

Ecos da blogosfera – 29 dez.

A imprensa na Europa (hoje) - 3/5

A era da Internet multiplicou as promessas: íamos todos ser autores, jornalistas ou editoras, e íamos todos ganhar dinheiro. No entanto, a democratização da informação nunca chegou a acontecer, constata o chefe de redação do jornal FAZ. Excertos.
Não soubemos aproveitar esta aurora cheia de promessas! Todos tinham na secretária ou no bolso aparelhos que lhes ofereciam meios de comunicação que nem o Presidente dos Estados Unidos possuía, isto há 20 anos; não eram precisos grandes investimentos para se formar um estúdio de televisão ou uma editora: tudo era possível, diziam todos exaltados, mas não agarrámos a oportunidade. Um desastre, sejamos sinceros, onde a mensagem de um sonho nos faz refletir, agora que estamos despertos.
O que aqui está em causa não é a crise da imprensa. Quando vemos a grande máquina mediática reagir de forma automática e crítica – nem sempre com más intenções, mas dando sempre lições – às “ocasiões falhadas” [do setor] após os anúncios de insolvência do Frankfurter Rundschau e do encerramento do Financial Times Deutschland, é sinal que está na hora de ver quem está no barco.
O iPhone ou o futuro social
Arredondemos os números para os que adormeceram: 10 anos de comércio eletrónico, 10 anos de economia da informação, 5 anos de smartphones aos quais se juntam pelo menos 20 anos de ideologia, elaborada pelos intelectuais da Web, isto é a autonomização de todos os cidadãos enquanto voz da opinião pública, e da participação individual.
Para onde foi toda esta euforia dos primeiros tempos? O que é que ainda é verdade nestas teorias sobre uma tecnologia que devia abalar as relações sociais e económicas – estaremos perante o maior golpe de marketing da história, orquestrado por Silicon Valley?
80.000.000 de alemães pensaram que se tornariam de um dia para outro a sua própria editora, autora e impressora: onde está o novo Pulitzer? Onde estão os modelos de blogue, de startup ou de comunicação que funcionam pelo menos minimamente na Web?
Se há cada vez mais pessoas a desejar o desaparecimento dos órgãos de comunicação social chamados “tradicionais”, talvez se deva ao facto de alguns considerarem que a única forma de serem bem-sucedidos é livrando-se da concorrência. “Que comam o futuro!”, eis a resposta do célebre ensaísta americano Thomas Frank a esta estratégia – por outras palavras: devemos partir do princípio de que cada nova geração de iPhone contém o programa do futuro social.
A exploração de si próprio
Não há ninguém que goste mais de brincar ao determinismo tecnológico do que os jornalistas. Wolfgang Blau, por exemplo, diretor do site do Zeit – que nunca lucrou um único cêntimo, mas que vive graças à notoriedade do jornal, cuja estabilidade financeira é constantemente colocada em causa – surge hoje como a encarnação do pensamento neoliberal: foi esta a decisão do mercado, somos obrigados a lidar com o desaparecimento de diversos setores económicos.
A tábua de salvação está pronta: hoje em dia, um site especializado na economia dos meios de comunicação social não tem nada a dizer contra o facto de os fabricantes de bens de consumo lançarem os seus próprios sites de informação – o que permite pelo menos identificar os conflitos de interesses. Ficamos contentes por ouvir a Apple falar das condições de trabalho na China ou a Coca-Cola evocar os benefícios da mundialização.
A verdade é que, na sua versão alfa atual, o único resultado que a economia da informação teve foi a emergência de líderes industriais e de um fenómeno de concentração que, cada vez mais, faz com que o indivíduo seja o seu próprio explorador. A “ideologia californiana” anunciada há já alguns anos por Kevin Kelly – padroeiro de Silicon Valley [fundador da revista Wired] – disfarça o regresso do neoliberalismo escondido atrás da utopia tecnológica.
