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sábado, 30 de junho de 2012

Quem concordava com ELA, agora discordará?

Martim Moniz, o entalado
Será que podemos ter sempre razão contra toda a gente? Manifestamente não, como Angela Merkel pôde constatar na desagradável experiência na noite de 28 para 29 de junho. Confrontada com a rebelião surpresa de Mario Monti e Mariano Rajoy, foi obrigada a ceder em dois pontos: o Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE), ou seja, o fundo de resgate europeu permanente que será utilizado em breve vai poder entregar dinheiro diretamente aos bancos espanhóis e comprar a dívida italiana sem exigir um programa de rigor.
Para Madrid (e talvez para Dublin, se a decisão fizer jurisprudência), isto significa que o resgate dos bancos não voltará a integrar as contas do Estado. Para Roma (e talvez para Paris, considerada muitas vezes a próxima peça do dominó da crise), isto significa que o Estado poderá financiar-se sem ficar submetido à pressão dos mercados que impõem taxas de juro exorbitantes. Questão de bom senso diz a maior parte dos dirigentes europeus e dos observadores.
Mas para a chanceler alemã, esta decisão noturna do Conselho Europeu é um duplo fracasso. Por um lado, pela primeira vez desde o início da crise, deixou de ser Angela Merkel a controlar os debates. Mesmo quando dizia sim depois de ter dito não, Angela Merkel fazia-o ao seu próprio ritmo, apoiada por Nicolas Sarkozy. Hoje, mostra ter perdido o apoio dos principais países europeus.
Agora que se dispôs a aceitar – concessão tática – o pacto de crescimento reclamado por François Hollande, eis que é obrigada a ceder em duas questões estratégicas. Consequentemente, abriu-se uma brecha na sua linha de defesa contra as obrigações europeias. Ao declarar que recusava esta opção “enquanto fosse viva”, deu garantias ao seu partido e aos seus eleitores, mas ficou sem alternativa ao ver-se obrigada a tentar ainda ter razão contra todos, ou a desdizer-se.
A História dirá que, depois de anos de negligência nas despesas públicas e falta de controlo das finanças, o rigor e a vigilância da UE, propostas por Berlim, constituem a melhor resposta à crise. A verdade é que, depois da noite de 28 para 29 de junho, a relação de forças mudou na Europa.
A chanceler alemã, Angela Merkel, assegurou hoje que não haverá nenhuma troika para a Itália ou para a Espanha se pedirem a intervenção dos fundos de resgate nos mercados de dívida ou a recapitalização direta da banca. As únicas instituições implicadas nessas operações são a Comissão Europeia e o BCE.
O primeiro-ministro sublinhou que o Conselho apenas abriu a porta a uma ideia que será agora desenvolvida até à próxima reunião de ministros das Finanças do Eurogrupo, de 09 de julho, pelo que não se quis alongar em comentários, mas apontou que essa “porta aberta não está aberta apenas para Espanha”, tendo ficado “muito claro que casos similares terão tratamento idêntico”, como de resto foi já referido relativamente à Irlanda.
Já é líquido que as teorias ortodoxas de Merkel caíram por terra, só porque a realidade tem muita força e pelos vistos uma análise meramente técnica (posição de Monti) mostrou que as teorias “experimentais” impostas eram realmente POLÍTICAS e por serem políticas foram aprovadas por 2/3 do Parlamento alemão, incluindo a oposição à “dona da verdade”!
Quem deve estar de cara à banda devem ser os políticos, opinadores, comentadores e economistas, que colavam Hollande a D. Quixote, ridicularizando as suas propostas, aconselhando-o e prevendo que se desfizesse das suas “utopias”…
E por política entenda-se também a desigualdade de tratamento para diferentes países-membros, que oferecem condições mais vantajosas a Espanha e Itália, contra as condições suicidas oferecidas à Grécia, à Irlanda e a Portugal.
Ou há troika e austeridade para todos, ou não há para ninguém!
Órfãos e desorientados devem ter ficado o “nosso” PM e o técnico e ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que queriam enriquecer o seu currículo, à nossa custa e à custa da subserviência a tudo quanto saía da mente e da boca da sua chanceler.
Devem estar agora um bocado à rasca para acompanharem a reviravolta “técnica” da sua mentora e protetora, para conseguirem defender o contrário do que antes achavam inevitável e eficaz…
E por muito paleio que tenham e dissertem vagarosamente para as TVs, será difícil arranjarem argumentos para a pirueta necessária, porque até os ignorantes não os entenderão, embora haja um grupo grande de deputados (inteligentes) e administradores nomeados (competentes), que os acolitarão, dizendo no fim de cada frase, AMEN!
Fica-lhes apenas como alento a “parábola” da “PORTA ABERTA”, para o que não contribuíram com qualquer esforço, mesmo quando está(va)mos entalados…
Já vai longe o tempo de Martim Moniz e dos Alcaides de Faria…
Mas na prática o que muda no quotidiano dos cidadãos?

Contramaré… 30 jun.

O parlamento alemão (Bundestag) aprovou nesta sexta-feira, com a necessária maioria de 2/3, o Tratado Orçamental Europeu e o futuro MEE, após acalorado debate, em que a oposição criticou a política europeia de Angela Merkel.
A favor do Tratado Orçamental votaram 491 deputados das bancadas do Governo e da oposição social-democrata e ambientalista, 111 votaram contra e 6 abstiveram-se.
O Governo de centro-direita, o SPD e os Verdes celebraram previamente um acordo para votar favoravelmente os respectivos projectos-lei, mas para isso Angela Merkel teve de se comprometer a defender um programa de crescimento e emprego e um imposto sobre transacções financeiras a nível europeu.

