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sábado, 3 de março de 2012

O resumo dos resumos, com um rumo: Até para o ano!

A frase “amo a língua portuguesa” foi das mais marcantes da 13ª edição do Correntes d’Escritas.
O seu autor, Rubem Fonseca, marcou presença no Encontro de Escritores depois de “ter esgotado todas as desculpas. Há tantos anos que queríamos que o Rubem viesse”, disse Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura. O escritor brasileiro venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa, disse Camões, recebeu a Medalha de Mérito Cultural, falou sobre as características essenciais de um escritor, deu autógrafos, falou com o público e com os seus colegas – que durante os 3 dias do evento estiveram tão, ou mais, entusiasmados com a sua presença do que o público.
Duas outras figuras, desta feita portuguesas, chamaram ao Auditório centenas de pessoas: D. Manuel Clemente e Eduardo Lourenço.
O Bispo do Porto proferiu a Conferência de Abertura e falou sobre “Portugal e os Portugueses em 2008 e depois”. Para o clérigo, “desenrascanço, dentro e fora da pátria, é a mais nova palavra do campo lexical português sem ter tradução possível tamanha característica portuguesa, juntando-se à nossa célebre saudade”.
Eduardo Lourenço foi o homenageado pela Revista Correntes d’Escritas 11 e, na sua apresentação, referiu-se àquele momento como sendo “de grande estímulo, numa fase descendente da vida em que me encontro. O General De Gaulle dizia que a velhice é um naufrágio. Mas, já que naufragamos, que seja um naufrágio à Titanic, uma coisa gloriosa, com honras nas páginas dos jornais”. Para o ensaísta, “de algum modo, um escritor – e eu não sou um escritor nesse sentido, nem, talvez, em nenhum – arrisca. A pretensão da escrita é de ser mágica, um concentrado do sentido da experiência humana”.
Sobre esta 13ª edição, Luís Diamantino afirmou que “esta foi a edição número 13 e penso que foi uma sorte – e a sorte dá muito trabalho, como se sabe – termos aqui, hoje, tanta gente. Pensámos que num ano de crise iríamos ter menos público e, afinal, tivemos mais pessoas. Como se viu aqui, o dinheiro não é tudo e os portugueses precisam de elevar o espírito, abrir portas e ter esperança através dos livros. É importante continuarmos neste caminho e não podemos parar um ano, sob pena de quebrarmos esta corrente. Este evento abre o ano literário no país e, se não fosse este, outro apareceria para ocupar o lugar. Quando dizem que a Póvoa de Varzim não tem atrativos turísticos, eu dou sempre a mesma resposta: o Correntes d’Escritas traz pessoas de todo o país para a nossa cidade, desde Abrantes, Lisboa, Guarda e Algarve. Todas as Mesas de Debate lotaram sempre o Auditório Municipal, com pessoas a ouvir até do lado de fora da sala”. Sobre o orçamento deste ano, o autarca disse, “penso que é praticamente impossível fazer um evento deste género em Portugal com o nosso orçamento. Gastamos um terço do dinheiro e isso é quase um milagre”.
O Auditório Municipal, o Hotel Axis Vermar, a Casa da Juventude e a Biblioteca, os locais anfitriões do Correntes d’Escritas, estiveram sempre  completamente lotados, quer fossem Mesas de Debate, lançamentos de livros, encontros com alunos, performances teatrais ou sessões de poesia.
Os escritores, com textos preparados com antecedência ou falando de improviso, emocionaram o público por diferentes razões. Luis Sepúlveda desabafou: “a profissão de escritor nem sempre é compreendida”. Inês Pedrosa lembrou que: “Rui Zink ainda não ganhou nenhum prémio literário porque já fez televisão”. valter hugo mãe confessou querer dormir com Rubem Fonseca, muito quietinho para não o incomodar. “Às vezes, confundimos os escritores com os seus livros e começamos a nutrir carinho por eles” (já se adivinhava que, depois desta declaração, uma senhora da plateia, na altura das perguntas do público, dissesse ao Prémio Saramago que também ela, muitas vezes, adormecia junto a ele, o que deixou o escritor, assumidamente tímido, ruborizado). Sandro William Junqueira declarou: “não acredito muito na crise da escrita. As crises às quais não podemos escapar são as da vesícula e as do fígado”. Salgado Maranhão revelou que a: “verdadeira crise de quem escreve é não poder fazer aquilo de que se gosta porque o que se gosta já está feito, já está escrito”. Rosa Montero partilhou que: “a nossa memória é um conto que contamos a nós mesmo. É um romance, um livro que está em constante construção e onde a personagem principal somos nós”. Fernando Pinto do Amaral sublinhou que: “o efeito catártico da literatura e da poesia tem uma função terapêutica, levando a pessoa comum a ser herói por um dia ao encarnar personagens”.
Mas, muitas outras histórias marcaram esta edição que, segundo Rui Zink, foi mais curta, mas a melhor. Alguns escritores arrancaram gargalhadas, como Afonso Cruz: “Há algum tempo, um amigo disse-me que estava impressionado com o meu filho de quatro anos, que era muito erudito. Fiquei admirado e perguntei-lhe porquê. Disse-me que gostava muito de Tolstoi, respondeu-me. Será que o meu filho lê Tolstoi às escondidas? Até que me apercebi que o que o meu filho tinha dito é que gostava muito do Toy Story, tinha era dificuldade, e tem até hoje, em dizer os ‘erres’”. Outros, marcaram pela emoção transmitida, como Ana Luísa Amaral e o seu poema Visitação ou Poema que se diz manso. No entanto, um dos momentos mais emocionantes foi a entrega dos Prémios Literários e, mais especificamente, o do 2º lugar do Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora. O trabalho escolhido pertence à turma E da Escola Básica Bairro Duarte Pacheco, de S. Victor, Braga. Os alunos desta turma têm problemas auditivos e, quando subiram ao palco para receberem o Prémio, foram acolhidos com um enorme aplauso. Mas, neste aplauso, as mãos não se tocaram e o único som que se ouviu foi a respiração emocionada da plateia. Escritores, público e equipa comunicaram com aqueles alunos na sua língua, a gestual, e através de acenos de mãos mostraram que a literatura, os livros, as palavras escritas e as imagens, são linguagens completamente universais.
Até para o ano!

Contramaré… 3 mar.

A Comissão Europeia deu provimento à queixa da Câmara de Aveiro contra o Estado português em relação à cobrança de portagens na A-17, A- 25 e A 29, considerando que as portagens nas ex-SCUT são "contrárias ao quadro legislativo comunitário", exigindo alterações na lei ao governo português.
A Câmara de Aveiro, adianta que o Estado português foi advertido que, "se não alterasse as normas contrárias ao quadro legislativo comunitário, seria demandado e processado no Tribunal de Justiça da UE por incumprimento e violação de normas imperativas de direito comunitário".

No exemplo, um PROFESSOR. Mera coincidência?

