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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Bebendo informação em águas turvas…

A proposta do Governo para a concessão do abastecimento de água e saneamento a privados foi aprovada no Parlamento pela maioria PSD e CDS-PP. Foram chumbadas as propostas parlamentares do PCP, que queria vedar o acesso a empresas privadas, e do Bloco de Esquerda, que propunha um referendo sobre esta matéria.
A proposta de lei viabiliza ainda a concessão de sistemas multimunicipais de resíduos sólidos urbanos a entidades de capitais maioritária ou totalmente privados.
"Água - Operação Secreta": UE Promove a Privatização da Água
Começa o ataque à Privatização da Água e já existe um acordo que a Europa quer concretizar, a privatização da água! Esta é uma questão que diz respeito não só a nós como aos nossos filhos e netos! A água é uma questão de vida e agora querem privatizá-la. Inaceitável!
‎NÃO À PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA!
...o texto linha a linha:
As mais importantes mudanças políticas aparecem por vezes em letras minúsculas.
(?) Secretamente, a Comissão Europeia tenta realizar um mega projeto.
Trata-se de nada menos do que uma privatização à escala europeia do abastecimento de água. Caso a Comissão da UE seja bem sucedida, um bem público poderá tornar-se objeto de especulação, com o qual também a Alemanha poderia ganhar biliões. É a vitória das grandes empresas multinacionais, que lutaram desde há anos pela privatização.
As consequências para nós, consumidores, poderiam ser imensas.
O que vamos enfrentar aqui, será agora apresentado por Stefan Stuchlik e Nicolas Steiner.
Água não é apenas H2O, água é vida. O acesso a água foi declarado um direito humano pelas Nações Unidas.
Na Alemanha, a água é geralmente propriedade das cidades e dos municípios, assim como para todos nós – até agora. Mas tudo isto mudará em breve. Com drásticas consequências para a Alemanha.
A intenção da Comissão Europeia começará aqui, em Portugal.
Bruxelas exigiu que o país venda o abastecimento da sua água. Aqui, em Paços de Ferreira, a privatização da água já começou, contra a vontade dos cidadãos, como estes nos comunicam.
“No passado podia-se beber água daqui. Água fresca, água boa! Agora já não!”
“Tenho 66 anos e sempre bebi desta água.” “Agora, até nem da água do poço público poderemos beber.”
“Sim, agora a água pública não é potável.”
O município de Pacos de Ferreira obteve lucro apenas no momento da venda, e agora os seus cidadãos terão de viver com as consequências. As pessoas mostram-nos as suas contas e estas são, de facto, horrendas. Muitos cidadãos têm agora dificuldade em pagar a sua água potável.
Humberto Brito, Movimento cívico 6 Novembro “As consequências da privatização aqui em Paços de Ferreira foram devastadoras. Verificámos um aumento de 400% nos preços, durante poucos anos. E por cima disso, a cada ano o preço aumenta 6%. Isto é um desastre.”
Os países em crise, tais como Portugal e Grécia, precisam de dinheiro. Desta forma, a Troika em Bruxelas força-os agora secretamente a venderem o seu abastecimento de água. No anexo dos contractos da Troika, obtivemos o seguinte:
Na Grécia, o sistema hidráulico de Atenas e Thessaloniki deverá ser vendido;
No caso de Portugal, no anexo consta a privatização da companhia de águas públicas “Águas de Portugal” deverá ser promovida.
Em Portugal, os protestos crescem contra a privatização da água, por medo do aumento dos preços e da diminuição da qualidade.
Mas os países em crise são apenas o início. A Comissão da UE leva agora a cabo o grande golpe. A nova proposta para a diretiva de concessão, na verdade, escondeu a exigência de que o mercado de fornecimento de água deveria ser aberto. O que é que isto significa?
Heide Rühle, a perita em água dos Verdes Europeus, estudou cuidadosamente a proposta. Ela acredita que a Comissão está perto de atingir o seu objetivo – a privatização da água. “A política de concessão não o faz diretamente, não abre a diretamente a porta para à privatização da água – fá-lo pelas traseiras. Esta abre, milímetro a milímetro, a possibilidade de empresas privadas entrarem no mercado, para que o mercado se abra e os privados ganhem acesso ao mercado.”
Ele até nega que a Comissão da UE quer privatizar a água de todo: o poderoso Comissário Europeu Barnier diz que esta política pretende apenas reorganizar o mercado. “Vai ficar tal como está."
Sim, e para que precisamos então da diretiva?
“Porque precisamos de regras. Cada município alemão continuará a decidir sobre a sua água, mas agora damos-lhe a possibilidade para entregar a água a uma empresa privada, que será também regulada, para o benefício do consumidor.”
Aqui está, portanto, a ideia da Comissão: as licenças da água têm de ser aligeiradas através da UE, mas depois segue-se a vez dos parceiros privados, porque contra os preços dumping das grandes empresas, os municípios não conseguem competir.
Isto, enquanto 82% dos alemães quer que o abastecimento de água seja organizado pelas cidades e municípios. Aqui, cidades e municípios até recuam nas privatizações individuais.
Vejamos o exemplo de Berlim. Em 1999, a empresa da água foi parcialmente privatizada.
Após protestos em massa, a cidade começou a comprar de volta as suas ações. O caminho foi caro, mas constituiu o primeiro sucesso para esta iniciativa de cidadãos.
Mas a nova estratégia da Comissão Europeia pôde negar esta ideia. “A nova diretiva da UE irá colocar tudo sob pressão para a privatização. E a experiência de Berlim demonstra que mesmo apenas a privatização parcial, os denominados negócios de parcerias público-privadas, na realidade, beneficiam apenas as empresas privadas. Estas têm um lucro garantido, e nós pagamos.”
Para os investidores privados, a água é um bem tal como o ouro ou a eletricidade. Porque a água é um objeto de especulação, a água é um bem económico. Os analistas estimam que o valor do mercado da água na UE, se encontra na casa das centenas de biliões (milhares de milhões).
E estes assim o querem: as grandes empresas, tais como Thames Water e Veolia, assim como as empresas alemãs RWE e Gelsenwasser esperam ansiosamente pela privatização.
A privatização da água raramente atinge os efeitos prometidos, como confirma um estudo realizado em 2010 pela Universidade de Barcelona. Nesse estudo, existem provas de que a qualidade da água acabou por diminuir em alguns locais, após a privatização, mas acima de tudo: não se tornou mais barata. “Não podemos provar que a produção de água privada é mais barata.”
Olivier Hoedeman, “Corporate Europe Observatory”: “As promessas permanentemente associadas com a privatização da água, melhor serviço, preços mais baixos, não são cumpridas. Pelo contrário, existe uma tendência para o aumento de preços, e o prometido investimento na rede de abastecimento de água raramente se torna realidade.”
O dinheiro necessário para as dispendiosas construções na rede não combina com a necessidade de lucro imediato. Exemplos tais como o de Londres ou de Bordéus mostram: tubos que apodrecem, terra que contamina a água potável, empresas que frequentemente adicionam cloro ou produtos semelhantes para manter os requisitos de higiene.
Por que decide a UE contra a vontade da população europeia? Em que estudos se baseiam?
A quem é que esta se dirige por trás das janelas? Por exemplo, com eles, com o “Steering Group” – Um grupo de peritos que fornece consultoria à Comissão Europeia nas questões de políticas de água.
A lista de participantes é incrível. Esta inclui, na sua maioria representantes, da indústria da água e sectores relacionados. Desculpe, mas na lista estão: Michel Barnier, Comissário Europeu para o Mercado Internacional: “Não fui eu pessoalmente que reuni este grupo de especialistas, mas se me quer dizer que o nosso grupo de especialistas deveria ser mais equilibrado, concordo consigo.”
Christian Ude, Presidente da Associação Alemã de Cidades: “É realmente infeliz que alguns comissários concorrentes apenas conheçam as necessidades dos seus Administradores e não as necessidades da população.”
Água – um direito humano? Ou água – um negócio bilionário? Bruxelas já decidiu: no futuro, a água deverá pertencer às empresas e não a todos nós...