Depende do tamanho do abismo e do impulso…

União bancária, estímulo ao investimento, desenvolvimento da união política e económica… A cimeira dos dias 28 e 29 de junho deveria voltar a dar fôlego à Europa, estima o colunista Bernard Guetta. Pena que os seus atores pareçam mais contabilistas a gerar a urgência do que visionários.
O mínimo que se pode dizer é que não há nenhum Victor Hugo entre os 27, nem um Schuman, um Monnet ou um Churchill. Quando era tão necessário um sopro visionário e um estadista que desse novo sentido, um horizonte, um objetivo mobilizador à construção europeia; quando era tão desejável reconstruir a União em termos de Verbo, para lhe fixar novas metas num novo século – este Conselho Europeu apenas deu à luz acordos arrancados a ferros sobre acertos técnicos e menos fadados a empolgar os corações do que a provocar enxaquecas.
A União não tem dirigentes políticos, tem assessores contabilísticos, mais nada... É assim, é o que temos e, já que vai ser preciso traduzir todas as decisões europeias para uma língua europeia inteligível, traduzamos este Conselho em francês [no original], dizendo que o balanço da etapa é, em última análise, bom ou muito bom.
Real transferência de soberania
Onde havia apenas rigor e cortes de despesa, haverá finalmente aumento do investimento comum, já que os 27 aceitaram interinamente um "pacto de crescimento" que irá mobilizar 120 mil milhões de euros, para olear uma máquina económica à beira de gripar. Os termos do debate político mudaram na União e, embora isso não vá produzir milagres imediatos, seria errado subestimar esta inflexão. E não é tudo, longe disso.
Este Conselho também abriu o caminho para uma união bancária, de que a UE se vai dotar para regular os seus bancos, organizar a sua supervisão, garantir os seus depósitos e espaldar assim com todo o peso europeu os bancos nacionais, a fim de que nunca mais um Estado tenha de enfrentar, sozinho, as dificuldades da Banca e de endividar-se para a apoiar. Eis uma real transferência de soberania, que vem, simultaneamente, dar à União os atributos de um Estado e reforçar cada um dos Estados-membros no meio da presente tempestade financeira. Em língua europeia, parece quase nada. Em francês, é muito, mas ainda não é tudo.
Um avanço decisivo
Mais importante ainda, os 27 aprovaram também o relatório sobre o aprofundamento da integração económica e política que pediram aos presidentes do Conselho, da Comissão, do Eurogrupo e do Banco Central. E encarregaram-nos de formular propostas de medidas para 6 meses. Em francês, significa que a União vai agora entrar na via de uma política económica comum, de um Tesouro comum e de uma corresponsabilização pelos empréstimos, o que, somado à moeda única, reforçará ainda mais o aspeto de verdadeiro poder público – um Estado federal em curso.
Algo de decisivo está a tomar forma, tanto mais decisivo quanto a Espanha e a Itália, apoiadas pela França, obtiveram ontem à noite a possibilidade de o fundo europeu de solidariedade financeira da União, o Mecanismo de Estabilidade, ajudar diretamente os bancos nacionais e, principalmente, de subscrever empréstimos de países, como elas, cumpridores mas em dificuldades. Tiveram, para tal, de ameaçar bater com a porta. O embate foi duro, mas a solidariedade financeira e a corresponsabilização pelos empréstimos (“mutualização”) foram, de facto, adotadas pela União, quando os seus tratados as impedem e a Alemanha não as queria de maneira nenhuma. Victor Hugo não esteve lá, mas a Europa está a ganhar músculo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Prognósticos antes do fim do jogo…

O Conselho Europeu não se pode dar ao luxo de arranjar novo compromisso de curto prazo, adverte a imprensa europeia. Os dirigentes europeus devem levar a sério o risco de colapso da moeda única e, por arrasto, da UE.
Em editorial, Le Monde dá mostras de uma certa impaciência em relação às sucessivas cimeiras europeias, todas iguais desde que a zona euro mergulhou na crise da dívida: "Os 17 tapam buracos. Fazem remendos na canalização, quando toda a tubagem devia ser revista." O diário espera que este seja o Conselho Europeu do realismo:
Talvez fosse necessário atingir um clímax no drama em curso, para que os europeus percebessem estar à beira do colapso. Estão mesmo. E, pela primeira vez, têm sobre a mesa um plano de conjunto que se parece com um princípio de solução. Precisa de ser adotado em Bruxelas na sexta-feira e ir mesmo mais longe [...]. Na busca de um compromisso positivo, a responsabilidade pesa tanto sobre a França como sobre a Alemanha. Berlim e Paris devem correr riscos, para saírem de uma situação de facto mortal.
O Handelsblatt denuncia os "fogos de artifício de ideias" que, segundo ele, vão prejudicar a economia alemã. Satisfeito com o "não" de Angela Merkel aos ‘eurobonds’ (títulos europeus de dívida), Gabor Steingart, o diretor editorial do diário económico, pede à chanceler para explicar o modelo alemão aos colegas:
Tem de explicar aos nossos amigos que ninguém é ajudado se a Alemanha partilhar generosamente os frutos do seu trabalho. Muito pelo contrário: dizer ‘sim’ à Europa é dizer ‘não’ às ideias de Durão Barroso. Substituir ‘trabalho’ e ‘esforço’ por ‘consumo’ e ‘crédito’, no sistema económico europeu, levou-nos a esta crise. Um ‘não’ corajoso a estas propostas significa um ‘sim’ à Europa. Porque a Europa precisa de uma cultura de mangas arregaçadas e não de uma filosofia parasitária.
“Se não houver uma resposta coletiva, as probabilidades de o euro entrar em colapso são reais”, previne o Público, de Portugal, que pormenoriza as possíveis consequências:
Regresso a moedas nacionais sem valor, corrida aos bancos, inflação, regresso ao controlo de capitais e de câmbios, encerramento de mercados, falências em série, incluindo a do Estado, e níveis ainda mais inimagináveis de desemprego. Todos os líderes europeus têm consciência de que a catástrofe do euro será uma tragédia. (...) Merkel tem razão ao dizer que só pode haver mutualização de dívidas quando houver mutualização dos controlos orçamentais e fiscais; Hollande tem razão ao dizer que a urgência da situação exige um papel mais interventivo dos fundos de estabilização financeira no mercado da dívida e do BCE e a criação de eurobonds a prazo. Ambos têm razão, mas nenhum parece disposto a ceder aos argumentos do outro. Por isso, as perspetivas são sombrias.
Para La Stampa, "é evidente, desde o encontro entre Monti, Merkel, Rajoy e Hollande", em 22 de junho, que o Conselho que começa nesta quinta-feira "será a primeira e a mais dura prova em que os dirigentes europeus vão procurar estabelecer e, quem sabe, introduzir uma nova União Monetária":
Depois do Euro-1, perigosamente debruçado no abismo, vem o Euro-2. Como vai funcionar? Quando e até onde irá o seu alcance? Quase todos, exceto os britânicos, que assistem à agonia do Velho Continente do alto da sua libra esterlina, concordam sobre a necessidade de uma reforma monetária; mas nem todos estão, no entanto, de acordo com o calendário e a dosagem da fórmula. [...] Não vai ser fácil chegar a acordo sobre o conceito de ‘união política’, dadas as diferentes interpretações dos países presentes na cimeira (...). Infelizmente, não há 3ª opção, no dilema entre integração e desintegração.
"Para salvar o euro, é preciso saber primeiro, e assumi-lo, que a moeda única europeia, como tudo neste mundo, é falível e pode morrer amanhã, se ninguém se importar e não tratar dela", escreve Lluís Bassets no diário espanhol El País:
Dizer que o euro é irreversível lembra as rezas a pedir chuva. Quanto mais se repete, mais se materializa a imagem lúgubre e indesejável de uma Europa sem euro e de um mundo sem Europa [...]. Percebemos todos perfeitamente: o euro é falível e pode morrer nos nossos braços nos próximos dias. Mentalmente, entrámos já em território inexplorado. [...] Não é, portanto, de estranhar que, nas últimas horas, as fábricas europeias de documentos, manifestos, artigos e estudos de emergência tentem encontrar uma fórmula que possa abrir a torneira dos ‘eurobonds’, a solidariedade salvadora, a união de transferências até agora proibida pela Alemanha, podendo assim garantir em simultâneo a austeridade, o controlo e a responsabilidade exigidos por Angela Merkel [...]. O problema é que muito poucas dessas ideias são imediatamente aplicáveis e a sua eficácia está pouco comprovada, num momento em que é necessário combater as apostas dos mercados financeiros na morte do euro.
Como acontece no mundo do futebol há quem antecipe a descrição do jogo e faça prognósticos, mesmo que a realidade venha a ditar jogadas omitidas e resultados inimagináveis…
Na sinopse de notícias acima, não deixa de ser “original” a análise do jornal português, que pinta o quadro tão negro, que até parece que nas circunstâncias até vivemos um presente colorido e um futuro melhor: Défice orçamental ficou acima do de 2011 no primeiro trimestre
Embora esta Cimeira esteja no intervalo e já se tenham verificado “novidades”, em que uns acertaram e outros não, nada melhor do que esperar pelo apito final e sem especulações ficar à espera da posição dos especuladores, para sabermos se os cidadãos não ficamos a perder ou se mais uma vez eles ganharam, que é o mais previsível, já que todos os jogadores bombeiam a bola para a cabeça destes pontas de lança…
Uma coisa já se pode registar: acentuaram-se as desigualdades entre “iguais” e nós somos menos iguais do que outros: Roma e Madrid forçam Merkel a ceder
Para percebermos o que é a discriminação ou a falta de RESPEITO!Mas parece que por cá há gente que gosta, ou disfarça em troca de uns trocos…

