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sábado, 21 de janeiro de 2012

O ENIGMA DA ESFINGE…

Das duas, uma: ou Aníbal Cavaco Silva teve um lapso de lucidez, ou decidiu expor da forma mais despudorada e obscena o enorme desprezo e falta de respeito que tem pelos seus concidadãos.
Nuno Saraiva
Vamos, pois, aos factos. Abordado ontem por jornalistas no Porto sobre o facto de, enquanto reformado do Banco de Portugal, receber subsídio de férias e de Natal, o Presidente da República decidiu embaraçar-se primeiro e responder depois.
Disse Cavaco, cito de cor, que os 1.300 euros mensais (líquidos?) que recebe da Caixa Geral de Aposentações, para a qual descontou mais de 40 anos, "ouviu bem? 1.300 euros", sublinhou, "quase de certeza não vão dar para pagar as minhas despesas".
Antes de mais, a pergunta era ao pensionista do Banco de Portugal e não ao reformado da Caixa Geral de Aposentações, como, num exercício de "chico espertice" tipicamente lusitano, o Presidente da República quis deliberadamente conduzir a resposta, omitindo aquilo que, nem 2 horas depois, lhe caiu em cima: a declaração de rendimentos entregue a 14 de dezembro de 2010 no Tribunal Constitucional, aquando da sua recandidatura à Presidência da República, em que publicita como é de lei os euro140.601,81 auferidos anualmente em pensões.
Mas, ultrapassado este pormenor, atenhamo-nos ao essencial. Num país em que o número de desempregados ultrapassa os 600.000, em que o salário médio líquido não chega aos 800 euros, em que o número de pensionistas que recebem abaixo do ordenado mínimo nacional ultrapassa o 1.000.000 de portugueses, é no mínimo aviltante ouvir um Presidente da República dizer que os 1.300 euros mensais - mesmo que esta seja apenas uma pequena parte do bolo total legitimamente auferido - que recebe da Caixa Geral de Aposentações - "ouviu bem? 1300 euros" - "quase de certeza não vão dar para pagar as minhas despesas".
E mesmo que fosse total e não parcial a paupérrima soma de 1.300 euros mensais de que se queixa Cavaco Silva, olhemos substantivamente para a realidade. Foi na campanha eleitoral das últimas eleições presidenciais que, interpelado por uma pensionista de Penafiel, o candidato deu o exemplo de Maria, sua mulher, cuja reforma "não chega aos 800 euros". Não querendo de maneira alguma intrometer-me na vida privada do cidadão Aníbal Cavaco Silva, é licito fazer as contas, parciais é certo, e perguntar: quantos casais de reformados em Portugal se podem dar ao luxo de viver com 2000 euros (líquidos?) por mês? Aliás, em abono do rigor, neste caso estamos a falar de mais de 10.000 euros mensais.
É certo que Cavaco Silva abdicou do salário de Presidente da República, optando por uma espécie de trabalho pro bono em Belém e pelo pagamento das pensões que, somadas, são superiores ao ordenado presidencial. Porém, fê-lo não para dar o exemplo, mas porque a lei passou a impedi-lo de acumular pensões públicas com a remuneração do desempenho de funções no Estado. Esta alteração legal deu-se pelas circunstâncias difíceis em que o País já então se encontrava. Mas Cavaco Silva, como político profissional que é, soube capitalizar a seu favor esta mudança e, para a opinião pública, passou a imagem de que a abdicação tinha sido voluntária. Tudo seria mais claro se, sem perder o direito futuro às pensões para as quais descontou, tivesse optado pela sua suspensão e por receber o ordenado da função que atualmente desempenha.
A um Presidente da República exige-se sempre, mas sobretudo no contexto social que atravessamos, seriedade intelectual, sentido da responsabilidade, capacidade de liderança, de mobilização e de dar o exemplo, e sensibilidade social. Queixar-se em público desta forma, ainda para mais omitindo voluntariamente parte da verdade, é insultuoso para todo um país em dificuldades.
Ainda bem que, em democracia, podemos escrutinar os rendimentos dos titulares de cargos públicos. Ainda bem que, apesar de ele não o ter dito, temos acesso ao total das remunerações auferidas pelo cidadão Aníbal Cavaco Silva. Não por despeito, cobiça ou qualquer espécie de voyeurismo barato. Apenas porque não há nada de pior no ser humano do que o miserabilismo.

Contramaré… 21 jan.

"O nosso secretário geral ainda não se levantou para defender o SNS", disse o histórico militante socialista António Arnaut, num debate sobre o tema e alegou que sem Serviço Nacional de Saúde "não há democracia nem estado social" e que este só pode existir "se for universal, geral e gratuito". "Se não houver, estamos perante uma democracia amputada e, nessa altura, o PS deve mudar de nome", já que para os socialistas o SNS "é uma marca de água, é uma marca identitária".

Os pilares estruturantes do método da “amorização”?