Ecos da blogosfera – 2 fev.

“Make humor, forget the war!”

80 anos após a chegada de Adolf Hitler ao poder, "Er ist wieder da" — "Ele está de volta" — do escritor alemão Timur Vermes, encena o regresso do ditador a Berlim, no verão de 2011. O livro permanece no topo das vendas, mas também provoca grande ranger de dentes.
Ele está de volta
30 de agosto de 2011. Um velho acorda num terreno baldio de Berlim. Deitado no chão, só vê o céu azul por cima da cabeça e fica surpreendido ao ouvir o canto dos pássaros, sinal de que estamos a testemunhar pelo menos uma pausa nos combates.
O homem tem uma grande dor de cabeça e não sabe onde se encontra nem como ali chegou. Tenta lembrar-se do que fez na véspera: a amnésia não pode ser explicada pelo álcool – porque o Führer não bebe! Em vão, procura em redor o seu fiel Bormann. Hitler levanta-se com dificuldade e dirige-se para as vozes de 3 rapazes da Juventude Hitleriana, certamente de licença porque não estão fardados e jogam à bola. "Ei, velhote, olha p’ra isto! Quem é este velho?" "Devo estar mesmo com mau aspeto", pensa o Führer, ao registar a falta da saudação regulamentar. "Onde está o Bormann?", preocupa-se novamente. "Quem é esse?" "Bormann! Martin Bormann!" "Não conheço, tem cara de quê?" "De dirigente de topo do Reich!" Hitler olha novamente para os 3 rapazes. Estão de camisolas coloridas. "Jovem hitleriano Ronaldo! Onde fica a rua mais próxima?" Ninguém reage. Então, vira-se para o mais novo dos 3, que aponta para um canto do terreno.
No quiosque de jornais da terra, Hitler procura o seu velho diário Völkischer Beobachter. Só vê títulos turcos... "Estranho, os turcos permaneceram fora do conflito, apesar das nossas inúmeras tentativas de o associar à nossa causa." Desmaia ao ler a data, 30 de agosto de 2011, num dos jornais que não conhece.
O dono do quiosque julga estar na presença de um ator saído de uma série de televisão. Deixa Hitler ficar uns dias com ele no estabelecimento. "Olhe que o senhor imita-o bem, hã?" Hitler fica indignado."Pareço algum criminoso?" "Parece o Hitler", diz o vendedor de jornais. "Precisamente!", responde o Führer...
Transformado em vendedor de jornais, o ditador é "descoberto" por uma empresa de conteúdos para televisão. Os produtores veem nele um "enorme potencial". Ele fica danado... O êxito do programa é impressionante. Desamparado, Hitler acordou numa sociedade onde o sucesso é medido em termos de audiências, em "gostos" no Facebook e coisas do género. Torna-se um ator cómico reconhecido... "O senhor vale ouro, meu caro! Isto é apenas o início, acredite em mim!", felicita-o o produtor.
A famosa madeixa de cabelo preto
"Este livro é tão engraçado que não se consegue largar", entusiasma-se Peter Hetzel, crítico literário do canal televisivo Sat 1. Na verdade, o romance – de capa branca adornada apenas com a famosa madeixa de cabelo preto e com o título a ocupar o lugar do bigode – obteve um sucesso inesperado, apesar do preço (19,33 euros, em referência ao ano da chegada de Hitler ao poder) e da extensão (396 páginas escritas na primeira pessoa do singular, maioritariamente de reflexões pessoais do Führer, no estilo seco e sombrio do Mein Kampf [A minha luta, livro de Hitler transformado em Bíblia do nazismo]). "O Hitler de Vermes enfrenta uma sociedade para quem rir dele é há muito um sinal de que aceita o confronto com o seu próprio passado. Mas é também uma sociedade que entendeu que este passo é necessário para se livrar desse mesmo passado”, defende o diário Süddeutsche Zeitung.
Com uma tiragem de 360.000 exemplares e lançado no outono de 2012, “Er ist wieder da” é topo de vendas há várias semanas. O romance – de que foi feita uma versão áudio muito boa, lida por Christoph Maria Herbst – será publicado em francês, inglês e 15 outros idiomas, e a imprensa já especula sobre uma futura carreira no cinema. Evidentemente, esta não é a primeira vez que a encarnação do mal é recuperada por comediantes e outros artistas. Charlie Chaplin ridicularizou Hitler em O grande ditador, em 1940. E, em 2007, estreou o filme de comédia Mein Führer, do cineasta alemão Dani Levy.
O reflexo do espelho não é lisonjeiro
O primeiro romance do jornalista Timur Vermes provoca, contudo, muito ranger de dentes na Alemanha. Daniel Erk, autor de So viel Hitler war selten (Raramente vimos tanto sobre Hitler), um livro que critica a "banalização do mal", está preocupado com o número crescente de comédias sobre o Terceiro Reich. "Para quê interrogarmo-nos sobre o profundo antissemitismo da sociedade alemã, ainda hoje, quando um louco é apresentado como o único responsável?”, pergunta ele. “Esta é uma boa oportunidade para os alemães se libertarem de qualquer culpa e responsabilidade. Este Hitler é [afinal] o único responsável pela guerra e pelo genocídio."
Para Timur Vermes, os mesmos argumentos justificam o seu romance pela leitura contrária. Em “Er ist wieder da”, descreve um Hitler com medo, inquieto quando o público que não o teme lhe resiste. "Não temos Hitler em excesso”, considera Timur Vermes. “Temos em excesso um estereótipo de Hitler, sempre o mesmo: o monstro que nos deixa tranquilos. Eu próprio, durante muito tempo, aceitei essa visão de Hitler. Mas ela não basta. Hitler exercia um verdadeiro fascínio. Se tantas pessoas o ajudaram a cometer crimes, foi porque gostaram dele. As pessoas não elegem um louco. Elegem alguém que as atrai ou por quem sentem admiração. Apresentá-lo como um monstro equivale a fazer dos seus eleitores idiotas. E isso tranquiliza-nos. Pensamos que, hoje, somos mais inteligentes. Nunca elegeríamos um monstro nem um palhaço. Mas, na época, as pessoas eram tão inteligentes como nós! Isso é que custa... Muitas vezes, diz-se que, se um novo Hitler surgisse, seria fácil de contrariar. Tentei mostrar, pelo contrário, que ainda hoje, Hitler teria boas hipóteses de ser bem-sucedido. Só que de outra forma."
O romance de Vermes mostra como, na Alemanha do século XXI, um demagogo teria novamente oportunidades: os meios para conquistar as massas mudaram, tornaram-se mais modernos. Mas a intenção permanece a mesma. "Vermes segura um espelho perante a sociedade alemã, que lhe devolve, apesar do riso, uma imagem pouco elogiosa", conclui o crítico literário do canal N-TV. Talvez resida aí a chave do seu sucesso.
Visto da Alemanha - “Uma estranha fixação em Hitler”
O Süddeutsche Zeitung considera que o sucesso de “Er ist wieder da” não se explica pela sua qualidade literária – "que não deixa nada a invejar ao Mein Kampf" –, mas à perspicácia da observação: uma sociedade onde reina o consenso de que rir – com “um riso que nos fica atravessado na garganta” –, acompanhado de um ligeiro arrepio e até de um pequeno sentimento de culpa é "interessante, complexo, profundo". Assim, segundo o jornal:
as audiências formidáveis [da personagem televisiva de Hitler] do romance resultam visivelmente das mesmas razões para o sucesso de vendas do livro. Desenvolveu-se na Alemanha uma estranha fixação em Hitler, quase maníaca. Com uma regularidade extraordinária, Hitler ocupa as primeiras páginas de revistas sérias; ocupa a televisão com uma insistência que torna quase impossível mudar de canal sem o ver de braço estendido; e em encontros sociais, nada bate uma paródia do "Föhrrerrr" [paródia ao sotaque do Führer], com dois dedos debaixo do nariz, para garantir explosões de riso, um pouco histéricas mas duradouras. Esta focalização em Hitler – seja sobre a figura cómica ou como personificação do mal – arrisca-se a esbater os factos históricos.

Contramaré… 2 fev.

Portugal cortou nas despesas de Saúde o dobro do que era exigido no memorando de entendimento com a ‘troika’.
A conclusão é da OCDE num relatório da que compara os cortes no setor da Saúde registados em vários países. O documento termina com um aviso aos governos sobre os impactos futuros dos cortes que agora estão a ser feitos no setor.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Voltando às descobertas e achamentos…

