(per)Seguidores

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quando o dinheiro tem utilidade e há vontades…

Se tivesse 75 mil milhões de dólares para gastar durante os próximos 4 anos e o seu objectivo fosse melhorar o bem-estar da humanidade, em especial no mundo em desenvolvimento, como gastaria o seu dinheiro?
Bjorn Lomborg 
Esta foi a questão que eu fiz a um painel de 5 destacados economistas, incluindo 4 prémios Nobel, no projeto Consenso de Copenhaga 2012. Os membros deste painel foram escolhidos pelos seus conhecimentos especializados na definição de prioridades e pelas suas capacidades de usar os princípios económicos para comparar escolhas políticas.
Durante o último ano, mais de 50 economistas realizaram pesquisas em cerca de 40 propostas de investimento em áreas tão variadas como conflitos armados e desastres naturais, até à fome, educação e aquecimento global. As equipas que prepararam cada relatório identificaram os custos e os benefícios das formas mais inteligentes de gastar o dinheiro em cada uma das áreas. No início de Maio, muitos deles viajaram até à Dinamarca para convencer o painel de especialistas do potencial das suas propostas de investimento.
Os resultados das investigações do painel mostram que, se forem gastos de forma inteligente, os 75 mil milhões de dólares – apenas 15% dos gastos actuais em ajuda – podem ajudar a resolver muitos dos problemas mundiais.
O investimento individual mais importante, de acordo com o painel, fortaleceria a luta contra a má-nutrição. Uma nova investigação para este projeto realizada por John Hoddinott, do International Food Policy Research Institute, e Peter Orazem, da Universidade do Iowa, centrou-se num investimento anual de 3 mil milhões de dólares. Este dinheiro daria para comprar abastecimentos de micronutrientes, suplementos alimentares, tratamentos para diarreia e parasitas e programas de mudança de comportamento, que permitiriam reduzir a subnutrição crónica em 36% nos países em desenvolvimento.
No total, este investimento ajudaria mais de 100.000.000 de crianças a iniciar as suas vidas sem atrasos de crescimento ou má-nutrição. Além disso, as investigações mostram que estas intervenções são permanentes: os seus corpos e músculos cresceriam mais rápido, as capacidades cognitivas melhorariam e estariam mais atentos na escola (e ficariam durante mais tempo). Estudos mostram que em algumas décadas estas crianças seriam mais produtivas, ganhariam mais dinheiro, teriam menos filhos e começariam um círculo virtuoso de desenvolvimento espetacular. 
Oportunidades como esta surgem em destaque quando pedimos a algumas das mentes mais brilhantes do mundo para encontrarem projetos que gerem o máximo de benefícios. O abastecimento de micronutrientes é raramente celebrado, mas faz toda a diferença.
Da mesma forma, apenas 300 milhões de dólares evitariam a morte de 300.000 crianças, se este dinheiro fosse usado para reforçar o mecanismo de financiamento da malária - Global Fund’s Affordable Medicines Facility – que oferece terapias combinadas mais baratas para os países em desenvolvimento.
Em termos económicos, os benefícios são 35 vezes mais elevados do que os custos – sem ter em conta que evitaria uma futura resistência ao medicamento mais eficaz contra a malária. No final deste ano, os doadores vão decidir se renovam este programa. As conclusões do painel deveriam persuadi-los a renovar.
Pelo mesmo montante, é possível desparasitar 300.000.000 de crianças em idade escolar. Sem parasitas intestinais estas crianças ficam mais atentas, permanecem mais tempo na escola e tornam-se adultos mais produtivos – uma questão que necessita de mais atenção pública.
Outros 2 investimentos em saúde defendidos pelo painel de especialistas foi o tratamento para a tuberculose e a cobertura para a imunização infantil. Da mesma forma, um aumento de 100 milhões de dólares anuais no desenvolvimento de uma vacina contra o VIH/ SIDA poderia gerar imensos benefícios no futuro.
À medida que as pessoas nos países em desenvolvimento vivem mais, enfrentam, cada vez mais, doenças crónicas. De facto, prevê-se que metade de todas as mortes de 2012 nos países do Terceiro Mundo se deva a doenças crónicas. Neste caso, o painel concluiu que gastar apenas 122 milhões de dólares permitiria uma cobertura completa da vacina da hepatite B e evitaria 150.000 mortes anuais devido a esta doença. Oferecer medicamentos de baixo custo para ataques cardíacos agudos custaria apenas 200 milhões de dólares e evitaria 300.000 mortes.
Os resultados do painel de especialistas destacam ainda a necessidade urgente de investir cerca de 2 mil milhões de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a produção agrícola. Esta medida não só diminuiria a fome, ao aumentar a produção de alimentos e reduzir os preços, mas também protegeria a biodiversidade, já que uma maior produtividade das colheitas significa menos desflorestação. Isso, por sua vez, ajudaria a combater o aquecimento global porque as florestas armazenam carbono. 
Quando falamos de alterações climáticas os especialistas recomendam gastar um pequeno montante – cerca de 1.000 milhões de dólares – para investigar a viabilidade de arrefecer o planeta através de opções de eco engenharia. Poderíamos assim perceber melhor os riscos, custos e benefícios desta tecnologia. Além disso, a pesquisa poderia oferecer-nos um seguro eficaz e barato contra o aquecimento global. 
Outra prioridade de investimento é a criação de um sistema eficaz de alerta de desastres naturais nos países em desenvolvimento. Por menos de 1.000 milhões de dólares por ano, poderíamos diminuir os danos económicos diretos e de longo prazo, conseguindo, talvez, 35.000 milhões de dólares de benefícios.
O orçamento de 75.000 milhões de dólares, escolhido pelo projeto Consenso de Copenhaga é mais do que suficiente para fazer uma diferença real, mas devemos escolher os projetos que permitem alcançar os maiores benefícios. A lista do painel de especialistas mostra-nos que há muitas soluções inteligentes à espera de serem implementadas.

Sem comentários:

Enviar um comentário