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sábado, 16 de março de 2013

Já não era sem tempo! E agora? Orgulhosamente só?

Kenneth Rogoff, professor de economia de Harvard, que avisou em 2009 sobre a inevitabilidade de crises de dívida na sequência da crise financeira, considera as políticas de austeridade, que estão a ser seguidas na zona euro, como condenadas a serem revistas, pois caso prossigam empurrão os países "periféricos" para mais de uma década de estagnação e para situações sociais insustentáveis, além de não resolverem o problema do sobre-endividamento.
Fala de um dilema que se colocará, mais tarde ou mais cedo, aos próprios alemães: ou terão perdas por via de recessões e crises na zona euro, ou terão de assumir as perdas das dívidas. O que implicará usar outras ferramentas para resolver o problema do sobre-endividamento, como parcialmente já começou a ser feito na Grécia.
A história do sobre-endividamento na Europa em épocas passadas e da forma como se lidou com o problema dá pistas para enfrentar a situação atual, se não se sofrer de amnésia ou se não se permanecer em estado de negação.

Ecos da blogosfera – 16 mar.

Para uma formação integral e incentivo à cidadania…

A filosofia como um conhecimento histórico de mais de 2.000 anos, por si só já tem importância pela bagagem cultural e epistemológica que desenvolveu ao longo deste período.
Daniel Duarte
É inegável a contribuição de filósofos como Aristóteles, Platão, Descartes, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Gramsci, e outros que com as suas reflexões e as suas teses ajudaram e ajudam, a sociedade ocidental a seguir o seu desenvolvimento.
No que se refere ao ensino da filosofia na Educação Básica, esta disciplina tem diversas possibilidades de contribuir para um melhor desenvolvimento dessa educação básica. Muitas são as atribuições dadas ao ensino de filosofia e a sua importância na educação básica, alguns defendem que a filosofia é importante, pois ensina a pensar, ajuda a desenvolver o sentido crítico, ajuda na reflexão e que é importante para o exercício da cidadania, etc...
Menciono aqui apenas os pontos considerados positivos, mas, certamente existem raciocínios contrários, que divergem da importância da filosofia na Educação Básica.
Estes pontos positivos por vezes podem gerar nos professores de filosofia uma certa sensação de superioridade da filosofia sobre outras disciplinas, ou então causar certa desconfiança sobre as reais possibilidades de a filosofia dar conta de tamanha responsabilidade.
Embora concorde, em parte, com estas afirmações, vou fazer algumas considerações que julgo pertinentes.
Se “todos são filósofos” como refere Gramsci, penso que a primeira hipótese, de que a filosofia ensina a pensar, não se confirma, justamente porque não acredito que ninguém ensina ninguém a pensar, e se isto fosse possível não seria privilégio apenas da filosofia, pois qualquer disciplina, se bem ministrada, com professores qualificados e que soubessem contextualizar o objeto de estudo com o quotidiano, poderia “ensinar a pensar”. Portanto, todas as disciplinas tem esta capacidade.
Ajudar a desenvolver o sentido crítico e a reflexão e incentivar o exercício da cidadania, deveria ser tarefa de todas as disciplinas da educação básica, porém, talvez por incapacidade ou por acomodação, na maioria das vezes, este árduo trabalho fica como exclusividade das ciências humanas, sobretudo da filosofia e da sociologia.
Afinal, qual a importância da filosofia na educação básica? Penso que a filosofia, com outras disciplinas, através de um trabalho interdisciplinar, pode dar conta destas atribuições a ela referidas, porém, penso que a importância maior da filosofia esteja na fundamentação teórica de tais conceitos. O que é o pensar? Qual a diferença entre o simples pensar e o pensamento filosófico? O que é a reflexão ou atitude reflexiva? O que é cidadania?
A filosofia tem importância quando se preocupa em fundamentar as proposições, ou seja, através de uma investigação séria e de um método rigoroso de busca do conhecimento, busca explicitar o porquê do por que. Se não realizar tal tarefa a filosofia corre o risco de se tornar a crítica pela crítica, o simples pensar por pensar, o refletir por refletir.
De nada adianta exigir aos adolescentes determinados comportamentos, determinadas atitudes em relação à ética, à política, à cidadania, se não levá-los a conhecer a fundo os conceitos e as proposições de tais temas.
Ao fazer este movimento de busca radical dos princípios, a filosofia diferencia-se das demais disciplinas, pois se for bem trabalhada com professores habilitados pode ser capaz de ultrapassar o questionamento superficial e vir a tornar-se um conhecimento útil.
Portanto, a importância da filosofia na Educação Básica vai muito além da mera instrumentalização do pensar, do refletir ou do criticar. A filosofia deve desvelar a gênese dos conceitos para que estes possam ser compreendidos na sua totalidade, e ao serem compreendidos possam ajudar na formação integral dos estudantes da Educação Básica.

Contramaré… 16 mar.

Caso o TC acabe por chumbar alguma das medidas do OE, esse "buraco" terá de ser compensado de alguma forma. De acordo com o que vários especialistas têm afirmado, a medida que está na calha para ser chumbada, por ser a que mais dúvidas legais levanta, é a taxa extraordinária de solidariedade.
O cenário agrava-se caso o TC chumbe outras medidas do OE, que aumentem o buraco na execução, obrigando o Executivo a arranjar um plano B que não ficou definido nesta avaliação.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O ministro das finanças retrata-se e pensa demitir-se!

