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sábado, 12 de maio de 2012

“O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde” – Millôr Fernandes

“Gaulês Moribundo” - Epígono de Pérgamo
A peregrinação de 12 e 13 ao Santuário de Fátima vai encher o recinto, por ocorrer no fim-de-semana e numa altura em que se agravam as condições das famílias, aumentando os pedidos de ajuda divina. É esta a convicção da GNR, que mobilizou 500 militares, o dobro do ano passado.
"Em momentos de crise o povo português agarra-se à sua crença, pelo que as famílias em que abundam as dificuldades, como a falta de emprego, não deixarão de vir a Fátima pedir proteção", disse o comandante Territorial de Santarém da GNR, defendendo que "o recinto do Santuário, com capacidade para 300 mil peregrinos, irá estar cheio, também por ser fim--de-semana e se prever bom tempo".
Portugal está em "boas mãos" e quem o diz é o alto (em estatura) funcionário do FMI, Poul Thomsen, que parece voltar a chefiar os funcionários de 5ª, depois do desaparecimento do Abebe Selassie, que foi para o banco dos suplentes.
E se ele o diz é porque é verdade! Primeiro, porque conhece bem o péssimo plano de recuperação que fizeram e que tantos inteligentes (de cá) gabaram, segundo, porque também se apercebeu da incompetência e colaboracionismo, quer do governo de Sócrates, quer do de Passos Coelho. Mas só se entende como positiva a afirmação, se as intenções eram maquiavélicas, como sabemos hoje que são. Se não, veja-se:
1. Bruxelas prevê que Governo falhe metas do défice este ano, o que parece contradizer a afirmação, mas pode ter sido o objetivo;
2. Desemprego aumenta e défice derrapa, o que parece contradizer a afirmação, mas pode ter sido o objetivo;
3. Bruxelas prevê mais 92 mil desempregados do que previa há 6 meses, o que parece contradizer a afirmação, mas pode ter sido o objetivo;
4. Salários dos portugueses caem mais de 12% entre 2011 e 2013, o que parece contradizer a afirmação, mas pode ter sido o objetivo;
5. Europa não exige a Portugal mais austeridade este ano, o que vem confirmar as insistentes afirmações de Passos Coelho, Vítor Gaspar e Miguel Relvas, de que este ano não vão ser implementadas mais medidas de austeridade e o governo não vai pedir, nem mais dinheiro, nem mais tempo (não se mente, não se engana, não se ludibria);
6. CE: Economia grega afunda, entra em deflação e desemprego sobe, e tendo em conta que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos (embora digam que cada país é o que é…), já sabemos antecipadamente o que nos espera, tanto mais que é o mesmo senhor, Poul Thomsen, que está à frente do desastre grego, que ainda não está em boas mãos e só estará quando a esquerda (moderada ou radical) ganhar as próximas eleições e correr com os agiotas e incendiários;
7. Grécia fora do euro significa corte imediato do rating português (e não só!), começam a dizer as Agências dos “ratos”, depois de o ministro das Finanças alemão querer descartar a Grécia do Euro, porque até os mercados andam baratinados (afinal também se assustam) tanto com as promessas de Hollande (esperemos que não lhe dê uma amnésia como deu ao Relvas) como com a hipótese de terem que receber (lá para 2050) em dracmas, o que emprestaram para “ajudar” a Grécia a sair da crise;
8. Wall Street cai puxada por Grécia e JPMorgan, o que nos leva a constatar que os mercados, os especuladores e os media estão tão conluiados na manipulação das massas para o aumento agiota das suas massas, que colam a miserável Grécia a mais uma colossal fraude do JPMorgan, esta sim que pode afundar de vez o sistema financeiro, pelas mesmas razões que o Lemon Brothers originou esta crise em 2008 e com as mesmas causas, em que estão comprometidas, mais uma vez e sempre, as Agências de rating norte-americanas…
Aqui começa o exagero e por isso já nem mesmo os crentes acreditam no poder terreno…
E no fim de tudo isto, nada melhor do que o incompetente catavento do senhor Olli Rehn vir dizer, com todas as letras que:
 “Portugal está no bom caminho”, afirma Olli Rehn
Se o bom caminho é este, Olli Rehn teria que ir a Fátima a pé, o nosso governo de joelhos (que é a posição preferida) porque só a fé é que nos pode fazer acreditar em tanta baboseira e manipulação, já que a esperança, desta vez, não vai ser a última a morrer…
Toda esta novela de cordel e de cordelinhos faz-nos vir à memória a célebre frase do Otelo, quando disse que “As armas estão em boas mãos”… E já pouco falta para se voltar a falar no Campo Pequeno, se não se julgarem os responsáveis anteriores pela delapidação do país e os responsáveis atuais pelo miserabilismo a que estão a conduzir os nossos cidadãos e a usurpar a nossa cidadania.
Para quem é pacifista, ou é contra as touradas, só nos resta um milagre, mas como o recinto do Santuário de Fátima só tem capacidade para 300.000 peregrinos e os desempregados são mais do triplo e os pobres quase 10 vezes mais, era bom que Bruxelas nos desse, a fundo perdido, como estamos a fazer para os bancos, uma quantia jeitosa para aumentar o espaço, ou abrir mais dependências pelo país, menos em Lisboa, que pelo que se vê são mais ateus…
Que Deus me perdoe, mas vão todos para a “pata que os pôs”, para não usar, por enquanto, o vernáculo, porque merecem mais do que isso…

