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sábado, 19 de janeiro de 2013

O dilema de Guerra ou Paz: “Create wealth, not war!”

O Governo francês diz querer evitar que rebeldes islâmicos da África Ocidental se tornem um perigo para a Europa. A operação militar é um jogo arriscado para os franceses, que podem ser acusados de neocolonialismo.
Rachel Baig
Oficialmente interesses de segurança estão em primeiro plano na missão militar da França no Mali. O governo francês justificou a ação afirmando que quer evitar que os rebeldes na África Ocidental se tornem um perigo para a Europa. "A França teme que o Mali se torne refúgio e lugar de formação de terroristas caso lá se instale um Estado islâmico", explica a cientista política Katrin Sold, do Conselho Alemão de Política Exterior, um think tank independente.
Além disso, a antiga potência colonial vê o risco de se tornar alvo de atentados terroristas. Desde 2010, radicais islâmicos mantêm reféns quatro funcionários da empresa de energia Areva no Mali. E a rede terrorista Al Qaeda ameaça com novos sequestros e atentados na França e também no Mali, onde vivem cerca de 5.000 cidadãos franceses.
Mas não se trata somente de possíveis ameaças terroristas. "A longo prazo, a França tem interesse em explorar os recursos minerais da região do Sahel, principalmente petróleo e urânio, mineral que a empresa nuclear francesa Areva já explora há décadas no vizinho Níger", diz Sold. Mas ainda vai levar tempo até que as riquezas minerais do Mali estejam acessíveis, por isso, as questões de segurança estão de facto em 1.º plano, avalia a cientista política.
O especialista Ulrich Delius, da Sociedade pelos Povos Ameaçados, concorda com a avaliação e recorda os ataques da França à Líbia, há cerca de 2 anos. "No caso da Líbia, é claro que muitos países tinham um interesse, principalmente no petróleo. No caso do Mali é diferente", diz o especialista em África. Para ele, o governo em Paris persegue, em primeira linha, objetivos estratégicos.
A missão no Mali é um delicado jogo de equilíbrio para a França. De um lado estão os interesses políticos e económicos; do outro, o risco de o país se apresentar como neocolonialista. Contra esta visão há, pelo menos, o mandato do Conselho de Segurança da ONU de dezembro de 2012.
Além disso, existe um acordo de defesa entre a França e o Mali, que foi elaborado justamente para casos como este, assinala o pesquisador Alexander Stroh, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais. No âmbito desse acordo, a França está a atender a um pedido do governo do Mali de deter os rebeldes na sua marcha em direção à capital do país africano.
Missão arriscada para a França
A missão envolve muitos riscos para o presidente François Hollande. Durante a campanha eleitoral, anunciou a retirada das tropas do Afeganistão e, em seguida, trouxe os soldados de volta para casa. A longo prazo, a missão militar no Mali pode soar contraditória para os franceses e afetar a credibilidade de Hollande.
Há ainda a difícil situação orçamental, que reduz as possibilidades de ação do presidente. Se ele quiser implementar o seu programa de consolidação económica, sobra pouco espaço de manobra para ações de política externa de alto custo.
Além disso, ninguém sabe prever quanto tempo a missão militar francesa no Mali irá durar. Para evitar que movimentos radicais islâmicos avancem no país africano, é necessário um processo de estabilização de longo prazo. "Os islamitas irão usar a sua antiga tática e recuar rapidamente, para se reagrupar sob a proteção das montanhas e cavernas", avalia Delius.
A França não se vai arriscar a agir sozinha no Mali e defende uma intervenção multilateral, com o envio de tropas africanas para a frente de batalha. O Conselho de Segurança da ONU já aprovou a missão. A União Europeia prometeu oferecer treino às tropas do governo malinês, outro ponto importante para Paris, pois significaria uma divisão de tarefas ao nível europeu, como também o apoio de Bruxelas.
Não faz sentido, depois de receber o Prémio Nobel da Paz 2012, que a União Europeia se inicie nos caminhos da guerra, mesmo fora das suas fronteiras, por qualquer outra razão que não seja a ameaça de uma invasão. Parece-me…
Muito menos sentido faz, que seja um país da UE, sozinho (só o Reino Unido teve sempre esse estatuto), ponha em causa o mérito do Nobel, a não ser que fosse por motivos humanitários. Parece-me…
Mesmo que houvesse o perigo de “terrorismo”, deveriam ser os países do continente, através da sua OEA a perseguir os seus mais próximos inimigos, mesmo com algum apoio de outros países de outros continentes, para não sermos acusados de ingerência (que não gostamos quando é connosco). Parece-me…
Tendo em conta o historial recente das “Primaveras árabes”, em que se tentou impor a “democracia” ocidental, com alterações rápidas ao nível das chefias, pouco se notou de realmente novo, mas notou-se o abandono dos instigadores e apoiantes, logo depois de garantirem questões de ordem comercial, o que começa a acentuar-se no caso da Argélia, para não falar do Egito. Parece-me…
No caso do Mali, as boas intenções securitárias anunciadas, são agora desmontadas em razão de interesses económicos e estratégicos, que não cabem muito bem na cultura reinante na Europa (os EUA estão geneticamente mais vocacionados), o que já aconteceu na Líbia com “sucesso” (Sarkosy calou um aliado incómodo e os devedores “saldaram” as dívidas) e se ensaia na Síria, brutalmente, com respostas mais brutais pelo poder vigente. Parece-me…
Constatando-se que as guerras estão a diminuir, por opção realista e moral de Obama, os fabricantes de armas tem que manter o escoamento do produto (as guerras não podem acabar), para não correrem o risco de terem de fechar as fábricas e aumentar o desemprego nos respetivos países, é forçoso que os lóbis apresentem trabalho. Parece-me...
Ao acicatar o ódio de fiéis religiosos islâmicos, que não tem fronteiras, colaram os islamitas argelinos à luta no Mali, podendo alastrar o mal pelos fiéis de países vizinhos, mais afeitos a alianças entre eles do que com a Europa civilizada, mas com interesses ocultos. Parece-me…
Finalmente, fica-nos esta confusão, mais uma, que nos permita distinguir uma política de direita de outra de esquerda, quando ambos os quadrantes político-partidários do mesmo país fazem a mesma coisa. Parece-me...
Há objetivos oficiais e oficiosos, e cada um apreende os que estão mais de acordo com a sua formação ou desinformação. Parece-me...
Está na hora de a União Europeia provar que mereceu o Nobel da Paz. Parece-me…
“Kill poverty, not the poor!” ou “Create wealth, not war!”

