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sábado, 4 de agosto de 2012

“Bundesbankologia”

"Se compreendeu o que eu disse é porque me exprimi mal." O gracejo de Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA, teve piada no seu tempo, em que havia um espetacular crescimento dos mercados financeiros. Mas neste momento de crise da dívida, agradecia-se um pouco mais de clareza por parte dos responsáveis da Zona Euro.
Em 26 de julho, o presidente do Banco Central Europeu assegurava que "o BCE está disposto a fazer o que for necessário para proteger o euro". Em 2 de agosto, após uma reunião do Conselho do BCE, Mario Draghi deu a entender que a sua instituição poderá intervir nos mercados, comprando a dívida espanhola e italiana, mas não imediata nem diretamente.
A sua conferência de imprensa ainda não tinha terminado e já as bolsas europeias caíam drasticamente e as taxas de juro sobre os títulos de Espanha e Itália atingiam níveis recordes. Na semana anterior, passara-se o inverso. Em 3 de agosto, as bolsas regressavam à alta.
Economistas e dirigentes políticos têm o hábito de explicar que a crise não pode ser resolvida rapidamente e que devemos agir e falar com prudência. O menor passo em falso pode custar milhares de milhões de euros a um Estado, se os mercados reagirem mal. E eis que esses mesmos mercados parecem não saber como entender as decisões dos mais altos responsáveis da economia europeia.
A irracionalidade dos mercados é um fenómeno bem conhecido, que aliás se explica muitas vezes racionalmente, por interesses de curto prazo dos investidores. Mas apesar de Mario Draghi implicitamente apelar a que a Espanha e a Itália peçam o apoio do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) antes de contar com a ajuda do BCE, o que Roma e Madrid se recusam a considerar, os chefes de governo dos dois países congratularam-se com as suas declarações.
Vá lá compreender-se isto. A não ser que entendamos que faz tudo parte de uma partida de xadrez de longo prazo, entre Draghi, os dirigentes europeus e o incontornável interveniente que é o Bundesbank, o banco central alemão. Uma partida ininteligível para o comum dos cidadãos europeus.
É importante o que está em jogo, pois trata-se de definir a política económica e monetária da Zona Euro para os próximos anos. E é normal que haja um debate entre responsáveis económicos e políticos a nível europeu. Seguindo o caminho estreito da sua escolha, Mario Draghi parece aproximar-se do seu objetivo: ajudar os países em dificuldade para assegurar o futuro do euro, ao mesmo tempo que acalma os mercados e limita a influência do Bundesbank.
Nos dias que antecederam a reunião do BCE, os jornalistas e bloguistas tentaram interpretar as informações emitidas pelas diversas instituições europeias. Quem diz o quê? O que quer dizer? Porquê agora? Quem manipula quem? O debate e a sua exegese parecem reservados a escassos especialistas. Na época da Guerra Fria, quando se tentava decifrar o que estava a acontecer em Moscovo, chamava-se a isso "kremlinologia". A comparação não é tranquilizadora.

Ecos da blogosfera - 4 ago.

Transformaram-nos a democracia num ritual: O VOTO!

“Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha... Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais”. (Eduardo Galeano, Livro dos Abraços, LPM)
Nei Alberto Pies, professor e ativista dos direitos humanos
O controlo social das políticas públicas e sobre atos políticos e administrativos ainda é um passo a ser dado para o aperfeiçoamento da democracia. Em tempos de avançadas tecnologias, os portais de transparência são uma tímida tentativa de tornar transparente a forma como o dinheiro público é destinado e aplicado. Disponibilizar informações sobre as estruturas públicas não é suficiente para superar a apatia e o descrédito da população na política. Só com instrumentos de participação direta nas decisões sobre as políticas e investimentos apontaremos para uma democracia participativa, superando os problemas e vícios da democracia representativa.
Quem de entre nós, sinceramente, ainda tem pachorra para participar e envolver-se na política atual? Por que a política nos distanciou tanto da vida quotidiana, das necessidades da nossa gente? Por que nas nossas escolas tememos falar de política, mesmo que a educação nunca seja neutra?
Dos servidores públicos, efetivos ou de confiança dos políticos eleitos, a comunidade não espera que só “piquem o ponto”. A comunidade espera que também despertem da apatia, prestando serviços e assistência que promovam a cidadania. Não serve a ninguém tanta deceção e descrença na política se é justamente ela que decide sobre a nossa qualidade de vida e a nossa cidadania.
O fenómeno da apatia política não é recente. No ano de 1917, num pequeno texto, ‘Os indiferentes’, Antonio Gramsci descreve que a indiferença “é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida”. E complementa dizendo que “não podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. O que acontece não acontece tanto porque alguns o queiram, mas porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolarem os nós que, depois, só a espada poderá cortar; deixa promulgar leis que, depois, só a revolta pode anular; deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar”.
Como cidadãos modernos e apáticos, transformamos a democracia em ritual: o voto. A cada 4 ou 5 anos, somos consultados nas urnas sobre o rumo que os nossos governantes dão ao nosso município, ao nosso ao nosso país ou ao mais alto representante do Estado. Dizemos, então, se queremos que os rumos da política mudem ou permaneçam como estão. Mas de qual política? Da política do bem-comum ou a política dos interesses da classe política?
Muitos já se cansaram de participar assim, esporadicamente. Cansaram, também, de assistir a teatros e encenações dos políticos na televisão. Cansaram de ouvir discussões inócuas e oportunistas da situação ou da oposição. E não são oposição nem situação, são cidadãos e cidadãs, desejosos de participação.
Esta tal indiferença é um fardo que não precisamos carregar. A democracia que queremos deve estar alicerçada no controlo social, no debate democrático, no respeito pelos direitos humanos e na liberdade de cada um organizar e reclamar os seus direitos de cidadania.
Será esta democracia moderna demais?