Ecos da blogosfera - 29 jun.

O “nosso” Perlesidente perleside a mais uma!

Solidariedade financeira e despesas de crescimento? Ou reforço do controlo da UE para manter a austeridade? O Conselho Europeu de 28 e 29 de junho coloca os 27 perante as suas responsabilidades para tentar sair da crise.
Cimeira europeia
Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu:
"Como de costume… Aqueles que pedem dinheiro façam fila à esquerda. E aqueles que estão fartos de dar dinheiro, à direita. Quem tiver uma solução, levante a mão. Café para toda a gente, às 17h"


Contramaré… 29 jun.

Mais uma reposição do filme “Fúria de Viver”?

Os Vinte e Sete encontram-se pela enésima vez numa "cimeira decisiva". Contudo, escorados nas suas posições, viram o disco e tocam sempre o mesmo, na esperança de que a crise se resolva por si própria. Tal como quando os generais norte-americanos continuavam a bombardear o Vietname, por incapacidade de encontrarem uma saída para a guerra, denuncia Barbara Spinelli.
Em vésperas da cimeira da UE de 28 e 29 de junho, o economista grego Yanis Varoufakis frisou a teimosia de vistas curtas das decisões políticas com que os governos da União procuram salvar a moeda única e manifestou-se surpreendido com a confusão de intenções e resoluções: uma expectativa quase messiânica de uma solução miraculosa, conjugada com a incapacidade de ação dos políticos, a preguiça mental dos economistas e uma avassaladora ausência de liderança.
Mais uma vez, estamos em vésperas de uma cimeira descrita como crucial. Haverá um antes e um depois; vamos decidir grandes coisas, caso contrário, inevitavelmente, será o fim. Alguns dedicam-se a contar os minutos: o euro não vai viver mais 3 meses, segundo eles, mas convencidos de que o relógio está parado. Há anos que a sua esperança de vida é, invariavelmente, de 3 meses. Foi isso que levou Yanis Varoufakis a fazer duas comparações históricas, qual delas a mais assustadora.
Disco riscado
A primeira com a crise de 1929 e o Presidente Herbert Hoover, cuja receita era a mesma preconizada hoje: a redução drástica dos gastos públicos, corte nos salários e no poder de compra. Tudo isso enquanto a economia dos EUA implodia. As consequências foram a pobreza, a ira dos norte-americanos e o fim da democracia na Europa.
A comparação com a Guerra do Vietname nas décadas de 1960 e 1970 não é menos preocupante. Os homens do Pentágono já estavam certos da derrota. Mas continuaram a lançar, freneticamente, bombas sobre o Vietname, porque não conseguiam chegar a um acordo sobre como pôr fim a esse tipo de recurso, manifestamente catastrófico.
Admitir o erro e mudar de rumo teria salvado milhares de vidas norte-americanas, centenas de milhares de vidas vietnamitas e economizado muito dinheiro. Derrotas semelhantes a esta foram descritas como "estranhas" pelo historiador Marc Bloch: em 1940, os Estados-Maiores político-militares careciam de visão e de liderança, enquanto, na retaguarda, a sociedade e as classes dirigentes soçobravam.
Os atuais chefes da Europa sofrem da mesma falta de determinação: a crise da banca e da dívida soberana não é uma guerra militar, mas tem reflexos idênticos. E o pobre cidadão comum perde a cabeça e não entende nada.
Há meses que se sucedem cimeiras, a 2, a 4, a 17, a 27. E cada uma é descrita como decisiva. Há meses que entram e saem de cena personagens que proclamam resoluções inabaláveis. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, entram na sala do Conselho da Europa, sentam-se e recitam: "Não pode ser. Antes de falarmos de solidariedade, cada um tem de fazer uma limpeza no seu país." Há sempre alguém, da periferia Sul da Europa que, em vez de negociar seriamente, implora: "Mas façam um esforço, estamos a entrar em colapso!". Parece um disco partido. Sentam-se à mesa e repetem-se, repetem-se, como os generais que continuaram a despejar bombas sobre o Vietname, na esperança de que a guerra, como os mercados, se acalmasse por si, por exaustão.
Um poder de técnicos que censuram e punem
Algo, de facto, se agita na Europa. Graças à pressão dos social democratas e dos Verdes, o Governo liberal-conservador alemão admite, de repente, fazer qualquer coisa pelo crescimento: palavra vazia, como quando os generais em guerra diziam: "A paz". Na reunião a 4, realizada em Roma – entre Angela Merkel, François Hollande, Mario Monti e Mariano Rajoy –, foi decidido mobilizar 130 mil milhões de euros, soma considerável mas esporádica, já que, ao mesmo tempo, foi rejeitada uma proposta de aumento do orçamento comum europeu. Foi igualmente decidido – finalmente – ignorar as reservas britânicas e suecas sobre taxação das transações financeiras, que foi aprovada e deve dar um pouco de fôlego à zona euro: a receita esperada é de 30 a 50 mil milhões por ano, sem encargos para os contribuintes.
Registaram-se progressos, garantem os governos, mas falta o essencial: ainda não podemos emitir “eurobonds” [títulos de obrigações europeias] e Berlim está relutante em relação ao projeto de resgate parcial da dívida soberana – avançado em novembro pelo conselho alemão de especialistas em Economia. "Precisamos de dar o salto federal", começam a murmurar; mas também estas palavras, como "crescimento" ou "paz", são suscetíveis de perder sentido. Resta apenas o dogma alemão da casa em ordem e, com ele, o novo poder de controlo dos orçamentos nacionais, dado à Comissão de Bruxelas. Mas é um estranho poder, de técnicos que censuram e punem. Não é um poder que põe em prática políticas fiscais, dispõe dos seus próprios recursos, é contrabalançado democraticamente.
Fim da corrida no fundo da ravina
O facto é que as medidas não são suficientes, porque o mal não é técnico, mas político. Habituámo-nos a descarregar as culpas sobre os mercados, dizendo que a Europa não deve depender da sua miopia. Mas já lhes demos ouvidos, a esses mercados? São imprevisíveis, mas desconfiam das nossas panaceias, o que significa que, por trás das suas dúvidas, existe outra questão: "Tencionam realmente salvar o euro?". E: "Querem realmente a tal união política com que estão sempre a acenar, mas pela qual continuam sem mexer uma palha?"
Se os mercados são como uma matilha de cães excitados, é porque sentem que a Europa e a Alemanha não querem tomar o poder e escolhem a insignificância à escala global. Só se acalmarão perante um plano com prazos específicos – é importante apresentar um calendário –, um plano que inclua um fisco europeu, um orçamento europeu credível, o controlo do Parlamento Europeu, um banco central idêntico à Reserva Federal norte-americana, uma política externa única. Têm razão em insistir. Porque desta vez não temos a América do pós-guerra para promover a federação europeia. Obama só exige medidas de meias tintas à Europa, em vez de um grande projeto unitário.
O salto federal é necessário, poucos o querem dar. Hollande diz que a união política desejada por Berlim só é aceitável se houver – e rapidamente – solidariedade. Angela Merkel não exclui a solidariedade, mas exige primeiro a união política. Há um que está a fazer fintas. É como a cena do filme “Fúria de Viver” em que dois jovens conduzem, em despique, os carros para um precipício. O primeiro que sair do veículo é considerado medricas. Se ambos resistirem, acabam a corrida no fundo da ravina. É um jogo trágico, porque reproduz o velho equilíbrio dos poderes nacionais que levou o continente à ruína. A União Europeia nasceu para acabar com esse jogo de corridas mortais.
PACTO DE CRESCIMENTO - Um projeto oco para agradar a Hollande
Um "pacto de intrujice”: eis como o Spiegel qualifica o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que deverá ser aprovado no Conselho Europeu. Para aquele semanário de Hamburgo, este acordo, que deverá desbloquear 130 mil milhões de euros, é um presente para o Presidente francês, François Hollande:
Os defensores do pacto – encabeçados pelo socialista François Hollande – louvam-no como uma ferramenta de correção muito necessária para as políticas de austeridade na Europa. No âmbito deste projeto, cujas linhas gerais foram traçadas na passada sexta-feira [22 de junho] em Roma, por Mario Monti, Angela Merkel e François Hollande [e Mariano Rajoy], os Estados-membros comprometem-se a investir em ‘setores inovadores’ e facilitar o acesso dos empresários ao crédito.
Mas os líderes das 4 maiores economias da zona euro sabem que essas promessas feitas aos eleitores e aos mercados, com vista a tranquilizá-los, são ilusórias. De acordo com uma sondagem interna a um dos Estados-membros, o pacto não traz nada de novo. Será adotado apenas para que Hollande, que se havia comprometido com medidas para promover o crescimento, durante a campanha eleitoral, não perca a face.