Ecos da blogosfera – 19 jan.

A fraude também compensa, com recompensas…

Os bancos JP Morgan Chase e Goldman Sachs viram os lucros subirem no 4.º trimestre.
Por acção, o lucro do maior banco norte-americano em activos aumentou dos 0,90 dólares no 4.º trimestre de 2011 para 1,39 dólares nos últimos 3 meses do ano passado, quando os analistas sondados pela Bloomberg antecipavam, em média, um resultado de 1,22 dólares por acção.
De acordo com Jamie Dimon, CEO do banco, os resultados reflectem um "forte crescimento nos empréstimos e nos depósitos".
2012 é o 3.º ano consecutivo de lucros para o JP Morgan, apesar das perdas de 6,2 mil milhões de dólares com erros de ‘trading' registadas nos primeiros 9 meses do ano.
No mesmo sentido, o lucro do Goldman Sachs atingiu os 2,89 mil milhões de dólares, ou 5,60 dólares por acção, resultado que compara com os 978 milhões ou 1,84 dólares por título, registado no período homólogo do ano passado.
Este resultado superou assim a estimativa média de 26 analistas sondados pela Bloomberg e que apontava para um lucro entre os 2,56 e os 4,80 dólares por acção.
A grande questão é saber como vão continuar a procurar novas formas de fazer dinheiro além do negócio de ‘trading' afirmou Benjamin B. Wallace, analista da Westborough, depois de divulgados os resultados. "Que parte do seu capital próprio vão continuar a investir no futuro?", acrescentou em declarações Bloomberg.
Em 2013, o banco acumula ganhos de 6,3% em bolsa.
Trazendo à lembrança a responsabilidade que estas duas (e outras) instituições bancárias e financeiras tiveram nas causas da crise e as continuadas falcatruas que insistiram a implementar (pode pesquisar algumas aqui no blogue) e a pagar multas por isso, ou há uma competência emergente ou uma imunidade crescente para tais sucessos…
Se trouxermos à lembrança a distribuição (mobilidade) de ex-funcionários, ex-quadros e ex-administradores do Goldman Sachs em altos cargos governamentais, sobretudo na Europa, temos o direito de pensar em alguma (ténue) ligação estratégica, entre um facto e alguns efeitos…
Só podemos pensar, que realmente não há causas que não produzam os mesmos efeitos, ou seja, as fraudes, como qualquer outro crime, afinal compensam, na estranja ou aqui, com umas multas, absolutamente altas, mas relativamente irrisórias…
Nós é que pagamos a pena! Que pena…

“Comissão Política Nacional” do PSD, à boca fechada

Sofia Galvão é uma ilustre jurista. Uma política inteligente. Uma mulher cheia de talentos e virtudes. Sinceramente, não consigo perceber os motivos pelos quais aceitou liderar a organização da (dita) conferência sobre a reforma do Estado, organizada pela ala PSD do Governo. Tenho a certeza de que caso Sofia Galvão fosse, de facto, a principal responsável pela concepção e execução da conferência, a iniciativa teria sido uma oportunidade soberana para o PSD (mais concretamente, o Governo) explicar os méritos da sua política. Explicar sem hesitações nem dúvidas metafísicas que Portugal ficará melhor se o Governo concretizar as reformas que vem pré-anunciando. Dialogar com os portugueses é um imperativo do Governo: explicar a reforma do Estado com transparência e sem segredinhos guardados secretamente com a cumplicidade (ou devo dizer autoria imediata?) do FMI. Se os tempos são difíceis (como são!), se o Estado exige uma reforma do seu peso na sociedade portuguesa (como exige!), Passos Coelho tem de esclarecer, de informar os cidadãos portugueses. Mas não: Passos Coelho tem medo dos portugueses, proibindo a presença de jornalistas na conferência que "encomendou". Senhor Passos Coelho, o PSD não é uma sociedade secreta - é um partido ao serviço de Portugal! Pelo menos, é assim que eu o entendo...
Pergunto: para que serve discutir a reforma do Estado com vários especialistas, com o escol vindo das universidades, que teoriza sobre as ideias políticas económicas e de finanças públicas - se depois essa conferência é realizada à porta fechada? Os portugueses ficam melhor informados? Não. Os portugueses ficaram a perceber os objectivos e as razões subjacentes às decisões políticas e económicas do Governo Passos Coelho? Nem pouco mais ou menos. Assim, só há uma conclusão possível: a conferência foi estrondosamente inútil! Não serviu nenhum objectivo do PSD; não trouxe nenhum efeito positivo para o Governo: nada! Os oradores foram escolhidos a dedo para dizer apenas aquilo que o Governo queria ouvir; a plateia presente na dita conferência era, na sua grande maioria, constituída por apoiantes, mais ou menos efusivos, do Governo Passos Coelho. Esta conferência, afinal de contas, não foi mais do que uma Comissão Política Nacional do PSD - só que ainda menos plural e representativa!
Passos Coelho: menorizar o PS e enganar os portugueses, eis os seus objectivos!
Posto isto, convém meter o dedo na ferida: quais as verdadeiras razões pelas quais o Governo realizou a conferência? São duas.
Primeiro, a conferência pretendeu ser uma manobra de diversão: o Governo pretendeu desviar as atenções das jornadas parlamentares do PS. Ao coincidir temporalmente as duas iniciativas, Passos Coelho revelou algum receio face á possibilidade de António José Seguro marcar a agenda política. Receio infundado, como se viu.
Segundo, Passos Coelho quis por esta via mostrar aos portugueses que a reforma do Estado está a ser discutida de forma alargada, ouvindo vários intervenientes da sociedade civil - e que não se limita a seguir o relatório do FMI. Isto é, a conferência serviu para o Governo tentar enganar (ou vá, se quiserem ser eufemísticos, tentar iludir!) os portugueses de que nada está combinado com a troika, de que só tomou conhecimento do relatório há poucas semanas - e que o mesmo é apenas mais uma base para a discussão. Pois...pois... As conclusões da conferência serão, com a excepção de um ou outro ponto, coincidentes com o relatório da troika. Vai uma aposta?
João Lemos Esteves