Reflexão do Relvas… 12 maio

O secretário de Estado do Desporto e da Juventude, em boa verdade, devia estar na Secretaria de Estado das Pescas. É que tem vocação marítima.
A propósito da prorrogação do contrato de Paulo Bento com a FPF, Miguel Relvas saiu-se com esta bonita tirada: “Através dos mares fomos conquistadores e espero que com Paulo Bento também o sejamos.” Com o devido respeito ao Paulo Bento e à selecção nacional de futebol, temos de considerar, em nome do bom senso e do bom gosto, que Miguel Relvas só podia estar a pensar nas Pescas quando proferiu tal frase.
É que sendo um governante do país é suposto respeitar a História de Portugal e não se pôr a inventar analogias épicas-bacocas entre o simpático Paulo Bento da bola e as empreitadas do Vasco da Gama, do Cabral e de outros noutros séculos. Mas Miguel Relvas não se ficou por aqui: “Esperemos que o sucesso que Portugal teve no mar, e vai voltar a ter, continue a existir no futebol.” E é esta a boa notícia: vamos “voltar a ter” sucesso no mar, ou seja, vamos voltar a ter uma frota de pesca à séria, anunciada pelo secretário de Estado do Desporto e da Juventude que está muito talhado para o assunto.
E foi este facto marítimo do nosso ressurgimento piscatório que, merecendo uma celebração condigna, reuniu à ceia, à mesa de um restaurante, o próprio Miguel Relvas, de cana em punho, com Joaquim Oliveira, detentor do monopólio das redes de arrasto, e ainda, compondo a mesa com elegância, os senhores Fernando Seara e Pinto da Costa mais as suas respectivas esposas.
Dizem agora que o presidente do Benfica foi informado, via submarino amigo, do convívio e que se terá sentido de alguma forma ofendido com Miguel Relvas pelo elenco que o governante conseguiu sentar na sua mesa. São aquelas susceptibilidades que, lamentavelmente, ainda pululam no nosso futebol e que são de todo incompreensíveis para os cidadãos comuns que destas coisas não pescam nada.
Ao cidadão comum, deste repasto só interessa saber uma coisa: quem é que pagou a conta? Nós ou eles? Foi o Estado que pagou, porque a ocasião o justificava, ou foram os cidadãos, dividindo a despesa entre todos à moda do Porto? Ou será que alguém se chegou à frente quando chegou a dolorosa? E o que importa isso quando há sucesso no mar?

Contramaré… 12 maio

Passos Coelho referiu-se aos portugueses que estão sem emprego: “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade” e terminou o discurso considerando que “a economia pública tem de investir alguma coisa” na ciência, na tecnologia, na inovação, mas também deve haver “uma participação crescente do capital privado” nestas áreas.

O PODER é afrodisíaco?

É possível estabelecer uma relação entre ação política e paixão erótica? O que leva o homem a agir politicamente e o que o atrai eroticamente? Nietzsche sugeriu que se tratava da “vontade de poder”: a existência de um desejo instintivo no homem de impor a si mesmo e aos outros a sua própria escala valorativa. Aristóteles acreditava que tanto a ação política como a erótica eram respostas à tendência humana de realizar fins: a vida boa na política e a procriação na erótica. E para Maquiavel?
O homem, para Maquiavel, é um ser solitário e autointeressado que faz o bem quando é obrigado e faz o mal sempre que tem oportunidade. A solidão que atinge a essência do homem fá-lo enfrentar o problema: como alcançar a união, como transcender o solipsismo da vida individual e encontrar compensação? Enquanto o homem permanecer prisioneiro da sua solidão será incapaz de dominar ativamente o mundo, as coisas e as pessoas. Por outras palavras: se ele decidir viver só, estará fadado ao fracasso em todos os sentidos.
A ação política e a paixão erótica emergem como meios de romper as cadeias que prendem a alma humana e impulsionam o homem ao encontro dos outros em busca de compensação.
O prazer do poder político, assim como o prazer da paixão erótica, está baseado na sensação de submissão. O erótico, na paixão, é o meio pelo qual se possui uma pessoa, mas só por um instante. O exercício do poder político, em compensação, é a possibilidade de possuir muitas pessoas e por um tempo prolongado. O exercício do poder produz prazer constante. Contudo, se a posse erótica é mais breve do que a política, o orgasmo confere-lhe maior intensidade. 
O erótico e o político estão unidos por uma mesma paixão humana: o poder. Poder é a capacidade de controlar a vontade do outro e impor-lhe determinado comportamento, mesmo contra a sua vontade. Na ação política e na ação erótica, o controlo da vontade do outro é tanto mais eficaz quanto mais prescindir da força bruta. O verdadeiro dominador é um encantador de serpentes. Ele faz uso da comunicação perlocucionária objetivando atingir os seus fins, que é manter-se no poder.
O mundo da ação política é, por definição, pura presentidade. Aqueles que vivem nele são obrigados a tomar decisões no agora e aqui. Ali onde o presente é toda a realidade, onde o futuro se resume a escolhas presentes, domina a frivolidade. Neste mundo, as pessoas são levadas a querer usufruir imediatamente tudo quanto é possível. A regra de ouro é: gozar o tempo presente. 
É aqui que o erótico e o político se fundem. Os dois são fruições instantâneas, maneiras de eternizar a glória fugaz de um momento privilegiado: a vitória no jogo político é o equivalente ao orgasmo no prazer erótico. Os escândalos sexuais que movimentam o noticiário político, em todas as esferas de organização do poder, são expressões da frivolidade de um mundo que não conhece sonhos. Basta recordar as fantasias do ex-presidente americano Bill Clinton com a sua Mónica Levinski. Na política e na erótica, é no agora e aqui que tudo se decide. É no agora e aqui que tudo é usufruído. A regra é o máximo de prazer pelo maior tempo possível. Aqui tudo é efémero, nada pode ser apreendido. A frustração é o sentimento inevitável num mundo em que tudo precisa de ser gozado imediatamente.
A aproximação entre o erótico e o político, na maneira como foi feita aqui, gera certo desencanto, com a política! Com efeito, se a ação política se rege pelo prazer efémero da fruição, do gozo, da vitória, à semelhança do orgasmo na relação erótica, o que podemos esperar dela? Será que a política não consegue ser mais do que um jogo em que interessa unicamente vencer, em que importa tão só o resultado?
Quando olhamos para a ação política tal como ela acontece, a única resposta possível é de que ela não passa de um jogo em que interessa a vitória dos competidores. Não há finalidades substanciais, não existe nada de permanente a ser esperado dela. O destino da ação política é ser isso? Não há nada a ser feito para transformar a ação política numa construção de um mundo de justiça, liberdade, igualdade? Será possível fazer da ação política uma obra que se dirija aos outros e não à satisfação dos próprios competidores?
Esta forma de ser de muitos que vivem no mundo partidário no nosso país, faz parte da “política pequena” como dizia Antonio Gramsci (1891-1937). Para que alguém consiga chegar à “grande política” é necessário que consiga transcender esta visão de mundo. E qual é essa nova visão? No próximo artigo indicaremos alguns caminhos. Contudo, abaixo você encontrará uma pista…
Voltemos por um instante à comparação da ação política com a paixão erótica. O eros é o desejo de fruição insaciável. Quer possuir o outro como objeto de satisfação. Como a saciedade jamais acontece, é frustração. Só quando o outro deixa de ser algo a ser possuído para ser alguém para ser amado, emerge a possibilidade de se ser feliz. Para amar é preciso deixar o outro ser, é preciso querer o seu bem, não porque nos faz falta, mas simplesmente porque ele existe, porque a pura existência dele é motivo suficiente para o amar. 
Na ação política é preciso que um movimento semelhante aconteça para que se transforme de um jogo em que interessa tão só o resultado numa obra na qual é visado o conjunto da comunidade política e não os competidores do jogo. Enquanto a ação política se resumir à disputa entre partidos pela posse do poder, ou de indivíduos pelo domínio uns sobre os outros, ela não conseguirá ser mais do que fugacidade, esforço vão de eternizar a glória da vitória momentânea. Enquanto a ação política for isso, será igual ao orgasmo na relação erótica: um prazer fugaz impossível de ser retido. Como fazer a ação política transformar-se de um jogo de poder visado no resultado num instrumento de construção para uma sociedade justa? A resposta é tão complexa quanto a outra: como fazer que a paixão erótica se transforme de fruição e gozo momentâneos em relação de amor? A resposta a esta questão está na segunda parte deste escrito que você poderá ler na próxima semana.
José Luiz Ames é doutor em Filosofia, professor da Unioeste.
Ivo José Triches é diretor das Faculdades Itecne de Cascavel e Prof. Titular do Centro de Filosofia Clínica de Cascavel.