Segundo a Teoria da Interpretação dos Sonhos elaborada por Freud, o desejo é o que move o aparelho psíquico, é o que nos faz dormir, sonhar e acordar. E o sonho na sua representação onírica é a manifestação de um desejo. Um desejo inconsciente. Entretanto, o desejo que Freud nomeia é enigmático e difere da forma absoluta designada da necessidade - da falta – mas que deve ser compreendido e apreciado como elemento de uma pulsão que permeia o limite entre a vida e a morte – entre o ensinar e o aprender.
Na visão psicanalítica, o desejo, não se trata simplesmente de algo a ser realizado, mas de uma falta nunca realizada pelos seres finitos e imperfeitos – o sujeito. O sujeito que ensina e o sujeito que aprende.
Para Lacan, o desejo, na sua função, é inconsciente. O desejo é o desejo do desejo, isto é, o desejo do Outro, porque o sujeito é um ser faltante e se constitui através do Outro e pode levar uma vida inteira procurando a plena realização, uma vez que, o sujeito, não satisfaz um desejo, mas goza por desejar.
E, segundo o pensamento filosófico, quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a resposta do fim esperado e, assim, Hegel, define o desejo como algo imparável que está sempre em movimento e, Sócrates, na sua imensurável sabedoria, afirma que todo o homem, por natureza, tem o desejo de aprender e por esse processo evolui.
Piaget, na estruturação da epistemologia genética postula que o conhecimento se dá na relação entre o sujeito e o objeto a ser conhecido e, também, Ruben Alves, numa postura educadora, filosófica e psicanalítica declara que, “o conhecimento são extensões do corpo para a realização do desejo” e, um desejo realizado é como um pensamento morto, mas que pode ressuscitar numa nova roupagem e originar outro desejo e, assim, sucessivamente.
Contudo, o formato e o conceito psicanalítico de ‘transferência’ na relação professor/aluno pode auxiliar na compreensão de como o desejo se faz presente no processo de ensinar e de aprender no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo.
Partindo deste pressuposto, a importância do desejo no processo de ensinar  e de aprender passa pelas bases do pensamento filosófico (uma vez que, o desejo é considerado  uma atitude mental) e pela matriz do pensamento psicanalítico que aponta para uma pulsão que se origina na estrutura do princípio do prazer.
O desejo de ensinar de um indivíduo constitui-se no entrelaçamento do objeto de prazer, de poder e de domínio do conhecimento que, segundo Lacan, busca ocupar o lugar do “sujeito suposto-saber”, comummente conhecido por ‘professor/analista’. Embora, o ensinar não esteja diretamente ligado só à figura do professor, mas a todos aqueles que têm o desejo de ensinar, de transmitir o conhecimento adquirido e, com isso, beneficiar a vida de outras pessoas e, este ato, é facilitado quando ocorre  a transferência, ou seja, quando o aprendente  ‘se apaixona’ pelo ensinante. 

E, nesta mesma linha de pensamento ‘apaixonado’, o desejo de aprender, também, emerge da constituição psíquica do sujeito sedenta por conhecimento. E, este conhecimento transita pelos corredores dos mais simples para os mais complexos, dos mais rudimentares para os mais elaborados, dos empíricos para os académicos e científicos. E nesta caminhada, o processo de aprendizagem, fundamentado no desejo de aprender, eclode.

Entretanto, quando o aprender sistematizado é apresentado ao sujeito como obrigação e destituído de desejo, ele apenas germina, mas não floresce, não frutifica - estagna. Embora, o sujeito nunca para de aprender, a vida, enquanto durar é um constante processo de aprendizagem.
Portanto, quer seja aprendendo, quer seja ensinando, sejamos repletos de desejos, porque o desejo é o que nos move, é o que nos faz sonhar, realizar e novamente desejar.
E o meu desejo, hoje, é que possamos ser professores e professoras desejantes.
Corina de Mello Decco - Pedagoga, psicopedagoga, terapeuta de família e psicanalista

Ecos da blogosfera - 20 jan.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Concertação Social? Deixemo-nos de histórias!!!

Olha, é uma reforma estrutural! Afinal existem mesmo, fazem-se com partidos de direita e em democracia. Chamem as galinhas com dentes e levem-nas com os porcos de bicicleta a visitar o unicórnio voador.
Pedro Santos Guerreiro – Diretor do Jornal de Negócios
Agora que já caminhamos sobre a água, só falta saber para onde vamos: temos reforma, o que se faz com ela? A pergunta é para si, senhor empresário.
Alvíssaras, Álvaro Santos Pereira, alvíssaras, Pedro Passos Coelho. A reforma do mercado de trabalho era necessária há muitos anos. Grande parte dela já havia até sido concluída no Governo de José Sócrates, basta ver a facilidade com que se despediram milhares nos últimos anos. Mas sobrava uma última rigidez: o despedimento individual. Era como dobrar uma barra de ferro. Agora, se os tribunais não implicarem, será dúctil como plasticina. Era uma aberração: ter o despedimento colectivo instantâneo e o despedimento individual impossível.
A reforma é toda para isto: para baixar custos às empresas (nas rescisões, nas horas extraordinárias) e ao Estado (menos subsídio de desemprego), para que se trabalhe mais tempo (menos férias, folgas e feriados) e para enunciar a liberalização do despedimento. Sim, é uma enunciação, pois os termos para a inadaptação do posto de trabalho são tão ambíguos que o tribunal pode no mesmo gesto abrir ou fechar a porta.
Mas esta é também uma reforma feita para consumo externo, para agradar aos mercados, como confessou o ministro da Economia, para saciar a troika, para pontuar melhor nos "rankings" de competitividade.
Tudo o que é perdido, é o trabalhador que perde. Tudo o que é ganho, é a empresa que ganha. Tudo o que é omisso, é omisso para o trabalhador, para o precário ou para o desempregado. Com um caso gritante: e os recibos verdes, pá? Nada, não há quase nada. Mas esse é tema para um outro editorial. Para já, fiquemos no que está no acordo, olhemos para o meio copo, porque hoje é dia de celebração.
O acordo é bom, pois a situação era desequilibrada a favor do trabalhador. Mas agora acabou-se a ladainha e o ramerrão. O Governo sai de cena e a lei deixa de ser bode expiatório: aos patrões foi dado aquilo que nem nos sonhos mais selvagens eles esperavam ter. Agora que têm a varinha mágica na mão, precisam de mostrar que sabem usá-la, que não a abanam por vingança, que não a viram contra si mesmos.
Deixemo-nos de histórias: o primeiro efeito desta mudança da lei será de destruição. Há milhares de empresas que estavam à espera disto para avançar com os despedimentos. Porque precisam de reduzir a sua capacidade, os seus custos, e porque não querem pagar milhares de euros em indemnizações. Depois dessa mortandade anunciada, inicia-se um novo ciclo.
É aqui que entram os chefes, os empresários e os patrões. A concertação social deu-lhes os meios que eles sempre reivindicaram, nunca mais poderão queixar-se se não de si mesmos. Ou são bons gestores, ou são maus gestores. E tendo em conta o estado das nossas empresas, a sua fragilidade financeira, a observação de que os trabalhadores portugueses trabalham bem no estrangeiro e em multinacionais, as expectativas estão baixas. A nossa capacidade de gestão é genericamente fraca. Temos muitos chefes incultos, gestores que não imaginam como se motiva, lidera, envolve e premeia, empresários muito pouco exigentes em relação a si mesmos. Todos eles estão hoje radiantes mas ficarão preocupados se a sua própria incompetência se tornar visível. É também por isso que esta reforma é boa, porque separará os bons gestores dos empresários duma figa.