1 em cada 4 jovens portugueses está desempregado. Para conseguirem trabalho, não hesitam em emigrar. Alemão, russo, chinês ou árabe são as línguas que aprendem antes de partir: eis o mapa das novas terras prometidas.
Num momento como este, nenhuma empresa portuguesa contrata um especialista em programação robótica. O receio de Gonçalo Gomes, 30 anos, logo se transformou numa dolorosa certeza, a cada novo currículo enviado e invariavelmente ignorado. Para piorar a situação, também a sua mulher, Marta, enfermeira, de 25 anos, não conseguia mais do que uns trabalhos precários e a meio tempo, numa clínica ou noutra.
“Decidimos abrir os nossos horizontes e enviar currículos para o estrangeiro. E, em junho, tivemos excelente feedback de empresas alemãs. O único problema é que exigiam que soubéssemos falar a língua.” Em setembro, Gonçalo e Marta entraram para um curso intensivo na DUAL, o departamento de qualificação profissional da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemão, em Lisboa.
“Temos tido muitas solicitações de empresas germânicas para profissionais de diferentes áreas”, diz Elísio Silva, gestor da DUAL. “Na maior parte das profissões, é indispensável conhecer a língua, pelo que será sempre uma boa aposta aprender alemão.” Nada disto significa que o inglês está a perder importância. Ser fluente na língua universal, no entanto, não diferencia um candidato dos outros. Além disso, na maior parte das profissões é obrigatório dominar o idioma do país.
Uma língua muito procurada
Com o país em crise profunda e a apresentar taxas de desemprego recorde (sobretudo entre os jovens, quase 40% entre os que têm menos de 25 anos), muitos portugueses já se aperceberam da importância crescente de alguns países, na economia internacional. Uns no centro da Europa, como a Alemanha, que continua a crescer em contracorrente, e outros bem mais longe. Nos últimos anos, o aumento da procura de cursos de russo, árabe e mandarim mostram bem de onde vem o poderio económico.
Sem surpresas, atendendo ao crescimento imparável da China, o mandarim é o que tem atraído mais atenções.
Nos últimos anos, surgiram em Portugal vários cursos de mandarim. Entre os mais populares, destacam-se as aulas para crianças, procuradas por pais especialmente preocupados com o futuro dos filhos.
A China não é só futuro – a sua pujança em todos os setores da economia é já uma realidade. E, apesar de o inglês ser ensinado nas escolas daquele país, a falta de prática dos chineses e, acima de tudo, as diferenças culturais obrigam os forasteiros a aprenderem algumas noções básicas de mandarim.
“Quando sabem que falamos mandarim, os chineses ficam agradavelmente surpreendidos”, assegura Sara Veiga Silva, 21 anos e com um diploma em Estudos Asiáticos, além de um curso de mandarim do Instituto Confúcio. A China é a potência económica do momento, mas não está sozinha. Nos últimos anos, com a economia nacional congelada, as empresas lusas têm seguido o rasto do dinheiro dos países árabes que, por sua vez, acolhem de braços abertos o nosso know how nas mais diversas áreas.
“Já há uma centena de empresas nacionais e 6.000 ou 7.000 trabalhadores portugueses espalhados pelos países árabes, que são dos mercados mais vivos, atualmente”, adianta Allaoua Karim Bouabdellah, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa. “Mas saber inglês ou francês não é suficiente. Muitos empresários árabes dominam apenas a sua própria língua, e é muito mais fácil fazer negócios quando nos exprimimos na língua do cliente.”
No meio da letargia empresarial do País, os portugueses parecem despertos para este cenário, indica António Dias Farinha, professor catedrático e diretor do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Faculdade de Letras de Lisboa. “Só na minha Universidade, temos mais de 100 alunos a aprender árabe, e existem muitos mais cursos, aqui e noutras cidades.”
Na mira está a emigração
Após vários anos a ser ignorada, também a língua de Tolstoi e Dostoievski ganha cada vez mais adeptos – a Rússia encontra-se em ascensão económica, sustentada pelas suas reservas energéticas, de que a Europa do Norte e Centro dependem.