Com o fim da 7.ª avaliação do programa de ajustamento, o Governo já acertou as previsões macroeconómicas para os próximos anos. Crescimento do PIB, défice, dívida, exportações e desemprego. Conheça as previsões do Governo:  
Economia: o Governo previa -1% em 2013, (há dias -2%), agora espera -2,3%;
Desemprego: inicialmente eram esperados 16%, irá disparar para 18,2%, mas poderá atingir um valor de quase 19 % e subirá para 18,5% em 2014. 
Dívida Pública: atingirá o pico em 2014, ascendendo então a 124% do PIB.   
Redução do Défice: o desequilíbrio entre receitas e despesa de 2012 será de 6,6%, quando estava previsto 5%.
Exportações: depois de um crescimento de 4,4% em 2012, um abrandamento enorme para 2013, a crescerem apenas 1,8% (antes previa 1,9%) e em 2014 0,6%.
Procura Interna: somou perdas de 7% em 2012, 4,1% em 2013 e em 2014 irá ficar em 0% (antes previa 0,3%).
A 'troika' disse hoje que Portugal “continua no bom caminho” e que “foi cumprido” o objetivo de défice orçamental para o final de 2012 e “preservada a estabilidade” do setor financeiro, concluindo também que “o ajustamento externo excedeu as expectativas” e que “está a avançar” a execução de um “vasto leque” de reformas estruturais.
No entanto, a 'troika' admite o enfraquecimento da procura das exportações, a falta de confiança, a dívida acumulada do setor privado e uma recessão mais profunda do que o esperado.
O presidente da Comissão Europeia afirmou-se muito satisfeito por o 7.º exame regular da `troika` concluir que o programa português continua a ser bem executado, e insistiu que "os programas funcionam", dando como exemplo a Irlanda.
O PSD reagiu à revisão em alta da recessão e do défice dizendo que a culpa original está no memorando assinado em Maio de 2011 pelo Governo de José Sócrates com a troika.
Foi um programa "mal desenhado" e que continha "projeções com pouca adesão à realidade", afirmou o deputado social-democrata Miguel Frasquilho, sem no entanto comentar o facto de nessa altura o seu partido ter negociado e subscrito o programa, fazendo toda a campanha eleitoral de Junho de 2011 (que levou Passos Coelho a primeiro-ministro) em sua defesa.
O ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, afirmou que o Governo não tem qualquer plano de contingência para um eventual chumbo de normas do Orçamento do Estado de 2013 por parte do Tribunal Constitucional, dizendo que o "Governo está convencido de que respondeu às preocupações do Tribunal Constitucional", depois do chumbo de algumas normas do Orçamento de 2012.
Ou seja, as previsões feitas por Vítor Gaspar para 2013, há cerca de 4 meses, sobre a Economia, o Desemprego, a Dívida Pública, a Redução do Défice, as Exportações e a Procura Interna, já falharam TODAS! Imagine-se daqui a mais 3 meses… Mais valia fazer adaptações como se faz com os alunos com NEE e permitir que o homem fizesse Orçamentos Mensais!
Mais palavras? Para dizer o quê? Ou é incompetente ou é aldrabão…
Os aldrabões da troika, que como em todas as outras avaliações, dizem sempre o mesmo com os mesmos “mas”, concluem que Portugal está no bom caminho e excedeu as previsões (negativamente, está-se mesmo a ver), apesar de as exportações terem diminuído (que dizem ser a nossa salvação), continuar a haver falta de confiança por parte dos investidores (apesar do abaixamento dos salários e direitos laborais), a dívida acumulada do setor privado (que afinal não é do Estado) e uma recessão mais profunda do que o esperado (por isso continuarão com a mesma receita) e até se esqueceram de falar do desemprego (coisa de somenos, para eles e governantes)…
Quer dizer, as respostas estão todas erradas, mas o aluno teve a nota de “Excelente”. Boa, rapaziada!
Já o Zé Manel diz que está MUITO satisfeito com a nota dada a Gaspar (quem terá metido a cunha?) e que a austeridade até funciona (às vezes diz que é imprescindível o crescimento) e como exemplo dá a Irlanda (devia dar Portugal, evidentemente) sem destacar as diferenças…
Problemas de consciência?
Frasquilho, do PSD (e do setor bancário privado), vem absolver os executores do Memorando (seus companheiros de percurso) por ser mal desenhado e conter projeções que não tinham nada a ver com a realidade… Mas isto é o que andam os partidos da oposição a dizer!
Só faltou dizer que o DESENHO foi feito pelo “pintelhos” (do PSD) e pelo Teixeirinha (do Sócas), que pelo que se vê não sabiam desenhar e que a realidade para ambos era um futuro dourado, a nível pessoal. O Catroga ainda se safou, o Teixeira é que foi enganado…
No fim desta miséria exposta, um enorme rol de pecados, por palavras, atos e omissões, cometidos por gente com nome, Gaspar ainda tem “coragem” de desafiar o Tribunal Constitucional, mais uma vez, desvinculando-se de qualquer resposta à eventual e previsível resposta de inconstitucionalidade de medidas do OE2013!
Ou quer dizer, que não o fazendo, outro alguém o fará?
Obviamente, só pode estar a demitir-se…
Deo Gratias!

Ecos da blogosfera – 15 mar.