Ecos da blogosfera - 11 maio

sexta-feira, 11 de maio de 2012

“Merkozy” ou “Nicolaschäuble”? Afinal havia outro!

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou que a zona euro "está mais resistente" e tem condições para suportar uma saída da Grécia da moeda única. “Os riscos de contágio a outros países são agora menores e a eurozona no seu conjunto é mais resistente", garantiu o político democrata-cristão.
Simultaneamente, Schäuble exortou a Grécia a cumprir os compromissos assumidos com a comunidade internacional, afirmando que os países da Europa e os credores privados de Atenas "já foram bastante generosos" e disse ainda que se fez "tudo o que foi possível" para salvar a Grécia da bancarrota, mas que "o país tem de compreender que é necessário respeitar os seus compromissos".
"É perigoso fazer crer aos cidadãos que há outro caminho, mais fácil, para sanear as suas finanças e evitar a austeridade, o que é um disparate", declarou.
Entretanto, decorre em Atenas a 3ª tentativa para formar novo Governo, após as legislativas de domingo passado, em que nenhum partido obteve maioria absoluta.
Schäuble rejeitou também a adoção de programas de crescimento na zona euro fomentados por novas dívidas. "Pegar em dinheiro que não se tem, não é fazer política de crescimento, esse é o caminho errado", disse o ministro alemão, advertindo que Berlim irá ter muita atenção a este aspeto nas negociações a nível europeu para uma nova estratégia de crescimento. A aprovar no Conselho Europeu de 28 de junho.
Para Schäuble, o aumento da procura privada, base do crescimento, "deve ser reforçado, fomentando a confiança dos consumidores e investidores nas finanças públicas", por isso, a questão fulcral de uma estratégia de crescimento para os países do euro é reforçar a sua competitividade, através de mais reformas estruturais, sublinhou.
Já há dias disse aqui, que afinal a Sra. Merkel tem dado a cara e o corpo pelas medidas políticas, económicas e financeiras, que levam os países da zona euro com dívidas a caminhar para a pobreza sem retorno, a favor do dono da bola, a Alemanha, mas que afinal ela só é a boneca do ventríloquo e “seu” ministro das Finanças. E eis que nos deparamos com mais uma evidência, cada vez mais visível, de que assim é. Depois da previsível vitória de Hollande em França, que se opunha à construção do novo “império” alemão, Merkel fala pouco e Schäuble não para de falar.
E vem agora este político democrata-cristão dizer que a Grécia já pode ir de abalada da zona euro, porque já não se corre o risco de contágio a outros países e por isso é descartável… Um político democrata (?) e cristão? Um democrata que se marimba na democracia, na Grécia, na Itália, em qualquer país que o contrarie e nas instituições europeias, um cristão que lança sem piedade e misericórdia milhões de pessoas às feras… "Etiam tu, mei filius Brutus!"
E num tom soberano e pressionante, avisou a Grécia que, ou cumpre os “compromissos” com a comunidade internacional (cujos credores até foram bastante generosos), tendo feito tudo o que foi possível para salvar a Grécia da bancarrota. É de desconfiar que um ministro ao serviço do seu país (e dos países parceiros de caminhada) venha mostrar preocupação e apreço pelos especuladores que infetaram o mercado e insistem a pôr-nos a pata em cima.
Esqueceu-se o Sr. Schäuble de explicar às crianças, que dos últimos 130 mil milhões de euros emprestados à Grécia, apenas 24.700 milhões de euros foram para o governo grego e os restantes 105.300 milhões de euros para os Credores estrangeiros, Banca grega e BCE, o que significa que a “bancarrota” se limitava apenas aos 24.700 milhões de euros que utilizou, porque os outros nem os viu e ainda vai pagar juros…
E depois vem ainda dizer que é perigoso (para eles) convencer os cidadãos de que há outro caminho para além da austeridade e que contrariar este dogma (como cristão defende os dogmas, Merkel como protestante pode contrariá-los) é um disparate. “Habemus Papa”!
E com base no seu dogma, rejeita qualquer programa de crescimento na zona euro (fomentados por novas dívidas) advertindo desde já os seus lacaios (todos os Presidentes dos países da UE) que Berlim vai estar muito atento a qualquer nova estratégia de crescimento. “Cuidado com o cão!”
Mas, contraditoriamente, Schäuble reconhece que o aumento da procura privada é a base do crescimento, embora deem ordens para os Estados confiscarem o dinheiro dos bolsos dos seus contribuintes, impedindo que o comércio e as indústrias nacionais possam sobreviver.
Rapidamente Schäuble retoma o fio à meada e vem insistir que uma estratégia de crescimento para os países do euro passa pela competitividade (baixar os salários nos outros países e aumentá-los na Alemanha) e por reformas estruturais, que como todos já percebemos significa, mais impostos, diminuição das receitas de impostos, menos direitos laborais, mais desemprego, salários mais baixos, destruição da estrutura empresarial, menos contrapartidas sociais, eliminação de tudo que seja produtivo e dependência total de importações, de preferência da Alemanha.
Afinal o par “Merkozy” não passava de um “Nicolaschäuble”, porque afinal havia outro…
Atualizado às 21:10
Fitch ameaça cortar ratings a todos se Grécia deixar euro