Contramaré… 4 ago.

O Japão executou 2 homens condenados à morte em Tóquio e Osaka por homicídio, cerca de 4 meses depois de ter sido aplicada a mesma pena a outros 3 homens apesar das críticas das organizações humanitárias. Esta foi a 2ª vez este ano que o Japão levou a cabo execuções.
No Japão, o único país industrializado e democrático que ainda aplica a pena de morte, a par dos Estados Unidos, as execuções são realizadas por enforcamento e a sua maioria é levada a cabo de forma secreta, sem aviso prévio dos condenados e sem testemunhas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Primavera quando nasceu foi para todos!

1 em cada 5 jovens europeus não tem emprego, numa proporção que atinge 1 em cada 2 em alguns países. Por menos do que isso, os seus homólogos árabes insurgiram-se contra os seus governantes, considera um cronista polaco. Que irá acontecer se o nosso modelo social lhes retirar toda a esperança?
A Grécia pode abandonar a zona euro em setembro, a Espanha tenciona pedir um plano de resgate à Europa, ao passo que o Banco Central Europeu (BCE) se prepara para comprar novamente obrigações italianas. Os dirigentes saúdam-nos em ilhas paradisíacas onde se encontram a passar férias e asseguram-nos, como sempre, que não vão deixar a zona euro desfazer-se em pedaços. Só Mario Monti mostrou ser honesto. “Vão ser precisos alguns anos até podermos endereçar uma mensagem de esperança aos mais novos.” Lamentou que os jovens de 20 anos, que se defrontam com uma taxa de desemprego de 36%, sejam hoje uma “geração perdida” e considerou que nada mais poderia fazer a não ser “limitar os danos”.
Independentemente do que façam esta semana, mesmo que façam um orçamento comum e tentem relançar a economia com a emissão de milhares de euros, os dirigentes não vão conseguir fazer desaparecer a praga da crise.
Em média, a taxa de desemprego entre os jovens é de 20% na Europa e atinge os 52% em Espanha e na Grécia. Quando há criação de emprego, como no Reino Unido, os contratos são a termo certo. Os empregos precários são o último recurso de uma geração perdida que também é ameaçada pelo desemprego e pela pobreza. No Médio Oriente, uma taxa de desemprego de 26% foi suficiente para desencadear as revoluções árabes. Na Europa, não há ditadores para destituir, mas o que Mario Monti disse é indiretamente o reconhecimento de uma capitulação da democracia face à crise.
O declínio da juventude é amortecido pelo modelo social europeu, em particular pelo elevado nível de reformas dos pais que, assim, podem assumir o pagamento das despesas dos filhos precários. Mas o que irá acontecer quando estes pais morrerem, ou quando os governos grego, espanhol e italiano baixarem o valor das reformas?
Em vez de participarem em manifestações contra o capitalismo nas suas capitais, os jovens deviam ir todos a Bruxelas exprimir o seu envolvimento na Europa. Os jovens italianos e espanhóis deviam exigir dos políticos uma integração económica rápida e os jovens alemães deviam apelar à solidariedade que os pais cruelmente não têm. Deviam fazê-lo antes de passarem a fazer parte da tal geração perdida, não apenas do ponto de vista da prosperidade, mas também do ponto de vista da democracia.
É claro para quem vê com os dois olhos e pensa com a única cabeça que tem, que as mesmas causas que geraram (ou alguém empurrou) as “Primaveras árabes” e que persistem também nas sociedades ocidentais, não tenham produzido até agora, os mesmos efeitos.
Claro que sabemos que o comportamento dos ocidentais é mais conformado e pacifista e que os métodos de contenção de manifestações a ocidente é bem mais sofisticado e eficaz…
Claro que sabemos que as condições de ditaduras políticas são chão que dão melhor frutos do que as ditaduras económico-financeiras, que vão enfraquecendo e travestindo a democracia, deixando sempre a esperança em melhores dias e melhor vida…
Claro que os jovens sacrificados dos países sacrificados e os jovens afortunados dos países com fortuna, por solidariedade, deveriam exigir dos políticos e tecnocratas europeus uma solução económica rápida para uma integração efetiva e democrática.
Claro que se os jovens não o fizerem, em Bruxelas, passarão, inevitavelmente, a fazer parte de uma geração perdida, sem saberem o que é a prosperidade e muito menos o que é a democracia.
Claro que os contestatários das “Primaveras árabes” também nunca saberão o que é a prosperidade, nem a democracia, o que já vão percebendo…
Claro que a Primavera ainda vem longe, depois do inverno do nosso descontentamento…
Claríssimo!

Ecos da blogosfera - 3 ago.

Um poveiro ilustra um outro POVEIRO ilustre

"Eça e Portugal" dá mote a uma Exposição de Cartoons de Ricardo Campus que estará patente na Biblioteca Diana Bar, de 1 a 14 de agosto. A abertura oficial da mostra será no dia 3, sesta feira, às 21h30, no âmbito da Feira do Livro.
Sobre a exposição, o artista revelou: “O estado do País aos olhos de Eça de Queirós e Ricardo Campus. Retrato fiel do percurso e resultado de atitudes, ou falta delas. Exposição de cartoons realizados com base nas citações proferidas por Eça de Queirós, em tempos supostamente diferentes dos de hoje. Citações extravagantes ou até utópicas, mas muito atuais nos dias que correm.”
Ricardo Campus é natural da Póvoa de Varzim. Formado em Desenho Técnico Industrial pela Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, desempenhando até à data funções na área de projeto, formação, tecnologias de informação e comunicação. Autor do livro de poesia “Delações do Ego”. Associado Feco Portugal, associação de cartoonistas portugueses. Autor de comic strips, charges, caricaturas, ilustração e cartoon editorial. Atualmente colabora com várias publicações nacionais e internacionais. Caricaturista em livros de curso, carros alegóricos e caricaturas a partir de foto. Conta também com ilustrações em vários livros de poesia.