Antes de ser conhecida a 7.ª avaliação da troika…

Martin Taylor, Ex-CEO do Barclays, passou recentemente por Portugal e pela Argentina e faz nas páginas do Financial Times uma análise negativa das prescrições anti-crise dos 2 países.
É uma história de pacientes sujeitos a várias prescrições médicas. O “paciente Fado”, em Lisboa, está sujeito a uma receita de "austeridade aditividada" com o objectivo de reduzir os seus desequilíbrios. Já, ao “paciente Tango”, com um longo historial médico, foi administrada uma dose significativa de “drogas económicas”, incluindo desvalorizações cambiais e reestruturações de dívida. A conclusão destas experiências? “Ambas são instrutivas – e desencorajantes”, escreve, o ex-CEO do Barclays.
Portugal é um país onde “tudo está à venda e ninguém está a comprar”. “O pobre paciente Fado, colocado sob um regime de austeridade aditivada, está semi-comatoso”, diz o homem que liderou o banco britânico nos anos 90, continuando depois para descrever: “O Estado gasta o mínimo que pode, e tenta extrair cada vez mais dos seus cidadãos, que parecem gastar grande parte do seu tempo a tentar descobrir como evitar pagar-lhe”.
No meio desta tensão, os níveis de dívida, um dos problemas centrais a resolver, continuam “teimosamente elevados”, com “os dispendiosos médicos estrangeiros a acreditar que uma dose mais elevada do actual medicamento irá, no fim, provar que é a melhor resposta”, escreve.
Taylor olha depois para a receita alternativa, aplicada ao “paciente Tango” que, na verdade, experimentou de tudo na última década, desde depreciações cambiais a reestruturações de dívida, passando por decisões administrativas que forçam os bancos a emprestar ao "investimento produtivo".
A redução dos seus rácios de dívida é amplamente elogiada pelos médicos locais, mas nota o gestor que esta não convence os que ficaram sem o dinheiro, que aliás ainda hoje discutem em tribunal a reestruturação de há 10 anos. Além disso, a Argentina é descrita como um paciente sujeito a “estímulos repetidos” que a tornaram “economicamente hiperactiva”, mas sem que isso signifique verdadeiro vigor económico: é um país que sofre com inflação alta, moeda fraca e pouco capacidade de atrair investimento externo.
O que pode Morris aprender com o Fado e o Tango?
Com toda esta análise, Taylor procura tirar lições para o seu país Natal, o Reino Unido – ou “o paciente Morris” – que tem moeda própria como a Argentina e está sujeito a uma política de austeridade crescentemente contestada.
“O caro Morris foi colocado numa versão da receita aplicada ao Fado, mas em menor dose. Ao contrário do Fado não está em estado semi-comatoso, mas também não está a recuperar. A tentação para passar para algo mais parecido com a terapia do Tango – sem o excesso pouco britânico do “default” – está claramente a crescer”, lê-se no artigo de opinião do Financial Times.
Perante isto, o que deve ser Morris? Nem tanto Fado, nem tanto Tango, defende.

Para passar a pente fino acordos por baixo da mesa!