Reflexão para o Relvas… 11 maio

Contramaré… 11 maio

O presidente dos Estados Unidos criticou o modo como a Europa reagiu à crise financeira, principalmente a demora na adoção de medidas para relançar o crescimento económico e considera que esta demora evidencia as diferenças que existem atualmente entre as economias europeias e norte-americana.
Obama recordou que em 2009 foi aprovado um plano de investimentos de 800 mil milhões de euros que garantiu 4.000.000 de postos de trabalho.

Planos que provocam miséria só pode ser provocação!

As eleições de 6 de maio evidenciaram a dramática rutura entre os responsáveis políticos e os cidadãos. Para evitar que a situação degenere, devemos abandonar a obsessão com o rigor e os debates em grupos restritos e reiniciar o programa nos termos de solidariedade e integração que são a marca da Europa, considera uma colunista italiana.
Basta da Europa dos arrogantes, dos dirigentes que só conhecem a lei do mais forte. Basta de uma União que degenerou numa pirâmide feudal, com apenas um grande Estado – o único realmente soberano – à cabeça, e uma infinidade de vassalos e subvassalos às suas ordens. Basta de uma Europa impotente (inconclusiva) nas proclamações: é ultrajante, quando a crise económica provoca danos, a austeridade lhe trava o passo e o emprego rareia.
Nunca, antes do superdomingo [da eleição presidencial em França], tínhamos uma consciência tão brutal do divórcio entre a Europa – e classes dirigentes – e os seus cidadãos. Uma rutura que amadureceu dentro de um projeto comum, que não só está a perder velocidade, mas que acabou a renegar o espírito e a política das origens e persiste em ignorar a realidade: a insatisfação e frustração crescentes e os problemas dos cidadãos. Daí a perda de adesão da parte destes. Ainda não é um plebiscito negativo, mas quase. Hoje, ou a Europa recomeça e volta a ser ela própria, ou mais cedo ou mais tarde morre. A fim de reatar a relação com os seus povos, precisa urgentemente de duas coisas: crescimento económico e definição política.
Oceano de desconfiança mútua
Para começar, necessita de: recuperar a dinâmica democrática a todos os níveis, incluindo o interinstitucional; rejeitar todo e qualquer desvio para "diretórios"; redescobrir a comunidade de direito e a igualdade dos Estados perante a lei, bem como o princípio da unidade na diversidade (e não na uniformidade). Só enveredando por esse caminho se pode esperar uma cura da crise de confiança e da travessia do oceano de desconfiança mútua que envenena hoje a coabitação europeia.
Mas, sem um crescimento económico tangível, que não se limite a declarações, sem novos empregos, sem pontes, sem autoestradas transeuropeias, sem redes digitais e de energia, em suma, sem uma Europa de oportunidades e de esperança a substituir a de rigor e desespero, não sairemos do marasmo.
Seria ilusório acreditar que a França de François Hollande, que foi eleito por apostar tudo na reativação da economia europeia, possa contornar sozinha a obstinação alemã. Para evitar no resto da Europa uma repetição do pesadelo da Grécia, onde o rigor excessivo rebentou no passado dia 6 de maio o último dos parâmetros da democracia, com uma anormal ascensão de extremistas de todos os quadrantes, Paris precisa de formar uma espécie de santa aliança. Que deve funcionar como um sólido contrapeso ao superpoder da Alemanha, que tem podido agir sem restrições porque não se deparou com uma barreira credível.
Depois de ficar claro que o caminho do crescimento dentro do rigor é estreito mas imperioso para haver um diálogo sério com Angela Merkel e que Hollande parece aceitar este caminho com convicção, o acordo com a Itália de Mario Monti, com a Comissão Europeia de José Manuel Durão Barroso, com a Espanha de Mariano Rajoy, com Portugal, a Grécia, a Bélgica, mas também a Holanda, é apenas uma questão de tempo. A cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo de 23 de maio pode ser uma oportunidade para testar novas alquimias de poder, bem como receitas concretas para relançar a economia.
Miopia e egoísmos nacionais
A tarefa não é fácil. Porque há muitas ideias sobre a mesa: dos “project bonds” para financiar grandes infraestruturas, ao aumento do capital do Banco Europeu de Investimentos, à reorientação dos fundos estruturais europeus não utilizados, ao imposto sobre transações financeiras. E até aos eurobonds, num futuro menos próximo. Ou ainda a introdução da regra de ouro da exclusão dos investimentos no desenvolvimento sustentável do cálculo do défice e a interpretação mais flexível do pacto fiscal, prolongando os termos de consolidação das contas públicas, tornando-o social e economicamente mais aceitável.
Estas são ideias que, de uma forma ou de outra, apelam à solidariedade e à coesão, ou seja, ao espírito europeu que faltou nos últimos 2 anos de crise. Ou que só se manifestou tarde de mais, por coação dos mercados, enterrado que estava pela miopia e os egoísmos nacionais dominantes.
O crescimento é essencial, mas, para ser verdadeiramente europeu e sustentável, precisa de algo mais: uma maior integração a todos os níveis; uma reforma do estatuto do Banco Central Europeu, dos seus objetivos e margem de manobra – após 10 anos do euro e da globalização das economias e dos mercados. E um modelo de sociedade e de desenvolvimento adaptado aos nossos tempos; além de união política. Sem isso, o euro dificilmente vai sobreviver por muito tempo.