Ecos da blogosfera - 28 jun.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ou químicos ou especialistas. Só previnem os efeitos!

Rede embrionária na Europa quer tirar a psicoterapia da obscuridade e torná-la a resposta de primeira linha para os doentes com perturbações psicológicas.
Os dados sobre o consumo de medicamentos antidepressivos estão actualizados até Maio: o número de embalagens vendidas nas farmácias aumentou 6,3%, para 2,9 milhões (as comparticipadas pelo Estado aumentaram 11,5%).
Um grupo de psicoterapeutas, unidos na Rede de Cuidados Psicoterapêuticos, pretende combater o que defende ser um excesso de investimento na medicação – e défice nos cuidados terapêuticos desenvolvidos pelas ciências psicológicas. Sobretudo, quando há uma crise em pano de fundo que pedia respostas mais profundas a nível nacional.
Jorge Gravanita, psicólogo clínico e psicoterapeuta, representa em Portugal a Network for Psychotherapeutic Care in Europe. “As políticas europeias em saúde mental têm privilegiado quase em absoluto o tratamento com drogas psicotrópicas. É muito grave. Todos os estudos indicam que o tratamento de primeira linha devia ser a psicoterapia, sem necessidade de recorrer à medicação”, diz Gravanita, também vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica. Segundo o especialista, o consenso entre psicoterapeutas é que 90% dos casos que chegam ao consultório não precisariam da medicação. Em Portugal, acontece o contrário: o último eurobarómetro dedicado à saúde mental, de 2010, revelou que 15% dos portugueses tinham tomado antidepressivos nos 12 meses anteriores, o dobro da média europeia, tendo Portugal a maior prevalência do consumo.
Jorge Gravanita acredita que parte deste recurso excessivo aos medicamentos tem a ver com alguma “obscuridade” da psicoterapia. Por outro lado, reflecte uma sociedade “consumista” que contamina a saúde e encara como mais fácil tomar um medicamento. “Há um sobreinvestimento numa área que é muito rentável mas que depende de alguma aleatoriedade e pode até ser prejudicial: há resultados de eficácia manipulados e por avaliar a longo prazo.”
A alternativa seria tornar a psicoterapia parte dos cuidados básicos de saúde, como pólo de intervenção para o qual psicólogos ou médicos de família pudessem encaminhar doentes, ao mesmo tempo que se investia na prevenção. Sem esta rede, defende, os tratamentos estão a ser adiados: “As pessoas não estão a resolver os problemas, estão a evitá-los. O medicamento funciona como analgésico: a pessoa não reflecte porque é que a família se está a dissolver, por que razão há dificuldades de comunicação”, exemplifica. “A saúde é conseguirmos lidar com os problemas. Há frustração e tristeza e tudo isto tem de ser trabalhado. Há uma dimensão humana que tem de ser reintroduzida nos cuidados de saúde.”
O objectivo da rede é criar uma metodologia de trabalho e oferecer respostas que possam ser incorporadas nos planos nacionais e directivas europeias. “Em Portugal não queremos pedir nada à DGS, queremos começar por saber que especialistas existem, como nos podemos articular. Estamos numa fase em que os profissionais ainda estão um pouco guetizados.”
Mais psicoterapia ajudaria o país em estado de emergência social? Gravanita não tem dúvidas. “O custo da doença mental em Portugal é brutal. O estado do país não resulta só das questões financeiras. Estamos numa condição psíquica deficitária e a forma como as pessoas estão afectadas, desmotivadas, deprimidas, contribui para a baixa produtividade. Não estamos a ter os recursos que devíamos para enfrentar os problemas.”