A fixação, pelo Parlamento Europeu, de um valor limite para os bónus pagos pelos bancos mostra que esta instituição amadureceu como força política.
No interior do Parlamentarium, o novo e ostentoso Centro de Visitantes do Parlamento Europeu, que custou um milhão de euros, Eva Vanpeteghem e Elise Mais estão a travar conhecimento com os mistérios da democracia da UE. As duas estudantes belgas, ambas de 15 anos, encontram-se sentadas numa réplica da assembleia circular onde, na vida real, decorrem os debates e as votações.
Os alunos das escolas não são os únicos a dar-se conta da importância de uma instituição em tempos ridicularizada como sendo um lar de reformados para políticos nacionais desgastados. Graças ao Tratado de Lisboa, que alargou consideravelmente os seus poderes – e à astúcia de alguns deputados empreendedores –, o Parlamento Europeu surge agora como um dos organismos mais influentes da UE. Nos últimos tempos, tem imposto a sua vontade sobre tudo: desde as pescas à reforma financeira e ao orçamento milionário do bloco.
É só perguntar aos senhores das finanças da City de Londres, que receberam uma mal-educada lição de poder parlamentar [no princípio deste mês], quando uma iniciativa destinada a limitar os bónus dos banqueiros na UE deu o grande salto em frente e se tornou realidade jurídica. Os eurodeputados não só congeminaram a ideia como também conseguiram impô-la, a despeito da frenética oposição do Reino Unido, que receia que as restrições venham a enfraquecer a posição da City como centro financeiro mundial.
Uma série de vitórias
Quer se goste quer não, a fixação de um valor limite para os bónus apresenta-se como um indicador do que está para vir da parte de uma instituição cada vez mais forte e assertiva, segundo alguns analistas, como Thomas Klau, diretor do Conselho Europeu para as Relações Externas em Paris.
Na verdade, os eurodeputados obtiveram recentemente uma série de vitórias. Opuseram-se a um muito mediático tratado sobre proteção de direitos de autor de âmbito internacional, numa atmosfera de preocupações quanto a este poder dar azo à censura. Também impuseram alterações a um acordo de partilha de dados bancários com os Estados Unidos, destinado a detetar financiamentos do terrorismo, ao fim de 6 meses de atraso, que suscitaram apelos da antiga secretária de Estado, Hillary Clinton, e do vice-presidente, Joseph Biden. O Parlamento também adotou a prática de rejeitar os nomes designados pelos governos nacionais para a Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, quando o candidato é considerado intolerante, como aconteceu com o candidato da Itália, ou incompetente, como no caso do da Bulgária. "Os tempos em que o Parlamento Europeu era ridicularizado por causa da sua falta de influência já vão longe", diz um diplomata europeu.
Com Martin Schulz, o político alemão atualmente presidente do Parlamento Europeu, esta instituição pretende entrar em voos ainda mais altos. Schulz quer fazer dela o lugar de eleição para os dirigentes europeus debaterem publicamente questões europeias, como a resposta à crise da dívida. Em novembro, a chanceler alemã, Angela Merkel, utilizou esta assembleia para expor a sua visão de uma zona euro na qual os governos nacionais cederiam poderes significativos a Bruxelas em matéria de impostos e noutras áreas políticas. "O Parlamento Europeu é a instituição mais aberta da Europa", disse Schulz, no mês passado.
Parlamento Europeu, uma entidade estranha
Nem toda a gente está impressionada. A força da instituição é globalmente reconhecida, mas os seus críticos queixam-se de que esta ainda não desenvolveu a maturidade e a responsabilidade que deveriam corresponder a essa força. As suas alegações de legitimidade democrática são enfraquecidas pelo facto de a participação dos eleitores vir a diminuir progressivamente desde as primeiras eleições, em 1979. Na última batalha eleitoral, foi apenas de 43% – apesar da campanha nos órgãos de comunicação social, destinada a despertar o interesse e que custou vários milhões de euros. Parte do problema, dizem os críticos, é que os eurodeputados se preocupam menos com o bem-estar dos cidadãos do que com retirar poderes a outras instituições da UE – a Comissão, o órgão executivo que lança as propostas legislativas, e o Conselho Europeu, o órgão que representa os governos nacionais.
O Parlamento Europeu sempre foi considerado como uma entidade estranha. Ao contrário das variantes nacionais, não é a base eleita de um governo em exercício. Por natureza, os seus membros tendem a ser federalistas, esmagadoramente adeptos de "mais Europa" e de uma integração mais estreita, como resposta à maior parte dos problemas políticos.
O debate sobre o futuro do Parlamento está a intensificar-se neste momento, altura em que a UE reflete sobre uma das maiores mudanças dos seus cerca de 60 anos de existência, para fazer face à crise da dívida da zona euro. Boa parte da reação tem consistido na concessão de mais poder aos tecnocratas, não eleitos, de Bruxelas para policiarem as finanças e as políticas económicas dos governos nacionais. O facto suscitou preocupações quanto ao crescente "défice democrático" entre a UE e a população, que é cada vez mais afastada dessas decisões. Por ser a única instituição da UE cujos membros são escolhidos por eleição direta, o Parlamento apresenta-se como o candidato ideal para preencher essa lacuna, desempenhando um papel ainda mais vasto. Contudo, para o fazer de forma credível, o Parlamento tem de forjar laços mais estreitos com o público que afirma representar.
Decidir quanto dinheiro se gasta
Em Bruxelas, fervilham as ideias sobre a forma de resolver o problema. Uma delas consiste em pedir a cada partido político que apresente o primeiro nome da sua lista como candidato do partido a futuro presidente da Comissão, para dar aos eleitores um sentido mais claro do que está em jogo nas eleições.
Outros pensam que a resposta é dar aos parlamentos nacionais uma maior capacidade de se pronunciarem sobre as leis da UE. Alguns funcionários da UE consideram que esse será um aspeto fundamental de uma futura revisão dos Tratados da UE – possivelmente depois das eleições de 2014.
Para já, os europeus têm de se contentar com o Parlamento que têm. Apesar de todas as lamentações, este pode indicar algumas realizações importantes.
Para a liberal democrata Anne Jensen, os eurodeputados têm a obrigação de ajudar a decidir quanto dinheiro se gasta e de passar a pente fino os acordos por baixo da mesa que os dirigentes europeus fazem à porta fechada. "O que estamos a fazer aqui, se o Parlamento não tiver uma posição clara e se não usarmos os nossos poderes em matéria de legislação?"

Contramaré… 15 mar.

A população idosa tem uma esperança de vida crescente e, por outro lado, a natalidade está a decair, inflacionando o peso dos maiores de 65 anos na população. Nesse contexto, o Conselho Económico e Social (CES) realizou um “Parecer de Iniciativa sobre as consequências económicas, sociais e organizacionais decorrentes do envelhecimento da população”, no qual faz várias sugestões, entre elas, o aumento das pensões mínimas.


Portugal desce 3 lugares no desenvolvimento humano

quinta-feira, 14 de março de 2013

Uma revolta social na UE ou uma Primavera europeia?