Ser pobre como um grego (na Alemanha)
Como seria a vida de um funcionário público médio alemão se a República Federal fosse obrigada a seguir a mesma cura de austeridade draconiana que, neste momento, impõe à Grécia? Com a ajuda de alguns especialistas, o jornal alemão Cicero tentou imaginá-la.
Chamemos-lhe Erich Hansen. Erich Hansen é professor numa escola pública numa pequena cidade do Hesse [no centro da Alemanha]. Com os alunos da sua escola, faz frequentes viagens de ida e volta a Marburg, não longe dali, para jogarem bowling. No futuro, Erich Hansen terá de se perguntar se não será preferível levar as crianças a passear na floresta – o bilhete do bowling poderá tornar-se muito caro e Erich Hansen tem de apertar o cinto. Como o resto da República Federal.
Baseemo-nos na hipótese formulada pela fundação Hans Böckler com a ajuda do Instituto de Macroeconomia e Pesquisas Conjunturais (IMK) para perceber como seria a Alemanha se fosse submetida aos mesmos planos de rigor que a Grécia.
O salário de Erich Hansen desceria de 3250 euros mensais para 2760. Em contrapartida, a sua comparticipação para a segurança social subiria 530 euros num ano, enquanto o IVA passaria de 19 para 22%. O professor, que gosta de beber uma cerveja e fumar um cigarro depois do trabalho, terá de contar com uma subida de 33% nos impostos sobre o álcool, o combustível e os cigarros.
Entre os colegas de Erich Hansen o clima é tenso. O Governo anunciou a supressão de 460 mil postos de trabalho na função pública. Os reformados alemães terão de contar com um corte de mil euros nos seus rendimentos anuais. Uma perspetiva assustadora, se nos lembrarmos das manifestações que, no passado, o congelamento de salários desencadeou na Alemanha.
A Grécia "terceiro mundializa-se"
Erich Hansen e todos os outros vão ter de apertar o cinto porque, se transpusermos para o nosso país as exigências impostas à Grécia, a República Federal conseguirá economizar 500 mil milhões de euros em cinco anos. Foi este o cálculo de Henner Will, especialista do IMK, que chegou à conclusão de que a troika formada pelo Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional, subestimou as repercussões da política de austeridade.
O produto interno bruto grego vai contrair-se 2,6%, foram as previsões oficiais na altura da apresentação do plano de austeridade imposto à Grécia. Afinal de contas, caiu nada menos que 5%, e estamos a falar apenas do ano de 2011, porque a política de austeridade grega está apenas no início.
Os números são assustadores e não enganam: a austeridade vai levar os gregos à ruína se continuarem por este caminho. Quanto mais vozes se juntam à questão grega, mais o concerto se prolonga, e mais tudo aquilo que diz respeito ao futuro do euro, da Grécia e, por isso mesmo, também da Europa se torna uma questão de fé. Como acabará esta história? Ninguém sabe.
Um olhar sobre a Grécia bastaria para mudar as agulhas e demonstrar que, para os cidadãos gregos, o assunto está resolvido há muito tempo: a derrocada é total e o país “terceiro mundializa-se” – um fenómeno que, na Alemanha, não passa de uma ameaça, que se agita como uma bandeira vermelha.
Entretanto, Erich Hansen perdeu o seu emprego. O professor teve de abrir mão do seu subsídio de desemprego. O Estado tira-lhe 600 euros por ano. Erich contribui, assim, para a salvação do euro.

Ecos da blogosfera - 2 mar.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Quem nos dera ganhar menos 30% dos alemães!

Alexander Popov
Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008, diz que mais austeridade não é o caminho para Portugal, mas insiste que os salários têm de descer para que o País recupere a competitividade.
O Nobel da Economia voltou a insistir, tal como já tinha referido num artigo em Maio de 2010, que Portugal deve descer os salários 20% a 30% em relação à Alemanha porque a "Alemanha é a referência na zona euro". Krugman admitiu que preferia que houvesse uma alteração nos salários alemães em vez de o ajustamento se aplicar nas remunerações em Portugal. "Não é simpático, mas é algo que terá de acontecer", disse, recusando a hipótese de Portugal baixar os salários até ao nível das remunerações chinesas, argumentando que não é com países como a China que Portugal está a competir.
Tenho um certo respeito por todos os Prémios Nobel, por uma questão da autoridade reconhecida e particularmente por Paul Krugman, se calhar por estar quase sempre de acordo com o que analisa e as propostas consequentes.
Na sua recente visita a Portugal para a atribuição de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Lisboa (tinha mais lógica que o fosse pela Faculdade de Economia de Coimbra…), disse duas coisas contra a corrente, que deixou os admiradores desiludidos e os adversários académicos mais do que satisfeitos.
Na conferência de imprensa que antecedeu a cerimónia, começou por insistir nos malefícios de mais austeridade como solução para a recuperação económica e a saída da crise, para de seguida vir dizer que os salários em Portugal deviam descer (título maioritariamente escolhido pelos media, com a omissão das referências), para aumentar a competitividade.
Em primeiro lugar, descer salários é a forma mais direta de aumentar as medidas de mais austeridade, o que só pode ser um paradoxo, inadmissível a pessoa tão inteligente e bem formada!
Em segundo lugar, o que Krugman disse (e eu ouvi diretamente) foi que Portugal devia descer os salários 20% a 30% em relação à Alemanha, o que não é bem a mesma coisa!
Apesar de não encontrar atualizado o valor médio dos salários na Europa, vejamos:
Em Portugal, o Salário Mínimo em 2010 era de 450 € e em 2011 era e continua a ser de 485 €, o que não nos permite comparar com o da Alemanha, já que lá não existe Salário Mínimo e o conceito é substituído pelo montante mais baixo que um trabalhador pode legalmente receber pelo seu trabalho, em algumas profissões.
Passando ao Salário Médio Bruto, verificamos que em Portugal em 2010 correspondia a 1.431,73 €, enquanto na Alemanha, em 2009, esse Salário Médio Bruto era de 2.499,67 €.
Deixando de lado as diferenças do ano (o que nos prejudica) e fazendo as contas propostas pelo Nobel, se auferíssemos os ordenados da Alemanha baixados em 30%, o salário médio em Portugal deveria ser de 1.749,77 €, o que significa que estamos 318,04 € abaixo da sugestão, o que quer dizer que deveríamos ser aumentados, matematicamente…
Por outro lado, tendo em conta que o salário médio de um trabalhador na Europa em 2009 foi de 27.036 €, enquanto o salário médio de um trabalhador na Inglaterra, Holanda e Alemanha variaram de 46.000 € para quase 41.000 € e em Portugal foi de 20.044,22 € (fazendo contas a 14 meses), é fácil perceber que estamos mais de 50% abaixo dos salários dos alemães… Assim sendo, aqui há gato!
Mas se tivermos em conta que há países na Europa com salários mais baixos do que os nossos e ainda pior do que nós, pode-se concluir que os salários não são o entrave ao crescimento/concorrência.
Como explicar estes “aparentes” paradoxos? Com o nervoso do doutoramento, mesmo sendo de faz de conta?
Nunca me esqueço, que quando era árbitro de natação e me calhou na minha pista o Campeão Olímpico e recordista Mundial, o russo Alexander Popov, no momento da partida para uma tentativa de novo recorde mundial, as pernas dele tremiam como varas verdes, o que me deixou perplexo, mas me fez compreender que até os maiores tem momentos de ansiedade, com consequências negativas, como tem os mais fracos. Talvez isto sirva para entendermos o que Paul Krugman não conseguiu explicar, mas nós percebemos, porque quisemos perceber…

Reflexão do Relvas… 2 mar.