A predição de Kevin Kelly, segundo a qual cada um de nós tem direito a 15 megabytes de celebridade e pode obter receitas publicitárias generosas sem sair de casa tornou-se apenas realidade para um grupo restrito de pessoas no mundo. O exemplo mais marcante é o projeto do site da milionária Ariana Huffington o HuffingtonPost, que foi comprado pela AOL e que é conhecido por não remunerar os seus autores.
O que nos trouxe a nova economia da informação se não permitiu a criação de novos meios de comunicação? Gigantes do setor, que eliminam obras dos leitores de livros eletrónicos sem autorização (Amazon), censuram os títulos de certas obras ou o conteúdo do histórico (Apple, Facebook), ou destacam os seus próprios produtos nos resultados de pesquisa, uma vez que se consideram também um meio de comunicação (Google).
Redefinição das normas culturais
O novo livro de Naomi Wolf: Vagina: a new biography tornou-se “Vagina” na loja online de livros eletrónicos da Apple e foi preciso o caso provocar uma tempestade para a Apple voltar a colocar o título original. Evgeny Morozov citou este exemplo e outros no New York Times, chamando a atenção para o facto de os gigantes da informação estarem a redefinir as normas culturais de forma autoritária e, na maioria das vezes, sem ninguém dar por ela.
Continuamos à espera do desenvolvimento político e social do cidadão, que teria acesso a toda a informação com um simples clique, anunciado por Silicon Valley. A participação do cidadão limita-se cada vez mais a recomendar um conteúdo e exprimir o seu estado de espírito através de um “gosto”.
Demonstrar, como o fez Robert S. Eshelman na revista The Baffler, que a Primavera Árabe não foi provocada pelo Twitter e o Facebook, mas por sindicatos que se organizavam há anos em segredo, não constitui uma ofensa aos smartphones ou ao Facebook. Este tipo de demonstração procura mais saber como o jornalismo internacional chegou a esta conclusão – e por que lhe custa tanto refletir sobre a declaração do antigo diretor da Google no Egito, Wael Ghonim, que explicou que “a classe operária egípcia não foi contactada pela Internet nem pelo Facebook”: “As redes sociais desempenharam um papel importante, é verdade. Mas esta revolução não foi uma ciber-revolução”.
Todos no mesmo barco
Seja online ou em suporte de papel, os jornais que deixaram de interessar os leitores não podem culpar mais ninguém a não ser eles mesmos. Mas alguma vez aconteceu o contrário? Será que a Alemanha do século XXI se preocupa realmente com o facto de não poder tocar no que se lê? Todos sabemos que, num mundo sem papel, um jornal em suporte de papel torna-se automaticamente um nicho de mercado.
Como se fosse esta a questão. Como se não se tratasse sobretudo de saber se os jornalistas pretendem resistir à tentação de um fenómeno viral ou, pelo contrário, continuar a aparecer como as caricaturas de um setor que transformou a sua própria crise num título sensacionalista. Como se não existisse verdadeiramente uma diferença ontológica entre os bloguistas e os jornalistas, por exemplo, e não apenas divergências individuais; e como se não estivessem todos no mesmo barco. Uma coisa é certa: os jornais devem transmitir informações que suscitam o intelecto do leitor, e é nesta área que têm mais coisas a aprender.
O semanário Die Zeit questiona-se “como consegue sobreviver o jornalismo de qualidade”. No entanto, não é essa a questão. Num mundo onde se sabe quem mais beneficiaria com o fim do debate público, a questão chave que se coloca é: poderá uma sociedade sobreviver sem jornalismo de qualidade? Numa altura em que há cada vez mais jornalistas a seguir as previsões sociais de Silicon Valley e de Wall Street, podemos responder sem grandes rodeios e simplesmente: de forma alguma.