No Conselho Europeu desta quinta-feira, 14 de março, em Bruxelas, José Manuel Durão Barroso vai apresentar números que o Süddeutsche Zeitungqualifica de "preocupantes": em 2013, 9 dos 17 países-membros da zona euro vão endividar-se mais do que o permitido pelos critérios de convergência; o crescimento na Europa caiu quase para zero e 1 europeu em cada 8 está desempregado. O presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, propôs um debate de várias horas com vista à adoção de reformas que possam inverter a tendência: uma "terapia de grupo", escreve o mesmo jornal, que irá deixar pouco à vontade alguns dos participantes.
No fim do dia de quinta-feira, os 27 chefes de Estado e de governo europeus vão estar sentados na sala do Conselho, à espera do que o presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, tem para lhes dizer sobre a situação atual da Europa. Os ‘grupos de ação’ que este criou para promover a contratação de jovens em Espanha, na Grécia, na Irlanda e em 5 outros países deverão ser portadores de boas notícias. Mas nenhum dos seus colegas gostaria de estar na pele de David Cameron, no momento em que o primeiro-ministro britânico tiver de ouvir que o endividamento do seu país em 2013 será mais elevado que o da Espanha ou da Irlanda. Os olhares voltar-se-ão em seguida para François Hollande, quando este tiver de admitir que não conseguirá cumprir o seu objetivo do défice para 2013.
No polo oposto, a Alemanha deverá, mais uma vez, apresentar-se como o bom aluno. O Financial Times explica que "o ministro das Finanças, Wolgang Schäuble, apresentou o orçamento para 2014, esta semana", ou seja, antes da data prevista. O documento contém uma série de cortes orçamentais destinados a alcançar o equilíbrio até 2015. "Berlim quer mostrar o caminho", mesmo que tenha de se zangar com os países que querem pôr um travão à austeridade e apostar no crescimento, salienta este diário.
Berlim receia que os seus parceiros da zona euro abandonem a disciplina orçamental, se virem a Alemanha vacilar no plano interno. [...] No entanto, os argumentos económicos para apertar mais o cinto são fracos. Enquanto o défice orçamental é baixo e a dívida pública passível de ser gerida, a economia regista um abrandamento. [...] Se a locomotiva da Europa voltar ao bom caminho, os seus parceiros em dificuldades irão atrás. [...] A Alemanha tem a obrigação de fazer mais do que simplesmente insistir na austeridade na zona euro, que se tem revelado perniciosa. A melhor forma de dirigir a zona euro, dando o exemplo, é impulsionar a recuperação.
O governo da Alemanha apresentou um plano orçamental de longo prazo que prevê um “endividamento zero” do país em 2015 e congratulou-se com o estado das Finanças alemãs, que segundo Berlim, são um modelo para a Europa e uma fonte de inveja para o resto do mundo. O anúncio, feito na véspera de mais uma cimeira europeia é visto como uma mensagem de que a Alemanha não está disposta a ceder aos apelos dos parceiros do euro que pedem menos austeridade e mais estímulos para fazer crescer a anémica economia europeia.
O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Junker, alertou hoje, em Bruxelas, para o perigo de uma “revolta social” na Europa e sublinhou a necessidade de um maior equilíbrio entre austeridade e crescimento.
“Não excluiria que corremos o risco de assistir a uma revolta social”, disse Junker, à entrada do Conselho Europeu, que se reúne hoje e sexta-feira para analisar a situação económica da União Europeia.
Juncker considerou ainda que a UE tem que “explicar melhor” as suas políticas económicas, nomeadamente a necessidade de se cumprirem os limites do défice e da dívida pública.
Apesar de Juncker ter responsabilidades nesta matéria, enquanto ex-presidente do Eurogrupo, podia explicar-nos melhor o que significa “explicarem melhor as políticas económicas da UE”, porque enquanto compreendemos a sua “sensibilidade” para se aperceber do risco de uma revolta social, mesmo sem nos fornecer dados, é muito difícil compreendermos a bondade do empobrecimento, mesmo em tempo de fé e “franciscanismo”…
É tempo de protestar, contra os protestantes!

Ecos da blogosfera – 14 mar.

