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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Também Ele se insurgiu contra a crise, mas em vão…

"Bento XVI servirá como orientação para economistas durante muito tempo”, segundo o economista João César Neves. A 2 meses de festejar 8 anos de pontificado, Bento XVI abandona o cargo, que ficou marcado por uma postura mais dogmática da Igreja. O mesmo não se pode dizer quanto à economia.
O Papa Bento XVI é autor de um dos mais notáveis e influentes textos de doutrina económica da Igreja, a encíclica Caritas in Veritate de 2009. “Trata-se do primeiro texto do Magistério sobre questões sociais em quase 20 anos (desde a encíclica Centesimus Annus de 1991) e constitui uma reflexão muito profunda sobre as questões económicas em geral, e a crise financeira em particular”, explica o economista João César Neves. Nesse texto, o Papa delineia toda a abordagem cristã à economia a partir de dois conceitos básicos, caridade e verdade.
De acordo com a encíclica: “Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e sociais”.
“Desta forma se vê como o Papa, sem nunca perder de vista a grandeza da mensagem cristã do amor e da entrega ao próximo, mantém um forte realismo das questões económicas. As suas propostas são radicais, mas sempre aplicadas e concretas”, concretiza o economista.
De acordo com pensamento de Bento XVI, a gratuidade é um elemento central de toda a vida económica: ”É preciso que, no mercado, se abram espaços para actividades económicas realizadas por sujeitos que livremente escolhem configurar o próprio agir segundo princípios diversos do puro lucro, sem por isso renunciar a produzir valor económico. As numerosas expressões de economia que tiveram origem em iniciativas religiosas e laicas demonstram que isto é concretamente possível”.
E apesar de este Papa ser autor de um dos mais notáveis e influentes textos de doutrina económica da Igreja, deixa-nos a sensação de ter andado a “pregar aos peixes”, já que nem economistas católicos (será que os há?), nem partidos cristãos ou inspirados na doutrina social da Igreja (que estão no poder) lhe deram a devida atenção, defendendo uns e praticando outros, exatamente o contrário, trocando as pessoas por números e criando o inferno na terra, para os mais indefesos e gerando oportunidades de os mais “afortunados” gozarem o céu em vida…
E basta analisar a realidade, ouvir as vozes do sistema e comparar com os tópicos do artigo abaixo e com as 10 ideias fundamentais da Encíclica Caritas in Veritate
Ironias de quem é irónico…
 Encíclica Caritas in Veritate em 10 ideias fundamentais

Bento XVI tem falado muitas vezes sobre sua preocupação com a economia mundial. Mais notadamente, na sua Encíclica "Caritas in Veritate", apresentou os conceitos que considerava essencial para superar a crise económica.
Princípio da gratuidade
O primeiro é o ‘Princípios da gratuidade’. Isso significa que as relações entre as pessoas não devem ser vistas em termos de benefícios. Ou seja, que é bom que exista capacidade de dar gratuitamente para ajudar os outros. "A economia precisa da ética para o seu correto funcionamento; precisa de recuperar o importante contributo do princípio de gratuidade e da "lógica da doação" na economia de mercado, onde a regra não pode ser unicamente o lucro.” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
Lógica do dom
A segunda é a "Lógica do dom". Bento XVI apela à generosidade, pedindo para olhar para além das vantagens pessoais, porque isso só leva ao enfraquecimento da sociedade. “Mas isto só é possível graças ao compromisso de todos, economistas e políticos, produtores e consumidores e pressupõe uma formação das consciências que dê força aos critérios morais na elaboração dos projetos políticos e económicos.” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
Princípio de subsidiariedade
Em seguida é a ideia de "subsidiariedade", que diz que todos somos responsáveis no desenvolvimento humano. Não é bom impedir a iniciativa privada, mas também lembrando que os governos são responsáveis nas questões sociais. Diz também que cada indivíduo deve assumir a sua parte. “É necessário, repete-se cada vez mais, um estilo de vida diferente da parte de toda a humanidade, no qual os deveres de cada um para com o ambiente se unam com os deveres para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros.” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
Princípio da solidariedade
Depois, há o “Princípio da solidariedade”. As pessoas devem olhar-se umas às outras de forma solidária, a fim de superar a indiferença, a inveja, a ganância e o ódio. “A humanidade é uma só família e o diálogo fecundo entre fé e razão não pode deixar de a enriquecer, tornando mais eficaz a obra da caridade no social, e constituindo o quadro apropriado para incentivar a colaboração entre crentes e não-crentes, na compartilhada perspetiva de trabalhar pela justiça e pela paz no mundo.” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
Autoridade política mundial
Em seguida é uma "Autoridade político global", que visa evitar o caos e a anarquia. Para a sociedade funcionar, é necessário respeitar a lei e uma autoridade que a aplique para que todos a possam assumir e respeitar. Essa lei deve ser clara e respeitosa com todos os povos e crenças. “Face às problemáticas tão vastas e profundas do mundo de hoje, a necessidade de uma Autoridade política mundial regulamentada pelo direito, que seja conforme com os mencionados princípios de subsidiariedade e solidariedade e firmemente orientada para a realização do bem comum, no respeito das grandes tradições morais e religiosas da humanidade.” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
A pessoa no centro
Qual é a solução para a crise? Onde estão as medidas concretas? O Papa não procura salvar o sistema, está interessado nas pessoas. “Certamente a Encíclica não pretende oferecer soluções técnicas às vastas problemáticas sociais do mundo de hoje — não é esta a competência do Magistério da Igreja (cf. n. 9). Mas ela recorda os grandes princípios que se revelam indispensáveis para construir o desenvolvimento humano dos próximos anos. Entre eles, em primeiro lugar, a atenção à vida do homem, considerada como centro de todo o verdadeiro progresso” (Bento XVI, Audiência Geral, 08.07.2009)
Estas 6 ideias têm como objetivo enfrentar a crise e ajudar a construir um mundo mais justo e humano.

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