“Há 3 anos, começou a notar-se um maior interesse pela língua. Temos, atualmente, mais de 200 inscrições nos 2 semestres de russo”, sublinha Rita Marnoto, diretora do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Os objetivos dos alunos passam, aqui e ali, pela perspetiva de conseguir emprego na área da tradução e em empresas russas a trabalhar em Portugal. Mas a emigração é outra das finalidades de muitos estudantes.
Portugal está na moda, entre a classe russa mais rica. Muitos moscovitas de carteiras recheadas fazem férias no nosso país, em detrimento de outros destinos de praia (Grécia, Egito, Espanha), precisamente por ser mais caro – desta forma, mostram aos amigos a sua saúde financeira. Por outro lado, a comunidade de Leste, russófona, que vive em Portugal, ainda é um mercado para algumas profissões, mesmo que a maioria desses imigrantes fale português.
Nem sempre a solução está do outro lado do planeta ou da Europa. Logo a seguir a Espanha, numa crise quase tão profunda como a nossa, existe um país de finanças aparentemente saudáveis. Assim pensou Joana Rodrigues, 23 anos, licenciada em engenharia biomédica. “Como quero ir trabalhar para fora e o inglês não é suficiente, decidi melhorar o meu francês”, explica.
A quantidade de países europeus em que o francês é o idioma oficial influenciou a sua decisão. “Além de França, temos a Bélgica, o Luxemburgo e a Suíça”, enumera Joana. A França pode não ter o elã económico da Rússia, do Golfo Pérsico ou da China, mas sempre fica mais perto de casa.

Ecos da blogosfera – 1 fev.

Por causa do “altruísmo” dos “sem-abrigo”…

A reforma do Estado está a baralhar-nos a cabeça. A cada injeção fiscal, a cada disparate verbal estamos a tornar-nos mais egoístas, mais centrados na nossa felicidade pessoal, sem perceber que também ela passa por alguma redistribuição social. A culpa é de quem? Do egoísmo natural? De um debate pouco elevado? Ou da falta de uma comunidade e sociedade civil que alimentem uma ideia concreta de Estado social?
Miguel Pacheco
John Rawls, o filósofo político, percebia que o equilíbrio entre a nossa vontade de contribuir - impostos - e a tolerância para repartir era delicada. Dizia: "O princípio da progressividade dos impostos não deve ser aplicado à riqueza apenas com o propósito de recolher fundos (para o governo), mas apenas para prevenir as acumulações de riqueza que são inimigas da justiça social." Rawls olhava para o Estado como um equilibrador de oportunidades, mas não via mal na riqueza (desde que não seja egoísta) nem no Estado (desde que não fosse exagerado).
Estas duas ideias - egoísmo e justiça social - são úteis para se enquadrar o que vai mal na reforma do Estado.
Egoísmo - Apesar da imagem do umbigo, o egoísmo não é só pessoal: é promovido. O fim do Estado social será o apogeu de interesses privados em áreas habitualmente dominadas pelo Estado - pensões, saúde, segurança. O que move este debate não é só uma tentativa de equilibrar o Estado, mas sim de ganhar com o que for destruído, percebendo o nojo que o excesso de impostos nos provoca. O problema é que é um nojo sem rede: há 30 anos, antes de o Estado ser Providência, a família e a comunidade davam alguma tranquilidade social. Agora que o primeiro faliu e os segundos perdem força, o risco do nosso egoísmo é grande - e sem rede.
Justiça social - É um disparate reduzir este debate apenas à sua dimensão contabilística. Qualquer modelo de Estado social parte de perguntas simples e ideológicas. Até onde queremos proteger? O que queremos defender? Até onde queremos pagar para repartir? Qual é o caminho para um Estado justo? Cobrador mas redistributivo? Social mas equilibrado? Essas respostas - sociais, ideológicas, cívicas - não vivem de modelos externos nem de sugestões em relatórios. Essas são as respostas que uma nação devia saber de cor. 
Fiquemo-nos apenas pelo princípio da progressividade dos impostos aceitando como válido e justo, que não deve ser aplicado com o propósito de recolher fundos para o governo sobreviver, mas para prevenir a acumulação de riqueza em muito poucos, reduzindo, com critérios justos as injustiças sociais e garantir os direitos de todos.
É notório que nada disto se passa, antes se inverte, e a pretendida “reforma” do Estado assemelha-se à situação de um Reformado, que já deu o que tinha a dar e agora é só sacar e descartar, fazendo-os altruístas, em benefício dos egoístas “sem-abrigo”…