UE - Talvez tenha sido um sonho mal sonhado…

Concebida para pôr fim a meio milénio de conflitos, a união política europeia enfrenta um futuro incerto. Isto deve-se ao facto de os europeus terem deixado de partilhar uma visão e de os Estados Unidos não aceitarem a existência do euro, afirma o filósofo português Eduardo Lourenço.
Há meio século que os vencidos da II Guerra Mundial tentam levar a cabo uma empresa política inédita que é fazer da Europa uma entidade económica, política e cultural análoga à "nação" que nunca foi até aos dias de hoje. Foi em desespero de causa, e após dois episódios suicidários do seu destino durante o século XX, que três dos seus actores e responsáveis sonharam com uma Europa nova.
Esse "suicídio" europeu já era como uma síntese de meio milénio de disputa hegemónica sem quartel entre a Espanha, a França, a Inglaterra, a Holanda, a que se associarão, tardiamente, a Áustria, a Prússia e a Rússia. Ocasionalmente, a Suécia, então um país marginal, e Portugal participaram como aliados de um desses actores hegemónicos. Não é caluniar o nosso passado europeu assimilando-o a uma intermitente "guerra civil", se pensarmos que todas essas nações partilham uma certa cultura comum, herdada da Antiguidade e de referência cristã (católica, protestante, ortodoxa), desde a queda de Constantinopla, confrontada com outro tipo de cultura e referência religiosa.
Não espanta que com uma tão complexa herança, a chamada Europa ocidental, empenhando-se, pela primeira vez a sério e democraticamente, numa construção europeia de âmbito internacional, tenha encontrado tantas dificuldades em levar avante a sua utopia europeizante. Aliás, e mau grado a urgência do projecto europeu, as nações nele envolvidas só o puderam conceber e levar a cabo com algum sucesso no contexto de uma guerra fria cujos actores, Estados Unidos e União Soviética, pretendiam conquistar a hegemonia mundial e de que a Europa é (ainda nessa época) o espaço privilegiado de dupla e oposta cobiça.
Antes do fim dessa guerra fria, a Europa é, na verdade, uma Europa de dupla face. A queda do Muro de Berlim altera radicalmente esta situação de uma Europa duplamente partilhada entre os Estados Unidos e a Rússia. À parte como potência organicamente ligada aos Estados Unidos (e quase vice-versa) fica a Inglaterra. Ambos geram e continuam a gerir, mais do que nunca, e mau grado a aparência hegemónica da Alemanha (de novo reunida), a nova Europa em construção, convicta de ter dado um passo de gigante nessa construção, outorgando-se (sempre sem a Inglaterra) uma moeda europeia de importância internacional.
Pode, hoje sobretudo, pensar-se que a criação do euro foi a gota de ouro que fez estremecer o santo dos santos, a moeda fetiche do dólar, a única moeda imperial do espaço da chamada globalização. Quer dizer, da americanização política, económica, financeira, tecnológica e, mais do que se pensa, cultural do mundo. Talvez não seja apenas duvidosa ciência-ficção imaginar que a instituição do euro, a sua afirmação, o seu sucesso (excessivo?) nunca mais deixaram de preocupar o sistema monetário mundial, o que tem no dólar e na sua absoluta supremacia a sua arma absoluta, aquela que permite comprar a não menos incontornável arma do petróleo e controlar o mercado mundial.
Também não é necessário recorrer às muitas versões de um complot ideológico-financeiro de complexas ramificações para explicar a quase universal crise instalada no coração mesmo do capitalismo da era informática para ter por mistério o desencadear de uma ofensiva para desestabilizar o euro e através dele todo o projecto de autonomização política da nova Europa de maneira a assegurar a sua domesticação histórica definitiva. O que a Nato é no campo estratégico tradicional, é, na ordem económica e financeira, a fragilização do euro, que simboliza e encarna a Europa pós-queda do muro de Berlim. E se possível a sua desaparição. Mas quem na Europa quer a Europa?
Não precisamos que ninguém nos salve

Contramaré… 3 ago.

A tradicional festa do Pontal, que marca a "rentrée" do PSD, vai deixar a rua para se realizar este ano no salão de um parque aquático. Uma mudança que é vista como uma tentativa de proteger o primeiro-ministro de eventuais protestos. A organização contraria esta tese e diz que a festa laranja se muda por razões de ordem "financeira e logística".