O desafio é gigantesco. Passa por uma contrarrevolução cultural que faça redescobrir a Europa perdida. É possível? Certo é que o relançamento da economia é o primeiro passo para a reconciliação com os cidadãos. Um projeto que destrói o crescimento não pode seduzi-los. O resto virá por arrasto, se os governos reaprenderem a confiar uns nos outros: se todos falarem novamente em pé de igualdade, com respeito mútuo e redescobrirem o valor do interesse comum, num mundo global, onde a Europa está cada vez mais pequenina. E onde precisa de aprender a agir com rapidez.
OPINIÃO - Euro, uma experiência negativa
“Zona euro, a experiência mais negativa de sempre?”, pergunta Peter de Waard, em De Volkskrant.  Segundo o cronista económico, as diferenças entre os 17 países que partilham a moeda única são tão grandes que se torna evidente o acumular de problemas na zona euro cada vez mais inextricáveis:
Em 1992, o chanceler alemão Helmut Kohl e o Presidente francês François Mitterrand teriam feito melhor se tivessem jogado ao tiro ao alvo no mapa-mundo, de olhos vendados, para selecionar os países para o projeto euro.
Peter de Waard baseia-se num estudo realizado por economistas do banco JP Morgan que se divertiram a criar uniões monetárias fantasiosas a partir dos dados estatísticos relativos à economia de vários países.
Desse modo, nota Waard, haveria menos diferenças entre “todos os países situados a 5° de latitude norte – um conjunto que englobaria, por exemplo, a Colômbia, os Camarões, o Sudão do Sul, o Suriname, o Brasil, a Venezuela e a Indonésia” –   que entre os países da zona euro. O mesmo aconteceria se juntássemos todos os países começados pela letra M (Mali, Madagáscar, Marrocos, Macedónia, México e Mongólia).
São sobretudo as diferenças em termos de produtividade, de sistemas jurídicos, de política de concorrência e de esbanjamento do erário público que tornam tão pouco homogénea a zona euro.

Ecos da blogosfera - 10 maio

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vagarosamente, em 2012, o desemprego irá aos 20%...

O deputado Honório Novo acusou o ministro e o Governo de estarem a enganar os portugueses com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) que, para o PCP, é na verdade “o velho PEC” - o Programa de Estabilidade e Crescimento, e cujo anexo II foi primeiro entregue em Bruxelas do que chegou à Assembleia da República, o que ministro das Finanças admitiu.
Para Honório Novo, o Governo está “a ludibriar mais uma vez os portugueses, a mentir aos portugueses. O que está sobre a mesa é o velho PEC”.
Vítor Gaspar contestou triplamente a acusação do deputado do PCP: “Deixem-me começar por dizer com tranquilidade, mas com convicção. Eu não minto, eu não engano, eu não ludibrio. Não faço nenhuma dessas coisas, não farei nenhuma dessas coisas”.
“Relativamente à questão dos cortes temporários, a posição política é exatamente a que foi expressa pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, isto é, a reposição do subsídio de Natal e de férias, bem como a reposição do corte efetuado em 2011 terão de ser feitos gradualmente a partir de 2015 e o ritmo será condicionado pela existência de espaço orçamental”, afirmou Vítor Gaspar, esclarecendo que “o ritmo será de 25% por ano”.
A reposição gradual dos subsídios de férias e Natal a partir de 2015, avançada no DEO do Governo, é uma “perspetiva técnica” e não uma “decisão política”, disse o ministro das Finanças, que recusou comprometer-se com uma data específica para o regresso destas prestações, que foram suspensas para funcionários públicos e pensionistas.
Se valesse a pena discutir-se se o ministro mentiu, enganou, ludibriou, ou não, valia a pena perder tempo…
Perante os factos, não há dúvidas de que “(so)negou o que sabia ser verdade”, concretamente que os números sobre o desemprego não eram coincidentes na versão de Bruxelas e na versão oficial cá do burgo e que não apresentou o tal Anexo II, “induzindo em erro” os interlocutores e “iludindo” a realidade e como é costume gozando de fininho… E pronto, até pediu desculpas (mesmo não tendo cometido nenhum pecadilho, segundo ele)!
O que interessa aos portugueses, nem são tanto as previsões do governo apresentadas a Bruxelas, que a acertar (seria a 1ª vez!) vaticinam uma taxa de desemprego de 14,5% para este ano, 14,1% em 2013, 13,2% em 2014 e 12,7% em 2015.
Ora se este ano já vamos em 15,3%, tendo subido cerca de 0.5% ao mês, insistir que vai ficar em 14,5% só pode ser um ato de “sedução”…
Sem qualquer base de dados, nem estatísticas, bastando constatar o que se passa na Grécia e na Espanha, (arrisco eu) no fim do ano estaremos à volta dos 20%, mais coisa menos coisa, embora a coisa aqui se refira a pessoas, o que é de menor importância para um tecnocrata, mesmo a colecionar “lapsos”.
Se valesse a pena perder tempo com este ministro (estará de saída?) e a sua confissão pública de virtudes recônditas, bastava pegar na história do confisco dos 2 salários dos funcionários públicos e pensionistas, para o contrariar, em parte, porque a primeira “mentira” foi um “lapso” e as restantes promessas foram sempre precedidas de um SE… Aliás, a “arte” deste ministro e muitos outros, é não falarem claro, não terem calendário, empurrar as culpas para trás ou para a frente, mas “retirando sempre o SEU cavalinho da chuva”…
Ora veja-se:
Como quem não quer a coisa, vai subir ainda mais impostos e depois, admite, ADMITE reduzi-los…
Não está a mentir, nem a enganar, nem a ludibriar os portugueses!
Está a mentir, a enganar e a ludibriar-se a si próprio e tem todo o direito! Isto tem um nome que não me ocorre, mas os psicólogos lá saberão…
Mentir: 1. Afirmar como verdadeiro o que se sabe ser falso, ou negar o que se sabe ser verdade. 2. Enganar. 3. Falhar. 4. Malograr-se.
Enganar: 1. Induzir em erro. 2. Lograr. 3. Seduzir. 4. Atraiçoar.
Ludibriar: Enganar; iludir, escarnecer.