Para quebrar o jejum cultural…

O evento irá realizar-se de 21 a 23 de fevereiro, e o arranque será no Casino da Póvoa, no dia 21, às 11h00. A Sessão de Abertura contempla o anúncio dos vencedores dos 4 Prémios Literários e ainda a apresentação do número 12 da Revista Correntes d’Escritas.
Sobre a Revista, o Vereador da Cultura, Luís Diamantino, afirmou que “temos sempre a preocupação de homenagear personalidades, como foi o caso de Eduardo Lourenço, Agustina Bessa-Luís, entre muitos outros, sendo que este ano é Urbano Tavares Rodrigues que não vai poder estar connosco por motivos de saúde. Mas o importante é demonstrar-lhe a nossa homenagem e reconhecimento que temos pelo escritor, combatente e homem da cultura”.
Do Casino da Póvoa, o Encontro ruma para o Auditório Municipal, onde, às 15h00, João Lobo Antunes irá proferir a Conferência de Abertura.
Em relação ao conferencista, Luís Diamantino assumiu ter “muito orgulho em trazê-lo cá. Com certeza vai-nos deleitar com as suas histórias. Vai falar um pouco da sua experiência, da medicina e da literatura”.
Mesas de debate, lançamentos de livros, cinema, teatro, entre muitos outros momentos a não perder, até ao dia 23, com a participação de cerca de 60 escritores de expressão ibérica, sendo que 12 participam no evento pela 1.ª vez. Entre os participantes, destacam-se os nomes como António Mega Ferreira, 8pela 1ª vez no evento), talvez Eduardo Lourenço e o Maestro Victorino D’Almeida.
Uma das novidades desta edição são as intervenções poéticas. “Vamos ter a poesia nas ruas da Póvoa. Uma forma de aproximar ainda mais o Correntes d’Escritas à população. Estamos num restaurante, café, ou no Mercado Municipal a fazer compras e aparece um grupo a dizer poesia”, revelou Luís Diamantino, esclarecendo que os poemas serão ditos de acordo com o contexto. Haverá ainda sessões de poesia no Hotel Axis Vermar e na Casa da Juventude, onde, como habitualmente, terá lugar a Feira do Livro.
Outro aspeto da programação é a ida dos escritores a todas as escolas EB 2/3 e Secundárias do concelho. O Vereador informou que “este ano, vamos ter muitas escolas de outros concelhos, nomeadamente Apúlia, Porto, Santa Maria da Feira, Vila do Conde, a virem à Póvoa de Varzim para, no âmbito do Correntes, estarem com os autores”. A este propósito, acrescentou, “os jovens da Póvoa não sabem a sorte que têm”.
O Encontro contará com 2 exposições, uma de pintura de Emerenciano intitulada “Aqui e Agora sem Palavras”, realizada em parceria com a Fundação de Serralves, e que estará patente no Museu Municipal, outra de fotografias de Carlos Romero, na Biblioteca Municipal.
O Vereador espera que o Correntes d’Escritas seja “3 dias intensos, com muita gente, tal como no ano passado. Esperamos, acima de tudo, cumprir um dos grandes objetivos do evento: promover o livro e a leitura”.
O envolvimento de um grupo de patrocinadores e parceiros é absolutamente essencial para que o maior evento literário do país continue a acontecer. Luís Diamantino informou que o Correntes d’Escritas terá um custo de cerca de 40.000 euros, dos quais somente 8.000 serão do orçamento da Câmara Municipal, sendo que o Instituto do Turismo de Portugal apoia em 80% os custos do evento. Para além disso, destacou o Casino da Póvoa, como patrocinador principal, a Norprint, que este ano assume, na íntegra, a publicação da Revista, a BMCar, a Embaixada do Brasil, a Embaixada de Angola e o Instituto Cervantes.
Susana Saraiva, do Casino da Póvoa, patrocinador principal do evento, referiu que para o Casino “é uma honra estar associado ao Correntes d’Escritas porque é efetivamente um projeto de grande envergadura a nível cultural”. De resto, o apoio do Casino ao evento vem seguindo uma linha de apoio à Cultura desenvolvido por esta entidade.
Lopes de Castro, da Norprint, afirmou que está com o Correntes d’Escritas desde o início, sendo que, este ano, a empresa celebra o seu 20º aniversário e irá patrocinar a Revista Correntes d’Escritas na íntegra.
Acompanhe a 14ª edição do Correntes d’Escritas – Encontro de Escritores de Expressão Ibérica no portal municipal, onde poderá também consultar o PROGRAMA completo do evento.

Contramaré… 1 fev.

A crise está cada vez mais a afetar o dia-a-dia das famílias e 2013 ameaça ser um ano particularmente difícil por causa do corte que o IRS vai impor ao rendimento disponível.
O mais recente relatório "Think", da TNS Global, observava que 72% dos portugueses diziam ter dificuldade em chegar ao final do mês com todas as contas pagas. Neste conjunto, cerca de 1/4 afirmava que o salário nunca chegava, enquanto 48% admitiam que vivem esta sensação de "muito mês para tão baixo ordenado" apenas de vez em quando.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fora de tempo, sem tempo e com sentimento

valter hugo mãe
Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade.
A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.
Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe.
Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.
Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes.
Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.
Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias.
Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto.
As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.
Valter Hugo Mãe - Jornal de Letras, 19 Set 2012

Ecos da blogosfera – 31 jan.