Aprenda (em casa) de borla, que o Estado é padrasto…

Forma cada vez mais popular de educação à distância, os "massive open online courses" – MOOCs – permitem a interessados do mundo inteiro acesso ao ensino de universidades de renome, através de vídeos, testes e fóruns.
Sean Sinico
Insatisfeito com o currículo da Universidade de El Salvador, onde é professor de Engenharia Elétrica, Carlos Martínez matriculou-se num curso online intitulado Circuitos e Eletrónica do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), oferecido para qualquer pessoa interessada, através da internet.
Impressionado com o que aprendeu durante o curso, viajou por El Salvador para promover os assim chamados MOOCs, trabalhando para convencer os seus colegas professores a repensar o seu modo de ensinar e, nesse processo, melhorar o desempenho dos seus alunos. "Os professores dos países em desenvolvimento não sofrem a mesma pressão académica dos seus pares em países desenvolvidos". "Costuma-se ter professores com um alcance muito limitado nos seus campos. Com os MOOCs, os professores sentem-se instigados e melhoram os seus conhecimentos”, disse.
Cursos de ensino à distância e online existem há décadas, mas a propagação da internet de alta velocidade faz com que os MOOCs, baseados em aulas em vídeo, testes online e fóruns de discussão, obtenham uma audiência global a baixo custo.
Voltado para universitários
A maioria dos cursos oferecidos por grandes organizações, como Coursera, que é o maior provedor de MOOCs e parceiro de 62 instituições em todo o mundo, e edX, uma entidade sem fins lucrativos, criada em parceria entre a Universidade de Harvard, o MIT e a Universidade da Califórnia, Berkeley, proporcionam aulas para estudantes de nível universitário.
O foco no público que se prepara para cursos oferecidos por universidades internacionais de ponta pode dificultar a sua propagação nos países em desenvolvimento, comentou Tony Bates, consultor de aprendizagem online no ensino superior baseado em Vancouver, Canadá. "Os MOOCs destinam-se principalmente às pessoas que já tem interesse em determinado tópico ou já estão muito bem informadas sobre um tópico e querem atualizar-se ", ressalta. "Isso pode ser útil para aqueles com alto grau de instrução, em países em desenvolvimento, como uma forma de ficarem atualizados sobre um assunto. Mas não vai resolver o problema de muitos que não têm chances de uma educação básica."
"Parlez-vous MOOC?"
"A barreira da língua também pode representar um problema", acrescenta Bates. Em geral, os alunos mais jovens não conseguem acompanhar aulas não ministradas na sua língua nativa, e os massive open online courses não se expandiram muito além do inglês. "Nos MOOCs oferecidos pelas universidades mais tradicionais dos Estados Unidos, a língua pode ser um problema", adverte Bates.
O interesse pelos cursos MOOC, no entanto, não se restringe ao mundo anglófono. Coursera cuidou para que o seu primeiro 1.000.000 de estudantes viesse de 196 países: 38% dos Estados Unidos, seguidos por 5,9% do Brasil, 5,2% da Índia e 4,1% da China. Tanto o Coursera como o edX anunciaram em fevereiro que oferecerão cursos noutros idiomas além do inglês, ministrados por universidades parceiras.
Sala de aula virtual
Ao contrário de outros grandes fornecedores de e-learning, a Khan Academy, plataforma de aprendizagem online sediada na Califórnia, tem estudantes pré-universitários como público-alvo dos seus cursos, e regista que os seus vídeos e testes online têm sido frequentados fora dos Estados Unidos. Desde o seu lançamento, em 2008, o programa ganhou financiamento do Google e da Fundação Bill e Melinda Gates, e em 2012 foi nomeado para o The Bobs, prémio da Deutsche Welle para o ativismo online.
Nas aulas, os alunos assistem a palestras online de casa e vão à universidade para tirar dúvidas, discutir temas e obter ajuda onde for necessário. Segundo Anant Agarwal, presidente da edX, os alunos do primeiro MOOC que ministrou formaram grupos de estudo online e no mundo real, para digerir o material. Acredita que tal sistema poderia ser um modelo para estudar com MOOCs e outros estudantes, ou com um instrutor local.
"É preciso bastante apoio fora da internet para acompanhar um MOOC", sublinha Bates. "Não é suficiente apenas entregar a informação. Os estudantes precisam de um retorno e precisam de ser avaliados. Isso provavelmente significa ter gente no mundo real para dar esse apoio, e é aí que os custos começam a subir."
Acesso à informação
Mesmo os maiores defensores dos MOOCs admitem que há limites no que os cursos podem oferecer. A sua própria natureza impede que os instrutores interajam – ou mesmo conheçam – cada estudante. Além disso, muito poucos programas de MOOC dão crédito académico após concluídos.
Atualmente é difícil para os alunos de um curso online botar a mão na massa na realização de experiências científicas. Porém Carlos Martínez menciona Roosemberth Palacios, de 16 anos, que se matriculou num curso sobre circuitos eletrónicos oferecido pelo MIT, via edX, depois de ouvir o professor da Universidade de El Salvador contar sobre os MOOCs.
Por não possuir uma base sólida em cálculo, matéria raramente ensinada nas escolas secundárias de El Salvador, Palacios lutou para completar o curso. E depois matriculou-se num massive open online course de cálculo, a fim de repetir o curso sobre circuitos e aproveitando-o melhor.
"Ele interessa-se por eletrónica e também em viajar para o exterior, mas não tem dinheiro", diz Martínez. "Mas está a tentar aprender, e agora fala de bolsas de estudo. Assistindo aos MOOCs, vai ter mais recursos na sua caixa de ferramentas educacionais."
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Contramaré… 14 mar.

Em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, Beppe Grillo foi perentório. A Itália está a começar uma nova era, que comparou à "Revolução Francesa...mas sem guilhotina".
Os líderes do norte da Europa não são poupados. Grillo acusa-os de só quererem manter o euro até os seus bancos se virem livres de títulos de dívida italianos. Depois deixarão cair a Itália "como uma batata quente", diz. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Fumo negro para a Revisão (in)Constitucional ad hoc