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Assim não há “manta rota” que nos abrigue…

Perto de 650 milhões de euros do Estado foram entregues a fundações privadas. Grupo de trabalho do governo diz que é possível poupar 200 milhões de euros por ano.
Algumas administrações de Fundações recebem "remunerações chocantes", segundo o Governo, que apresentou um relatório de avaliação. O documento conclui também que as despesas com pessoal representam mais de metade dos gastos da maioria (53%) das 401 Fundações.
1. Fundações "canonicamente eretas"
Das 558 fundações que responderam ao censo, perto de uma centena foram constituídas ao abrigo da Concordata assinada entre o Estado e a Santa Sé. Chamam-se, por isso, fundações "canonicamente eretas". As Finanças não avaliaram essas entidades, mas o Governo não garante que não serão sujeitas aos cortes e às novas regras de transparência. O ministério dos Negócios Estrangeiros está encarregue de conduzir negociações com a Santa Sé.
2. Três fundações universitárias
Existem 3 fundações universitárias - ISCTE, Universidade do Porto e Universidade de Aveiro - que, alegadamente, foram criadas para contornar os apertos orçamentais, impostos pelas Finanças, dizem as fontes do atual Governo. Em todo o caso, o Eurostat atualmente já obriga a que essas verbas sejam incluídas no perímetro da consolidação orçamental (a contar para o défice), pelo que as instituições deverão regressar ao seu anterior estatuto universitário.
3. Irregulares devem devolver apoio
No âmbito da análise levada a cabo, as Finanças identificaram 13 fundações que foram constituídas de forma irregular - à margem da lei. Fonte do Governo admitiu que nestes casos pontuais o dinheiro pago em apoios financeiros públicos e a despesa fiscal com essas entidades possa ser recuperada. A decisão passa pelo Tribunal de Contas que deverá analisar o processo e pode obrigar os responsáveis pelas fundações a devolver as verbas.
4. Um presidente que ganhava 20.000 euros
O presidente do conselho de Administração de uma fundação com ação social que ganha 20.000 euros por mês; uma fundação de uma junta de freguesia; uma fundação partidária. Estes são alguns casos mais insólitos que foram detetados durante a avaliação das Finanças e destacados pelos responsáveis do Governo como exemplos da realidade que se quer mudar.
5. Sem respostas
O Governo estima que perto de 200 fundações não tenham participado no processo de recenseamento. Algumas destas não deverão ter qualquer atividade. Concluída a 1º fase da análise económico-financeira, os técnicos das Finanças receberam ordem para identificarem, através do cruzamento de dados, cada uma destas fundações. A lei prevê que o Estado possa decidir pela sua extinção, corte de subsídios e retirada do estatuto de utilidade pública. 
O relatório publicado inclui fichas individuais com a descrição de cada fundação.
O despacho que exclui 7 administradores executivos da Caixa Geral de Depósitos (CGD) das limitações remuneratórias aplicáveis ao sector público foi hoje publicado em "Diário da República", permitindo-lhes ganhar mais do que o primeiro-ministro: Faria de Oliveira, José de Matos, António Nogueira Leite, Norberto Rosa, Rodolfo Lavrador, João Nuno Palma e Cabral dos Santos.
Na semana passada foi publicado em "Diário da República" o pedido de 2 gestores da RTP para poderem beneficiar do regime de exceção: Guilherme Costa e José Araújo e Silva.
13.309 os professores do quadro foram este ano colocados no concurso de mobilidade interna, segundo dados provisórios avançados pelo Ministério da Educação e Ciência. Destes, a esmagadora maioria ficou com o chamado “horário zero”, ou seja, sem turmas. Em 2011 foram cerca de 4.000 os professores nesta situação.
Para Fundações Privadas? Só pode ser engano!
E o Erário Público vai continuar a distribuir 450 milhões de euros por ano para as mesmas Fundações Privadas? Só pode ser engano!
Mesmo sabendo que 53% dos gastos são para pessoal e que desses, os administradores (mesmo os filantropos das IPSS?) auferem remunerações chocantes? Só pode ser engano!
E só vai mexer em 130? Só pode ser engano!
Sobre as curiosidades(?)… Só pode ser engano!
Entretanto, e por falar em dinheiro, vai-se institucionalizando a falta de EQUIDADE, em D.R. para que constem as castas, com nomes e tudo! Já havia “Barões” nos partidos, agora temos os “Excluídos” da manada… Sorte é que não podem fugir aos impostos ou fugir com eles... E não foi por engano!
Só não dá para entender por que o governo permite que administradores da res publica ganhem mais do que o primeiro-ministro, a não ser que produzam mais do que ele, o que não é nada abonatório… E não foi por engano!
Do outro lado da barricada (que as há em tempo de guerra), lá estão uns tipos licenciados, mestres, doutorados, na sua grande parte “mileuristas” (que ensinam e educam os futuros gestores de Fundações e administradores Públicos) que sendo dispensados de trabalhar (cada ano mais) contribuem (in)diretamente para os ORDENADOS CHOCANTES, de GESTORES e ADMINISTRADORES PÚBLICOS… E não foi por engano, mas foram enganados!
Falta ainda saber o número de “professores” contratados que cessarão contrato, para que também eles, dispensados do trabalho e expulsos da casta dos “mileuristas” possam também contribuir (in)diretamente para os ORDENADOS CHOCANTES, de GESTORES e ADMINISTRADORES PÚBLICOS… E não foi por engano, mas foram enganados!
Por engano, sem querer, ou de propósito, lá vão surgindo estas aberrações sociais, com o pessoal de férias (quem recebeu subsídio) porque é a gosto!
E havia tanto e tantos onde ir buscar os 2.000 milhões de euros confiscados aos FP e aposentados!
Assim não há “manta rota” que nos abrigue…
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Ecos da blogosfera - 2 ago.

Como dizia o “outro”: Um NÃO MITO!