As “reformas” tem custos, mas que(m) se quer atingir?

Marco Cangiano conhece bem a máquina pública portuguesa. Durante ano e meio, até meados de 2012, integrou uma missão técnica do FMI a Portugal para estudar e aprofundar medidas do lado da despesa. É um especialista em organização e gestão do sector público. Deixou há pouco tempo o FMI para dar aulas na Universidade de Nova Iorque.
Luís Reis Ribeiro
DV: O que pensa da inclusão da meta quantitativa de corte de 4.000 milhões na despesa que serviu de linha de fundo ao estudo do FMI sobre Portugal?
MC: Não vi o relatório, lamento. Deixei o FMI em setembro. Não acompanhei os desenvolvimentos desta discussão nos últimos 6 meses. Há tantos elementos em jogo que penso que não sei o que dizer.
Mas há reformas que necessitam de ser feitas. Quais?
Há um grande número de reformas que tiveram lugar nos últimos 2 anos. Mas mais terá de ser feito. Como ouvimos nesta conferência, as reformas nunca têm um final. 
Disse que cada país é um caso único e que o contexto importa, mas que não se pode usar isso como desculpa para não fazer as reformas necessárias. Pode explicar onde está aqui o equilíbrio?
O equilíbrio normalmente é difícil. Cada país tem a sua cultura, a sua história, por aí fora... É por isso que, numa das primeiras apresentações, o professor Pollitt disse que o contexto importa e que existe um consenso na literatura académica em torno dessa importância. Mas também que não deve importar tanto que o principal argumento seja 'somos tão únicos que não é possível fazer nada'.
Disse que Portugal, em termos de cumprimento de objetivos financeiros, parte mais atrasado quando se compara com os pontos de partida dos outros países quando estes iniciaram as suas reformas do Estado. Que problemas ou desafios é que esse atraso pode levantar?
Tem de se melhorar a qualidade da informação, o controlo das despesas vis-à-vis países como Austrália, Nova Zelândia, Suécia. Mas devo dizer que Portugal não é um caso único. A maioria dos outros países, mesmo os mais desenvolvidos, fica atrás quando se compara com esses 3 países. Mas muitas medidas foram implementadas desde o início do programa de ajustamento. Do que posso dizer, tem sido muito positivo, mas ainda há muito trabalho que tem de ser feito. A informação é melhor, a qualidade desta melhorou, o cumprimento financeiro melhorou.
À luz dos exemplos internacionais que conhece considera útil articular uma meta quantitativa para cortar na despesa quando se debate as opções de  reforma?
Não tenho acompanhado, não sei de onde vieram esses números, não conheço o contexto.
Mas em termos mais genéricos.
Em geral, quando falamos em reformas falamos de muitas, muitas coisas. Claro que, a certa altura, os números interessam. O custo de fazer as reformas, o que se pretende atingir, faz parte da discussão, mas não é a única coisa que importa. Mas como se viu pelas histórias do Canadá, da Suécia, no fim do dia os números têm de ser postos em cima da mesa para tornar as reformas em assuntos mais compreensíveis.
Ora aqui está quem devia saber deslindar a razão dos 4.000 milhões que Gaspar diz que é preciso cortar e afinal está tão “desinformado” como nós.
Já há dias disse aqui que eram precisos números, contas, de somar, de subtrair e de dividir, para uma melhor comunicação e sabermos para que servem as “reformas” para aceitarmos entrar no jogo ou não…
O custo das “reformas” (convém lembrar que para os economistas e governos significam cortes, confiscos, implosão da economia, austeridade e pobreza) tem sido endossada aos contribuintes, que nada (ou muito pouco) fizeram para a dívida, que advém da banca e de grandes empresas, na maior (grande) percentagem.
Mas o mais significativo é sabermos para que servem estas “reformas”, em que medida contribuem para o nosso dia-a-dia e o bem-estar dos cidadãos, famílias e futuro do país…
Como só nos dizem UM NÚMERO, sem qualquer fundamento contabilístico, só podemos concluir que o que se pretende não tem nada de economia ou de finanças e apenas faz emergir objetivos políticos, que condicionam o sistema e o conduzem por caminhos ideológicos bem conhecidos, em que os mais fracos alimentam os mais fortes… Como na selva!
Mas como isto está a ficar um circo, mais dia, menos dia, há de haver um/a bom/a domador/a competente, que ponha estes leões de cócoras, nem que seja por já estarem saciados…

Na Europa de hoje, são cegos a guiar quem vê melhor!