Contramaré… 28 jun.

O "encontro de eleitos das Câmaras Municipais e Assembleias Municipais dos 54 municípios abrangidos pelo encerramento dos tribunais, contra as alterações propostas pelo Governo relativas ao mapa judiciário" está, de acordo com uma nota divulgada pela ANMP, marcado para as 15:00 junto ao Ministério da Justiça, no Terreiro do Paço.
O Ministério da Justiça propõe a extinção de 54 tribunais em todo o país e a redistribuição dos recursos humanos pelas novas comarcas com reduções e reforços que implicarão um excedente de 190 lugares.

União disto, União daquilo e a União dos cidadãos?

Ao propor um controlo acrescido dos orçamentos nacionais e dos bancos, os dirigentes das instituições da UE respondem ao desafio federalista lançado pela Alemanha. Mas esta solução poderá criar resistências em certos Estados, sem atenuar os ataques dos mercados.
Desde o início da crise europeia, e de repente são anos, a Alemanha tem assumido uma liderança tacanha, cheia de cálculos políticos, de dogmatismo ideológico e de vetos a torto e a direito: a recessão instalou-se no Sul, e para ter uma vida longa, em parte em consequência dos últimos anos de expansão descontrolada, em parte devido aos resgates que envolvem uma solidariedade de 2ª divisão e às políticas de cortes severos (perigosamente severos) promovida por Berlim, com uma impiedosa austeridade de choque. Esse feitiço deveria ter devolvido a confiança à zona euro, mas lançou o euro numa crise existencial. E, no entanto, os tempos estão a mudar.
Nos últimos dias, a chanceler Angela Merkel, o ministro Wolfgang Schäuble e o presidente do Banco Central Alemão, Jens Weidmann, cozinharam uma velha nova proposta: nos últimos 20 anos, Berlim nunca falou tanto e tão claramente de união política. Ontem, Bruxelas aceitou o desafio, com um desafio ambicioso, que procura reconstruir o edifício europeu: lançou uma proposta que testa os limites da UE, atendendo a que a estagnação enfraqueceu perigosamente o euro. Em contrapartida, sempre que sejam dados passos claros no sentido dessa união política, elimina obstáculos para que a Alemanha comece a abrir mão de algumas coisas. Apesar de, como acontece quase sempre quando se trata da Europa, esse caminho estar pejado de incógnitas.
Há duas a destacar: que papel quer desempenhar a França de Hollande – Paris não vai limitar-se a acompanhar o primeiro violino alemão, mas, ao mesmo tempo, tem que lutar contra a deriva intergovernamental, contra a sua alergia ao modelo federal – e como será possível gerir, a muito curto prazo, a colossal crise do euro, de modo a evitar um big bang.
Restrições muito rigorosas
Estas duas questões foram deixadas completamente em aberto, na proposta elaborada por 4 presidentes: do Conselho, Herman Van Rompuy, da Comissão, José Manuel Barroso, do BCE, Mario Draghi, e do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. As saídas possíveis desses dois becos começarão a ser ventiladas em Bruxelas, a partir de amanhã, na cimeira de chefes de Estado e de Governo, que gerou expectativas somente à altura dos anteriores fracassos. Os líderes decidirão se esse documento vai para a frente ou se não vai passar de um mero exercício de retórica, sem um calendário preciso. E têm a obrigação de procurar uma saída rápida para os países que estão com a água até ao pescoço.
Com uma visão fortemente inspirada nos desejos da Alemanha, a versão 2.0 da UE pretende pôr rédea curta aos vários países. Segundo o documento, que estabelece como data limite o próximo mês de dezembro, seria Bruxelas a fixar os limites máximos de despesa e de dívida pública. Mas não só: qualquer Estado-Membro que queira emitir mais dívida do que a fixada terá que "justificar [a emissão] e [que] obter" a aprovação prévia das instituições europeias.
Tal decisão implicaria de facto entregar a chave da caixa forte a qualquer coisa parecida com um superministro das Finanças e, em última instância, a criação de um Tesouro. Deste modo, triunfariam as posições de Berlim sobre o avanço rápido para a união fiscal. Para a Alemanha, a contrapartida viria sob a forma de algo que, até agora, tem sido considerado tabu: aceitar um certo grau de mutualização da dívida; mas por etapas, em busca da habitual fórmula de compromisso europeia. "Numa perspetiva de médio prazo, a emissão de dívida conjunta deveria ser analisada como mais um elemento da união fiscal", destaca, quase a medo, a proposta, numa referência às euro-obrigações.
A bola está no campo de Hollande
Além disso, avança-se para uma união bancária: um supervisor comum, o BCE, com um fundo de garantia comum e um fundo de liquidação de bancos. Aqueles que melhor costumam traduzir a pouco clara linguagem europeia são os mercados. "Trata-se dos primeiros passos para uma união política e fiscal, indispensável para Merkel aceitar qualquer coisa semelhante às euro-obrigações", explicaram fontes financeiras.
As mesmas fontes referem igualmente as lacunas de que podem tirar partido os investidores para continuarem a apostar contra o euro: "Não há um calendário claro. A proposta também não é suficientemente concreta, o que leva a pensar que existem desacordos profundos. A parte boa é que a Europa está a mexer-se. A parte má é que continua a deixar tudo para mais tarde: há eleições na Alemanha, no outono, e Berlim já demonstrou sobejamente a importância dos cálculos eleitorais, apesar da gravidade da crise."
Seja como for, a cimeira aquece alguns motores. Desta vez com a bola no campo de François Hollande, que deu uma nova lufada de ar ao projeto europeu, mas que tem que esclarecer até onde quer ir. Não faltará quem franza o sobrolho: a Chanceler Angela Merkel não esteve com rodeios e disse uma frase lapidar, menos de 48 horas antes da cimeira. "Não compartilharemos totalmente as dívidas enquanto eu for viva."
UNIÃO ORÇAMENTAL - O frouxo plano de resgate de Van Rompuy
O novo plano, muito aguardado, do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, para assegurar o futuro da zona euro é “menos ambicioso” e “significativamente inferior” comparado com versões anteriores, refere o Financial Times. O plano, que de facto apela a obrigações para a zona euro e à eventual introdução de um tesouro europeu, irá ser debatido na cimeira dos dias 28 e 29 de junho, constata o diário de negócios londrino. O esboço
propõe que se dê às instituições da UE poder para reescrever os orçamentos nacionais e incentiva os lideres da zona euro a utilizar o seu fundo de resgate de 500 mil milhões de euros para recapitalizar os bancos europeus. Enquanto os esboços anteriores do relatório também continham medidas detalhadas a curto prazo, que poderiam ser abordadas para resolver a atual agitação do mercado, o esboço publicado por Van Rompuy no sítio Internet do Conselho Europeu contém muito menos detalhes e não sugere uma data para a sua implementação.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cidadania e indignação: Direitos e consequências…