EUROMITOS (9/10)
No entender dos eurocéticos, a integração europeia destabiliza as culturas e identidades nacionais. Mas haverá uma "identidade europeia" comum? Neste novo artigo da série sobre os euromitos, a revista "De Groene Amsterdammer" tentou sondar a opinião dos europeus.
Quanto mais a integração europeia aumenta, mais sofrem as culturas e identidades nacionais. De forma resumida, é este o receio dos eurocéticos. Mas é esta também, implicitamente, a esperança dos federalistas: quanto mais forte for a identidade europeia dos cidadãos, melhor.
No entanto, a maior cooperação europeia não significa necessariamente perda da identidade nacional. Mas a verdade é que as sondagens têm vindo a provar que, em todos os casos, os cidadãos se identificam em primeiro lugar com o seu país e, em muito menor grau, com a Europa.
Claro que isto varia, consoante o país e a pergunta formulada, mas o sentimento de ligação é sempre claro: primeiro o país, depois a Europa. Segundo o Eurobarómero de 2010, "a maior parte das pessoas inquiridas sente maior ligação ao seu país. (… É isso que se verifica em todos os Estados-Membros da UE."
Na verdade, ao longo da última década, provou-se que estava errada a ideia segundo a qual a política (mais participação democrática, um Parlamento Europeu mais forte), a educação (programas de intercâmbio, aulas de História Europeia nas escolas) e a coesão social (reforço do sentimento de coesão entre países europeus) poderiam contribuir para a identidade europeia. Por mais que alguns funcionários da UE gostassem que as coisas fossem diferentes, a tendência é inversa.
Não há “fusão de identidades”
O Eurobarómetro afirma que "os fatores determinantes da identidade nacional parecem ter-se alterado desde 2009. A importância de conceitos subjetivos (sentimento, partilha, fé) está a diminuir, ao mesmo tempo que aumenta o peso dos conceitos mais concretos e objetivos (local de nascimento dos inquiridos e dos pais destes, locais onde foram educados, competências linguísticas e direitos civis)".
Dois comentários. Em primeiro lugar, uma coisa não exclui outra. Uma identidade nacional forte pode coincidir com a identidade europeia. É este sem dúvida o caso de muitos países europeus de leste. A maioria desses países sente-se simultaneamente europeia. E o mesmo se aplica à Itália e à Bélgica.
Em segundo lugar, devido à crise, o sentimento de união poderá ter sido reforçado – ainda que se trate mais de um sentimento de destino comum do que de identidade. Mas a "fusão de identidades" não existe.

O futuro dos especulados na mão dos especuladores…

A reunião do Banco Central Europeu, a 2 de agosto, está anunciada como crucial para a Espanha e a Itália, que esperam por ajuda. Será, sobretudo, um momento para sabermos quem decide a política alemã face à crise: a chanceler Merkel ou o Presidente do Bundesbank.
Os analistas que mais criticam o comportamento da Alemanha na Europa explicam que no início da crise, esta mostrou-se sempre inflexível, mostrava-se disposta a ceder e a mudar de opinião a meio e no final acabava por manter-se firme, mantendo a sua posição inicial e pondo de parte a hipótese de a alterar no momento decisivo.
O que acontecerá nesta fase de dúvida existencial do euro? Durante alguns dias pareceu que a chanceler Angela Merkel, e o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, iriam aceitar a proposta dos países do sul como a Espanha e Itália, que consistia num resgate da sua dívida pública pelo Banco Central Europeu (BCE) juntamente com os Fundos europeus, apoiada pela França, parceiro tradicional de Berlim, mas com receio que esta os descartasse.
Maravilhoso discurso
Nos últimos dias, a opinião pública tende a realçar o facto de a Alemanha ter mudado de posição, ainda que os dois representantes do país não tenham feito qualquer declaração a favor da compra da dívida, nem de qualquer outra medida adicional. Por outro lado, na Alemanha emergiu claramente uma recusa por parte da alta finança, dirigida pelo Bundesbank, o banco central alemão. Por detrás desta instituição emblemática estão economistas, políticos e empresários influentes do país. Os argumentos do debate já são conhecidos, não vale a pena repeti-los. O que interessa é saber se a obstinação do presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, põe em causa uma verdadeira divergência com o Governo de Merkel ou se se trata de uma repartição de papéis, na medida em que a chanceler já disse não de todas das formas possíveis.
É óbvio que Merkel não pode voltar a pedir ao Bundestag mais recursos para outro resgate, algo que tanto a Espanha como a Itália esperavam num futuro próximo e os mercados também, até que Mario Draghi, chefe do BCE, pronunciou o seu maravilhoso discurso na semana passada.
Cenário de pesadelo
Sem margem de manobra política para preparar um resgate semelhante ao grego, mas com a pressão dos mercados, a solução mais fácil para ela seria deixar a questão nas mãos do BCE, que em termos nacionais significa o Bundesbank. Este último, ao analisar a situação, isto é, correndo o risco de assumir as consequências caso tudo corra mal, fechou-se em copas. Seria esta a lógica do conflito e não da repartição de papéis. Neste contexto, o conselho do BCE de quinta-feira verá surgir uma aliança entre os bancos centrais do sul e a maioria dos governos da zona euro, incluindo o alemão, contra o Bundesbank e alguns bancos centrais aliados. Um feito histórico.
Na segunda hipótese, Merkel deixaria o Bundesbank lidar com o bloqueio, Draghi teria falado de mais e quinta-feira assistiríamos a um verdadeiro fiasco, com um BCE sem margem de manobra e sem poderes na zona euro, ainda que ganhasse a votação formal. O pior dos cenários.
Opinião - Salvar o euro sem assustar os alemães
“Toda a gente tem medo que a solução da crise tenha de enfrentar as ideias ortodoxas liberais dos alemães – sobretudo as que impedem um banco alemão de comprar obrigações do estado”, constata o Frankfurter Rundschau no editorial que defende a intervenção do Banco Central Europeu (BCE) para salvar o euro. O diário de centro-esquerda refuta os argumentos contra uma decisão destas, a começar pela proibição de o BCE financiar indiretamente os estados.
A função do BCE é garantir a estabilidade dos preços. Mas, mais do que a inflação […], o problema são as tendências deflacionistas que, neste momento fazem baixar os preços. A compra de obrigações para estabilizar a economia está inteiramente abrangida pela função do BCE.
O diário considera ainda que é preciso questionar novamente a capacidade de os mercados determinarem as taxas de juro para os países se poderem endividar, visto que os investidores se enganaram redondamente nestes últimos anos ao não conseguirem identificar os primeiros sinais de crise.
Não seria menos pernicioso deixar os banqueiros centrais determinar as taxas de juro, em vez de a prosperidade e o emprego ficarem dependentes do estado de espírito dos especuladores?
No fundo, se agisse convenientemente, o BCE não correria grande risco de acumular a dívida dos estados, afirma o Rundschau:
O BCE só teria de definir de maneira credível uma taxa para comprar sem limite todas as obrigações de longo prazo, digamos 5%. [...] Uma aposta em como não teria de desembolsar um cêntimo?
O único senão seria a natureza não democrática da aquisição de dívida pelo BCE. O diário propõe que se deixe atuar o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MES) em vez do BCE, mas com o dinheiro deste último, visto depender da autoridade dos ministros das Finanças...