Contramaré… 29 dez.

As insolvências voltaram a bater recordes este ano, tendo praticamente alcançado a fasquia das 19.000, com uma subida de 62% face a 2011.
As insolvências sofreram um primeiro grande impulso há 3 anos, mas nessa altura ainda eram as empresas que mais contribuíam para o avolumar de casos nos tribunais. A partir de 2010, a tendência inverteu-se e os particulares assumiram as rédeas na escalada das falências em Portugal. Até que, no ano seguinte, passaram a representar mais de 50% dos processos, quando em 2008 pesavam apenas 22%.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Tanto saque em troca de UM natal "melhor" no futuro?

Senhor primeiro-ministro Pedro Passos Coelho,
Confesso que não o pretendia incomodar nesta altura festiva. Estava mais virado para falar da pouca-vergonha do BPN depois de, na passada semana, ter visto a reportagem da SIC com assinatura de Pedro Coelho. Um excelente trabalho que revelou que os portugueses vão ter de pagar, além dos 3.000 milhões que já voaram dos seus bolsos, mais entre 5.000 e 7.000 milhões de euros pelas fraudes cometidas por alguns no interior do banco, com culpa também dos que, fora dele, como os responsáveis do Banco de Portugal, andaram distraídos tempo de mais.
Só que, entretanto, vossa excelência resolveu escrever uma missiva aos portugueses, entre os quais eu me incluo. Já se tinha dirigido ao país no dia 25 para dizer que os sacrifícios serão transformados em breve em “novas oportunidades”, seja lá o que isso for. Não satisfeito, no dia 26 voltou a falar à rapaziada, desta vez de uma forma mais informal e através do Facebook.
Ainda pensei que a sua conta tivesse sido atacada por algum pirata informático ou que um seu assessor tivesse escrito a “facebocada” por si. Esperei um desmentido, mas nada. Pelos vistos foi mesmo o senhor primeiro-ministro que escreveu a coisa.
Depois de ler a missiva várias vezes, só me ocorreu fazer-lhe uma pergunta: Vossa excelência sabe que é o primeiro-ministro de Portugal?
É que a desgraça que traça naquela dúzia de linhas – sobre o Natal que não merecíamos, os pratos que não existiram na consoada e que estávamos habituados, as famílias separadas e as prendas que as crianças não tiveram – é, em grande parte, da sua responsabilidade.
Já se esqueceu que não tendo sido o dr. Passos Coelho a chamar a troika foi o senhor que entroikou a coisa. Quem aumentou os impostos? Quem foi o responsável pelo aumento do número de desempregados e de pobres? Quem cortou nos salários e nos subsídios depois de prometer que não o faria? Quem é que se enganou nas contas do país? Quem falhou as metas acordadas?
Foram você e o Governo por si chefiado os responsáveis por tudo isto. Não acredita? Pergunte a Paulo Portas que ele lembra-o.
Mais à frente escreve: “Já aqui estivemos antes. Já nos sentámos em mesas em que a comida esticava para chegar a todos, já demos aos nossos filhos presentes menores porque não tínhamos como dar outros.”
Vossa excelência comeu alguma coisa estragada na Consoada que lhe tirou a memória? Ainda há dias dizia que 2012 foi o pior ano desde 1974 e agora “já aqui estivemos antes”. Quando? Durante a II Grande Guerra?
Termina a “facebocada” pedindo “apenas” aos portugueses que “procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor”.
Há uns anos, um cronista do El País escreveu que percebeu que tinha de cortar as unhas dos pés depois de tantas vezes baixar a cabeça de vergonha ao ver um determinado programa de televisão. Foi o que me aconteceu na quarta-feira ao ler a sua mensagem. Estou a precisar de cortar as unhas dos pés.

Ecos da blogosfera – 28 dez.