"O nosso compromisso de reorganizar o Estado tem como objectivo fortalecer o País", garantiu Miguel Relvas. Trata-se de "uma mudança como nunca aconteceu na nossa história recente" e que visa "melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados às populações". Tal "significa que o programa de reformas pretende que o Estado continue a garantir não apenas o acesso aos serviços públicos mas também a sua qualidade e sustentabilidade". "Não estamos presos aos doces dogmas do passado e não somos reféns do tacticismo político", assegurou o ministro.

A proposta de lei do Governo que está a ser discutida no Parlamento visa a agregação de entre 1.000 a 1.400 freguesias, uma reforma que "promove a coesão e a competitividade territoriais através do aprofundamento do municipalismo", que está a ser construída "com os autarcas e não contra os autarcas".
Capucho: atitude de Miguel Relvas é uma "palhaçada"

13ª Correntes d’Escritas – 7ª mesa

A equipa do Correntes d’Escritas chega ao Auditório Municipal e depara-se com uma fila gigantesca de pessoas à espera para entrar e assistir à 7ª Mesa. A emoção foi grande. Depois de um ano de trabalho, de incondicional amor ao projeto, a sensação única de que tudo valeu a pena.Quem por lá passasse e visse tal cenário, poderia imaginar que um qualquer cantor de sucesso iria atuar naquele espaço.
Não, as estrelas da tarde têm sucesso, sim, mas são os escritores Eugénio Lisboa, Helena Vasconcelos, Gonçalo M. Tavares, João de Melo, Luis Sepúlveda e Onésimo Teotónio Almeida.
“As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento” foi o tema desta última Mesa da 13ª edição do Correntes d’Escritas.
Eugénio Lisboa foi o primeiro a intervir e começou por falar de Rivarol, escritor francês do século XIX, autor desta frase que, segundo o escritor, estará mal traduzida: “ele era um escritor reacionário, o que o levou a emigrar durante a Revolução Francesa. Ele é autor de um livro sobre a universalidade da língua francesa e, se hoje ressuscitasse, ficaria admirado por ver que essa universalidade já não existe. Mas, ele é interessante para mim por ter feito a seguinte declaração ‘a minha pátria é a língua francesa’. Como qualquer exilado, precisava de sentir ligação ao seu país e, visto não concordar com a Revolução Francesa, agarrou-se à sua língua materna”. Eugénio Lisboa explica que “Fernando Pessoa recupera este aforismo, declarando que a sua pátria era a língua portuguesa. Um escritor jovem emita e um escritor maduro rouba”, rematou. “Isto não é totalmente verdade, há talentos que se fartam de ter juros, escritores ricos”. Como exemplo, Eugénio Lisboa falou sobre João de Barros, “a quem o rei pagou principescamente pelas décadas da Ásia”, ou Ernest Hemingway, “que tinha casas em Cuba, em Veneza, na América. Portanto, dizer que o talento nunca dá juros não é verdade”. No entanto, para o autor, o contrário também não é mentira: “Alexandre Dumas, pai, que escreveu Os Três Mosqueteiros, Conde de Monte Cristo, no final da sua vida queixava-se que quando chegou a Paris trazia consigo 53 francos e, na altura da sua morte só tinha 40 francos, por isso, ainda perdeu dinheiro”.
Helena Vasconcelos sublinhou que “se o talento está relacionado com a criatividade artística, nesta frase está relacionada com uma linguagem financeira. E eu não domino essa linguagem. Certificados, agências de rating, índice nasdaq, indicações bloomberg, shares, títulos de tesouro são palavras exóticas para mim e, por isso, percebo perfeitamente os nossos governantes e as suas dificuldades, pois acho que eles percebem-nas tanto como eu. A única diferença é que eu não mando em nada e as minhas decisões não têm impacto na vida das pessoas”. Na verdade, “o talento era uma unidade de medida, que quer dizer peso, balança. Equivalia, na Grécia, ao peso de uma ânfora. Um talento de prata era o que se pagava por nove anos de trabalho”. Terminou contando que quando era pequena fazia muitas asneiras e que o seu pai lhe dizia para parar, para deixar de ser criativa. “Não segui o conselho do meu pai e continuei a fazer muitas asneiras ao longo da vida, embora me tenha divertido muito ao longo do caminho”.   
Gonçalo M. Tavares começou a “escrevinhar sobre o tema a partir da frase estou a contar contigo, que pressupõe algo moral e afetivo, mas que também tem uma vertente financeira. Quando dizemos estou a contar contigo estamos a perguntar podemos fazer um negócio contigo? Há uma origem monetária nesta frase. Mas, o que é bonito para mim, é que também estou a aplicar uma verdade narrativa, há literatura nesta frase, que também significa estou a contar uma história contigo, contamos algo e não nos desmentirão”.
João de Melo lamentou ter perdido os papéis que tinha preparado para esta Mesa, embora o Onésimo me tenha avisado: “Ó João, olha que outros utilizaram essa mentira”, mas, anunciou, “é verdade, não sei mesmo dos papéis”. Quando conheceu o tema, João de Melo pensou em ir às Finanças, já que a frase tem tantos termos relacionados com fiscalidade, mas não se precipitou. Pensou, depois, falar com a sua gerente de conta, “que nunca sabe o meu nome e, ainda por cima, é feia”. Desistiu. Pensou, então, ir aos Correios, mas já sabia que lhe iam dizer que os Certificados de Aforro não servem de nada e que tinham outro produto melhor. Pegou, pois, nos seus dicionários e foi ver a palavra talento, que era a palavra que mais o perturbava. “Qual o peso e a medida do meu talento?”, questionou-se. Também não resolveu o seu problema.
Luis Sepúlveda afirmou que “a profissão de escritores nem sempre é compreendida” e que “a fonte da imaginação é a realidade”. O escritor, que vive nas Astúrias, considera que “a genialidade, se é que alguma vez existiu alguma, é inconsciente”. O escritor contou a história de um concurso literário cujo prémio era o paraíso. O vencedor encontrou S. Pedro, que lhe mostrou o céu, onde uma série de homens e mulheres escreviam sem parar, com os dedos em sangue, sentados em cadeiras desconfortáveis. O vencedor perguntou, então, como seria o inferno. S. Pedro mostrou-lhe, assim, uma série de homens e mulheres escreviam sem parar, com os dedos em sangue, sentados em cadeiras desconfortáveis. Confuso, o vencedor questionou sobre a diferença entre os dois locais. “A diferença é que no céu os livros são publicados”.
Onésimo Teotónio Almeida terminou a ronda desta 7ª Mesa. “Contemplo a frase que nos deram e penso que bate todas as outras”, começou. “Haverá gralha aqui?”, afinal, continua, “todas as grandes descobertas são feitas por erros”. O tema engloba dinheiro, ideias e escritas. O problema, para Onésimo, “é relacionar estas três palavras”. Falar de dinheiro não é algo que jogue bem com a nossa cultura, segundo o escritor. “Estávamos tão habituados a viver nas lonas, que alguém se lembrou de dar a Salazar o Prémio Nobel da Física, por ter descoberto uma nova partícula do átomo. Já conhecíamos o eletrão, positrão e neutrão, mas Salazar descobriu o pelintrão, que é energia sem massa”. Onésimo, finalizou reinterpretando o tema da Mesa: “Não tendo talento sequer para interpretar a frase que me deram, não tenho outro remédio senão pôr-me a andar. Juro que, sem ideias e talento, eu me afundo e fico à mercê das vossas mãos porque as ideias sem fundo nunca deram juros nas mãos sem talento”.