Contramaré… 2 ago.

Os administradores executivos das sociedades cotadas a tempo inteiro acumulavam, em média, lugares de administração em 12 firmas de dentro e fora do grupo da sociedade onde exerciam funções, relativamente a 2010, divulga a CMVM. O regulador identificou também que 17 administradores acumulavam lugares de administração em pelo menos 30 empresas, tendo registado um caso de um gestor, que não identifica, que tinha lugar na administração de 73 empresas.
Entre os 426 administradores, pouco menos de 1 em cada 4 desempenhava funções de administração em apenas uma empresa. Constatou-se, porém, que cerca de 20 administradores acumulavam funções em 30 ou mais empresas distintas, ocupando, em conjunto, mais de 1.000 lugares de administração, entre eles, os das sociedades cotadas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

“Lixaram-nos com as eleições!”

O número de pessoas singulares decretadas insolventes mais do que triplicou nos últimos 6 anos e no 1º trimestre de 2012 já representava mais de 57,2% do total das insolvências em Portugal.
No relatório divulgado pela Direcção-Geral das Políticas de Justiça (DGPJ), pode ler-se que “no 1º trimestre de 2012, e face ao 1º trimestre de 2011”, se registou um aumento de cerca de “7,6% na proporção de pessoas singulares declaradas insolventes”.
Os dados estatísticos sobre a evolução trimestral indicam que, na comparação homóloga do 1º trimestre de 2007 (17,0%), com o 1º trimestre de 2012 (57,2%), o peso das pessoas singulares no total dos processos mais do que triplicou.
Tendo em conta que no final do 1º trimestre foram concluídos 3.900 processos de insolvência, destes, mais de 2.230 diziam respeito a pessoas singulares.
Do programa imposto pela troika cujo executante tem obtido “boas notas” nas avaliações contínuas feitas pelos seus autores (pudera!) vamos ficando cada vez mais perplexos, quer com as “notas”, quer com os resultados avaliados, sobretudo quando conjugamos os dois e concluímos que “quanto pior, melhor”.
Por um lado ficamos com a certeza de que qualquer avaliação tem destas coisas, incompreensão e injustiça, por outro lado que a objetividade é coisa que qualquer avaliação não consegue, por ser feita por sujeitos…
Todos nós sabíamos que as empresas poderiam ter como desfecho a falência, o que lhes dava o cunho e o argumento para defenderem a sua existência e legitimava a sua importância numa sociedade estruturalmente “empresarializada”, exatamente pelo RISCO que diziam correr.
E dentro da falácia: “Menos Estado, melhor Estado”, que suportaram e continuam em maior grau as práticas neoliberais que nos impõem os partidos socialistas/sociais-democratas, depois de eleitos, todos os pregadores deste “paradigma”, esquecem-se de apontar este risco de insolvência, que levam à insolvência dos seus países.
Muitos de nós nem sabíamos que as famílias também podiam falir, mas a informação económica que nos preenche os dias de hoje, vai-nos formando politicamente. E por isso podemos concluir, matematicamente, que esta mazela crescente da insolvência das famílias, tem a sua origem nas falências das empresas, pelo simples facto de cada empresa empregar e mandar para o desemprego dezenas ou centenas de pessoas de uma só vez.
Assim sendo, defender a estrutura de um Estado no seu tecido empresarial, é o mesmo que dizer que quem corre o RISCO de falência é o próprio Estado, que sendo nós, somos nós os primeiros a falir… Logo, “Menos Estado, maiores Riscos, Pior Estado” e o resto é conversa, como mostram os factos!
Pelos vistos, há 25 particulares a falir por dia, que não são seguramente os pobres (eternamente falidos), mas gente da classe média baixa, média e alta, o que significa que o plano da troika ou foi mal feito ou bem feito, dependendo dos seus objetivos, que começando por ser ocultos, se escancaram indecentemente, porque ao classificarem a sua aplicação como boa, significa que esses objetivos (maus e conseguidos) são mesmo criar pobreza, generalizá-la e transferir a (pouca) riqueza criada para os “bispos” da seita do “Menos Estado…”
1.670 empresas falidas e 2.230 famílias insolventes, em apenas 3 meses É OBRA e não é fácil, num país pequeno como o nosso e talvez por isso, se justifique o epíteto de “bom aluno” e a classificação de “BOM” para os geradores deste “…melhor Estado”!
E porque o próximo contemplado pode ser VOCÊ, NÃO VÁ NA CANTIGA! Depois não adianta chorar e só poderá dizer: “Lixaram-me com as eleições!”