Reflexo do Relvas… 10 maio

Jorge Silva Carvalho, ex-diretor do SIED, terá enviado por e-mail a Miguel Relvas, um plano de reforma dos serviços de informações, que incluía o nome de possíveis dirigentes e de funcionários que não eram da sua confiança. A informação foi enviada algum tempo depois das eleições, numa altura em que Jorge Silva Carvalho já era quadro da Ongoing.
Questionado pelo Público, Miguel Relvas respondeu por escrito, alegando que não tem qualquer recordação do facto relatado pelo jornal: "Sobre este caso em particular não tenho ideia de ter recebido qualquer informação particular, e disso não resultou qualquer interacção da minha parte."
Os contactos entre Silva Carvalho e Miguel Relvas, e também com Vítor Sereno (chefe de gabinete do ministro dos Assuntos Parlamentares), não se limitaram ao envio deste plano, já que os investigadores encontraram bastantes mensagens escritas, via telemóvel, trocadas entre o ex-diretor do SIED com Relvas e Sereno. "Da acusação do MP não constam documentos que indiquem se Relvas e Sereno responderam a Silva Carvalho", escreve o Público.

Contramaré… 10 maio

A declaração final da XXV Cimeira Luso-Espanhola reafirma a "importância estratégica" das ligações em bitola europeia entre Lisboa-Sines-Caia-Madrid-Irún e Aveiro-Salamanca-Irun, sem concretizar a data dos projetos, refere apenas "o mais rapidamente possível" e reitera o empenho no "desenvolvimento do transporte ferroviário de mercadorias, entre Portugal, Espanha e o resto da Europa, de forma a aumentar a competitividade das empresas do espaço ibérico, no contexto transeuropeu".

Sejamos, como é nossa obrigação, felizes!

Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade às vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.
Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente.
Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente, indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão, já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.
Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos por, como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano.
Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos.
Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros.
Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos um aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
António Lobo Antunes

Ecos da blogosfera - 9 maio

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Se é eleito em democracia, é contra a pós-democracia!