Contramaré… 2 mar.

Uma comissão de psiquiatras, enfermeiros e académicos portugueses e estrangeiros vai passar a executar, a partir do final da época de Verão, um plano para prevenir os suicídios em Portugal. O objectivo faz parte do Plano Nacional de Saúde Mental 2007/2016, mas a sua concretização foi acelerada devido ao aumento esperado de depressões causadas pela crise. Portugal registou em 2010, um consumo médio de antidepressivos 5 vezes superior à média europeia.

Este sol de inverno…

Desenvolvimento sustentável significa alcançar um crescimento económico que seja largamente partilhado e que proteja os recursos vitais da Terra. Com mais de mil milhões de pessoas a não beneficiarem do progresso económico e com o ambiente a sofrer danos terríveis da actividade humanas, a actual economia global não é sustentável. O desenvolvimento sustentável exige a mobilização de novas tecnologias baseadas em valores sociais comuns.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, colocou, correctamente, o desenvolvimento sustentável no topo da agenda global. Entrámos num período perigoso em que uma população crescente, em conjunto com um rápido crescimento económico, ameaça ter um impacto catastrófico no clima, biodiversidade e oferta de água potável da Terra. Os cientistas classificam este período como Antropoceno – em que os seres humanos se tornaram a principal causa das alterações físicas e biológicas da Terra.
O Painel de Sustentabilidade Global (PSG) das Nações Unidas emitiu um novo relatório em que define um enquadramento para o desenvolvimento sustentável. O PSG sublinha que o desenvolvimento sustentável tem três pilares: acabar com a pobreza extrema, garantir que a prosperidade é partilhada por todos, incluindo as mulheres, jovens e minorias, e proteger o ambiente. Estes são os pilares económicos, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável, ou de forma mais simples, as bases do desenvolvimento sustentável.
O PSG apelou aos líderes mundiais para adoptarem um novo conjunto de Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vão ajudar a criar as políticas e as acções globais após 2015 – ano limite para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Enquanto os ODS se focam na redução da pobreza extrema, os SDG irão focar-se nos três pilares do desenvolvimento sustentável: acabar com a pobreza extrema, partilhar os benefícios do desenvolvimento económico com toda a sociedade e proteger a Terra.
Como é óbvio, uma coisa é definir os ODS e outra, bem diferente, é alcançá-los. O problema é evidente quando olhamos para um dos principais desafios: as alterações climáticas. Actualmente, há sete mil milhões de pessoas no Planeta e cada uma é responsável, em média, anualmente, pelo lançamento de mais de 4 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera. Este dióxido de carbono é emitido quando queimamos carvão, petróleo e gás para produzir electricidade, conduzir os nossos carros e aquecer as nossas casas. No total, os seres humanos emitem cerca de 30 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano para a atmosfera, montante suficiente para mudar, drasticamente, o clima no espaço de algumas décadas.
Em 2050, a população mundial deverá aumentar para nove mil milhões de pessoas. Se estas pessoas forem mais ricas do que as actuais (utilizando assim mais energia por pessoa), o total de emissões globais pode duplicar ou mesmo triplicar. Este é o grande dilema: precisamos de emitir menos dióxido de carbono mas a tendência é para que se emitam muito mais.
Devemos preocupar-nos com este cenário: manter a tendência de aumento das emissões globais causará, certamente, estragos e sofrimento a milhões de pessoas à medida que são atingidas por secas, ondas de calor ou furacões. Nos últimos anos já presenciamos diversas fomes devastadoras, cheias e outros desastres relacionados com o clima.
Assim, será possível que as pessoas (em especial as mais pobres) beneficiem de mais electricidade e mais acesso a meios de transporte modernos e, ao mesmo tempo, consigam salvar – e não destruir – o planeta? A verdade é que não é possível – a não ser que melhoremos drasticamente a tecnologia.
Precisamos de usar a energia de forma muito mais inteligente, mudando dos combustíveis fósseis para fontes de energia de baixo carbono. Esta melhoria é, certamente, possível e economicamente realista.
Consideremos, por exemplo, a ineficiência energética de um automóvel. Na verdade, movemos mil a dois mil quilos de maquinaria para transportar uma ou poucas pessoas, pesando cada uma cerca de 75 quilos. E fazemo-lo usando um motor de combustão interna que utiliza apenas uma pequena parte da energia libertada pela queima de gasolina. A maior parte da energia perde-se como calor residual.
Poderíamos obter grandes reduções das emissões de CO2 mudando para veículos pequenos e leves, movidos por motores eléctricos altamente eficientes e alimentados por fontes de energia de baixo carbono, como a energia solar. Ao utilizar veículos eléctricos, seriamos capazes de usar as últimas tecnologias de informação para os tornar mais inteligentes – suficientemente inteligentes para conduzirem sozinhos utilizando sistemas avançados de processamento de dados e posicionamento.
Os benefícios das tecnologias de informação e comunicação podem encontrar-se em todas as áreas da actividade humana: melhor produção agrícola através da utilização de GPS e microdifusão de fertilizantes; produção mais precisa; edifícios que sabem economizar o uso de energia e, como é óbvio, o poder transformador e aproximador da Internet. A banda larga móvel já liga até as aldeias mais remotas de África e da Índia, reduzindo, significativamente, a necessidade de viajar.
Hoje, as operações bancárias são feitas por telefone, tal como uma variedade crescente de diagnósticos médicos. Os livros electrónicos são transmitidos directamente para os tablets, sem necessidade de livrarias, viagens, e pasta de papel dos livros físicos. A educação online também está a crescer e, muito em breve, irá permitir que em qualquer ponto do planeta, os estudantes recebam instrução, com um custo marginal quase nulo por cada novo estudante.
Ainda assim, o passo para um desenvolvimento sustentável não passa apenas pela tecnologia. Será também uma questão de incentivos de mercado, regulação governamental e apoio público à pesquisa e desenvolvimento. Mas, mais importante do que mudar as políticas e a governação, será mudar os valores. Devemos entender o nosso destino comum e adoptar o desenvolvimento sustentável como um compromisso comum para a decência de todos os seres humanos de hoje e do futuro.
Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e director do Earth Institute na Universidade de Columbia. É também conselheiro especial do Secretariado-geral da ONU no âmbito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Project Syndicate, 2012: http://www.project-syndicate.org/

Ecos da blogosfera - 1 mar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cada vez mais podemos dizer: “Sabemos lá se é!”