Contramaré… 19 jan.

Está semeada a indignação a norte com a notícia de que o Governo planeia introduzir 15 novos pórticos de cobrança automática de portagens em SCUT do Norte Litoral, Costa de Prata e Grande Porto.
O Governo enquadra o acréscimo de portagens na renegociação em curso dos contratos de PPP rodoviárias e espera obter uma poupança anual de custos entre os 11,9 e os 35,8 milhões de euros com a redução das taxas de rentabilidade interna dos concessionários.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Desde sempre e em tudo o espaço formata as pessoas!

Durante décadas, as escolas, lentamente, transformaram-se em instalações com aspecto de prisão, com salas iluminadas artificialmente e parques barricados. No entanto, a tendência está a começar a mudar. Com destaque para o design sustentável, um foco na segurança e um aumento da procura em ambientes de aprendizagem positivos, mais pessoas estão a prestar atenção à forma como projetamos as nossas escolas.
Fernanda Britto
Posto isto, a Universidade de Salford, em Manchester e os arquitetos de Nightingale Associates divulgaram os resultados de um estudo piloto de um ano de duração revelando o impacto significante que ambientes de aprendizagem projetados com qualidade têm no desempenho académico do aluno ao longo de um ano, o que foi comprovado ser de até 25%.
O professor Peter Barrett, School of the Built Environment, Universidade de Salford, disse: “Há muito tempo se sabe que vários aspectos do ambiente construído tem impacto sobre as pessoas nos edifícios, mas esta é a primeira vez que uma avaliação holística foi feita e liga diretamente o sucesso com o impacto global das taxas de aprendizagem nas escolas. O impacto identificado é de facto maior do que imaginávamos e a equipe de Salford está ansiosa para a construção destes resultados claros”.
No Reino Unido, os pesquisadores estudaram 751 alunos em 34 salas de aula em 7 escolas Blackpool LEA primárias, entre o início e o fim de um ano letivo, de Setembro de 2011 a Junho de 2012. Coletaram dados de alunos, incluindo o sexo, idade e nível de desempenho em matemática, leitura e escrita, juntamente com uma avaliação abrangente do ambiente de sala de aula, que avaliou a orientação da sala de aula, a flexibilidade, disposição, cor, luz natural, ruído, temperatura e qualidade do ar.
Descobriram que “73% da variação no desempenho dos alunos conduzido ao nível da sala de aulas pode ser explicada por fatores do ambiente do edifício, medidos neste estudo.” Isso significa que  “colocar um aluno mediano numa sala menos eficaz em vez de no ambiente da sala de aula mais eficaz poderia afetar o seu progresso de aprendizagem tanto quanto a melhoria média num ano.”
Design Research Lead, Caroline Paradise do Nightingale Associates, disse:  “Estamos muito animados com essas descobertas iniciais, que sugerem que a sala de aula tem um papel importante no desempenho dos alunos. Isto irá apoiar designers e educadores no direcionamento de investimentos em edifícios escolares para onde vai ter o maior impacto, seja em edifício novo ou na reforma da construção”.
O estudo vai continuar durante mais 18 meses e vai cobrir mais 20 escolas em diferentes áreas do Reino Unido. O trabalho está a ser financiado pelo Conselho de Pesquisa de Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC) e encomendado pela THiNK.
Confira o estudo completo AQUI.
Para mais sobre o assunto, leia “Community-Oriented Architecture in Schools: How ‘Extroverted’ Design Can Impact Learning and Change the World” e percorra a nossa seção “Educacional” no Pinterest para uma seleção de ambientes de aprendizagem inspiradores.
Não só pela formação académica que adquiri (há uns aninhos) e pela experiência (larguinha) de vida (também como professor), que esta tese me suscitou sempre uma necessidade de comprovação, tendo mesmo feito um trabalho sobre o assunto, que se encontra perdido nos papéis do passado… Nesses anos de querer investigar a relação entre o ambiente físico e o bem estar conducente ao sucesso, muito pouca literatura havia e a disponibilidade não passava, como agora, pela internet.
No caso da Educação a que se reporta o estudo, não será por acaso que nas escolas mais degradadas os resultados académicos não sejam os melhores e que nas escolas mais “asseadas” esses resultados sejam mais “limpinhos”. A mesma crença pode ser direcionada para as escolas públicas e privadas, em que a diferença com a preocupação entre os dois ambientes seja refletido nos resultados diferenciados de ambas, não porque os privados tenham consciência deste efeito, mas apenas por razões de disciplina e asseio.
Acresce, que os diretores das escolas, públicas ou privadas, generalizadamente, não tem formação na área artística e por isso as suas preocupações pedagógicas não passam por aí…
Hoje em dia, depois das obras de requalificação das escolas (pondo de parte os excessos e a gestão da Parque Escolar) era tempo, se houvesse interessados, em fazer-se um estudo nas escolas intervencionadas, de modo a confirmar, ou não, esta tese, que tem pés para andar e poderia ser uma muleta para se conseguir melhores performances, por caminhos ainda não percorridos intencionalmente…
A Educação, num sentido lato e como se vê, deveria (terá que) passar pelo reforço das áreas artísticas nos currículos, até para a consciencialização do valor do espaço e do ambiente (re)criado, coisa que a matemática, a língua materna ou a ciência nunca oferecerão, porque não…