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, apelou à greve dos médicos, nos dias 11 e 12 de julho, em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos doentes.
"Não podemos continuar a aceitar que o Ministério da Saúde seja mais um Ministério das Finanças na Saúde do que um Ministério da Saúde no Governo. Isso não é aceitável, porque são os doentes que vão sofrer as consequências", alertou o bastonário e apelou, por isso, à participação dos médicos na greve de 2 dias.
"Temos de ser todos mais exigentes e muito mais interventivos relativamente às medidas que estão a ser tomadas pelo Governo e que estão a pôr em causa o SNS. Está nas nossas mãos."
As organizações médicas estão "unidas no objetivo de lutar pela qualidade do SNS e pelos doentes, por isso, foi decretada a greve", considerando que é "absolutamente essencial para o SNS e para os doentes" que a greve "seja um êxito", ou seja, "a rondar os 100%".
José Manuel Silva defendeu a "suspensão do concurso de 2.500.000 de horas pelo mais baixo preço", sobretudo "quando estavam a decorrer negociações com o sindicato e se estava a discutir a grelha salarial das 40 horas, que iria reduzir a horas extraordinárias".
"Pelos doentes, temos a obrigação de manifestar com muita determinação a nossa revolta. Os doentes continuam a existir e têm de ser tratados. Quando são mal tratados, é mais despesa que se gera" e afirmou que os doentes vão entender a greve dos médicos, porque "mais do que qualquer outro setor do país, são eles que estão a sofrer as consequências dos cortes no SNS".
Para José Manuel Silva, a greve só será desconvocada se houver "abertura ao diálogo por parte do Ministério da Saúde" e o "reconhecimento de que é necessário infletir algumas das medidas que estão a ser tomadas na área da saúde" e que "estão claramente a prejudicar os doentes”.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considerou "grave" o afastamento dos cuidados de saúde à população, salientando que não existe poupança efetiva. "Preocupa-nos este concentracionismo no SNS e este objetivo de reduzir serviços. Por exemplo, temos uma média de 3,3 camas por 1.000 habitantes, quando a média da OCDE é de 4,8 e da Alemanha é 8", revelou.
José Manuel Silva deixou ainda o alerta de que "não há mais por onde reduzir", "nem é possível continuar a afastar os recursos dos cidadãos, até porque, em muitas circunstâncias, esse afastamento causa mais despesa ao próprio SNS". O bastonário exemplifica com os 220 doentes portadores de HIV que eram assistidos em Torres Novas e foram deslocados para Santarém. "É setor público, o Estado paga o mesmo preço, mas vai acrescentar mais 100.000 quilómetros de deslocações aos doentes e a transportes, que também são parcialmente pagos pelo Estado", ou seja, "há medidas paradoxais que prejudicam a acessibilidade dos doentes aos cuidados de saúde e que não levam a uma redução da despesa", pelo que alerta para mais "bom senso e ponderação".
O bastonário revelou ainda que a Ordem dos Médicos (OM) não foi ouvida pelo Ministério da Saúde (MS) na elaboração da proposta da carta hospitalar e nas medidas previstas. "É lamentável. Temos disponibilizado os recursos e os conhecimentos técnicos da OM. Não quer dizer que siga a nossa opinião, mas a OM, que tem todos os colégios da especialidade na sua estrutura, pode emitir pareceres técnicos devidamente fundamentados e essa capacidade tem sido desprezada pelo MS e, se calhar, é por isso que se têm cometido alguns erros."
É um facto, e muitas vezes sublinhado estrategicamente pelo governo, uma estranha “mansidão” dos portugueses como resposta a todos os direitos que lhe são diminuídos, retirados e confiscados e quando surge algum ruído, ele vem de estruturas horizontais ou verticais, seja através de Sindicatos ou de Ordens profissionais e o Bastonário da Ordem dos Médicos tem sido um dos mais contestatários, em defesa do SNS e dos doentes, razão e objeto do trabalho dos seus representados.
E como todos os cidadãos com consciência plena da sua cidadania (direitos e deveres) diz o Bastonário (e assino por baixo), termos que ser todos mais exigentes (quanto aos direitos) e muito mais interventivos (é quase um dever) contra as medidas tomadas pelo Governo, que põem em causa o SNS, no seu caso e em muitas outras áreas, acrescento. Está nas nossas mãos sermos contrapoder, quando o poder está contra nós…
Daí se entender o dever de quem está no setor da saúde manifestar esta revolta, apelando à greve, por ser a favor dos doentes, que são quem está e estará a sofrer as consequências dos cortes no SNS, e de que maneira…
O caso mais notório de “erros” funcionais é realmente a eliminação e deslocação de serviços, que como é exemplificado, “poupa” na saúde para gastar em transportes, sejam pagos pelos utentes, sejam pagos pelo mesmo ministério ou por outro, porque sai do mesmo OE.
Pelo que se constata, há medidas cegas do ministério da Saúde e uma indiferença pela Ordem, arredando-a de qualquer diálogo e cooperação, que minimizam a missão, a visão e a imagem de quem tem o direito de ser ouvido e menospreza intervenientes profissionais que podem ajudar a encontrar consensos “apolíticos”…
A ser verdade que a Ordem dos Médicos nunca foi ouvida pelo Ministério da Saúde, quando poderia emitir pareceres técnicos fundamentados e essa capacidade não foi aproveitada pelo ministério, de certeza que foi por isso que se cometeram alguns erros, não por inocência do ministro ou incompetência, mas por apetência ditada pelos parâmetros da “política” imposta pela troika, com pitadas de um neoliberalismo desumanizado…
Esperemos que a contestação a todos os direitos diminuídos, retirados e confiscados se estenda transversalmente a toda a sociedade, porque é esse o dever de todo o CIDADÃO!

Ecos da blogosfera - 27 jun.

O que (mais) poderá este Governo fazer por nós?