Os mercados financeiros estão à espera da cimeira Merkollande no dia 16 de maio em Berlim. Até lá os mercados oscilam ao sabor também do andamento da crise política na Grécia.
O dia "D" parece estar apontado para quarta-feira da próxima semana quando a chanceler alemã e o novo presidente gaulês se reunirem em Berlim. A forma de "calçar" o "pacto de crescimento" (growth compact) deverá ser o tema principal.
A chanceler Angela Merkel convidou François Hollande, o novo presidente eleito de França, para a sua primeira visita oficial ao estrangeiro, logo após a sua investidura em Paris. A reunião deverá realizar-se a 16 de maio, numa viagem simbólica a Berlim.
Hollande tem uma agenda apertada logo de seguida com as cimeiras do G8 (os 7 países desenvolvidos mais a Rússia) a 18 e 19 e da NATO a 20 e 21 de maio em Camp David, nos Estados Unidos. Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, informou que o presidente Obama já convidou Hollande para um encontro bilateral antes das cimeiras, onde contam abordar "um conjunto de dossiês difíceis em matéria económica e de segurança".
Acabar com o diretório
François Hollande declarou à revista "Slate" que quer acabar com o "duopólio" franco-alemão, em suma, prosseguir a parceria estratégica, mas deitar fora o papel de diretório.
A sua resposta à revista merece ser transcrita na íntegra: "Ainda que eu acredite na parceria franco-alemã, contesto a ideia de um duopólio. A construção europeia está baseada numa parceria bem equilibrada e de mútuo respeito entre a França e a Alemanha. As parcerias entre Schmidt e Giscard, Kohl e Mitterrand, e mesmo entre Chirac e Schroeder, mostraram que as diferenças políticas não significam que não possamos trabalhar em conjunto. Mas estes chefes de estado combinaram uma metodologia intergovernamental com os processos da União Europeia. Esta é a melhor forma de evitar que os nossos parceiros se sintam excluídos, ou, pior ainda, subordinados. Ora, este equilíbrio mudou nos últimos anos. A relação franco-alemã foi exclusiva. As instituições europeias foram ignoradas e alguns países, especialmente os mais frágeis, tiveram o sentimento desagradável de enfrentarem um diretório".
Se as eleições presidências francesas indicaram que a estratégia anterior designada por "Merkozy", em que a França inclusive desempenhou um lugar subalterno, está condenada, os resultados das eleições legislativas na Grécia foram um sinal de alarme ainda maior.
Com uma geografia parlamentar em Atenas que torna o país ingovernável em virtude da fragmentação e da perda de atração do centro político (o chamado "arco de poder"), toda a estratégia dos "memorando de entendimento" e dos planos de resgate para o país ficou em cheque. Mesmo os dois partidos da alternância tradicional, Nova Democracia (direita) e PASOK (socialistas), são abertamente pela revisão dos acordos firmados ainda recentemente e que conduziram a uma reestruturação parcial da dívida e a um 2º plano de resgate. Evangelos Venizelos, o líder do PASOK, e que negociou e liderou a recente reestruturação de dívida e o fecho do segundo pacote de resgate, afirmou que é indispensável uma extensão do novo período de ajustamento de 2 para 3 anos. No entanto, a ingovernabilidade do país, com base nos resultados atuais, aponta para novas eleições antecipadas em junho que poderão coincidir com o período em que deveria ser aprovada uma nova tranche de 11 mil milhões de euros de financiamento a Atenas.
Se a União Europeia e a zona euro não oferecerem nada de novo à Grécia, as próximas eleições apenas conduzirão a uma radicalização do espectro político e a uma provável saída "caótica" do euro (e, segundo alguns analistas, da própria União Europeia), com desfecho incerto no quadro geopolítico da região em que o país se insere.
Cedências simbólicas
O jornal “El País” afirma hoje que a Comissão Europeia poderá ceder no que respeita ao plano de ajustamento em Espanha. O governo de Mariano Rajoy, depois de ter imposto unilateralmente uma meta para o défice deste ano em 5,3% do PIB (inferior em umas décimas à meta exigida por Bruxelas ao governo anterior), poderá conseguir um alongamento do prazo do ajustamento, ganhando mais 1 ano. A meta de 3% do PIB seria relegada para 2014.
Será uma nova cedência simbólica da Comissão Europeia, depois de já ter recuado em relação ao não pagamento anual da promissória irlandesa que garantiu o financiamento do sistema bancário literalmente falido depois da crise de 2008. O não pagamento da promissória levou Dublin a arquitetar uma reengenharia financeira para o efeito no final de março.
Com um pano de fundo de 8 dos 17 países da zona euro em recessão, até Mário Draghi, o presidente do BCE, já elaborou sobre um "pacto de crescimento" (growth compact). Primeiro, lançou o tema no Parlamento Europeu em Bruxelas a 25 de abril e, depois, levantou o véu na conferência de imprensa em Barcelona na sequência da última reunião do conselho de governadores do banco a 3 de maio. "A redução da despesa pública não pode ser obtida através da redução da despesa de capital, dos investimentos", e referiu que os investimentos em infraestruturas na zona euro e a intervenção do Banco Europeu de Investimentos (BEI) são aspetos a tomar em linha de conta.
Pontos em discussão
Este "pacto de crescimento", que foi um dos cavalos de batalha sobre temas europeus da campanha eleitoral de Hollande, estará na agenda da cimeira em Berlim a 16 de maio. O presidente eleito já veio afirmar que a Alemanha não pode bloquear em simultâneo todas as saídas da negociação, quer sejam as euro-obrigações (eurobonds) ou a atuação do BEI.
Em contrapartida, Hollande foi claro que não pugna pelo regresso ao despesismo público com base no endividamento e no défice como solução "nacional" (num movimento para tranquilizar os mercados financeiros e deixar margem de manobra a Merkel junto do seu eleitorado e da irredutibilidade do Bundesbank, o banco central alemão). No entanto, estenderá o reajustamento orçamental em França até 2017. O presidente eleito pretende que os estímulos ao crescimento sejam concretizados através das políticas europeias. O papel do BEI, a reorientação dos fundos estruturais no sentido da inovação, um imposto europeu sobre as transações financeiras, e uma nova linha de orientação no BCE estão em cima da mesa. Em Itália, o porta-voz económico do PdL (Il Popolo della Libertà), o partido de Berlusconi, já veio hoje apoiar a ideia de euro-obrigações e de participação do BCE nos leilões de dívida no mercado primário.
Também hoje, o presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata Martin Schulz, retomou ideias de Hollande e da Comissão Europeia num artigo publicado no “Economy Watch”. Admitiu, ainda, que "no longo prazo, poderemos revisitar a ideia das euro-obrigações" (dando a entender que não será tema para já) e que a reforma da Política Agrícola Comum "não deverá continuar um tabu", pois "nem assegura a sustentabilidade da agricultura nem permite rendimentos decentes aos agricultores".
Segundo o jornal alemão “Suddeutsche Zeitung” publica hoje, Merkel poderá ceder em 2 pontos: no uso dos fundos estruturais, baixando a exigência de cofinanciamento pelos estados que a eles recorram, para níveis entre 5 e 10%; e no aumento do capital do BEI com um reforço de 10 mil milhões de euros. Entretanto, a Comissão Europeia prepara um pacote de 200 mil milhões de euros, virado ao crescimento, para apresentar na cimeira europeia de junho. Este pacote insere-se na Iniciativa conhecida como "Europe 2020 Project Bond" destinada a dinamizar os mercados de capitais para financiar projetos de infraestruturas europeus nas áreas de transporte, energia e tecnologias de informação.
Do que se ouve e se lê, quer nos media (notícias opinativas e opiniões noticiosas) quer na blogosfera (situacionistas, disfarçadamente da direita-direita) anda mais gente mais preocupada com a agenda apertada de Hollande do que o próprio, para não falar na martelada mensagem dos mesmos mensageiros sobre a impossibilidade de se concretizarem as promessas eleitorais do Presidente francês. Viciados pela prática artesanal dos nossos políticos, não são capazes de deslumbrar eficiência e preparação nos políticos estrangeiros, sobretudo se não forem de direita…
Até aparece desprendimento a mais do poder, que um dos componentes do "duopólio" franco-alemão queira acabar com esse privilégio de que podia gozar e queira acabar com esse “diretório”, pela clara razão de não querer que as instituições europeias sejam ignoradas e que os países mais frágeis se sintam diminuídos e dirigidos por quem não tem esse direito. Parece estupidez, mas é só lucidez, defesa dos Tratados e para quem foi eleito democraticamente, a defesa da DEMOCRACIA.
E perante as “incertezas” e medos dos situacionistas deste status quo, Hollande já disse que não defende o regresso ao despesismo público, mas que pretende também que haja estímulos ao crescimento, através das políticas europeias.
Em paralelo, parece que a Grécia será um problema maior, pela sua ingovernabilidade, fruto do memorando de entendimento gizado pela troika, assinado pelo "arco de poder", que deram resultados vergonhosamente negativos para quem os desenhou e implementou, que deixou o país muito pior do que estava. E a coisa está tão mal, que até os dois partidos da alternância (e corresponsáveis) querem rever os acordos firmados ainda recentemente. Mas sobre esta anunciada saída "caótica" da Grécia do euro, ninguém se preocupa, a não ser por estarmos a seguir na bicha e já se pensar num Plano B para nós…
Em Espanha, Mariano Rajoy impos unilateralmente uma meta mais elevada para o défice deste ano, que a Comissão Europeia deverá aceitar, já que a mesma CE foi condescendente com o governo irlandês sobre o não pagamento anual da promissória que garantiu o financiamento do seu sistema bancário.
Entretanto, até o presidente do BCE já trabalha num programa de crescimento, que passa pelo investimento em infraestruturas na zona euro e na intervenção do BEI, por já não acreditar que a redução da despesa pública se consiga apenas através da redução da despesa de capital e dos investimentos, o mesmo que Hollande diz, mas sobre esta “heresia” de Mário Draghi, ninguém está contra…
Finalmente, também o presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata e filiado na Internacional Socialista) Martin Schulz, à boleia de Hollande e da Comissão Europeia admite já a ideia das euro-obrigações e a reforma da PAC, que nem assegura a sustentabilidade da agricultura nem permite rendimentos decentes aos agricultores.
Devagar, devagarinho, as “inevitabilidades” vão-se esboroando e tornando evitáveis na agenda dos chefes de fila, mas que só farão sentido se tiverem resultados imediatos no quotidiano das pessoas, aliviando-as desde logo do pagamento das dívidas da banca, começando a obrigar a banca a pagar os seus próprias calotes e regulando os mercados, a começar pela eliminação, a nível mundial, dos “paraísos fiscais”.
Se nos prometerem algo ou tudo para o futuro, mesmo que próximo, ninguém acreditará, pela última vez…