Ecos da blogosfera – 18 jan.

O ESTADO não pode ser um predador do SOCIAL!

Acabei mesmo agora de fazer as contas ao meu salário com as novas tabelas de IRS e é verdadeiramente deprimente. Poupo-vos às minhas queixas, pois cada um já tem as suas, mas é útil para a discussão que se segue dizer apenas que, mesmo com duodécimos, o meu rendimento mensal cai, aliás, que nos últimos três anos tem sido sempre a cair.
Sílvia de Oliveira
Faço, por isso, parte dos muitos que são afectados pelo "enorme" aumento de impostos de Gaspar e Passos Coelho, daqueles a quem o Governo vem repetidamente avisando sobre a urgência de reformar, que é como quem diz, cortar o Estado Social, a única solução para, no futuro, aliviar a carga fiscal de todos os portugueses. 
Quer pagar menos impostos, quer?! Então já sabe, a única alternativa é ter menos Estado Social, é o Estado pagar menos subsídio de desemprego e por menos tempo aos desempregados, é o Estado reduzir as pensões aos reformados, é o Estado aumentar as taxas moderadoras das urgências nos hospitais e as propinas de acesso ao ensino superior. E é isto que não param de repetir, e isso é desonesto. Há alternativa, há sempre alternativa, ao contrário do que este Governo, com o seu fundamentalismo ideológico, nos quer fazer crer. 
Procure-se, primeiro, encontre-se, primeiro, toda a má despesa que há neste Estado, elimine-se, primeiro, todo o tipo de má despesa, que existe e não é pouca, reduza-se, de facto, o Estado, mas mantenha-se, melhore-se o acesso tendencialmente gratuito à Saúde e à Educação, mantenha-se o Rendimento Social de Inserção para quem verdadeiramente precisa, pague-se subsídio de desemprego e reformas aos mais velhos, mantenha-se, melhore-se, o Estado Social. E fiscalize-se, eliminem-se as ineficiências, racionalize-se, reforme-se, melhore-se, construa-se - Estado e privados juntos - um melhor Estado Social. Ao contrário do que nos querem fazer crer, o Estado não tem que ser um predador. É com todo o gosto que pago os meus impostos, para ter menos Estado, mas um melhor Estado Social. 
Sejam honestos e mostrem-me, primeiro, as alternativas - há sempre alternativa! E ponham a economia a crescer, que é o que faz falta, interrompam esta estúpida austeridade, peçam mais tempo à troika para atacar um monstro de várias décadas, façam-se à vida, façam por nós, e se não forem capazes porque não acreditam, digam-nos, porque não foram eleitos para isto, não têm mandato para isto.

Contramaré… 18 jan.

Os Governos da União Europeia concordaram esta em enviar centenas de militares para treinar as forças governamentais do Mali que combatem os rebeldes islamitas. A missão será composta por 200 militares com formação para dar treino e por elementos de segurança. Não foram anunciados ainda que países vão integrar o grupo.
Apenas a França está a combater no terreno com 1.400 soldados franceses, há uma semana.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O empreendedorismo deste governozinho…