Só sei que nada sei. A frase atribuída a Sócrates – o filósofo ateniense e não o político português de recente e péssima memória – parece ter sido adoptada como lema do Governo. Ao recusar-se a "especular" sobre a eventualidade de novas medidas de austeridade, Passos Coelho abre a porta a todas as incertezas. 
A anunciada derrapagem orçamental é, em primeiro lugar, um duro golpe na credibilidade do ministro das Finanças, mas atinge também o primeiro-ministro – e, com Passos, todo o Governo.
Com mais ou menos protestos, a maioria dos portugueses aceitou os sacrifícios em nome de um contrato de confiança, que ameaça ser quebrado: se as metas orçamentais impostas pela União Europeia não forem cumpridas no final do ano é porque o Estado não soube apertar devidamente o cinto.
A conclusão que muitos vão retirar é óbvia: se não podemos confiar nas contas do ministro Vítor Gaspar, em quem é que nos resta acreditar? Está a chegar a altura em que, ao contrário do célebre discurso de Kennedy, os portugueses terão de começar a perguntar o que pode este Governo fazer por nós.
Paulo Pinto Mascarenhas
O Governo deve adoptar novas medidas de austeridade para cumprir os objectivos de redução do défice público em 2012 ou deve pedir mais tempo e mais dinheiro à ‘troika’?
Às duas questões, que ganharam uma nova actualidade por causa dos números da execução orçamental, a resposta deve ser negativa. Nem mais austeridade, nem mais tempo, nem mais dinheiro. E é tudo compatível.

Contramaré… 27 jun.

O ministro da Saúde reconheceu que existem discrepâncias na aplicação do regime de isenção do pagamento das taxas moderadoras, nomeadamente no caso dos doentes crónicos, no dia em que foram conhecidas as conclusões do Relatório Anual sobre o Acesso a Cuidados de Saúde de 2011. Segundo o documento, apenas um terço dos hospitais do SNS conseguiu que as consultas muito prioritárias fossem realizadas no prazo máximo de 30 dias.

O mundo é uma bola, quem anda nele é que se amola

Ao acolherem o campeonato da Europa de futebol, as suas equipas e os seus adeptos, os polacos descobriram as alegrias do intercâmbio cultural. E modificaram a sua relação com o patriotismo.
As cidades anfitriãs e as localidades que albergaram os futebolistas surpreenderam tanto os jogadores como os adeptos pela sua preparação. As bandeiras de vários países e nações misturaram-se umas com as outras nas paredes de muitas instituições e nas varandas das casas. A Polónia tornou-se uma verdadeira torre de Babel.
Varsóvia é, sem dúvida, a primeira cidade no que diz respeito a número de visitantes mas as pequenas localidades também gostaram da mistura de culturas. Legionowo, por exemplo, foi rebatizada como “pequena Grécia”. O edifício do centro de gestão de situações de crise foi decorado com um cartaz escrito em inglês e grego: “Legionowo dá-vos as boas vindas”. Não foi por acaso – fica mesmo à beira da estrada por onde viaja o autocarro que leva os jogadores gregos até Jachranki. Os habitantes sabem a que horas o autocarro ali passa e param o que estão a fazer para lhe dizerem adeus.
Foram organizados eventos para divulgar a cultura e a gastronomia gregas. Há meses que a cidade se prepara para o euro. Legionowo fica a cerca de meia hora de Varsóvia, o que tornou o seu centro desportivo muito cobiçado por várias equipas. Os gregos ganharam porque… foram os primeiros. E há muitos meses que as autoridades locais buscavam maneiras de fazer com que os gregos levassem boas recordações da estadia. Substituíram a cerca do estádio que foi posto à disposição dos jogadores. E também renovaram os vestiários, o piso do campo de treino e até a estrada vizinha.
E não foi tudo – também resolveram atribuir coroas de louro aos vencedores da corrida anual dos 10 quilómetros de Legionowo fazendo, assim, uma piscadela de olho aos Jogos Olímpicos da Grécia antiga. Alguns habitantes começaram a aprender grego. “Kalimera” (Bom dia), deseja-nos um transeunte, sorrindo. E os habitantes da cidade dizem, divertidos: “É provável que as azeitonas passem a ser o nosso aperitivo preferido”. “Como pode ver, há bandeiras da Grécia e inscrições em grego. Decorámos a cidade para receber os gregos mas não há muitos adeptos da equipa do Peloponeso por aqui. Por isso, vamos à ‘fan zone’ de Varsóvia para convivermos com eles”, conta Andrzej Szeniawski, um habitante de Legionowo.
Exibir uma bandeira deixou de estar fora de moda
A primeira vez que foi à ‘fan zone’ de Varsóvia, com a filha pequena, teve um choque cultural. “Vi asiáticos vestidos de branco e vermelho [as cores da Polónia] a venderem cachecóis, camisolas, bonés. Uns turcos, também vestidos de adeptos da Polónia, aproximaram-se deles e pediram para tirar uma fotografia todos juntos”, conta. Ficou igualmente surpreendido ao ver adeptos checos com cachecóis que diziam “Polska” [Polónia]. “Foi nessa altura que percebi que durante o Euro na Polónia todos os visitantes se sentiram polacos e torceram por nós durante os jogos da nossa seleção. Por isso, decidi ir ao Polónia-Rússia com uma bandeira russa para ser simpático para os russos”, continua.
Szeniawski tem mais uma opinião que quer partilhar connosco: o nosso patriotismo deixou de estar “reservado” a uma categoria social. “Até aqui, o patriotismo polaco era entendido de uma forma unívoca: quando alguém exibia uma bandeira na rua, suspeitávamos imediatamente que era do PiS [Direito e Justiça, o partido conservador da oposição]”, explica. “Quando participei na marcha [dominada pelos movimentos nacionalistas] do 11 de novembro [dia da independência] ouvi os hooligans gritar: ‘O patriotismo deve provocar dor!’. O Euro mostra que o patriotismo também deve dar alegria e exibir uma bandeira deixou de estar fora de moda.”
Opalenica, uma cidade de 10.000 habitantes, entre Poznań e Nowy Tomyśl, também se transformou num polo de interesse. Foi escolhida para albergar a seleção de Portugal e o seu jogador-vedeta, Cristiano Ronaldo. E apesar de, também aqui, os adeptos da equipa não aparecem em grande número, sente-se um ambiente fora do comum e há animação.
Por sua própria iniciativa, os seus habitantes penduram bandeiras portuguesas lado a lado com bandeiras polacas. E basta passear os olhos para ver mensagens de boas-vindas. “Gdansk fica vermelho espanhol”, “Os irlandeses pintam Poznan de verde”: eram estes os comentários nas redes sociais. E depois dos encontros desportivos, a festa continuava nas discotecas e nos bares até de madrugada.
O fim dos estereótipos
O que é que os turistas estrangeiros puderam apreciar na Polónia? Os meios de transporte rápidos e confortáveis, os letreiros claros e compreensíveis que indicam os nomes das ruas e as paragens de autocarros, a comida deliciosa e as mulheres bonitas. E o que é que nós aprendemos com os turistas estrangeiros? Segundo eles, falamos bem inglês, sabemos divertir-nos e somos bons adeptos, apesar de ainda termos muitos progressos a fazer no que diz respeito aos cânticos. Nessa matéria, os irlandeses, por quem todos nos apaixonámos, podem dar-nos algumas lições.
Amámo-los pela sua classe e pela capacidade de aceitarem a derrota, pelo seu orgulho, pela sua alegria e porque não hesitaram em gastar muito dinheiro nos nossos bares e restaurantes. Mas também porque nos prometeram voltar qualquer dia e só dizerem bem do nosso país. E essa é a melhor publicidade que nos podem fazer.
Apesar de a nossa seleção nacional não ter tido um percurso glorioso durante o Campeonato da Europa, podemos dizer, sem exagero, que o Euro transformou a Polónia e os polacos. E não estou a pensar apenas na melhoria da imagem da Polónia, nos benefícios económicos ou sequer na modernização da nossa economia ou no incremento das infraestruturas.
Estou a pensar, sobretudo, que o Euro 2012 nos permitiu perder os complexos nacionais e pôr fim a estereótipos. Conseguimos perceber que somos uma nação não apenas alegre e acolhedora, organizada e homogénea no seu apoio à seleção de futebol, mas também aberta ao multiculturalismo colorido que se instalou entre nós e que marcou o nosso quotidiano durante estas últimas semanas.