Contramaré… 20 jan.

Portugal enfrenta a um caminho "longo e doloroso" para a recuperação económica e, ainda que o Governo esteja "no caminho certo", o país necessitará nos próximos anos de apoio do FMI e da UE, disse um responsável da Fitch e que a previsão é de que "a economia portuguesa continue a emagrecer este ano" com as dificuldades a manterem-se durante "vários anos".

Juros portugueses continuam a bater recordes a 10 e 5 anos

Novo Presidente (socialista) do PE quer opor-se ao CE

Martin Schulz
A eleição de Martin Schulz para a presidência do Parlamento Europeu deverá trazer uma mudança de ambiente à assembleia. Depois do muito consensual polaco Jerzy Buzek, o tumultuoso e ambicioso socialista alemão quer agitar as instituições de Bruxelas.
Martin Schulz é, provavelmente, o único eurodeputado de língua alemã conhecido pelos seus compatriotas que se torna presidente do Parlamento Europeu. A sua eloquência deu resultado. Ele, que normalmente ultrapassa o tempo que lhe é concedido para falar, na sessão plenária, “para mostrar aos seus colegas que ninguém fala mais do que ele”escreve Der Spiegel.
O semanário de Hamburgo explica que Schulz quer fazer com que o Parlamento Europeu evolua “para um contrapoder”. “Vai opor-se ao Conselho Europeu”, onde os chefes de Estado e de governo maquinam as decisões e quer pressionar a Comissão Europeia através de iniciativas políticas, “pouco importando se está ou não escrito nos tratados”, como ele próprio disse. Lembrando que Schulz, contrariamente aos seus antecessores, não está em fim de carreira e ainda tem outras ambições políticas, Der Spiegel prevê
“uma luta pelo poder, pela atenção e pelo monopólio da interpretação dos tratados que pode falhar e ridicularizar o Parlamento Europeu ou modificar as estruturas de poder em Bruxelas.”
Uma opinião partilhada pelo Financial Times Deutschland que, no entanto, duvida da capacidade de Schulz de impor os seus “golpes”. Por exemplo, Schulz quer participar ativamente nas cimeiras da UE, começando pelas negociações sobre o pacote económico.
“No entanto, não poderá representar apenas o seu grupo, mas sim todos os eurodeputados: os nacionalistas e os europeístas, a esquerda e a direita, os federalistas e os centralistas. Não poderá representar todas estas opiniões nas negociações. […] E não é esse o seu papel.”
A imprensa polaca, por seu lado, presta homenagem ao presidente cessante, Jerzy Buzek. O Wprost, escreve que ele adotou uma estratégia que evitava confrontações diretas. Preferiu procurar compromissos. Deu, igualmente, provas de talento negocial: foi ele que convenceu o presidente checo, Václav Klaus, a assinar o tratado de Lisboa e foi a sua viagem à Moldávia que contribuiu para resolver uma crise governamental e a pôr de pé uma coligação pró-europeia.
“Sentia o pulso da política internacional e sabia quando era preciso intervir. Falou com os manifestantes da Praça Tahrir, no Cairo, e com os rebeldes líbios, em Tripoli, que lhe gritaram “Obrigado Europa!”.”
Por tudo isto, acrescenta o Wprost, Buzek foi apreciado e respeitado por todos. Pelo contrário, foi criticado pelo seu gosto pelo politicamente correto e pelo seu excessivo respeito pelos procedimentos. Mas, no fim de contas, regozija-se o Gazeta Wyborcza, provou,
“garantidamente, que os polacos estão à altura dos cargos internacionais e poderá, no futuro, assumir a liderança da futura Fundação Europeia para a Democracia.”
Por um lado, para sabermos que o Parlamento Europeu mexeu, por outro para sabermos que é alemão e socialista e finalmente para sabermos que o novo presidente pretende ser um contrapoder ao Conselho Europeu e mostrar que existe e também é poder.
Esperemos que resulte, porque as revoluções fazem-se de dentro…  

Ecos da blogosfera - 19 jan.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um patchwork das propostas de Stiglitz para a crise…

Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001 não tem dúvidas de que a recessão em Portugal será maior este ano, mas diz que há vários sinais positivos. Um deles é o acordo assinado hoje entre o Governo e os parceiros sociais, sobretudo ao nível das medidas de políticas activas de emprego e para o crescimento, que “são certamente medidas na direcção certa”.
No entanto, Joseph Stiglitz não esconde a preocupação com a pressão em baixa sobre os salários em Portugal, que irá diminuir ainda mais o consumo privado e, consequentemente, aprofundar a recessão. “A única preocupação que tenho é que, como estão a puxar os salários para baixo, tal terá efeitos negativos na procura agregada, tornando-se contraproducente”, avisa o economista, salientando, contudo, que este problema não é exclusivo de Portugal. O prémio Nobel dá como exemplo os Estados Unidos, onde a indústria está a tentar recuperar com salários que são 1/3 dos que eram antes da crise. “Estamos a tornar-nos [os EUA] um país do terceiro mundo, isso será a base da prosperidade daqui para a frente?”, interroga-se, sublinhando que “não podemos pensar apenas em cortar e cortar”.
Joseph Stiglitz deixou ainda algumas sugestões ao Governo português, dizendo que é fundamental manter as políticas activas de emprego, garantir o acesso ao financiamento por parte das PME e tentar obter fundos do exterior para promover o investimento, dando como exemplo os fundos do Banco Europeu de Investimentos (BEI).
Stiglitz acredita que Portugal permaneça na zona euro, mas avisa: “a grande questão é saber se a zona euro vai sobreviver e isso não depende de Portugal, mas de como os líderes europeus vão responder à crise”.
Para o economista, a via da austeridade não é a solução e pode, quando muito, prevenir a próxima crise. O prémio Nobel defende que são os países com margem de manobra orçamental, como os EUA, a Alemanha e o Reino Unido, que têm a responsabilidade de usar essa margem para estimular a economia europeia e mundial e ajudar outras economias. No caso concreto da Europa, Stiglitz diz que é preciso um programa europeu alargado de crescimento económico, em que os países do euro usariam a sua “força colectiva” para pedir financiamento a taxas de juro baixas (os eurobonds – emissão conjunta de dívida europeia) e empregariam esse dinheiro em investimentos que estimulassem a economia.
Apesar da actual crise, Joseph Stiglitz defende que Portugal está bem posicionado e lembra que por tratar-se de um pequeno país, à Europa sai barato financiar as suas necessidades. “Portugal está numa posição relativamente boa porque é relativamente pequeno. Se a Europa disser 'ok, é um país a menos, vamos avançar', poderá financiar as necessidades de Portugal”, referiu e diz também que se a Grécia sair do Euro, isso não significa necessariamente que Portugal siga o mesmo caminho.
Stiglitz critica os políticos europeus, dizendo mesmo que a Europa tem protagonizado uma lenta sucessão de erros. “Tentaram prevenir a próxima crise sem resolver esta e nem sequer conseguem prevenir a próxima. Antes desta crise a Irlanda e a Espanha tinham saldos orçamentais positivos. Portanto, o diagnóstico que fizeram da crise, e a solução que desenharam, estão ambos errados”, defendeu.
Durante o IV congresso da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição Stiglitz abordou o tema: “A Europa tem de perceber que a austeridade não é solução. O crescimento não aparece sem assistência.” E criticou as medidas europeias para combater a crise económica, deixando o apelo que baixar os ordenados não é solução: “A resposta dos economistas às vezes é [fazer uma] desvalorização interna. Ou seja, como não se pode mexer na taxa de câmbio, reduz-se salários. Mas isso não é prático e causa grandes dificuldades sociais.”
O economista norte-americano Joseph Stiglitz acredita que a Europa e os EUA estão “a seguir um caminho errado”, porque “a austeridade quase nunca funciona” para reanimar as economias.
Stiglitz considera que o mais recente plano europeu de combate à crise, atingido numa cimeira em dezembro, “parece focar-se apenas em austeridade”. Para o Nobel, a insistência no rigor orçamental parece destinada a evitar “a próxima crise” em vez de combater a atual.
“As recessões profundas não são a melhor altura para privatizar - acaba-se por vender [as participações públicas] ao desbarato”, afirmou Stiglitz.
Além disso, há “poucas provas de um melhor desempenho [das empresas] após a privatização”.
Stiglitz criticou também as políticas seguidas pelo Banco Central Europeu. “O BCE tem um mandato errado, só se foca na inflação. E tem o cliente errado: devia estar a pensar no bem-estar dos países europeus; na prática, concentra-se apenas nos bancos”, disse o economista norte-americano.
O prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, diz que as agências de rating são levadas muito a sério, mesmo depois de terem falhado redondamente na crise de 2008/2009 e de continuarem a agir “de forma política e irresponsável”. “Basicamente reflectem as visões dos agentes do mercado financeiro, que querem ser reembolsados, que não percebem muito de economia”, ironiza. As agências de rating falharam redondamente durante a crise financeira internacional de 2008/2009, ao atribuírem notas máximas a instituições que viriam a falir, como o Lehman Brothers, e a activos que viriam a revelar-se tóxicos. “Agora, estão a tentar recuperar o seu status e mostrar que são duras”, afirma o economista. Stiglitz dá como exemplo o corte do triplo A dos EUA, pela Standard & Poor’s, a mesma agência que reviu agora as notações de nove países da zona euro.
O prémio Nobel considera “surpreendente” a forma como as avaliações das agências de rating são levadas a sério, o que faz com que as revisões em baixa dos ratings tenham consequências políticas.
Não é todos os dias que tão credenciado economista nos visita e que sobre o que disse se tenha dada apenas alguma importância, mas sem que qualquer das notícias (encontradas) traga o discurso na íntegra para se compreender a coerência do mesmo e apareça fragmentado nos temas e problemas, consoante a mensagem que cada meio de comunicação social quis sublinhar, saiba-se lá por quê... Provavelmente por ser apoiante do movimento dos Indignados?
Tentando fazer um patchwork das suas propostas, poderemos fazer uma leitura coerente, elencando ordenada e consistente, com a objetividade que o somatório nos permite:
1 - Joseph Stiglitz é um prémio Nobel da Economia em 2001;
2 - Não tem dúvidas de que a recessão em Portugal será ainda maior este ano;
3 - Há vários sinais positivos, como o acordo entre o Governo e os parceiros sociais;
4 – Mas a baixa dos salários em Portugal irá diminuir ainda mais o consumo privado e aprofundar a recessão, causando grandes dificuldades sociais;
5 - Não se pode pensar apenas em cortar e cortar;
6 – É fundamental que o governo português mantenha as políticas activas de emprego, garanta o acesso ao financiamento por parte das PME e tente obter fundos do exterior para promover o investimento;
7 – EUA, Alemanha e Reino Unido têm a responsabilidade de estimular a economia europeia e mundial e ajudar outras economias;
8 - No caso da Europa, é preciso um programa europeu alargado de crescimento económico, com os países do euro a usar a sua força colectiva para pedir financiamento a taxas de juro baixas (os eurobonds), para empregarem esse dinheiro em investimentos para estimular a economia;
9 - Portugal sendo um pequeno país, sai barato à Europa financiar as suas necessidades;
10 - Se a Grécia sair do Euro, não significa que Portugal siga o mesmo caminho;
11 - A Europa tem de perceber que a austeridade não é solução. O crescimento não aparece sem assistência;
12 - Antes da crise a Irlanda e a Espanha tinham saldos orçamentais positivos e se pioraram é porque o diagnóstico que fizeram e a solução que desenharam, estão ambos errados;
13 - A Europa e os EUA vão no caminho errado, porque a austeridade quase nunca funciona para reanimar as economias;
14 - As recessões profundas são a pior altura para se privatizar, pois acaba-se por vender as participações públicas ao desbarato;
15 - Há poucas provas de um melhor desempenho das empresas após a privatização;
16 - O BCE tem o cliente errado: devia estar a pensar no bem-estar dos países europeus, mas na prática, concentra-se apenas nos bancos;
17 - As agências de rating são levadas muito a sério, quando falharam redondamente durante a crise financeira internacional de 2008/2009, ao atribuírem notas máximas a instituições que viriam a falir, como o Lehman Brothers, e a activos que viriam a revelar-se tóxicos e agora, estão a tentar recuperar o seu status e mostrar que são duras;
18 - As agências de rating continuam a agir de forma política e irresponsável ao fazerem revisões em baixa dos ratings, o que tem consequências políticas;
19 - Portugal deverá permanecer na zona euro, mas a grande questão é saber se a zona euro vai sobreviver;
20 - O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, ao afirmar hoje que a Zona Euro está à beira da recessão e ao apelar a uma verdadeira política de crescimento económico, parece ser o primeiro galo a concordar com o Nobel… 
Moral da história: Tirando o “elogio” ligeiro à Concertação Social, tudo o mais que Stiglitz disse está contra tudo o que Portugal, a Europa e os EUA estão a por em prática, o que a dar crédito a quem o tem, teremos todas as consequências negativas apontadas e um futuro que o presente nos leva a ter como certas…
Nota – Gostávamos de ver nos debates das TVs os nossos comentadores apresentarem o contraditório desta análise, a começar pelo nosso “Gasparzinho” e acólitos, mas duvido que haja “vontade” de se informar com independência e sem manipulação, imposta ou de “livre” iniciativa individual…
Veremos, se virmos…