Se o Governo avançar com o corte permanente de 4.000 milhões de euros no Estado, como enunciaram a troika e o ministro das Finanças, a economia afundará ainda mais e a recessão deste ano será muito pior que os -2% previstos, advertiram ontem representantes dos patrões e dos sindicatos na reunião com o primeiro-ministro na concertação social.
Desfile de críticas
Ontem, Pedro Passos Coelho ouviu da esmagadora maioria dos parceiros da concertação - representantes empresariais incluídos - sérios avisos sobre os efeitos do corte no Estado Social na economia e sobre a "recompensa" tímida da troika no défice e um desfile de críticas ao Governo e à sua “falta de músculo” nas negociações com a troika.
João Viera Lopes, presidente da CCP, disse a Passos que “esses cortes não são concebíveis assim como a troika pretende”. “Se forem para a frente só vão trazer mais recessão e complicar as contas públicas já que corroem a coleta fiscal” e que “a economia está paralisada, é preciso, mais do que a disciplina orçamental férrea uma política firme para o investimento”. “A redução do IVA e do IRC, o desbloqueio do crédito privado e até algum investimento público são medidas urgentes”, exemplificou. “Mas não vemos nada, nenhum sinal”, lamentou.
João Machado, presidente da CAP, tem uma opinião semelhante. “Transmitimos ao primeiro-ministro que o Orçamento do Estado de 2013 já foi demasiado longe. Que mais austeridade não dá, o Governo só vai conseguir baixar o défice com uma política económica e social que suplante a política financeira que tem sido dominante até aqui” e frisou que “estamos disponíveis para discutir a reforma do Estado, mas numa base de otimizar o que existe, não de acabar com o que há. Para isso não estamos disponíveis por que isso é ainda mais recessivo”.
Para António Saraiva, presidente da CIP é “impensável e impossível” reduzir 4.000 milhões em 2 anos. “As cadelas apressadas têm os filhos cegos”, ilustrou.
Os sindicatos defenderam que é preciso negociar muito mais tempo para reduzir o défice.
João Proença, secretário-geral da UGT falou em “libertar recursos para o crescimento e o emprego” e declarou questionando-se: "O resultado final das negociações para o défice é ficar em 3% em 2014? Parece-nos completamente ridículo.” 
Para Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP "o prolongamento para o período de redução do défice deve ser muito mais prolongado para parar com esta política de austeridade e sacrifícios e para libertar o Estado para fazer investimento público com retorno".
Já não vale a pena perder tempo para demonstrar que o governo, empurrado pela troika (embora a ideia tenha vindo do governo), com “isto” do corte de 4.000 milhões, o que pretende é conseguir, por atalhos, uma Revisão Constitucional (por factos consumados), mandando às malvas as normas Constitucionais, a Assembleia da República, o Presidente da República e todos os cidadãos, que são os visados… Democracia à “chico-esperto”, que só passará se os cidadãos, através dos seus mais altos representantes forem “chicos-burros”…
Passando à frente, e analisando a realidade, concretamente a UNANIMIDADE dos parceiros da Concertação Social, coisa nunca vista nem imaginada há pouco tempo atrás, leva-nos a pensar que a igualdade de classes (por baixo) está em curso, fruto do empenho deste governo, que sendo social-democrata / democrata cristão e com objetivos e práticas neoliberais, já fez mais do que os partidos comunistas de leste, nos tempos da guerra fria, o que prova que a tentativa falhada tem viabilidade, haja estratégia e “camaradas” obstinados…
Há duas coisinhas que emergem desta tática, que nos devem deixar com pulgas atrás das orelhas:
1. Por que são os parceiros da Concertação Social a terem voz no assunto (Estado Social), se cada um dos líderes representa apenas os seus filiados, corporativamente falando, sem qualquer aval político?
2. Por que estarão todos os parceiros de acordo contra um governo, que não costuma atuar contra os patrões?
Quanto ao primeiro ponto, penso que se traduz numa tática “relvista”, que procura, em desespero, apresentar publicamente uma qualquer “maioria”, que lhes avalize o “golpe”…
Já quanto ao segundo ponto, penso que os próprios patrões, que até agora não levaram nada, já perceberam que se houver a destruição do Estado “Social”, os serviços, hoje públicos, passarão para os PRIVADOS, mas só para os tubarões, deixando as pequenas e médias empresas a ver navios, mas ao longe…
É claríssimo, para os Parceiros da Concertação Social, para tantos especialistas e para todos nós, que as consequências de tal medida são as previstas, por cada um, menos pelos responsáveis do governo…
Dá para desconfiar que Passos/Gaspar/Portas só tem um olho (como o Capitão Gancho) e pensam que nós somos todos cegos…
O azar é que “O povo é quem mais ordena”, ainda…

Ecos da blogosfera – 13 mar.