Há sempre quem não desista e não teme dizer NÃO!

Não costumo concordar em quase nada com o que o ex-Presidente da República Mário Soares diz, manda dizer, dá a entender ou sequer acena. Não gosto do estilo, detesto os epítetos disparatados de "Pai da Nação", de grande "senador", etc. Acho patético. Até porque se assim é, se o senhor é efetivamente o pai deste cemitério social e económico em que vivemos só tem de se envergonhar por não ter interrompido a gravidez a tempo. Convenhamos que a situação a que chegámos é um aborto vivo. E Mário Soares é tão ou mais responsável do que todos os outros que lhe seguiram as pisadas. Não governou ele com o FMI em Portugal?
Apesar disto, acho que li pela primeira vez uma declaração deste senhor com a qual concordo em absoluto: "Romper com a troika". Rasgar o acordo assinado e que mais não é do que a sentença de morte lenta de um país e de um povo. A execução do memorando assinado com a troika é provavelmente o pior ato de gestão política de que há memória neste país. Não está em causa a intenção, mas o que esta execução (literalmente) acarreta. É suicídio político e assassinato económico-social.
O famigerado memorando tem funcionado não apenas como a subjugação pura e simples de um país aos desmandos de padrinhos alemães e franceses, mais do que expectável, mas como uma verdadeira carta branca para os Governos (PS e PSD-PP) poderem aplicar indiscriminadamente todo o tipo de medidas de austeridade que visam tapar no imediato o buraco que os mesmo escavaram durante décadas. Execráveis na atuação, os nossos políticos pensam no presente (deles) hipotecando o futuro (nosso). O habitual - nada de novo.
A crise está a ser usada para esconder a incompetência com que este país tem sido e continua a ser gerido. À passagem alienam-se direitos, rouba-se quem trabalha, atiram-se milhares de pessoas para o desemprego e levam-se centenas de milhares à miséria. Sem vergonha ou decoro continuam estes senhores a governarem-se às nossas custas fingindo que nos governam. A crise e a conjuntura parecem servir que nem uma luva à total desresponsabilização.
Este país é uma bomba-relógio e Mário Soares sabe disso perfeitamente. E quando estoirar ele quer estar do lado certo, como sempre. O velho ancião - dirão alguns. Os políticos que temos - digo eu.
Tiago Mesquita

Contramaré… 9 maio

O ministro da Economia mostrou disponibilidade para discutir em concertação social a proposta da CGTP de aumento do Salário Mínimo Nacional para os 515 euros. Arménio Carlos disse que, em Portugal, existem cerca de 400.000 trabalhadores com 432 euros de salário líquido, "abaixo do limiar da pobreza, que são 434 euros".
Santos Pereira, não prestou declarações no final do encontro.
O ministro da Economia insiste que esta medida vai contribuir para produzir mais riqueza.