A imprensa na Europa (hoje) - 2/5

A cumplicidade entre os órgãos de comunicação social e os políticos parecia maior do que nunca nos tempos do Presidente Sarkozy. Mas, em vez de pôr de lado velhos hábitos, o discreto novo chefe de Estado, François Hollande, gosta de manter os meios de informação por perto.
O principal jornal conservador do país destituiu o seu diretor editorial, aparentemente na esperança de cair nas boas graças do novo Governo. Uma revista cultural também contratou uma nova diretora editorial, escolhendo para o cargo a companheira de um recém-empossado ministro. O homem que ela substituiu foi trabalhar para o novo Presidente.
A eleição de François Hollande, o primeiro Presidente francês de esquerda em 17 anos, trouxe consigo grandes movimentações nas fileiras dos meios de comunicação social e, igualmente, uma série de potenciais conflitos de interesses.
A cobertura noticiosa também sofreu alterações. Muitos dos órgãos de informação, que na sua maioria tendem para a esquerda, costumavam deliciar-se a criticar o antecessor de Hollande, Nicolas Sarkozy, mas, agora, muitos jornalistas queixam-se de que lhes falta matéria, por causa do estilo de governação menos espetacular do novo Presidente. Dizem que Hollande se revelou espantosamente desinteressante, em especial para os órgãos de informação que por vezes fazem a cobertura do Governo como se nada mais importasse, baseando-se na política de Paris para orientar as notícias.
A linha de separação entre os políticos e os órgãos de informação é um tanto indistinta em França, onde os destinos de alguns jornalistas há muito que vão a reboque dos destinos dos membros do Governo a quem incomodam ou a quem agradam. As ligações estreitas de Sarkozy com executivos dos órgãos de comunicação foram consideradas de certo modo um escândalo e a sua presidência atraiu um exame mais profundo deste tipo de relações incestuosas.
Conflitos de interesses
Na sua campanha, Hollande assumiu o compromisso de ser "exemplar". No entanto, num país onde a maior parte da elite de Paris tem antecedentes comuns, frequentou as mesmas escolas e foi às mesmas festas, a associação tradicional de jornalistas e políticos resistiu. Daniel Carton, antigo repórter em França, acusa os órgãos de informação de não fazerem o suficiente para resistir a tais laços estreitos. "Eles sabem exatamente o que precisam de fazer para evitar que as coisas se descontrolem, mas não o fazem", disse Carton, um franco crítico dos conflitos de interesses no jornalismo francês.
Durante décadas, os jornais dependeram grandemente de subsídios estatais. Os órgãos de informação públicos, que integram talvez metade dos principais noticiários de rádio e de televisão, ainda são dirigidos por pessoas nomeadas segundo interesses políticos. Os órgãos de informação privados pertencem a empresas ou investidores com inclinações políticas ou ligações de negócios com o Estado, o que prejudica a imparcialidade jornalística.
Neste ciclo eleitoral, a história mais espantosa talvez seja a da situação de Etienne Mougeotte, cuja carreira como diretor editorial do diário de direita Le Figaro começou e terminou com a presidência de Sarkozy, o político que apoiou e de quem, disse-se, terá sido conselheiro.
"Somos um jornal de centro e de direita e apoiamos Nicolas Sarkozy", disse Mougeotte, no ano passado, ao diário de centro-esquerda Le Monde. Sob a direção de Mougeotte, Le Figaro foi regularmente criticado, por vezes pelos seus próprios repórteres, como sendo o porta-voz do Governo.