Ecos da blogosfera - 1 ago.

Bananas somos (também) todos nós! Direitinhos...

EUROMITOS (8/10)
A UE é conhecida por regular as mais pequenas coisas, desde a curvatura de um pepino ao tamanho dos ovos de chocolate. Mas será isto realmente inútil e impertinente? Na continuação da série sobre os euromitos, "De Groene Amsterdammer" analisa a questão.
Regulamentos idiotas tornam as coisas desnecessariamente complicadas para os negócios. Existem tantas queixas sobre esta questão, que a União Europeia criou um sítio na Internet para refutar cerca de 70 "euromitos", normalmente de jornais britânicos. São vários os exemplos. Que comprimento deve ter a escada de um pintor? Que tamanho deve ter um ovo de chocolate Kinder Surpresa? Que curvatura deve ter uma banana? Terá realmente Bruxelas de regular tudo isto?
Se pretende um mercado interno livre: sim. Ramses Wessel, que exerce advocacia em Twente, qualifica este fenómeno como irónico, mas “quanto mais livre se pretende que seja o mercado, mais regras são necessárias”. Sim, é um paradoxo, do ponto de vista de Hendrik Vos, cientista político em Ghent, mas “existe uma razão pela qual a UE regula o que à primeira vista parece ser um pormenor”.
Tomemos por exemplo o caso do ovo “Kinder Surpresa”, que tem de cumprir requisitos muito específicos: o tamanho do ovo interno é fixo e as duas metades têm de estar conectadas por uma pequena dobradiça. Porquê? Vos: “Há poucos anos, um bebé de um dos Estados-membros engasgou-se com um brinquedo de um Kinder Surpresa. Alguns países pediram que estes fossem proibidos, outros não. É dessa forma que surge um problema num mercado europeu”.
“Os críticos vão ao pormenor”
Todos os produtos têm de cumprir os mesmos requisitos, caso contrário a concorrência é desleal. Na agricultura, nomeadamente, as condições são rigorosas. Cada produto tem de ter uma descrição de como este deve ser cultivado; desde a forma como o estrume é espalhado ao que constitui um bom pepino (não pode ser demasiado curvado).
Pim van Ballekom, antigo chefe do gabinete de Frits Bolkestein, que lidou com este tipo de regras durante anos, admite que à primeira vista estes critérios parecem ridículos, mas são realmente necessários para combater o protecionismo dos Estados-membros. Por exemplo, os requisitos de Bruxelas relativamente ao mecanismo de fecho de uma caldeira. Van Ballekom revela “No início pensei: que absurdo. Mas sem estas regras permitimos que os países restrinjam o seu mercado. Assim sendo, a Itália exige que apenas possam ser vendidas caldeiras com mecanismos de fecho fabricados no país”. Os regulamentos mantêm o mercado aberto e, segundo Nico Groenendijk, estes acabam por ser vantajosos para o consumidor.
O professor de administração pública, Bernard Steunenberg, afirma: “Claro que por vezes podem surgir diretivas ou cláusulas estranhas, mas são exceções. Os críticos analisam todos os pormenores”. O facto de existirem muitos regulamentos não é, de todo, um mito – por exemplo, o número de decisões europeias, nos últimos 30 anos, aumentou de 1.300 para 17.000, e o número de diretivas ativas triplicou. E dizer que a maioria destas decisões é inútil é uma fábula.