Portugal fechou o ano de 2011 com uma alta taxa de desemprego e o Governo admitiu que os números deste ano vão ser piores - 14,5%. O novo chefe da missão do FMI para Portugal, Abebe Selassie, diz que o desemprego está em níveis inaceitáveis e que se a solução para o país entrar nos eixos for “cortes e mais cortes, não vai funcionar”.
Para conseguir um ajustamento no setor privado, só há duas alternativas, disse, e elas passam por aumentar a produtividade para níveis consistentes com os atuais salários ou então cortá-los.
“Os custos unitários de trabalho são cerca de 15% mais elevados do que deveriam ser. Mas o que se pretende não é esse ajustamento. Se a solução for só cortes e mais cortes, então não vai funcionar. A outra forma de o fazer, aquela que vai garantir crescimento sustentável, é melhorar a competitividade”.
Selassie acredita que Portugal vai regressar aos mercados em 2013, mas reconhece que não vai ser fácil.
O chefe da missão do FMI diz ainda que o ajustamento decorre “mais ou menos como o previsto”, mas alerta para as principais ameaças ao sucesso português: as “condições externas”, que podem vir a ser piores do que o previsto, e o “ajustamento orçamental”, que pode conduzir a uma contração da economia muito maior.
Abebe Selassie lembra também que o apoio do PS ao programa de ajustamento é crucial para Portugal ser bem sucedido. Numa altura em que o país se prepara para enfrentar mais uma greve geral, já no próximo dia 22 de Março, Selassie refere que “se houver muita contestação torna-se mais difícil implementar as reformas. E as reformas são a saída para esta crise”.
Sem por em causa a competência de Abebe Selassie e o estudo apurado que tenha feito da pasta “Portugal”, o facto é que qualquer bicho careta estrangeiro chega aqui e sabe mais do que os nossos “cabeças” sobre tudo e mais alguma coisa, sem qualquer adaptação ao território, à demografia, à sociologia e à história do país, baseando-se apenas na “chapa 3” dos manuais do FMI, que não devem incluir nenhum capítulo sobre estas minudências.
Acresce que se nota desde logo (tendo como fidedignas as ideias noticiadas), algumas contradições, imprecisões e desculpas, que não abonam em favor do rigor técnico que se espera de gente deste calibre.
Vejamos:
1. Começa por reconhecer que os níveis do desemprego são inaceitáveis, sem referir que o aumento crescente ainda o é mais;
2. Reconhece que a solução para o país arrebitar não pode ser apenas com cortes e mais cortes;
3. Em alternativa palpita que se aumente a produtividade (mesmo os desempregados, presentes e futuros?);
4. Mas se a coisa não funcionar, há que cortar os salários, presume-se que em 15%, que diz, sem qualquer prova, estão acima do que deveriam estar (embora no seu país e noutros na UE os salários sejam muito mais baixos e a concorrência não lhes pegue);
5. Assim, diz ele, Portugal vai garantir crescimento sustentável, sem dizer como e vai melhorar a competitividade, sem dizer com quem e com as empresas a fechar;
6. E numa de tarólogo, alvitra que vamos regressar aos mercados (municipais e feiras de gado) em 2013, mas vai dizendo que não vai ser fácil, que é o mesmo que dizer que vai ser impossível;
7. “Reconhece” que o cumprimento do memorando decorre mais ou menos como o previsto sem especificar coisa nenhuma (o que quer dizer que não tem a certeza);
8. E não vão os diabos tecê-las (e vão), como o nosso Ministro das Finanças lá se vai desculpando para eventuais “erros de avaliação” com as condições externas, que podem vir a ser piores do que o previsto (lá volta a tarologia);
9. E se assim for (e vai) o ajustamento orçamental pode conduzir a uma contração da economia muito maior e mais austeridade e mais cortes, mesmo dos salários (digo eu);
10. Partindo do paradigma de que as reformas (quais, como e que proveitos?) são a saída para esta crise (como se fossemos nós que a criassemos e o sucesso já não dependesse de fatores externos) e se houver muita contestação (nas ruas e na consciência política e social dos cidadãos) fica mais difícil impingirem-nos essas “reformas” milagrosas”;
11. Por isso dava-lhes muito jeito que o PS engrossasse o número de cordeirinhos e crentes, para conseguirem manter os tais 80% (dos votantes) que assinaram o contrato da dívida.
Tudo lido e relido, ficamos a saber o que já sabíamos e que vamos lendo nas entrelinhas do que diz Passos Coelho, nos “para já não” de Vítor Gaspar, no “dentro em breve apresentaremos medidas” de Santos Pereira e no “estamos a trabalhar” de Miguel Relvas…
Nada de novo, a não ser o chefe, com as mesmas e velhas artimanhas…
Entretanto, a realidade já é bem diferentes e poucos dias decorreram depois do números lançados pela troika e pelo governo, sabendo-se hoje que a coisa está pior do que os palpiteiros vão apregoando:

13ª Correntes d’Escritas – 6ª mesa

Crise tem sido uma palavra cada vez mais usual no dia a dia português e europeu. Como não poderia deixar de ser também no Correntes d’Escritas analisaram a crise, mas desta vez, a crise da escrita. O Auditório Municipal recebeu assim a 6ª mesa do encontro com a temática “Da crise da escrita não se pode fugir”.
Os convidados para debater foram: Carmo Neto, João Pedro Marques, Miguel Real, Sandro William Junqueira, Valeria Luiselli, Salgado Maranhão, tendo como moderador Onésimo Teotónio Almeida.
Carmo Neto explicou que pesquisou sobre o tema de hoje e, debruçando-se na leitura de vários autores, foi com as palavras de Foucault, “na escrita não se trata da manifestação ou da exaltação do gesto de escrever mas a abertura de um espaço”, que o orador concluiu que “o escritor é um mero operário da palavra que procura desmaterializar a matéria prima e fazer dela um produto artístico”. Para o convidado “quem supera a crise supera-se a si mesmo”.
João Pedro Marques, historiador, afirmou “Não venho falar de nenhuma crise ocorrida na história” mas sim tentar encontrar uma resposta para a pergunta que paira: “o que é, no fundo, a crise da escrita?”. Continua, então, esclarecendo que “a escrita vive de uma sucessão de momentos, de bloqueios e avanços. A escrita é indissociável da crise, pois a escrita trabalha com a folha em branco. Conhecem coisa mais difícil do que esta?” Concluiu, alegando que “o fundamental é criar um balanço entre os aspetos positivos e negativos que a crise traz”.
Miguel Real defendeu que há uma crise interna e externa na escrita. A interna, abordada por Pedro Marques, e a externa, na qual incidiu a sua intervenção. A crise externa é uma crise entre o escritor e a sociedade. Exemplifica salientando nomes de grandes autores portugueses como, Sá de Miranda, Gil Vicente, Camões, entre outros, que, ao longo da história, se foram exilando da sociedade e optando por morar além fronteiras. “Hoje continua exatamente igual”, afirma o convidado “os intelectuais portugueses não vivem em Portugal. Esta é a crise sentida ao longo de 500 anos”.
Seguindo o tema da mesa, Sandro William Junqueira, declarou “não acredito muito na crise da escrita. As crises às quais não podemos escapar são as da vesícula e as do fígado”. Na sua opinião, “um dos combates mais fortes que um escritor tem de enfrentar e vencer, nem é o ato da escrita em si, ou o temor da página nua, é tão só o de se sentar para escrever”. Por isso, sobre o tema, o autor diz “uma situação de crise pode servir de alimento à matéria ficcional”.
Falando da sua experiência pessoal, Valeria Luiselli, mexicana, constata “venho de um país que esteve sempre em crise. Temos a crise económica, social, a crise do narcotráfico, etc. Então o que mais se escreve na literatura jovem são romances sobre o narcotráfico”. Contudo, “a matéria literária pode ser transformada, e assim transformar a matéria da crise em algo positivo. Não é necessário carregar o texto com a palavra crise para que o conceito esteja lá”.
Salgado Maranhão decidiu, por sua vez, apresentar-nos “a prima pobre da literatura”, à qual ele se dedica, a poesia, pois esta “não serve para nada e por isso serve para tudo”, serve inclusive para consolar, “pondo no colo, nas mais variadas situações, o leitor, dando-lhe conforto”, criando um escape. A verdadeira crise de quem escreve é não poder fazer aquilo de que se gosta porque o que se gosta já está feito, já está escrito. “Isso é permanente, referindo-se também ao caso do poeta que não pode fazer um novo poema parecido com o anterior mesmo que se tenha gostado muito do que acabámos de escrever”.

Reflexão do Relvas… 1 mar.

Questionado sobre se as declarações de Cavaco Silva são um incómodo para o Governo, Miguel Relvas respondeu: “Não. O Governo tem sido muito claro nessa matéria, o Governo tem tido uma grande preocupação com os sectores mais desfavorecidos da sociedade portuguesa. Sabemos a situação em que o país se encontra”.
Relvas considerou que “essa preocupação tem de ser uma preocupação permanente por parte do Governo mas também das instituições de solidariedade social, da sociedade em geral”, acrescentando ser “muito importante aqui reconhecer o papel da Igreja Católica na área social e também do voluntariado”.
Perante a insistências dos jornalistas sobre se as palavras de Cavaco Silva são uma crítica ao Governo, Relvas respondeu que “o próprio Governo tem tido essa preocupação e esse discurso”.

Contramaré… 1 mar.

O linguista brasileiro Godofredo de Oliveira Neto, que negociou o Acordo Ortográfico, considerou “estranho” que o secretário de Estado da Cultura português pense em rever as normas.
“É estranho. O período de adaptação vai até dezembro deste ano e Portugal já passou por todos os trâmites jurídicos e políticos. Uma coisa é a concordância, porque há discordâncias também no Brasil, mas outra coisa seria querer rever as regras”, afirmou o investigador.
O linguista considerou ainda que, no Brasil, as regras já foram “completamente” incorporadas e que não há volta atrás.

Referendos? Mas a democracia vai voltar à ribalta?

Numa manobra inesperada, o Governo irlandês anunciou, em 28 de fevereiro, que vai realizar um referendo sobre o novo Pacto Fiscal Europeu. Apesar do contexto de profunda recessão, desemprego elevado e crescente ressentimento contra a UE, a imprensa irlandesa acredita que não há alternativa senão votar Sim.
A Irlanda prepara-se para ser o primeiro e único país da zona euro a dar cobertura democrática ao Pacto Fiscal Europeu. Acordado em janeiro, o tratado de iniciativa germânica prevê a inclusão de uma regra de "orçamento equilibrado" nas legislações nacionais e atribui ao Tribunal Europeu de Justiça o direito de impor sanções contra os Estados não cumpridores. Deverá ser formalmente assinado em Bruxelas, por 25 Estados da UE (o Reino Unido e a República Checa optaram por ficar de fora), na sexta-feira 2 de março. Seguindo a indicação do procurador-geral da Irlanda sobre a necessidade de um referendo para a ratificação do texto de 10 páginas, o Taoiseach (primeiro-ministro) anunciou ao parlamento irlandês que "vai ser solicitada a autorização do povo irlandês":
Acredito firmemente que, no melhor interesse nacional da Irlanda, este tratado deve ser aprovado, pois isso irá permitir consolidar o progresso que o país registou no ano passado.
Ciente de que a Irlanda rejeitou tratados europeus no passado – o de Nice, em 2001, e o de Lisboa, em 2008, que aprovaria depois, em 2002 e 2009, respetivamente –, o Irish Times argumenta que, em matéria de referendos, "as pessoas têm o costume de responder Não às perguntas que lhes são colocadas". No entanto, aplaude o Taoiseach pela sua "entusiástica convicção de que os irlandeses... vão responder adequadamente." Declaradamente pró-UE, o diário de Dublin afirma que:
... uma rejeição significaria a abertura de um panorama pouco auspicioso para o país. É que, para entrar em vigor, o tratado não exige que todos os Estados participantes o ratifiquem, pelo que um “Não” irlandês deixaria o país para trás, enquanto o resto da zona euro avançaria no sentido de uma maior integração. A Irlanda poderia permanecer formalmente membro do euro, mas perigosamente fora do núcleo decisório central, que já se tornou de facto a guarda avançada da UE. Mais importante ainda, um “Não” privaria a Irlanda de novo acesso aos mecanismos de apoio e a dinheiro, o escudo protetor crucial para a nossa presença nos mercados financeiros e para a nossa recuperação.
Para o Irish Examiner, todos devem entender "as consequências do seu voto e o sentido da sua decisão, para nós e para os nossos filhos".
Aqueles que se lhe opõem, mais do que apenas rejeitá-lo – por estarem justamente irritados com as muitas consequências desagradáveis e desiguais de perder a independência económica – têm de apresentar uma alternativa viável de financiamento deste Estado falido. Deve ser esse o teste definitivo de qualquer proposta que não a da ratificação. Trata-se de um dilema de absolutos – somos a favor ou contra, por mais desagradável que possa ser a limitativa realidade. É difícil imaginar que os nossos colegas europeus, tão atacados em tantas frentes, possam condescender e criar acordos especiais para um pequeno Estado-membro tão completamente dependente do financiamento da UE, por mais draconianos que sejam os termos dos seus empréstimos.
Prevendo que o Governo vá argumentar que um "Não" levará a um "desfecho terrível"o Irish Independent salienta que:
Um pequeno consolo é a questão ser mais fácil de entender do que o conteúdo e as implicações dos tratados de Maastricht ou de Lisboa. Houve governos que alegaram desonestamente que esses tratados não tinham muita importância. A sensação do eleitorado de que lhes estavam a atirar areia para os olhos deve ter contribuído para a sua recusa – pelo menos, da primeira vez. Com um pouco de esforço, é realmente possível entender o pacto fiscal. É fácil ter uma ideia do que pode acontecer se o pacto for rejeitado. [...] Outra grande ironia é que há pouco no pacto fiscal que não esteja já no direito irlandês, após o aperto das regras da zona euro no ano passado, com exceção, talvez, do estatuto extra constitucional.
Na Alemanha, o país mais solicitado financeiramente na presente crise da dívida, o projeto de referendo irlandês suscita muitos comentários. "Outra vez os irlandeses!", exclama a Spiegel-Online, antevendo a reação na sede do Governo, em Berlim, onde Angela Merkel deve estar preocupada com a sua influência sobre a tomada de decisão em Bruxelas. E acrescenta:
A nova arquitetura do euro está ameaçada por uma malformação de nascença: é possível que, no fim, só 16 Estados se encontrem sob o jugo de austeridade desejada pela Alemanha.
Berlim preferiria sem dúvida evitar uma consulta popular sobre a Europa, na Irlanda, afirma, por seu turno o Süddeutsche Zeitung, que adianta:
Desta vez, o que está em questão é mais a própria Irlanda do que a comunidade do euro. […] É do interesse dos irlandeses aceitarem este pacto [fiscal]. Senão, não poderemos ajudá-los.
Por conseguinte, mais do que da regra de ouro, trata-se da identidade dos irlandeses, afirma Die Zeit:
Segundo o Eurobarómetro, “os irlandeses são os mais eurófilos da União", diz o jornal. "Mas o amor pela UE só é igualado pela rejeição da Inglaterra: trata-se de afirmar a diferença em relação aos britânicos. O país terá que viver com uma decisão que marcará a sua imagem durante toda uma geração. Tornam-se europeus de pleno direito e renunciam à sua situação de exceção a oeste das ilhas britânicas. Ou continuam metade dentro, metade fora, com os seus vizinhos britânicos – e voltam a juntar-se aos anglo-saxões, escoceses e galeses.