Contramaré… 19 jan.

O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, afirmou hoje que a Zona Euro está “à beira” da recessão e apelou a uma “verdadeira política de crescimento” económico. “Na Zona Euro [que agrupa 17 Estados-Membros da União Europeia que adotaram a moeda única] estamos à beira da recessão técnica”, frisou Juncker.
A recessão técnica é definida pelos economistas como a contração do PIB durante um mínimo de 2 trimestres consecutivos.

Revisitando um conceito “utópico” de economia…

Há 15 meses atrás publiquei aqui um artigo de Jeffrey D. Sachs sobre o Butão em que nos mostra um conceito diferente do da economia ocidental e constrói bem estar e gera felicidade, que nos tempos que correm nos parece uma utopia, mas que vai resultando por lá, só porque o objetivo, como diz o outro, põe: “As pessoas em primeiro…”.
E porque me foi enviado um vídeo que sintetiza o tema e o “problema”, que se mantém atual, aconselho a leitura do artigo - Produto Nacional Bruto vs Produto Nacional de Felicidade - e o visionamento do vídeo abaixo, só para saber que há sempre alternativas e não apenas  alternâncias como nos querem impingir…
O que é Felicidade Interna Bruta (FIB)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ecos da blogosfera - 18 jan.

Irá ser ouvido e tido em conta pelos nossos “Nobel”?

Não é raro ouvi-lo criticar as políticas de austeridade adoptadas na zona euro. E o alerta que repetiu nos últimos dias é um sério aviso à espiral recessiva que diz deixar a Europa à beira do caos. Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001, um olhar um tanto pessimista sobre o futuro europeu, fala nesta quarta-feira em Lisboa, no IV Congresso da Distribuição Moderna, depois de uma série de apelos recentes a um pensamento menos conformista com a austeridade na gestão da crise.
“A austeridade como solução é simplesmente [uma política] errada” para a Europa superar a crise, afirmou ainda numa entrevista à Bloomberg, repetindo o argumentário que fora na véspera apresentar num fórum financeiro em Hong Kong.
Professor na Universidade de Columbia, antigo vice-presidente do Banco Mundial, actual presidente da Associação Económica Internacional, o economista norte-americano tem insistido recentemente contra uma política de combate à crise apenas centrada na austeridade, que diz ser um caminho insustentável.
Quando os líderes europeus acertam detalhes para finalizarem um pacto que reforça a disciplina orçamental na zona euro – alargado voluntariamente aos países da União Europeia –, Stiglitz diz que a direcção que a Europa está a tomar é a errada.
É um assumido partidário das posições keynesianas. O que propõe é exactamente o contrário dos repetidos apelos à redução orçamental na eurolândia: o aumento da despesa pública, com investimento público como motor de um efeito de multiplicação orçamental.
Se, pelo contrário, os líderes da zona euro insistirem na fórmula da austeridade, é previsível uma grave recessão, sustenta. Ainda há dias defendia que, mesmo se o reforço das regras orçamentais e a austeridade possam prevenir a próxima crise, estas medidas “não são a solução para a crise actual”.
Stiglitz, que no Banco Mundial exerceu também o cargo de economista-chefe, diz ser urgente repensar a arquitectura financeira global – e isso exige regulação e transparência. Há duas razões essenciais que o justificam: por um lado, porque o mundo moderno só viveu um período de estabilidade financeira (no pós-crise de 1929); por outro, porque só com transparência porá fim à turbulência nos mercados financeiros.
Sobre a Europa, o economista tem um olhar profundamente pessimista – acredita ser quase inevitável o desaparecimento do euro.
Escrevia num artigo de Dezembro, passando em revista o ano de 2011, “o ano do pessimismo racional”: “É provável que os problemas económicos e políticos que se manifestaram nos Estados Unidos e na Europa em 2011 – e que foram terrivelmente mal geridos até agora – só piorem em 2012”.
Será o ano de todos os perigos, como resumia num outro texto. As hesitações sobre o futuro da Grécia e a escolha da austeridade pelos principais países da moeda única considera, “custaram caro à Europa no último ano”. E continua: “A Itália foi tocada pelo contágio. Em Espanha, o desemprego que já se encontrava nos 20% no início da recessão, continuou a aumentar. O impensável – o fim do euro – começou a tornar-se uma possibilidade real”.
Cartoon recebido por mail

Contramaré… 18 jan.