Resumindo: pode-se reduzir a ração aos PIIGS…

Apesar dos alertas de que o eleitorado europeu, frustrado pelo declínio económico e a austeridade, irá cair nos braços de eurofóbicos, extremistas anti-imigrantes, este continua a apoiar uma política moderada.
A economia europeia e a sua ordem geopolítica estão em crise. O desemprego, a austeridade e a tensão entre estados levou muitos observadores a alegarem que as condições políticas no Continente fazem relembrar os anos 30. Uma alegação errada.
Até aqui, o centro político predominou em quase todo o lado. Não é o aumento do extremismo que é notável, mas o facto de ser tão raro, dada a dimensão e a duração da crise.
Nunca o receio do aumento do extremismo foi tão grande como em França. Em abril, durante a primeira volta das eleições presidenciais os partidos radicais obtiveram muitos votos. Mas tal como nunca houve a possibilidade de alguém, além dos dois candidatos principais, se tornar Presidente, a votação dos extremistas nessas eleições não teve qualquer consequência.
Nas eleições parlamentares de junho a situação foi diferente. Se os extremistas tivessem votado da mesma forma que na primeira volta das eleições presidenciais, teriam invadido a Assembleia Nacional de Paris, num número sem precedente. Mas os eleitores não o fizeram quando chegou a hora decisiva. A Frente Nacional reacionária de Marine Le Pen ganhou apenas dois lugares dos 577 lugares da câmara baixa. A política de centro-esquerda e os blocos de centro-direita obtiveram, juntos, 560 lugares.
A Sul também reina a moderação
As condições económicas são muito piores no sul dos Pirenéus do que em França. Em Espanha, 1 em cada 4 pessoas está desempregada e são anunciadas novas medidas de austeridade quase todos os meses. Ainda que as últimas eleições legislativas em novembro tenham gerado uma mudança direta do centro-direita para o centro-esquerda. À exceção do aumento do apoio (de 4 a 7%) ao partido Esquerda Unida, de linha dura, os extremistas não obtiveram qualquer aumento dos votos nas eleições de 2007.
O segundo Estado Ibérico, Portugal, teve o crescimento económico mais lento da Europa Ocidental durante mais de uma década. As últimas eleições foram realizadas há 15 meses, altura em que o país foi forçado a pedir ajuda à UE-FMI. O partido centro-esquerda no poder perdeu 9 pontos percentuais em comparação às eleições anteriores. O partido centro-direita, que venceu as eleições, obteve mais 10 pontos percentuais. Os portugueses não demonstraram qualquer desejo de voltar ao velho regime autoritário, nem se verificou qualquer aumento no apoio aos extremistas.
A Itália, ao contrário dos outros países mediterrâneos, evitou até à data pedir apoio externo. Mas, tal como Portugal, tem vindo, desde de 2008, a sofrer um declínio económico progressivo. Hoje, esta economia fraca projetou os países para um estado de recessão. Porém, o principal efeito político desta crise económica foi a emergência de movimentos antipolíticos. O Movimento 5 Estrelas do ciberativista Beppe Grillo surgiu do nada nas eleições autárquicas de maio, e é impossível posicioná-lo no espetro político. Mas apesar de Grillo defender opções económicas extremas – a saída do euro e o incumprimento das dívidas do Estado – nada indica que este, assim como o seu movimento, se opõe aos princípios básicos da democracia.
Até na Grécia, onde se verificou um maior fracasso económico e político, tem havido menos violência do que o se antecipava, tendo em conta a dimensão da crise atual. Embora o país tenha sofrido muitos atos de terrorismo no passado, nenhum político foi assassinado. Além disso, apesar de ter havido protestos nas ruas, não foram mais violentos do que os tumultos que ocorreram no ano que antecedeu esta crise.
Mais piratas do que fascistas
Na Alemanha, onde os efeitos da crise passaram quase despercebidos e a taxa de desemprego atingiu o valor mais baixo das últimas décadas, existe um profundo sentimento de descontentamento nacional relativamente aos custos de resgate das economias da zona euro. Apesar disto, nenhum dos 3 partidos da oposição no Parlamento Federal Alemão contestou os resgates financeiros do Governo, nem assumiu uma posição que poderia ser favorável do ponto de vista eleitoral.
A oposição extraparlamentar, constituída por empresários e economistas que pretendem suprimir os resgates, está a crescer. Mas não há sinais de novos movimentos contra o euro ou os resgates financeiros para combater as próximas eleições federais do próximo ano. Tal como na Itália, a maior mudança política na Alemanha foi de ordem antipolítica – foi criado o Partido Pirata.
A Finlândia é um dos poucos exemplos onde o centro perdeu muito terreno. O partido isolacionista, Verdadeiros Finlandeses, quase quintuplicou o seu apoio nas eleições legislativas realizadas há 15 meses. Mas ainda que os Verdadeiros Finlandeses tenham uma mentalidade estreita com tendências xenófobas, o seu isolacionismo tem pouco de antidemocrático.
Como nos anos 90, não os 30
Fora da zona euro, o cenário é quase o mesmo, à exceção da Hungria, onde as regras democráticas estão a ser colocadas em causa e, potencialmente, da Roménia mais recentemente. Mas até mesmo estes países têm um longo caminho pela frente até que se assemelhem à autocracia dos anos 30.
Para compreender o que está acontecer agora, não são os anos 30 que nos fornecem um histórico paralelo mais relevante, mas sim os anos 90. No início dessa década pós-comunista, as democracias na Europa central e oriental sofreram choques enormes à medida que se mudaram de economias geridas pelo estado para economias com base no mercado. Muitas indústrias que tinham sido apoiadas durante a experiência comunista colapsaram. A qualidade de vida colapsou e, como consequência, o desemprego disparou.
A reação política mais importante não foi uma onda estilo anos 30 em apoio aos extremistas, mas uma mudança poderosa, uma oscilação quase universal antipoder. Em dezenas de eleições nos países em transição ao longo dos anos 90, quase nenhum governo foi reeleito.
É isto que está a acontecer na Europa neste momento. Os eleitores estão a rejeitar os atuais governantes, não a democracia ou os seus valores. Seria necessária uma depressão muito mais profunda e prolongada para que a mudança fosse para pior; o que infelizmente, é possível.
Contraponto - Budapeste e Bucareste, os contraexemplos
“Hungria, Roménia: e se a verdadeira crise da Europa estiver a Leste?”, pergunta o sítio de notícias Mediapart, no dia seguinte ao referendo sobre a destituição do Presidente romeno Traian Băsescu.
O sítio de informação francês escreve que:
o endurecimento do regime romeno parece ilustrar como também, de uma outra maneira, a Hungria de Viktor Orbán, o colapso democrático dos países da União mais duramente atingidos pela crise.
É que, apesar de as semelhanças entre as experiências húngara e romena serem limitadas, o Mediapart explica, relatando as observações de um geógrafo, que nesses dois países, “a entrada na União não foi acompanhada do corolário esperado: mais bem-estar”. Apesar de “funcionarem em registos muito diferentes”, o primeiro-ministro romeno Victor Ponta e o seu homólogo húngaro “serão, de facto, o produto desse desencanto”.
 “Alguns observadores veem nas atuais crises da Roménia e da Hungria a prova de que o alargamento da União aos países da Europa de Leste foi feito depressa de mais”, escreve o Mediapart, que acrescenta, no entanto, que
se hoje existe uma responsabilidade da Europa, é sobretudo na sua quase impotência em contrariar estes desvios autoritários, que pode apenas condenar nos seus discursos.