O Governo fala muito em exportações. Compreende-se. Não há quase nada de bom para falar, nem sequer a queda dos juros dos títulos da dívida é 100% recomendável: estão a cair, é verdade, é muito bom, é excelente, é promissor, mas podem voltar a disparar a qualquer momento. A Europa passou de crises de confiança agudas em 2012 para um mal-estar permanente. A Zona Euro sofre agora de uma moinha que arrelia como uma dor de dentes, provoca recessão, muito desemprego e um terrível medo e pobreza lá ao longe na Grécia e em Portugal, também na Irlanda e em Espanha, mas que não implica grandes mudanças de rumo político no centro da Europa.
A nuvem não desapareceu, anda por aqui. A procura interna está de rastos, cairá pelo menos 17% entre 2009 e 2013. No mesmo período, o investimento cairá 36%. Nunca na história recente de Portugal o investimento se despenhou tanto e tão depressa. O dinheiro sumiu-se, foi-se, desapareceu. Não há crédito, exceto para as grandes empresas - e mesmo esse, caríssimo. Não há consumo, não há expectativas, não há confiança, o desemprego vai loucamente a caminho dos 17%. Não há negócio que aguente ou que possa nascer neste ambiente de permanente hostilidade fiscal.
A palavra, empreendedor, deve aliás, ser retirada do dicionário. Caiu em desuso. É um conceito zombie. As estatísticas revelam que, depois do mergulho dos bens duradouros (casas, carros, eletrodomésticos...), nos últimos meses os bens essenciais também entraram em plano inclinado. Chama-se a isto colapso económico, já não é ajustamento nenhum. É por isso, dizia eu, que o Governo fala tanto no milagre das exportações e dos "bens transacionáveis". Na verdade, falava. Daqui para a frente terá de falar menos ou, pelo menos, com mais cuidado. O Banco de Portugal avisou anteontem: em 2012, a procura externa sobre os produtos portugueses estagnou (apenas mais 0,2% face a 2011) e este ano, na melhor das hipóteses, vai ser igual, já que a Zona Euro está tecnicamente em recessão, o que significa que Portugal enfrentará mais concorrência dos parceiros da UE para vender nos mercados extracomunitários.
Tecnicamente, portanto será assim. Aliás, será pior. Não é apenas no imediato que o país vai sofrer. A redução do investimento, os tais chocantes menos 36%, têm a prazo outra consequência profunda. Está escrito no relatório do Banco de Portugal: esta quebra terá implicações "sobre a capacidade de incorporação de progresso técnico e, em última análise, sobre o crescimento do produto potencial". Significa isto que sem dinheiro para investir - por exemplo, em tecnologia - as empresas não se modernizam, atrasam-se, tornam-se menos produtivas, menos competitivas e perdem mercado. Deixámos de ter PIB, agora temos pibinho.
André Macedo
E “para ajudar à missa”, diz quem sabe, que no imediato as coisas vão piorar (já pioraram para quem recebeu o ordenado de janeiro), com menos economia e mais desemprego. Ao mesmo tempo Portugal ficará a dever ainda mais do que deve, mas com a “esperança” de daqui a 20 anos (se tudo corresse tão bem como diz o PM), ainda estarmos a dever metade da dívida…
Entretanto, durante os próximos 20 anos, grande parte dos contribuintes e pagantes pelas fraudes e erros dos “cabeças”, deixarão de o ser e de fazer, naturalmente…
Mas o pior, é que, quando ELES puderem ir ao Mercado, vão continuar a pedir mais moedinhas, para continuarem a tirar as que tenhamos no mealheiro…
O vício quando entranha é uma doença, só se estranha que não se “mate o bicho”…
A Unidade Técnica de Apoio Orçamental afirma que, “no curto prazo, os efeitos decorrentes da consolidação orçamental e da fase de implementação dessas reformas poderão ser mais negativos do que aqueles que se encontram para já previstos”. E não se trata “apenas” de efeitos negativos para a economia: também o controlo da dívida pública poderá ver-se afectado por um comportamento da economia mais recessivo do que o admitido nas projecções do Governo.
Portugal vai ter de apresentar excedentes orçamentais (entre os 3% e os 4% até 2035) durante os próximos 20 anos, se quiser cumprir a regra de ouro definida pela União Europeia para as contas públicas. Manter a consolidação orçamental por mais 2 décadas será a única forma de a República pagar metade da sua dívida ao ritmo exigido pelo novo enquadramento legal europeu.

Ecos da blogosfera – 17 jan.


Abertura do Ano Académico UL/UTL 2013 - António Sampaio da Nóvoa

Olha o lóbi! Incitar à Guerra um Prémio Nobel da PAZ?