Ecos da blogosfera - 29 fev.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PPC:"Vamos ficar mais pobres"! E cumpre a promessa!

A avaliação dos credores da economia portuguesa volta a ser positiva. Mas recheada de "ses" e de uma certeza: neste ano, "desemprego e as falências vão aumentar". Troika recupera promessa dos líderes europeus: se Portugal cumprir e ainda assim precisar de mais ajuda porque não consegue voltar aos mercados, esta será concedida.
A taxa de desemprego em Portugal vai chegar aos 14,5% este ano, podendo "diminuir ligeiramente" em 2013. As afirmações são do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que também reviu em baixa a previsão de crescimento económica para 2012, passando de uma contração de 2,8% para 3,3%.
O ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, garantiu hoje que Portugal está "em condições muito melhores" do que quando o Governo tomou posse, considerando que a "evolução da economia nacional vai depender" da evolução económica europeia.
O risco de pobreza afecta 25,3% dos portugueses, ou seja, 1 em cada 4 está em risco de pobreza ou de exclusão social, percentagem superior à média europeia, que em 2012 se ficou pelos 23,4%, revelam dados do gabinete do Eurostat.
Durante o ano de 2011, o número de pedidos de ajuda feitos à CAIS foi o mais elevado de sempre, com um aumento de 6% face a 2010, com a organização a acompanhar um total de 320 utentes.
No nosso País, de acordo com a diretora executiva da Unicef Portugal, Madalena Marçal Grilo, “a pobreza urbana que afeta as crianças portuguesas é hoje menos visível, o que não significa, todavia, que não haja ainda muito por fazer” e revelou ainda que a Unicef Portugal vai relançar o programa Cidades Amigas das Crianças, protocolo ao qual aderiram, em 2007, 13 autarquias: Amadora, Aveiro, Cascais, Guarda, Matosinhos, Palmela, Ponte de Lima, Portimão, Póvoa de Varzim, Trancoso, Vila do Conde, Vila Franca de Xira e Viseu.
Ao longo dos anos, governos e autarquias concentraram-se em suprir as necessidades dos mais desfavorecidos, relegando para segundo plano o desenvolvimento da chamada habitação a custos controlados. As famílias compensaram essa falta de oferta com o crédito a preços de saldo, ainda mais barato com as bonificações do Estado.
Agora, o caminho tem de ser outro e as prioridades também. Não é só o paradigma da construção que terá de ser substituído pelo da reabilitação urbana. É preciso refocar as política de habitação num novo público-alvo, particularmente afectado pelas políticas de austeridade: a classe média.
Como PPC nos tinha prometido que iríamos ficar mais pobres, eis que chega a troika para medir o nível atingido, dão uma avaliação positiva ao trabalho do governo, que se aproxima dos objetivos traçados por ela e abraçados pelo executivo. Mais desemprego, mais falências, mais um rol de chagas sociais e económicas, mas se for preciso, prometem, haverá mais dinheiro…
Mas o programa da troika e o empréstimo não era para ajudar a pagar a dívida?
Pelos vistos é para nos ajudarem a aumentar a dívida com mais empréstimos…
Está mesmo a correr bem, só não se sabe para quem.
Quanto ao desemprego e com aquela cara de pau e de insensibilidade social, Gaspar veio anunciar 14,5% para 2012, mas com uma diminuição ligeira em 2013, o que quer dizer que no ano da “recuperação”, estaremos, nesta área, muito pior do que estamos hoje…. GRANDES PROGRESSOS! PARABÉNS!
E para “melhorar” as coisas, demonstrando assim o bom desempenho, vamos ficar pior do que hoje, em 3,3%, acima das rigorosas previsões palpitadas… GRANDES PROGRESSOS! PARABÉNS!
Fazendo eco das conclusões da troika e do ministro das Finanças, o ministro da Economia garante que Portugal está melhor do que no anterior governo, apesar de tudo estar pior, quer nos vários indicadores, quer sobretudo na vida dos portugueses e descarta desde já qualquer responsabilidade pelas pioras previsíveis, com a economia europeia.
Mitos e DESMITOS!
A prova de que tudo vai bem no reino de Portugal, é o aumento da percentagem da pobreza, que se destaca da média europeia e sempre a crescer até aos objetivos traçados…
Os números da CAIS são um mero indicador, que se multiplica por todas as IPSS, numa percentagem e números assustadores, provando-se com mais estes números, que o objetivo do empobrecimento será alcançado…
Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, por que padecem assim?
Não sendo já novidade para quem anda informado, que uma das metas do neoliberalismo é acabar com a classe média, quem vê à frente um bocadinho, para além de se preocupar só com os pobres de hoje, já pensa nos “novos pobres”, gerados nessa classe média, a que quase todos pertencemos e até por isso devemos denunciar esta retórica de exorcistas de 3ª, vendedores de ilusões, que nos levam agora muitos euros e nos darão futuramente alguns tostões e uma sopinha…
Obrigado senhores, pela vossa competência ao serviço solidário em favor do vosso povo!