O espírito de ditadores como Nicolae Ceausescu ganha nova vida na resposta da elite europeia à crise da zona euro, assegura o pensador esloveno Slavoj Žižek. A mesma desconfiança na democracia que outrora restringiu o desenvolvimento dos países pós-comunistas está agora a ganhar terreno na Europa. Excertos.
Numa das últimas entrevistas antes da queda do regime, um jornalista ocidental perguntava a Nicolae Ceausescu como justificava o facto de os cidadãos romenos não poderem viajar livremente para o estrangeiro, embora a liberdade de circulação estivesse garantida na Constituição.
A sua resposta fez jus à melhor tradição do raciocínio estalinista: é verdade, a Constituição garante a liberdade de circulação, mas também garante o direito a uma vida segura e próspera. Portanto, temos aqui um potencial conflito de direitos: se os cidadãos romenos fossem autorizados a deixar o país, a prosperidade da sua terra natal ficaria ameaçada. Neste conflito, há que fazer escolhas, e o direito a uma pátria próspera e segura goza de clara prioridade...
Parece que o mesmo espírito está bem vivo na Eslovénia de hoje. No mês passado, o Tribunal Constitucional considerou que fazer um referendo sobre legislação de criação de um “mau banco” e uma holding soberana seria inconstitucional, o que equivale a proibir uma votação popular sobre o assunto. O referendo foi proposto pelos sindicatos, num desafio à política económica neoliberal do Governo, e a proposta recolheu assinaturas suficientes para torná-lo obrigatório.
Bruxelas entrou em pânico
A ideia de “mau banco” consiste num lugar para transferir todo o crédito tóxico dos principais bancos, a ser recuperado com dinheiro do Estado (ou seja, à custa dos contribuintes), evitando assim qualquer investigação séria sobre quem foi responsável por esse mau crédito. Esta medida, debatida durante meses, está longe de ser consensual, mesmo para especialistas financeiros. Então, porquê proibir o referendo?
Em 2011, quando o Governo de George Papandreou, na Grécia, propôs um referendo sobre as medidas de austeridade, Bruxelas entrou em pânico, mas nem assim alguém se atreveu a proibi-lo diretamente.
Segundo o Tribunal Constitucional esloveno, o referendo “teria acarretado consequências inconstitucionais”. Como? O tribunal reconhece o direito constitucional do referendo, mas alega que a sua execução poria em perigo outros valores constitucionais que devem ter prioridade em tempos de crise económica: o eficiente funcionamento do aparelho de Estado, nomeadamente a criação de condições para o crescimento económico; e o exercício dos direitos humanos, especialmente os direitos à segurança social e à livre iniciativa económica.
Em suma, para avaliar as consequências do referendo, o tribunal aceita simplesmente como um facto que não obedecer aos ditames das instituições financeiras internacionais (ou não satisfazer as suas expectativas) pode levar a uma crise política e económica, e é, portanto, inconstitucional. Sem rodeios: como corresponder a esses ditames e expectativas é condição para manter a ordem constitucional, pelo que passam a ter prioridade sobre a Constituição (e o mesmo é dizer, a soberania do Estado).
Tendência para a limitação da democracia
A Eslovénia pode ser um país pequeno, mas esta decisão é um sintoma de uma tendência mundial para a limitação da democracia. A ideia é que, numa situação económica complexa como a de hoje, a maioria das pessoas não está qualificada para decidir – não se apercebem das consequências catastróficas que decorreriam se as suas exigências fossem atendidas.
Este tipo de argumentação não é novo. Numa entrevista na televisão há um par de anos, o sociólogo Ralf Dahrendorf associava a crescente desconfiança na democracia com o facto de, após cada mudança revolucionária, o caminho para a nova prosperidade atravessar um “vale de lágrimas”. Após o colapso do socialismo [regimes com ênfase no Estado social], não é possível passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado livre bem-sucedida: há que desmantelar o limitado, mas real, apoio e segurança social socialistas, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.
O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado social do pós-guerra para a nova economia global envolve renúncias dolorosas – menos segurança, menos garantias de assistência social. Para Dahrendorf, o problema restringe-se ao simples facto de esta travessia dolorosa do “vale de lágrimas” durar mais tempo do que o período médio entre eleições, pelo que há uma grande tentação em adiar as mudanças difíceis em nome de ganhos eleitorais de curto prazo.
Populismo que termina em catástrofe
Para ele, o paradigma é a deceção de amplos estratos de nações pós-comunistas em relação aos resultados económicos da nova ordem democrática: nos dias gloriosos de 1989, equiparava-se democracia com a abundância das sociedades consumistas ocidentais; 20 anos depois, a abundância continua a não chegar, e culpa-se a própria democracia.
Infelizmente, Dahrendorf concentra-se muito pouco na tentação oposta: se a maioria resiste às mudanças estruturais necessárias à economia, não seria uma conclusão lógica pensar que, durante uma década ou mais, uma elite esclarecida devia tomar o poder, até por meios não democráticos, para obrigar à aplicação das medidas necessárias e, assim, lançar as bases de uma democracia verdadeiramente estável?
Na mesma linha de pensamento, o jornalista Fareed Zakaria apontava há dias que a democracia só pode “pegar” em países economicamente desenvolvidos. Se os países em desenvolvimento forem “prematuramente democratizados”, o resultado é um populismo que termina em catástrofe económica e despotismo político – não admira que os países do Terceiro Mundo (Formosa, Coreia do Sul, Chile) hoje economicamente mais bem-sucedidos só tenham abraçado a plena democracia após um período de governo autoritário. Já agora, esta linha de pensamento não fornece o melhor argumento ao regime autoritário da China?
O que é novo hoje é que, com a crise financeira que começou em 2008, está a ganhar terreno, também no próprio Ocidente, este tipo de desconfiança na democracia – em tempos limitado ao Terceiro Mundo e aos países pós-comunistas em desenvolvimento. O que, há uma ou duas décadas, eram conselhos paternalistas para os outros, agora diz-nos respeito também a nós.
Reduzir défices rapidamente é contraproducente
O mínimo que se pode dizer é que esta crise vem provar que não é o povo, mas os especialistas que não sabem o que andam a fazer. Na Europa Ocidental, estamos efetivamente a testemunhar uma crescente incapacidade da elite dominante – sabem cada vez menos como governar. Veja-se como a Europa está a lidar com a crise grega: exercendo pressão sobre a Grécia para pagar dívidas, mas, ao mesmo tempo, arruinando-lhe a economia com imposição de medidas de austeridade, garantindo assim que a dívida grega nunca será reembolsada.
No final de outubro do ano passado, o próprio FMI publicou um relatório mostrando que os danos económicos de medidas de austeridade agressivas podem ser 3 vezes maiores do que inicialmente se supunha, anulando assim o seu próprio conselho sobre austeridade na crise da zona euro. Agora, o FMI admite que forçar a Grécia e outros países sobrecarregados de dívidas a reduzir os seus défices muito rapidamente é contraproducente, mas só depois de centenas de milhares de postos de trabalho terem sido perdidos devido a tais “erros de cálculo”.
E é essa a verdadeira mensagem dos protestos populares “irracionais” por toda a Europa: os manifestantes sabem muito bem o que desconhecem; não têm a pretensão de ter respostas rápidas e fáceis para dar. Mas o que o seu instinto lhes diz não deixa de ser verdade: que quem está no poder também não sabe o que anda a fazer. Na Europa de hoje, são cegos a guiar outros cegos.

Contramaré… 31 jan.