A intervenção da França no Mali é considerada uma guerra solitária por toda a Europa. Os fracos meios oferecidos pelos seus parceiros não indicam apenas uma falta de empenho: assinalam também o fim da Europa da defesa.
O exército dos rebeldes do Mali
Se o problema no Mali implicasse apenas o Mali, os militares franceses não se teriam muito provavelmente envolvido na guerra contra as milícias islâmicas, uma vez que os interesses da antiga potência colonial no continente africano não chegam para explicar uma intervenção tão arriscada. A intervenção da França deve-se ao facto de o Sahel poder tornar-se um perigo para a Europa. E é o único país europeu envolvido neste conflito porque os restantes preferiram fugir às suas obrigações. O que diz muito sobre o estado da política de segurança e de defesa comum. E não assinala nada de bom.
O facto de a única ajuda concedida a Paris pelos seus parceiros europeus ter sido umas felicitações cordiais e um número reduzido de aviões de transporte mostra claramente que algo não bate certo na União Europeia. É verdadeiramente do interesse da União Europeia impedir os islamitas e os terroristas de controlar o Mali. A UE tem conhecimento desta ameaça há mais de um ano. Se o Mali caísse nas mãos da Al-Qaeda e dos seus simpatizantes, o país transformar-se-ia num outro Afeganistão às portas da Europa, servindo tanto de ponto de partida, de zona de formação como de retaguarda para o terrorismo internacional.
A UE tem plena consciência deste perigo, mas nunca foi capaz de abordá-lo com uma resposta comum. A única coisa na qual concordou foi no envio de uma pequena missão de formação para ajudar o exército do Mali. A vontade comum europeia limitou-se a esta decisão, a UE não foi capaz de elaborar um plano de ação preventivo para reagir a uma urgência militar, ao contrário da França.
Teste decisivo na região do Sahel
O facto de quererem agora antecipar o calendário da missão de formação é no mínimo derrisório. Primeiro, porque esta missão não muda em nada o facto de os outros países europeus continuarem de braços cruzados a observar os franceses a empenhar-se para defender os interesses europeus. Depois, porque os soldados do Mali não terão muito provavelmente tempo para dedicar aos formadores europeus, enquanto travam uma guerra contra as milícias no centro e no Norte do país. A situação ultrapassa a União Europeia.
Atualmente, a UE deve sobretudo perguntar-se se pretende realmente ter uma política de segurança comum, que implicaria ajudar a iniciativa militar francesa no Mali. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Hubert Védrine, fez uma breve declaração sobre a política de segurança e de defesa comum, na qual a UE tem concentrado todos os seus esforços nos últimos 20 anos.
Se os responsáveis políticos dos Estados-membros da UE não conseguirem muito rapidamente chegar a acordo sobre os fundamentos da sua cooperação, a aspiração europeia de se tornar uma potência mundial nunca se concretizará. Talvez nunca tenha passado pela cabeça de Hubert Védrine que a Europa seria colocada à prova tão rapidamente e que o teste decisivo se desenrolaria na região do Sahel.
Europa vai sair derrotada
Tudo indica que a Europa vai sair derrotada desta história, uma vez que, em matéria de política estrangeira e de segurança, os interesses dos países-membros da UE continuam muito afastados uns dos outros. O Mali é prova disso: os europeus concordam no facto de existir uma ameaça, mas discordam nos meios de a combater. Nem sequer concordam que, neste tipo de situação, devemos estar preparados para o pior, incluindo a guerra. A política de segurança da UE padece de uma falta de união, de aptidão e de vontade. E estas carências não desaparecerão tão cedo.
No entanto, é preciso que os outros países europeus apoiem militarmente a França. É uma questão de solidariedade, mas também de bom senso a longo prazo: se queremos deixar a porta aberta para uma política de segurança europeia digna desse nome, devemos evitar que Paris seja obrigado a pedir ajuda à NATO em caso de bloqueio da situação militar. De facto, esta seria a derradeira prova de que os europeus não estão à altura.
Reações em França e na Alemanha - Paris isolada na batalha do Mali
Depois de se lançar na operação militar no Mali, o Presidente francês François Hollande esperaria provavelmente que, à semelhança da Líbia, os seus parceiros europeus lhe dessem uma ajuda. Mas, 5 dias depois do início da guerra, não foi isso que aconteceu. “Daí que, na Europa, a diplomacia francesa e o Estado-Maior se arrisquem a encontrar apenas boas desculpas”, acrescenta Le Figaro. “A Alemanha, a última potência europeia a fazer crescer o seu orçamento militar, não pode mexer num único soldado, nem num único blindado sem o voto do Bundestag, um cenário em que Angela Merkel não confia em período eleitoral”, revelando o seu “apoio” a Hollande.
O berlinense Tagesspiegel critica igualmente a atitude alemã:
Os alemães querem fazer crer aos franceses e a si próprios que estão realmente ao lado do seu aliado europeu mais próximo. Porém, excluem tropa de combate e contentam-se com um apoio logístico. Se Hollande, em vez de ser inconstante, levasse a sério esta afronta, o eixo franco-alemão sofreria uma rude prova. Mas hoje em dia toda a gente faz de conta. Exceto os grupos jiadistas.
Quanto aos parceiros europeus, não há muito a esperar deles, adianta Le Figaro:
Itália, também ela em plena campanha eleitoral para as legislativas, e Espanha, financeiramente aniquilada pela crise, não mostram qualquer tipo de entusiasmo. A Norte, a Holanda e a Dinamarca, aguerridos elementos da NATO, revelam pouco interesse por África. A Leste, a Polónia relembra que se mantém envolvida no Afeganistão... Nem o debate lançado terça-feira no Parlamento Europeu, nem o encontro dos 27 ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, convocado quinta-feira para Bruxelas, poderão alterar a situação na frente do Mali. No máximo, os chefes da diplomacia poderão fazer um balanço dececionante de uma “Iniciativa para o Sahel”, lançada com grande estrondo em março de 2011 para o reforço de países como o Mali. Mesmo que Bruxelas tenha efetivamente feito dotações orçamentais, o plano militar e de segurança nunca se concretizou. Em todo o caso, a ausência de reforços da UE vem complicar os cálculos do Estado-Maior quanto à “segunda fase”, após vários dias de bombardeamentos que conseguiram impedir o avanço das forças jiadistas.

Contramaré… 17 jan.

A conferência sobre a reforma do Estado organizada a pedido do primeiro-ministro por Sofia Galvão, ex-dirigente do PSD, para ouvir a sociedade civil condiciona o trabalho jornalístico.
"Não haverá registos de imagem e som [durante os painéis]. A permanência dos jornalistas na sala é permitida. Não haverá [reprodução de] nada do que seja dito sem a expressa autorização dos citados", anunciou Sofia Galvão na sua intervenção inicial. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Quando a ECONOMIA se substitui à TEOLOGIA…