O antigo diretor da Lusa Luís Miguel Viana ameaça processar por difamação José Manuel Fernandes, por este ex-diretor do Público ter afirmado que ele teria negociado diretamente com José Sócrates a cobertura das eleições legislativas de 2009.
Luís Miguel Viana (que ocupou o lugar entre 2006 e 2011) recorda que "a edição das peças noticiosas sobre a campanha eleitoral para as legislativas de 2009 foi feita por Rui Batista, o então editor de Política da Lusa e agora assessor do atual primeiro ministro, Pedro Passos Coelho".

A hipocrisia é a mãe da “União” Europeia? Sei lá…

Quer se trate do projeto de tratado europeu, da descida de notação de 9 países pela Standard & Poor’s ou das advertências à Hungria, atualmente, tudo demonstra que na UE os mais fortes estão em vias de impor a sua lei aos mais pequenos, lamenta um editorialista polaco.
Os acontecimentos das últimas três semanas fizeram cair definitivamente a hipocrisia da União Europeia, que consiste em fazer acreditar que os Estados que a constituem são iguais, apesar de diferentes.
Primeiro, a zona euro decidiu encontrar-se, deliberar e tomar decisões em comité restrito. Sem os outros e, por isso, sem nós [os polacos]. Isto prejudica e limita tanto o papel da Comissão Europeia, que desde a sua criação se apoia no princípio da igualdade entre os Estados, como o do Parlamento Europeu, cujos lugares são distribuídos entre os países-membros proporcionalmente às suas populações.
Se o pacto europeu de estabilidade for adotado na sua atual forma, criar-se-á uma união dentro da União. Para um grande número de questões, esta união restrita ditará as condições aos outros, como hoje faz “Merkozy”.
Os 26 nada podem contra os alemães
Segundo, a decisão de baixar as notações financeiras de 9 países da zona euro não terá, necessariamente, repercussões sobre o custo da dívida desses países (a descida de notação dos Estados Unidos não tem nenhuma influência desse género; quanto à dívida de Itália, é hoje mais barata do que quando o país tinha melhor notação).
Essa descida influenciará, no entanto, a hierarquia informal entre os Estados-membros e o peso da voz de cada um deles dentro da União. Assim, a liderança da Alemanha, que manteve a sua classificação, é absolutamente confortável. Tal como o é a prudente política alemã de austeridade. A Alemanha, provavelmente, poderá contrair empréstimos com juros ainda mais baixos e estimular ainda mais o mercado, cavando mais ainda o fosso económico que a separa do resto da Europa.
Consequentemente, os tratados quantitativos do tratado de Lisboa (o cálculo da maioria qualificada no seio do Conselho Europeu sobre um duplo critério: o número de Estados e o peso demográfico) perderão importância perante o papel crescente dos critérios qualitativos (qualidade do Estado e da economia).
Vamos mesmo assistir ao declínio de “Merkozy”, desequilibrado pelo peso de uma Merkel demasiado poderosa em relação a Sarkozy. Será ainda mais difícil fazer seja o que for, na Europa, sem a Alemanha. Quanto aos restantes 26 outros países, nada podem contra os alemães (a não ser acabarem com a União).
As diferenças institucionalizadas
O processo de decisão e de repartição de vozes no Parlamento Europeu, na Comissão e no Conselho, tão laboriosamente negociados no tratado de Lisboa, desfazem-se em pedaços. Durante algum tempo, a União será como o futebol na época em que todos jogavam, mas só a Alemanha ganhava.
Terceiro, o endurecimento da retórica e das decisões políticas em relação à Hungria demonstra que na União há alguns países que podem permitir-se fazer mais coisas do que outros. É verdade que Orbán tem uma retórica detestável e uma política económica estúpida. Mas, institucionalmente, não fez nada que não fosse tolerado noutros países.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ecos da blogosfera - 17 jan.

Uma implosão dos com abrigo, mas sem dinheiro…

A Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) explica, esta segunda-feira, ao primeiro-ministro que o sector pode paralisar em Março por falta de trabalho, colocando em risco 140.000 empregos, numa altura em que o sector da construção e do imobiliário completou o 10º ano de crise, segundo a CPCI.
O presidente da CPCI alertou para o facto de o sector poder parar. "As empresas têm encomendas até Março, depois disso não há trabalho", acrescentando que "não existe obra pública, obra particular, a habitação está estagnada" e a legislação da reabilitação e do arrendamento só começará a produzir efeitos em Setembro e que "houve Parcerias Público-Privadas (PPP) que ficaram de ser estudadas e obras públicas que ficaram por ser analisadas".
O presidente da CPCI sublinhou ainda o facto de "as empresas estarem actualmente quase na dependência total de uma banca que não ajuda".
Segundo dados da confederação, desde 2007, já desapareceram 6.363 empresas de construção e, desde 2002 e até ao final do 3º trimestre de 2011, o sector perdeu 245.000 empregos.
Pelo que se diz e constata há cerca de 10 anos, o setor da construção civil atravessa um deserto de inatividade, em crescendo, que pode paralisar em Março, exatamente por falta de encomendas, o que pode atirar para o desemprego mais de 140.000 pessoas, a acrescentar às mais de 600.000 atuais, ou seja, mais 24% de uma só penada.
Devido à crise, por uma lado e ao excesso de habitação por outro, as obras públicas reduziram (por limitação de investimento), as obras particulares desapareceram (devido à falência de empresas de fabrico e de comercialização), a construção de habitações (individual e coletiva) está parada (devido ao seu excesso e ao aperto dos empréstimos bancários), excluindo da paisagem urbana as gruas, que são os gráficos mais rigorosos da atividade.
E por muito que os empreendedores quisessem fazer um esforço de revitalização do setor, por estarem quase na dependência total da banca, esta fechou as torneiras e por isso, mais de 10 anos se seguirão com atividade muito moderada, com prejuízo também para a formação dos trabalhadores, que eram considerados dos melhores.
Fala-se num programa de reabilitação dos edifícios degradados, que é mais do que urgente para manutenção das cidades e do nosso Património Construído, principalmente nas maiores e mais emblemáticas, mas que tarda (se vier) e está a mexer-se na política do arrendamento, que poderá ajudar à revitalização do setor, mas não será para os próximos meses. Pelos vistos, as próprias PPP suspenderam a sua atividade, reduzindo o volume de obras, embora não se entenda como poderão manter a qualidade das vias que nos cobram, se não fizerem, pelo menos, a sua manutenção.
Desde 2007, que já desapareceram 6.363 empresas de construção e, de 2002 até ao final do 3º trimestre de 2011, o sector perdeu 245.000 empregos.
Conclui-se assim, que os trabalhadores da construção civil são o grosso e o elo mais fraco das pessoas no ativo, regra geral com pouca qualificação, sem alternativa nos outros setores e que em tempos de crise, por isso, arrasta um aumento de criminalidade, o que se repetirá, naturalmente. Enquanto a Europa e sobretudo a Espanha absorveu os nossos desempregados das obras, a coisa foi-se disfarçando, mas com os problemas idênticos no país vizinho…
Se acrescentarmos os efeitos colaterais, quer em nos gabinetes técnicos de projetistas (mesmo nos de renome mundial), quer nas fábricas de materiais de construção (embora quase todas espanholas) e nas empresas de comercialização dos materiais e acessórios (a fechar todos os dias), o futuro do setor parece ser sombrio, levando por arrasto ao aumento do mercado dos sem abrigo, ao ritmo da desaceleração do abrigos para os sem dinheiro…