Hollande terá pedido a demissão de Mougeotte, segundo algumas notícias de órgãos de informação franceses, e esta ocorreu em julho.
O responsável pela empresa editora, Serge Dassault, é senador do partido de Sarkozy. Mas Dassault também lidera uma grande empresa da indústria aeronáutica e do armamento com contratos com o Estado, e segundo a especulação generalizada, a demissão de Mougeotte pretendeu colocar o grupo Dassault numa boa posição junto do novo Presidente.
Membros escolhidos a dedo
A revista cultural Les inRockuptibles contratou como nova diretora editorial Audrey Pulvar, figura da rádio e da televisão e companheira do ministro Arnaud Montebourg, membro destacado do Partido Socialista [renunciou, finalmente, a 21 de dezembro].
Audrey Pulvar anunciou recentemente o fim da sua relação com Montebourg, mas outras relações do mesmo género continuaram. Valérie Trierweiler, a companheira de Hollande, começou o seu caso com o atual Presidente, que conheceu num contexto profissional, em começos de 2000, quando este era membro da Assembleia Nacional. Relutantemente, neste outono, Valérie Trierweiler renunciou ao projeto de relançar a carreira jornalística na televisão mas mantém a sua coluna de crítica na revista Paris Match.
Audrey Pulvar substituiu David Kessler, que é agora conselheiro de Hollande. Por outro lado, um repórter de assuntos jurídicos da rádio Europe 1 passou a ser porta-voz do Ministério da Justiça. Um repórter político do jornal financeiro francês Les Échos faz agora parte do gabinete de imprensa do primeiro-ministro.
Os órgãos de informação públicos também passaram por mudanças pós-eleitorais. Em outubro, Hollande nomeou um novo diretor para as estações informativas internacionais de rádio e televisão, RFI e France 24. Comprometeu-se a rever a lei que lhe permitiu proceder a essa nomeação, mas só no próximo ano.
Os diretores da Radio France e da France Télévisions, ambos nomeados por Sarkozy, deverão ser substituídos. A lei atual, que institui a nomeação dos dirigentes dos órgãos de informação públicos como prerrogativa presidencial, foi introduzida por Sarkozy, em 2009. Na altura, alguns comentadores chamaram a esse medida uma tomada do poder. Sarkozy disse que a intenção era retirar uma capa de "hipocrisia" ao processo de nomeação, que era controlado por um conselho governamental cujos membros eram escolhidos a dedo.
Ansiando por mais excitação
Os órgãos de informação públicos já não servem a função de propaganda do Estado, como serviam efetivamente pelo menos até finais dos anos 1970, mas continuam sob "supervisão" do Governo, afirmou o sociólogo Jean-Marie Charon, que estuda os meios de comunicação social.
As publicações privadas estão também dependentes do Estado, pelo menos financeiramente. No ano passado, o Governo pagou-lhes €1.100 milhões em subsídios.
As publicações de esquerda lutam por "encontrar a distância certa" em relação ao Governo, adiantou Charon. A euforia que dominou a cobertura política no verão passado no Libération, Le Nouvel Observateur e Le Monde transformou-se desde então em azedume. Seja qual for a tendência dos órgãos de informação franceses, a partida de Sarkozy deixou muitos deles ansiando por mais excitação.
"Tivemos cinco anos que foram extraordinários. Tínhamos um homem que era o centro de tudo", disse Pierre Haski, cofundador e editor do site de notícias Rue89. "De repente, passámos de uma sobrecarga para uma falta de carga." E acrescentou: "Sarkozy era bom para as vendas. Hollande não é bom para as vendas."