A austeridade e os ditames dos mercados criaram uma multidão de novos "fiéis" forçados: os precários. Eles ameaçam a joia da civilização europeia, a segurança social, diz o escritor belga Geert Van Istandael. Excertos.
Conhece a paróquia de São Precário? Mesmo sem guia, não terá dificuldade em encontrá-la e, no dia em que lá chegar, terá bons motivos para desesperar.
Porque, na paróquia de São Precário, não há lugar para a esperança. A grande maioria dos paroquianos trabalha por um salário de miséria para manter os privilégios do alto clero, que substituiu a teologia pela economia.
Os números relativos ao crescimento são brilhantes, na paróquia de São Precário. Ali, o orçamento é sempre excedentário. Como é possível? É simples. Baixem-se os salários. E, acima de tudo, há que banir a solidariedade. Acabaram-se todos os encargos sociais dispendiosos, que, em tempos passados, era preciso pagar a reformados egoístas, desempregados preguiçosos e doentes imaginários. E viva a minoria privilegiada, selecionada a pente fino.
No reino de TINA
Qual é o aspeto da igreja paroquial de São Precário? O edifício só tem paredes altas e nada de janelas ou teto, para proteger os paroquianos da chuva ou dos ardores do sol. Nem pense em escalar as paredes, porque ficará sem unhas. Por cima do altar, flutuam as letras TINA, que, em latim moderno, significam: There Is No Alternative – não há alternativa. [slogan politico atribuído a Margaret Thatcher quando era primeira-ministra do Reino Unido].
Mas não pense que a paróquia de São Precário é fruto da imaginação excessiva de um poeta melancólico. São Precário existe mesmo. Em Milão, em 2004, realizou-se a primeira procissão em que desfilou a imagem de São Precário. O espantoso é que o cortejo era integrado unicamente por jovens, novos diplomados, novos trabalhadores, novos desempregados. Esses jovens imploravam a clemência de São Precário.
Recordo-vos um dos significados de precarius: obtido pela prece ou pela súplica. Os caprichos daquele que dá são imprevisíveis. Hoje, deixa cair na Europa umas raras moedas de ouro. Amanhã, com um gesto desenvolto, lança ainda mais raras moedas de ouro aos chineses ou aos nigerianos. Chama-se a isto "globalização". E a globalização é o futuro.
Zelo religioso cego
A minha tese é esta: a crise económica e financeira que há 4 anos atinge a Europa é utilizada para destruir as bases da civilização europeia, o Estado providência, a democracia.
É utilizada. Mas por quem? Pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, e, sem dúvida alguma, também pelo Conselho de Ministros, e, fora da Europa, pelo Fundo Monetário Internacional, embora possamos notar que, no seio desta última instituição, está em curso uma luta feroz sobre as linhas de orientação a seguir. Por outro lado, num número demasiado grande de Estados-membros da União, os políticos comportam-se como missionários, difundindo a mensagem destruidora com um zelo religioso cego.
As fileiras dos paroquianos crescem. Todos os dias. Em Espanha, em Portugal, na Grécia e em Itália, vemos que este tipo de economia, que nós deixamos causar estragos, estrangula a juventude.
Mas começa a fazer-se luz. Em novembro de 2008, o pensador político Jürgen Habermas, talvez o mais importante da Alemanha de hoje, falou de injustiça social, no jornal Die Zeit.
Se Habermas não fosse um homem tão ponderado, eu diria que é um profeta. As elites reinantes anularam unilateralmente o seu grande contrato tácito com o cidadão. O contrato era este: a classe dominante pode amealhar a riqueza que quiser, desde que o cidadão comum ganhe razoavelmente o seu pão e beneficie além disso de segurança social adequada. Esse contrato foi quebrado.
A tecnocracia acima da democracia
Segundo os patrões do BCE, Mario Draghi, da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, o fim da crise está a desenhar-se no horizonte. Mas os mercados financeiros mantêm a Europa sob o seu jugo. A Europa bem pode debater-se furiosamente: a sorte não muda. Ou então apenas durante 3 horas, como da vez em que o BCE concedeu €100 mil milhões a Espanha. Quanto muito, isso durou um dia, talvez uma semana.
Desde que Draghi conseguiu que o seu conselho de administração permitisse que o banco comprasse obrigações do Estado de países em dificuldades, através do Mecanismo Europeu de Estabilidade, para assim fazer descer claramente os juros dessas obrigações, os mercados financeiros parecem estar um pouco menos ferozes. Quem irá ainda espantar-se por os países que precisam desse apoio serem obrigados a rastejar, por, nesses países, a democracia ceder tanto perante a tecnocracia?
Mas há outra coisa. Aquilo que o BCE decidiu equivale a cunhar moeda. É apenas uma sátira dizer que, se chegarmos a isso, Mario Draghi vai pôr a trabalhar a prensa das notas. E eu que sempre pensei que isso era mais coisa de pessoas como Mobutu.
Empurrados a chicote
Não são só os populistas, os comunistas e os fascistas puros e duros a pensar que há qualquer coisa que não bate certo na tática e na estratégia europeia. São cidadãos pacíficos e trabalhadores que sentem o coração apertar-se de angústia, cidadãos que só querem uma habitação modesta, que querem ter filhos e um salário que permita que a sua família tenha uma vida decente. Mas eles nem sequer isso nos concedem, tentam tirar-nos essa pequena felicidade, empurram-nos a chicote para a paróquia de São Precário.
Um emprego pago a um preço justo, uma pequena casa, uma família. É aquilo a que chamo desejos racionais. Mas cada vez mais parece que só tem direito à existência uma racionalidade: a racionalidade económica, que determina que as pessoas tentem sempre obter para si o lucro máximo.
Esta paz em casa, no jardim e na cozinha, esta ambição limitada mas democraticamente apoiada só foi possível graças a uma das maiores conquistas da civilização europeia. Estou a falar do Estado Providência ou, simplesmente, da segurança social.
Inimigo da civilização europeia
Devemos qualificar sem reservas a segurança social, tal como a construíram a Bélgica, a Suécia, a França, a Holanda e, até há pouco tempo, também a Alemanha, a partir do século XIX e, sobretudo, ao longo dos anos do pós-guerra, como joia da civilização europeia, tão preciosa como as joias das catedrais francesas, as sinfonias de Beethoven, os quadros de Vermeer, o Fausto de Goethe ou os romances de Camus. A construção e a preservação da segurança social requerem uma visão, imaginação, conhecimentos técnicos, engenhosidade, racionalidade; exatamente as capacidades que Beethoven precisava para compor as suas sinfonias.
Por conseguinte, se o senhor Draghi diz no Wall Street Journal que o modelo social da Europa já desapareceu e que o contrato social tradicional do continente está ultrapassado, o grande patrão do BCE está a apontar-se a si mesmo como inimigo da civilização europeia. Draghi faz parte do alto clero da paróquia de São Precário.

Ecos da blogosfera – 16 jan.