Contramaré… 17 jan.

A versão em inglês da Wikipedia ficará fora do ar na próxima quarta-feira (18/01) em protesto contra os projetos de lei SOPA (Stop Online Piracy Act) e PIPA (Protect IP Act), atualmente em discussão no Congresso dos Estados Unidos, juntando-se assim a outros sites. Estas novas leis dariam mais poderes à Justiça dos Estados Unidos contra sites acusados de distribuir conteúdo ilegal na internet.

Eurozona: uma geoeconomia distraída, sem Plano B?

No rescaldo da descida de nível coletiva de 9 países da zona euro, incluindo a França, tornou-se claro que a política da UE de fundos de resgate conjugados com austeridade económica está esgotada. Chegou a hora de Angela Merkel e os seus parceiros encontrarem uma saída credível, escreve Wolfgang Munchau.
No final de uma semana ligeiramente eufórica, a realidade apanhou-nos.
Por um lado, a notícia de sexta-feira não foi exatamente uma surpresa. A descida de notação da França era um choque anunciado. Tal como aconteceu com o falhanço das negociações entre os investidores privados e o Governo grego sobre uma participação voluntária na redução da dívida. Uma proposta inicial que era realista foi rejeitada. Não nos devemos fingir surpreendidos.
E estes dois acontecimentos são importantes porque nos mostram o mecanismo que está por trás do desenrolar dos acontecimentos deste ano. A zona euro caiu numa espiral de desclassificações, quebra de produção económica, aumento da dívida e mais desclassificações. A recessão está no início. A Grécia está agora incapaz de cumprir a maior parte dos seus compromissos e pode ter de deixar a zona euro. Quando isso acontecer, as atenções vão voltar-se imediatamente para Portugal e vai começar o próximo ciclo de desclassificações.
O insuficiente fundo de resgate da Europa, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, também agora está a enfrentar uma desvalorização porque a sua avaliação está intimamente ligada à dos seus países-membros. A forma como o FEEF foi arquitetado significa que a sua capacidade de empréstimo está agora reduzida. Apesar da descida de nível de notação da França não ter sido uma surpresa, os Estados-membros da zona euro não têm um plano B para esta situação, apenas alguns cenários de emergência para a remediarem. Podem decidir manter ao mesmo tempo o FEEF e o seu sucessor permanente. Podem decidir atribuir imediatamente a este novo organismo todo o seu capital. Mas, num ano mau como este, tal decisão vai criar buracos nos orçamentos nacionais.
Vingança da UE contra as agências de notação
Aos descer a notação da França e da Áustria mas não da Alemanha nem da Holanda, a Standard & Poor’s também conseguiu moldar as expectativas geoeconómicas de um falhanço eminente. Uma desclassificação de todos os membros com triplo A teria sido politicamente mais fácil de enfrentar. A Alemanha é, agora, o único grande país a manter o triplo A. Esta decisão faz com que seja ainda mais difícil a Alemanha aceitar a ideia das euro obrigações. A diferença de notações entre a França e a Alemanha tornarão a relação ainda mais desequilibrada.
A reação instintiva imediata às notícias de sexta-feira lembra-nos, também, que a crise e a sua resolução têm lugar em universos paralelos. O comentário de Angela Merkel de que a UE deve agora concluir rapidamente o tratado económico é um exemplo típico desse desligamento. Aconteça o que acontecer, a disciplina económica é sempre a sua resposta. A resposta à crise foi incapaz de reconhecer o importante papel do setor privado nos desequilíbrios internos da zona euro. A conclusão do tratado económico, que é agora a prioridade das prioridades da política da UE, é, no melhor dos casos, uma distração irrelevante. Muito provavelmente, aumentará a tendência para os ciclos de austeridade do género que vimos na Grécia. Também é de esperar que a UE administre uma boa dose de vingança contra as agências de notação. Justificada ou não, também isto é uma distração. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ecos da blogosfera - 16 jan.

A matriz dos discursos redondos à “Miguel Relvas”…

São tantos ou quase todos a falarem, falarem, falarem, sem que ninguém os entenda e autoconvencidos de que estão a passar uma mensagem convincente, seja qual for o tema que “abordem”…
Todos ficamos boquiabertos com tanta sabedoria e perguntamo-nos onde andaram estes iluminados, que se tivessem emergido em tempo oportuno e sem oportunismo, nos teriam salvo deste imbróglio…
Ora aqui está a receita, para “português ver” e aprender: 
1. Quando tiverem que “botar faladura”, puxem da tabela abaixo e tentem fazer todas as conjugações possíveis;
2. Combinem qualquer expressão listada na primeira coluna com as das outras, pela ordem 1,2,3 e 4, aleatoriamente, porque as variações possíveis são cerca de 10.000;
3. Assim, se quiser ser mais um dos “embrulhadores”, consegue falar ininterruptamente durante mais de 40 horas, sem dizer absolutamente coisa nenhuma!
4. Conforme a sua performance, ainda vai a tempo de a sua cara vir a ser conhecida na China e quem sabe, pode vir a ser reconhecido…
Treine e BOA SORTE!
Recebido por mail (de autor desconhecido, até que se identifique)

Contramaré… 16 jan.