Natal + Idade = Natalidade (em recessão mundial)

As polacas fazem cursos superiores e pensam em ser mães mais tarde, por vezes demasiado tarde. A Polónia está em boa posição para obter o 1.º lugar da classificação dos países onde já não se fazem filhos, escreve a cronista da "Polityka".
Os demógrafos calculam que, se a tendência atual se mantiver, apenas 2 em cada 3 raparigas polacas serão mães. Para já, é certo que, entre as mulheres nascidas nos anos 1970 e 1980, cerca de 1 em cada 5 não terá filhos, não sendo esse o caso de 1 mulher em cada 8, na geração dos anos 1960. Isso corresponderia a uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo. No Japão, nos Estados Unidos ou no Reino Unido, cerca de 1 mulher em cada 4 renuncia atualmente à maternidade.
Segundo os investigadores, o prolongamento dos estudos será a principal razão desta descida da taxa de natalidade. Na Polónia, estamos precisamente em pleno boom da educação: na sua maioria, a geração dos anos 1980 e 1990 tem diplomas do ensino superior. Dos 2.500.000 de jovens com idades entre os 18 e os 22 anos, 1.900.000 prosseguem atualmente estudos universitários. O nosso mercado de trabalho, sem lei nem ordem, com os seus contratos precários e um risco elevado de desemprego entre os jovens, não ajuda nada. A idade da mãe à data de nascimento do primeiro filho aumenta constantemente, tendo chegado a mais 2 anos, ao longo dos 15 últimos anos. O número de mulheres que dão à luz o primeiro filho depois dos 30 anos duplicou.
Casais estéreis sem apoio
A evolução genética não acompanha as mudanças na sociedade. Os corpos não são concebidos para entrar na maternidade aos 30 e tal anos. Os médicos calculam que, na Polónia, 1 casal em cada 5 tem problemas de procriação. É certo que a medicina pode ajudá-los, mas o método de fecundação in vitro (FIV), o mais fiável dos últimos recursos contra os problemas de infertilidade, só era até agora acessível aos mais ricos. Recentemente, o Governo prescindiu da votação no Parlamento e aprovou, por decreto, o financiamento público da FIV, de que estão à espera 30.000 casais. Mas, sem uma lei bioética, e dada a oposição da Igreja à procriação medicamente assistida, os casais estéreis poderão ficar sem ajuda.
Algumas celibatárias diplomadas têm dificuldade em encontrar parceiros para a vida. Os estudos realizados no âmbito do programa de investigação Famwell, conduzido pelo Instituto de Demografia da Escola de Altos Estudos Comerciais de Varsóvia, mostram que perto de metade das mulheres da geração dos anos 1960 não tiveram filhos, simplesmente por não terem estabelecido uma relação suficientemente estável para constituir família. Em parte porque uma solteira com diploma não irá querer um solteiro que não o tenha, provando as estatísticas que os casais desse tipo são quase inexistentes na Polónia. Mas nem tudo é uma questão de diploma.
Um esquema tradicional abalado
Existe outro problema, que se sente sobretudo fora das grandes cidades, havendo homens celibatários que vivem parados no tempo, a meio caminho entre o passado e o presente. Como nos bons velhos tempos, continuam a achar que estão desobrigados de qualquer tarefa doméstica, mas também não querem assumir outros aspetos associados à figura tradicional masculina, ou seja, o papel de chefe de família, garante da segurança material. As mulheres celibatárias, com boa formação e cada vez mais independentes e com maior mobilidade (foram precisamente jovens mulheres que constituíram a última grande vaga de emigração polaca), já não estão dispostas a suportar um tal peso. Contudo, algumas delas não diriam que não ao esquema tradicional: ela em casa, ele no trabalho, com um bom salário no fim do mês. Mas trabalho bem pago e disponível é coisa que não há. Como queria demonstrar.
Por seu turno, as celibatárias citadinas denunciam a sobrepopulação de homens medrosos, que fogem a todas as responsabilidades e a uma relação durável. Entre os jovens a relação de casal não se mantém. Uma vez que, como nunca antes, é possível saltar, sobretudo graças à Internet, de uma exaltação para outra, por que limitar os horizontes a uma relação durável, sempre com a mesma pessoa?
Os demógrafos estimam em 7.000.000 o número de celibatários polacos com entre 25 e 45 anos. Segundo um relatório da OCDE, nada menos de 40% das pessoas com entre 25 e 35 anos vivem com os pais, mantendo quando muito uma relação informal com alguém.
Uma imagem de mãe desvalorizada
As mulheres de hoje mostram-se mais reticentes em constituir família, em parte também porque são filhas das "mães polacas" (Matka Polka – expressão que designa uma mãe disposta a todos os sacrifícios pelos filhos e pela família). Durante toda a infância, viram as mães esgotadas por acumularem 2 empregos, dentro e fora de casa. Para as mulheres da geração dos anos 1950, o casamento envolvia automaticamente a diminuição do bem-estar e uma autodepreciação do valor da própria vida. As filhas delas não querem encontrar-se na mesma situação.
Os antropologistas sublinham que o lugar da criança no mapa dos projetos, das necessidades e dos objetivos mudou inteiramente. No entanto, os psicoterapeutas dizem que um desejo de criança não realizado é uma das experiências mais difíceis da vida, que se traduz num luto em sentido literal. Mas nem toda a gente se preocupa. A ciência moderna refuta a existência de um instinto parental. E, mesmo depois de serem mães, algumas mulheres não o sentem. A não procriação está portanto incluída no desenvolvimento da civilização, ao mesmo título que o prolongamento da esperança de vida.
Mas a necessidade de ser pai pode ser enorme. Independentemente dos nossos sistemas de valores, a maior parte das pessoas deseja ter filhos, considerando que eles são a experiência essencial do amor. Uma experiência que é fonte de um sentido na vida e, afinal, o único aliado do crescimento demográfico.