O mal de uns é o bem “boom” de outros…

Teoria dos vasos comunicantes, de Nono Granero
Mesmo com a crise mundial, a taxa de desemprego em 2012 ficou em 6,8%. Governo prevê, contudo, que 2013 será difícil. Apesar da situação na zona do euro, economia robusta ajudou mercado de trabalho a manter-se estável.
O mercado de trabalho da Alemanha viveu em 2012 o seu melhor ano desde 1991, quando o país foi reunificado. A taxa de desemprego, divulgada pela Agência Federal Alemã do Trabalho (BA, em alemão) diminuiu 0,3% em relação ao ano anterior e ficou em 6,8% – correspondendo a 2.900.000 de desempregados, quase 80.000 a menos que em 2011.
O balanço positivo da taxa de desemprego tem relação com o bom início de ano registado em 2012. Já durante o decorrer do período, o cenário inverteu-se: a taxa de desemprego aumentou fortemente a partir de outubro, se comparada com os mesmos meses de 2011.
Mesmo com a boa notícia em relação a 2012 – ano marcado pela acentuação da crise financeira na zona do euro –, a agência ligou um "sinal de alarme" para o ano de 2013 e já antecipa que será um ano difícil, segundo as palavras do seu presidente, Franz-Jürgen Weise. Mesmo assim, não espera uma rutura no mercado de trabalho. 
A taxa de desemprego começou a subir no final de 2012. Em dezembro, havia 2.840.000 de desempregados registados – 88.000 a mais do que em novembro e 60.000 a mais do que no mesmo mês do ano anterior. O mercado de trabalho reagiu "de forma robusta" no final do ano em relação à crise, disse Weise.
Para quase todos os especialistas, o mercado de trabalho alemão está notavelmente fortalecido em comparação com os países do resto da Europa – o que, para Holger Schäfer, especialista em mercado de trabalho do Instituto da Economia Alemã (IW, em alemão), tem diversos motivos. "Um deles é o facto de que, com a exceção de 2009 – quando tivemos a crise –, tivemos um forte desenvolvimento da conjuntura económica. Isso ajudou-nos muito", frisou Schäfer.
Outro ponto, segundo o especialista, foi a demografia. A oferta de mão de obra caiu. Os mais velhos que deixam o mercado de trabalho são mais numerosos do que os que entram no mercado. "E finalmente colhemos também uma parte das reformas implementadas pelo governo Gerhard Schröder [chanceler federal alemão de 1998 a 2005], que tornou o nosso mercado de trabalho muito mais eficiente e flexível."   
A taxa de desemprego na parte ocidental da Alemanha atingiu 5,9%, e na parte oriental, 10,7%.
Sinal de alarme para 2013
O presidente da BA explicou, porém, que houve sinais claros de "uma aceleração mais lenta da conjuntura económica". Mesmo com o risco em baixa de se tornar desempregado, haveria o risco de não conseguir encontrar um emprego. "Isso significa que as empresas estão cautelosas no que se refere ao recrutamento [de novos funcionários] numa situação económica incerta", explicou.
Para este ano, Weise calcula um leve aumento da taxa de desemprego "para um pouco mais de 2.900.000 de pessoas", sendo que o número de ocupados deve permanecer estável. O sinal de alarme para 2013, porém, não deve ser ignorado.
O PIB da Alemanha, a economia  mais importante da zona euro, aumentou 0,7% em 2012, marcando uma nítida  desaceleração face a 2011, segundo dados provisórios divulgados. Em 2011, o PIB da Alemanha tinha registado um aumento de 3%.
Apesar de tudo, a Alemanha registou no ano passado um ligeiro excedente  público de 0,1% do PIB, contra um défice de 0,8% do PIB em 2011, anunciou  o Destatis (instituto federal de estatística alemão).  
De acordo com o Boletim Económico de Inverno publicado pelo Banco de Portugal, o volume de emprego irá registar uma redução de 1,9% em 2013, o que representa uma variação negativa dos postos de trabalho de aproximadamente 90.000 pessoas. Esta quebra acontece depois de uma redução do número de empregos de 3,7% em 2012, ou seja, cerca de 180.000 pessoas.
O banco central diz ainda que o consumo privado vai cair 3,6% contra uma previsão de 2,2% feita pelo executivo. Regista-se uma queda no rendimento dos portugueses e uma contração da procura interna.
Nos  últimos cinco anos (2009-2013), o PIB português registou as seguintes evoluções: -2,9%, 1,4%, -1,7%, -3% e, caso se confirmem as previsões do BdP para este ano, -1,9%.
O princípio dos vasos comunicantes não se aplica apenas aos líquidos, mas também a tudo que amolece até liquefazer-se, se não houver um “motor” para elevar a água ao sótão dos descontentes e deve haver qualquer modelo económico, que prevê e justifica, facilmente, o que facilmente se depreende da realidade quotidiana…
O mesmo é dizer que ”o mal de uns é o bem de outros”, o que traduzindo para as consequências da crise, os males infligidos a uns, resultam num bom “boom” para os impositores…
Em 2012, na Alemanha, a taxa de desemprego ficou nos 6,8% (o melhor ano desde 1991) e o número de empregos criados aumentou 80.000, atingindo os 2.900.000 de desempregados…
Em 2012, em Portugal, a taxa de desemprego ficou nos 16,3%* (o pior ano desde 1979) e o número de empregos eliminados chegou aos 180.000, chegando aos cerca de 910.000*
Em 2012, na Alemanha, o PIB foi de 0,7% (em 2011, foi de 3%) e para 2013 prevê 0,4%.
Em 2012, em Portugal, o PIB foi de -3% (em 2011, foi de -1,7%), tendo vindo a piorar ano a ano e as previsões são ainda muito negativas (-1,9%)…
Se juntássemos os mesmos indicadores da Grécia, da Espanha, da Irlanda e da Itália, veríamos quem são os PORCOS que estão a comer das nossas gamelas…
E pronto! Não há que comer e calar!
*retificado