Frei Bento Domingues, 77 anos, dominicano, professor, investigador e colaborador em revistas e jornais, abordou o tema "Justiça social em tempo de crise" para afirmar que os tempos que se vivem em Portugal são de uma "crise de valores", tendo defendido "uma maior decência na repartição das dificuldades e uma redistribuição social e efetiva da riqueza" e disse que "é fundamental renegociar a dívida, fazer prazos de pagamento muito mais amplos e encontrar formas de investimento no sentido de se criar emprego e desenvolvimento económico".

Esta crise prejudica todos, menos os RESPONSÁVEIS!

Será que a União Europeia entrou em fase terminal? Num ensaio, o jornalista e historiador holandês Geert Mak considera que esta deve escolher, em 2012, a via política que lhe permite sair da lógica do dinheiro. Sob pena de ficar sem o seu estatuto no mundo.
Não era algo que fizesse parte dos seus projetos imediatos. Geert Mak escreve atualmente um livro sobre os Estados Unidos e a Europa passou, portanto, para segundo plano. Mas quando o semanário alemão Die Zeit se interrogou sobre o motivo que levava os intelectuais europeus a esconderem-se por trás do silêncio, decidiu escrever De hond van Tišma. Wat als Europa klapt?  [O cão de Tišma. E se a Europa explodisse?]
O cão de Tišma é um pequeno livro sombrio. Com Norman Davies, historiador especialista da Europa, Geert Mak chegou à conclusão que a cimeira dos dirigentes europeus, ocorrida em dezembro deitou por terra as últimas esperanças. “Temo que seja o fim”.
É a história do demasiado pouco, demasiado tarde. Demasiado pouco dinheiro para o fundo de resgate, demasiado poucas possibilidades de sanções, demasiada pouca visão e finalmente demasiada pouca direção europeia. “A Alemanha de Merkel, escreve Geert Mak, perdeu uma oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro dirigente da Europa. Com medo do espetro demoníaco, o espetro da inflação, a Alemanha encaminha a Europa para uma recessão”. “É um erro, afirma Geert Mak. Mais valia emitir papel-moeda, em vez de apertar o cinto no sul ao ponto de os esganar”.
Escreveu que é preciso reconquistar a Europa, a qual deve parar de obedecer a uma lógica do dinheiro. Mas de que forma? Em 1989, o ocidente livre venceu o comunismo e autorizou um terrível deslize para um capitalismo de casino.
Quando realizamos negócios, corremos riscos. Tanto podemos ver os nossos esforços recompensados como pode correr mal. Todos os feirantes o sabem. Mas o livre-câmbio é ameaçado pelos bancos, que quase começaram uma revolução antidemocrática. Estes últimos apoderaram-se do poder. Todos saem prejudicados desta crise, exceto os responsáveis. Os bancos não correm qualquer risco e o setor público assume as consequências.
Recentemente, assisti a uma reunião onde um grande economista chinês e um responsável africano do Banco Central censuravam um grupo de especialistas europeus do setor financeiro. Uma reviravolta histórica interessante. O africano dizia: “os vossos bancos estão repletos de pessoas extremamente competentes, mas cometeram todos os erros possíveis e imagináveis. Algo que só se pode explicar pela intervenção de outros fatores nas suas decisões. Em África, qualificamos estes fatores de corrupção.” Fez-se silêncio na sala. Este fazia referência aos prémios, e tinha toda a razão.
A Europa representava uma tentativa de colocar a democracia acima das fronteiras nacionais. Será a democracia incapaz de enfrentar um mercado mundial desenfreado?
É o que me entristece profundamente. Apesar de todos os seus defeitos e de todas as suas feridas, a União Europeia é uma experiência fantástica nesta área. Devemos portanto defendê-la com unhas e dentes. Neste feroz século XXI, a UE deveria ser o modelo que preserva os valores democráticos. Se esta desaparecer, outros virão preencher o vazio deixado pela Europa. Os americanos, os chineses, os brasileiros, os russos.
A UE é um produto característico da fé na exequibilidade de uma vida comunitária. Acabarão os populistas por ter razão? Será que isto não funciona?
Não. Apenas têm razão num ponto: um sentimento de mal-estar abate-se sobre a Europa como um nevoeiro. Na Holanda, este sentimento é muito forte. Enquanto outros países continuam a ronronar de satisfação. Os populistas refletem este mal-estar. Compreendo as críticas feitas à Europa. Mas isolar-se equivale a acreditar em magia. O mito nacional é incrivelmente sedutor. Por vezes, quando estou deitado à noite na cama, penso: e se eu fosse de direita durante um quarto de hora. Seria maravilhoso!
Este mal-estar é algo tangível no seu livro. Você é europeu por instinto, mas o seu ponto de vista reflete a visão de um historiador. E é sem sucesso que acaba por admitir que isto não funciona.
Talvez seja lamentável, mas não fiquei surpreendido. No último capítulo do meu livro In Europa já referia que o barco estava muito desequilibrado com 27 capitães a bordo e anunciava o aparecimento de graves problemas em caso de tempestade. Eis que agora a tempestade causa estragos.
O seu pequeno livro termina com uma nota sombria. Que esperanças tem para 2012?
No ano que vem, a questão consiste em saber qual será o futuro da Europa. Continuará a ser um sistema comunitário sob a direção de uma poderosa Comissão Europeia ou tornar-se-á um sistema intergovernamental descentralizado, como desejam os alemães. A Holanda poderá neste caso desempenhar um papel de mediador. Não somos tão dogmáticos como os alemães. Desempenharemos portanto esta função plenamente, por interesse pessoal. Uma vez que somos, e continuaremos a ser, um país virado para o mundo.