A economia espanhola acelerou a queda nos últimos 3 meses de 2012, contraindo 0,7% e terminou o ano com uma contração de 1,37%, segundo os dados do instituto de estatística espanhol.
Este foi o pior desempenho da economia espanhola desde o trimestre terminado em Junho de 2009, ano em que o PIB encolheu 3,74%.
O consumo justifica quebra da economia, enquanto as exportações atenuaram.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Quem responde pelos erros? Por que não os retificam?

“A Europa vai fazer cortes até morrer?” A questão levantada pelo Frankfurter Rundschau provoca desentendimentos dentro da troika de fundos de resgate internacionais (UE-BCE-FMI) e provoca verdadeiras batalhas de pareceres e contra pareceres entre a Comissão Europeia e os economistas do Fundo Monetário Internacional.
O centro da disputa, explica o Rundschau, é o “multiplicador”, esse número que indica até que ponto uma política de austeridade pesa na economia de um país. Se uma redução de despesa pública de 1 euro provoca a diminuição do PIB em 1 euro, o multiplicador é, então, estimado em 1. Mas se é de 2, os cortes orçamentais asfixiam a economia e provocam um aumento do défice, porque diminuem as receitas fiscais; se é de 0,5, tem pouca influência na saúde económica e a austeridade é uma boa solução para o Estado.
O problema é que 2 economistas do FMI descobriram que os pareceres feitos sobre os países europeus em crise subestimaram constantemente o famoso multiplicador, sobretudo no caso da Grécia.
A Comissão Europeia respondeu imediatamente com um contra parecer segundo o qual economizar é bom.
Poderá ser restabelecida a paz dentro da troika? Para isso é preciso esperar pelo fim da atual recessão para que os números reentrem na ordem, escreve o Rundschau.
Restará depois aos políticos escolherem a teoria que lhes convém.
Ainda bem que se multiplicam as opiniões contraditórias sobre os “multiplicadores”, que tem consequências no dia-a-dia dos cidadãos e contribuintes e no mal-estar das sociedades apanhadas nas teias técnicas dos nossos salvadores…
Ainda bem que a própria troika se divide sobre o “efeito borboleta”, o que nos pode tirar deste caos, se houver rigor e honestidade intelectual e técnica e o justo recuo do método…
Ainda bem que não posso dizer muito mais, por impreparação técnica, mas o conceito de cidadania obrigam-me a não deixar passar a notícia (não divulgada por cá), os antecedentes do FMI e da Comissão Europeia, a reafirmação do erro crasso pelo FMI e a opinião de um académico (mais um), que arrasa a austeridade que nos foi imposta e que pergunta: “Quem responde pelos erros?”
Tenhamos ainda a esperança e a convicção de que haverá um remedeio, já em 2013, que ajude a ajudar os inocentes punidos…
É caso para dizer que caixa com caixa se paga. Depois da polémica caixa sobre multiplicadores orçamentais que integrava o relatório do FMI, publicado em Outubro, sobre as perspectivas económicas mundiais, na qual se defendia que a austeridade estava a roubar mais ao crescimento do que o previsto, a Comissão Europeia usou também uma caixa do seu relatório semestral para analisar o tema. E o que diz? Essencialmente que os multiplicadores orçamentais estão bem calculados e que, portanto, não é verdade que tenham subestimado os efeitos da austeridade.
O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, voltou a apontar a existência de um erro nos multiplicadores usados pelo fundo para calcular o impacto recessivo das políticas de austeridade. Os novos cálculos de Blanchard detectam um erro ainda maior do que o alarme também lançado por ele em outubro sobre o mesmo tema.
Num documento de trabalho assinado conjuntamente com um outro economista do Fundo, Daniel Leigh, Blanchard admite agora que o multiplicador de 0,5 utilizado em todas as projecções do FMI possa pecar grosseiramente por defeito.
Blanchard e Leigh não atenuaram as alarmantes hipóteses emitidas em outubro, antes as radicalizaram. Segundo o diário norte-americano Washington Post, trata-se de um "espantoso mea culpa do economista-chefe do FMI sobre a austeridade".
Anisuzzaman Chowdhury, professor de Economia da Universidade de Sidney Ocidental, Austrália, afirma que "a probabilidade de sucesso de um programa de ajustamento é de 19% dos casos ocorridos desde 1970 nos países da OCDE". A "austeridade expansionista" é controversa e o erro do multiplicador foi grave
O erro do FMI ficou famoso em outubro passado quando Olivier Blanchard, conselheiro económico do fundo e diretor do Departamento de Investigação, reconheceu no "World Economic Outlook" que o multiplicador orçamental era muito mais elevado do que se pressupôs no desenho dos programas de gestão da crise das dívidas soberanas nos países da zona euro, onde o FMI interveio integrado na troika.
"Não foi dito que as estimativas eram derivadas de uma metodologia informal. Pelo contrário, foi dada a impressão de que se tratavam de estudos rigorosos confirmando resultados empíricos de que os multiplicadores orçamentais eram mais pequenos", prossegue Chowdhury, economista nascido no Bangladesh, que, em setembro passado, contestou a robustez da evidência empírica da convicção da "austeridade expansionista" na "Economic and Labour Relations Review". Antes da Austrália, Chowdhury já lecionou em vários pontos da Ásia e da América do Norte e é membro do Center for Pacific Basin Monetary & Economic Studies, do Banco da Reserva Federal de São Francisco.
O erro do FMI foi entretanto "esquecido" e sobretudo acantonado na ideia de que se tratou de um "erro técnico" separado das políticas em que se inseriu. Chowdhury é particularmente crítico desta postura: "Não é possível separar os erros técnicos das políticas mais amplas. Quem é que assume a responsabilidade dos erros?".
O economista asiático discorda da estratégia de gestão da crise das dívidas seguida pela troika, tanto pelo FMI como pelos europeus: "Não seguiram o melhor caminho. Deveriam ter começado com um plano de alívio da dívida em vez de imporem mais empréstimos com a condicionalidade dos ajustamentos estruturais. Querer fazer reformas profundas durante uma recessão é como pedir a uma pessoa que se está a afogar para aprender a nadar, em vez de a salvar primeiro".