13ª Correntes d’Escritas – 5ª mesa

Na tarde de ontem, Manuel António Pina dizia que “não há nada perfeito”, mas quem assistiu à esta Mesa pode, eventualmente, discordar do ensaísta.
Será que pode ser menos do que perfeito o tempo passado entre Afonso Cruz, Ana Luísa Amaral, Manuel Moya, Júlio Magalhães, Rui Zink e Valter Hugo Mãe?
“A literatura é um pouco como as filas de trânsito, acontece às vezes por acidente e porque as pessoas abrandam para ver a tragédia”, disse Afonso Cruz. “Lemos coisas terríveis e temos prazer nisso”. Por isso, sobre o tema desta noite “A escrita é um investimento inesgotável no prazer”, Afonso Cruz considera não haver muita distinção entre dor e prazer: “gostamos de ler um bom livro, de ler a tragédia, de abrandar perante um acidente. É muito mais fácil chorar do que rir perante a beleza. Ninguém desata a rir quando faz amor, pelo contrário, fazemos expressões de dor”, exemplificou.
O autor ainda confessou que um dos seus maiores desejos é que os seus filhos gostem de ler. “Há algum tempo, um amigo disse-me que estava impressionado com o meu filho de quatro anos, que era muito erudito. Fiquei admirado e perguntei-lhe porquê. Disse-me que gostava muito de Tolstoi, respondeu-me. Será que o meu filho lê Tolstoi às escondidas? Até que me apercebi que o que o meu filho tinha dito é que gostava muito do Toy Story, tinha era dificuldade, e tem até hoje, em dizer os ‘erres’”.
Ana Luísa Amaral considera que o tema da Mesa “não é tão fácil assim de comentar. Se a escrita é um investimento de prazer, ainda por cima inesgotável, é-o, antes de mais, porque a escrita não vive sem a leitura e os dois estados estão ligados. Ao pensar neste tema, lembrei-me da frase algo arrogante de Carlos Drummond de Andrade ‘A leitura é uma fonte inesgotável de prazer’ mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede”. Para a poetisa, parece-lhe ser “mais fácil falar da leitura como fonte inesgotável de prazer”.
Manuel Moya, o representante espanhol na Mesa, contou que o primeiro livro que comprou na vida foi um regulamento de futebol e, depois, aos poucos, foi comprando cada vez mais livros e entusiasmando-se. Sobre a relação entre prazer e escrita, Manuel Moya descobriu-a quando miúdo, quando se apaixonou por uma rapariga e, para conquistá-la, lhe escrevia poemas. “Mas ela não gostava dos meus poemas”, confessou. “O prazer da literatura tem mais a ver com o processo do que com a meta”.
Rui Zink, iniciando a sua intervenção, comentou: “isto é um milagre. Quando cá estamos sentimos mesmo carinho uns pelos outros, mesmo que no resto do ano nos detestemos. Este é um espaço maravilhoso e mágico”. O escritor lembrou a participação de Rubem Fonseca na 1ª Mesa e a “lição magistral que ele nos deu. Foi fantástico ver que ainda é um menino a jogar à bola. Brincar é a religião suprema, a forma mais séria de viver”. Zink disse ter sido comovente ter ouvido Rubem Fonseca, “um avançado”, Eduardo Lourenço, “um ponta de lança”, e Manuel Clemente “que joga a Bispo. Não conheço essa posição em futebol, mas em literatura vale tudo”. Sobre o prazer em escrever, Rui Zink afirmou ter “prazer em muitas coisas na vida, mas escrever não é uma delas. Escrever é trabalho. A vida é que me dá prazer”. Terminou a sua apresentação, relembrando um poema que lhe deu muito prazer, que “me assombra há muitos anos”, de Ana Luísa Amaral, bem próxima de si, “não o sei de cor, mas vou dizer o conteúdo, que também é forma”. Sob o olhar atento da poetisa, Rui Zink lá foi dizendo a tal forma: “Tive uma ideia genial para um poema. E entrou a minha filha a queixar-se que não conseguia dormir. E eu disse-lhe que estava a escrever, mas ela insistia e eu pensei: que se lixe o poema”. Ana Luísa ria, o público ria, fazendo prever que o poema seria muito diferente da forma dita por Rui Zink.    
Mais uma vez, casa a transbordar. Júlio Magalhães, estreante no Correntes d’Escritas, disse que a sua notoriedade teria trazido mais público àquela Mesa de Debate, mas Rui Zink depressa esclareceu o jornalista: “Júlio, eles não estão aqui por tua causa. Isto é mesmo sempre assim”. Um dos motivos para se ter aventurado no mundo da escrita foi o facto de, por ser uma figura da televisão, poder, à partida, vender mais livros e, com isso, colaborar com as editoras no sentido de, com o lucro dos seus trabalhos, outros escritores continuarem a ser publicados.
Júlio Magalhães confessou que “toda a gente que aparece na televisão, gosta de aparecer. Temos medo que as luzes se apaguem, que deixemos de ser reconhecidos na rua. Nós gostamos disso. Por isso, quando me convidaram para escrever, aceitei. Quando, um dia, deixar de ter lugar na televisão, a escrita e o reconhecimento que ela traz, será um prolongamento dessa notoriedade”. O jornalista disse ter a noção de não escrever como os restantes convidados da noite mas, “vocês também não são tão bons em televisão como eu”, brincou. Viajar por todo o país para apresentar os seus livros, contactar com o público, com os estudantes, tem sido o maior proveito desta aventura, comentou.
valter hugo mãe disse que tinha ido para aquela Mesa “para o engate. Tinha esperança que a pessoa que eu vinha engatar estivesse aqui, mas disseram-me que já foi dormir. Eu, se tivesse oportunidade, dormia quietinho ao lado do Rubem Fonseca. Mas, nesta coisa do engate, a timidez estraga-me sempre tudo”. O Prémio Saramago dedicou o seu tempo nesta Mesa de Debate ao escritor brasileiro, de quem, “apenas Manuel Jorge Marmelo é a única pessoa que gosta mais dele do que eu”.
E, para terminar a noite da melhor maneira – e, já agora, também este texto – Ana Luísa Amaral leu o poema a que Rui Zink se referia, arrancando um aplauso emocionado da plateia. Aqui fica, Visitação ou Poema que se diz manso:
De mansinho ela entrou, a minha filha.
A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o do meu lápis
e um riso bem maior que o dos meus versos.
Sentou-se no meu colo, de mansinho.
O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente, não com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me inspiração,
versos quase chegados, quase meus.
E mansamente aqui adormeceu,
feliz pelo seu crime.