Ecos da blogosfera - 26 jun.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O que é bom para os outros é mau para ELA?

A chanceler alemã, Angela Merkel, está preocupada com as vozes que na UE pedem soluções supostamente “fáceis” para resolver a crise na zona do euro, como responsabilidade partilhada na dívida (nomeadamente através dos eurobonds), à qual a Alemanha se opõe, afirmou o porta-voz Steffen Seibert.
 “A nossa união monetária, que é muito mais do que apenas uma união monetária, está claramente em dificuldade e as taxas de juros que alguns países têm que pagar fazem parte dessa dificuldade. O governo alemão sabe disso e está determinado em encontrar uma boa maneira para sair da crise”, disse Seibert.
“Mas a chanceler está preocupada que, pouco antes da cimeira europeia, haja gente a expressar novamente o desejo de soluções supostamente fáceis, principalmente o desejo de responsabilidade partilhada”, acrescentou. “Se o governo alemão se opõe a isso, é baseado na lei europeia e na constituição alemã, mas também porque é nossa convicção económica e política mais profundas que responsabilidade e controlo devem sempre andar de mãos dadas”, afirmou Seibert.
A chanceler alemã, Angela Merkel, exclui a hipótese de realização de um referendo a breve prazo na Alemanha sobre uma nova Constituição que permita a transferência de poderes para a União Europeia, garantiu o seu porta-voz. "Ainda estamos claramente distantes desse ponto, um tal referendo é um passo para o futuro longínquo", disse Steffen Seibert.
O porta-voz da chanceler reagia assim sobre declarações do ministro das finanças, Wolfgang Schaeuble, que afirmou que um referendo sobre transferência de poderes para Bruxelas podia realizar-se mais depressa do que ele próprio inicialmente tinha pensado. O político democrata cristão advogou também a eleição direta do presidente da Comissão Europeia e a nomeação de um ministro das finanças da União Europeia com direito de vetar os orçamentos nacionais. Sem uma alteração da Lei Fundamental, a referida transferência de poderes não é possível, e por isso esta teria de ser democraticamente legitimada através de um escrutínio popular, admitiu Schaeuble.
Lembrando que Schaeuble tem mostrado ser "um visionário europeu", Seibert esclareceu ainda que a chanceler Angela Merkel "partilha o essencial das ideias" do seu ministro das Finanças, mas realizar agora um referendo "não vem à questão, até porque a Constituição Alemã é europeísta e integracionista", referiu.
Eu sei que já enjoa comentar estas coisas, entendê-las e sobretudo aceitá-las, mas desistir de o fazer, nunca, para desfazer a embrulhada com que nos querem formatar!
E a coisa agora até pia fino, com um porta-voz, que ELA já está cansada de falar e de dizer a mesma coisa, com os mesmos resultados, que são de limpar as mãos à parede e encher os cofres da nação (dela)…
O risco de incumprimento da dívida portuguesa subiu para mais de 51%. Um agravamento de quase três pontos percentuais entre o final da manhã e o fecho. Situação de Espanha e Itália agravou-se. Pessimismo regressa ao mercado da dívida. Alemanha reforça posição de "refúgio".
E o porta-voz vem dizer, como se não soubéssemos já, que a “nossa” união é muito mais do que monetária, evidentemente, porque tem mais a ver com política e servem-se da política orçamental como arma de arremesso anti democrática.
Se estamos em dificuldade (nós, eles não) e com altas taxas de juros que alguns países estão a pagar, o agiotismo não podia fazer parte dessa dificuldade, se houvesse mesmo UNIÃO e induzisse SOLIDARIEDADE. Se o governo alemão sabe disso e se soubesse resolver o problema, já o devia ter feito, ou tentado, e não deixar desmoronar a sociedade e empobrecer os “acionistas”, se outros valores se perseguissem que não fossem os monetários…
É sensibilizador que a chanceler esteja preocupada com que haja quem pense e deseje soluções supostamente fáceis, como principalmente a da responsabilidade partilhada, que rejeita, por um lado porque o governo alemão baseia-se nos Tratados europeus (os outros baseiam-se em quê?) e na Constituição alemã (os outros também tem Constituição), e por outro lado porque a convicção económica e política que defendem e por isso, maternalmente impõem, é a de que a responsabilidade e o controlo são seus.
Mesmo que não tenham razão e a realidade mostre o deplorável das soluções impostas, são eles os donos da bola…
Claro que quem tentou impor a alteração do Tratado de Lisboa e alterações à Constituição de todos os países-membros da Eurozona (menos a sua) e se recusa a fazer um Referendo para alterar a Constituição do seu país, outra coisa não significa do que uma vontade e um “direito” de domínio e usurpação da soberania dos seus parceiros, ilegítimo, em benefício do seu bem estar...
Com amigas destas, quem acredita no instinto maternal? Então o que é bom e fácil para os outros, é mau e difícil para ELA?
Paradoxal é o retrato feito a Schaeuble, como um visionário europeu (disfarça bem), a quem a chanceler segue as ideias (Ela terá alguma?), apesar de o primeiro admitir o referendo e uma estrutura europeia democraticamente escrutinada e a segunda nem pensar em tais dislates…
Ou foi o porta-voz que se enganou ou foi erro de tradução, o que se traduz na continuação da tática de quanto pior (para nós) melhor (para eles) e quanto mais tarde mais ganho…
Viva a UNIÂO, enquanto nos é dura e lhes rende!