O preço que os “outros” pagam pelos nossos Saldos

A indústria têxtil é conhecida por não respeitar regras laborais internacionais. Cadeias de fornecimento obscuras e condições de produção muitas vezes desastrosas maculam a imagem do setor.
Helle Jeppesen
As 8 exigências mínimas que respeitam os padrões sociais (OIT)
Raramente os acidentes de trabalho se transformam em manchetes de jornal. Em novembro de 2012, porém, a morte de 112 pessoas no incêndio de uma fábrica de tecidos em Bangladesh foi noticiada em todo o mundo, causando indignação internacional com as condições de trabalho nas fábricas do país. Os operários do setor protestaram nas ruas da capital, Dhaka. Poucos meses antes, 250 tinham morrido em consequência do fogo numa fábrica de tecidos no Paquistão.
Nas duas fábricas eram produzidas mercadorias fornecidas para empresas de todo o mundo, inclusive alemãs. No Bangladesh, a cadeia de moda C&A mandava produzir camisas para vender no mercado brasileiro; e uma das empresas compradoras das mercadorias da fábrica incendiada no Paquistão era a cadeia de roupas baratas KIK, com 3.200 filiais em toda a Europa. Depois dos incêndios, tanto a C&A quanto a KIK afirmaram que contribuiriam para fundos de ajuda às vítimas e seus familiares.
Mínimo de justiça nas relações
Para a rede internacional Clean Clothes Campaign, este gesto das empresas pode ser simpático, mas não é suficiente. A "Campanha das Roupas Limpas" empenha-se em prol de melhores condições de trabalho na indústria têxtil.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) formulou exigências mínimas no tocante a padrões sociais, resumidas em 8 pontos: "não" (1) ao trabalho forçado, (2) à discriminação, (3) ao trabalho infantil, (4) além da liberdade de união dos trabalhadores em associações, (5) salários justos, (6) jornadas controladas, (7) condições dignas de trabalho e (8) relações laborais regulamentadas.
Mesmo na Europa, essas exigências não são todas cumpridas, acentua Bettina Musiolek, da rede Clean Clothes Campaign, que se especializou no Leste Europeu e na Turquia, onde as condições de produção injustas são muito difundidas.
"Os maiores problemas no Leste Europeu são os salários, as jornadas e a proteção do trabalho e da saúde. Na Turquia, ainda há o agravante da falta de liberdade de organização", diz Musiolek, salientando que nem mesmo dentro da União Europeia (UE) ou da Alemanha um salário mínimo justo é sempre coisa garantida.
Produção em países pobres
Christoph Schäfer, diretor do Departamento de Direito e Tributação da Confederação Alemã da Indústria Têxtil e da Moda, admite que, também na Alemanha, uma operária do setor não consegue necessariamente viver do seu salário. No entanto, tanto no seu país como em vários outros da União Europeia, as trabalhadoras são amparadas pelo Estado social. "Em último caso, o Estado é obrigado a contribuir. No caso da Alemanha, isso dá-se através de adicionais ou de benefícios sociais", diz Schäfer.
A pressão por preços mais baixos e a concorrência são enormes, disse: "A indústria têxtil é frequentemente acusada de optar pelos países onde a produção é mais barata. É verdade, pois a pressão para reduzir os custos é enorme. Mas quando a caravana da indústria têxtil passa, ela não deixa terra queimada para trás. Normalmente, é através dela que o bem-estar e outras indústrias chegam a um país", diz o representante da indústria têxtil.
Inegável é que a produção de produtos baratos se dá nos países mais pobres do mundo. Quem fabrica ofertas especiais para os saldos dos países industrializados, não precisa de trabalhadores qualificados nem de máquinas caras. Porém as consequências da "caça às pechinchas" dos países ocidentais vão mais longe: entre as vítimas, estão as condições dignas de produção nas fábricas. Não se poupa só nos salários, mas também na prevenção de incêndios e condições de saúde, assim como nos contratos de trabalho pouco justos.
Barato graças à exploração
Uma camisa produzida de maneira justa não pode chegar ao consumidor por meros 3 euros, acentua Rolf Heimann, da empresa alemã de moda Hess Natur. "Da plantação do algodão no campo, passando pela tecelagem, costura, tintura, confeção, até a chegada ao comerciante, e em cima disso ainda os 19% de imposto sobre o produto, isso jamais seria possível", declara o responsável da Hess Natur pelo setor de Responsabilidade Empresarial.
A fabricante alemã produz desde 1976 roupas ecologicamente corretas e há mais de 10 anos empenha-se pela maior sustentabilidade social na cadeia de fornecimento. A partir de 2005, como primeiro membro alemão, a empresa passou a fazer parte da Fair Wear Foundation, uma rede internacional de fabricantes têxteis e sindicatos. A organização é financiada pelas contribuições dos seus membros e entende-se sobretudo como consultora no processo de implementação de padrões sociais justos.
Imagem “fair”
"A indústria têxtil tem cadeias de fornecimento muito complicadas. Há um grande número de fornecedores e empresas terceirizadas, e torna-se muito, muito difícil controlar todos esses caminhos da fabrico", diz Martin Curley, da Fair Wear Foundation, cuja sede fica em Amsterdão. Por isso, a rede não concede nenhum selo garantindo ao consumidor que a mercadoria foi totalmente produzida sob condições justas.
Curley acentua que "simplesmente não é possível certificar que todo o estabelecimento fornecedor seja 100% justo". Segundo ele, é comum que as grifes da moda tenham centenas de fornecedores. Em muitos casos, as grandes do setor nem conhecem as empresas que trabalham para os seus fornecedores.
Por isso a Fair Wear Foundation vê como sua principal tarefa o acompanhamento contínuo das empresas no processo de melhoria das condições de trabalho. "É mais honesto dizer que as empresas que formam a rede se empenham pela melhoria dos padrões. Publicamos todos os anos um relatório social sobre elas, que os consumidores podem ver no nosso site. Um selo, não podemos garantir", completa Curley.
A rede é formada por 80 empresas, que vendem mais de 120 marcas em 80 países. A fundação controla ativamente as condições de trabalho em 15 países na Ásia, Europa e África. Nenhuma das empresas pertencentes à Fair Wear Foundation mandaria confecionar as suas mercadorias nas fábricas incendiadas no Paquistão e em Bangladesh.

Contramaré… 13 mar.

O jornal económico alemão "Handelsblatt" refere que Berlim está a analisar e a discutir formas de evitar que a extensão dos prazos para pagamento dos empréstimos solicitada por Portugal e Irlanda, tenha de ser votada pelo Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. A via que está a ser explorada para contornar essa votação, prende-se com o facto de Lisboa e Dublin "não terem só recebido empréstimos do FEEF, que é rigorosamente controlado pelo Bundestag".
A oposição alemã não tardou em reagir e já teceu duras críticas ao caminho seguido pelo governo da chanceler alemã, Angela Merkel.

terça-feira, 12 de março de 2013

Sr. Juncker, são ressarcimentos, não ressentimentos…

Quis o destino que eu lesse, na semana passada, dois textos sobre o mesmo assunto. Textos que junto aqui porque foram feitos um para o outro. Se acharem demagogia ou mau gosto juntar holocausto e economia, culpem o destino que os emparelhou no meu stream noticioso.
Pedro Bidarra
Um, li no Público, “Milagre económico alemão teve ajuda de perdão de dívida”, o outro no New York Times, “The Holocaust just got more shocking”. O Público relembra-nos que, em 1953, 70 países perdoaram a dívida alemã acumulada antes e depois da guerra – e que ajudou a financiar. O montante do perdão equivaleu a 62,6% da dívida, tendo sido também acordados valores de juro abaixo do mercado e uma amortização, da dívida e do juro, limitada a 5% do valor das exportações (espero que estes valores, que li no Público, estejam certos que eu é mais Ciências Sociais e História).
Para conseguir este perdão, continua o artigo, foi decisiva a pressão dos EUA e o assentimento dos outros dois membros da troika da altura: França e Inglaterra.
Já o New York Times dá conta de outros números e de uma contabilidade mais negra. Os números são apresentados pelos investigadores e historiadores do Holocaust Memorial Museum. Segundo eles, durante o reino de terror nazi, de 1933 a 1945, os alemães implementaram, da França à Rússia, uma rede de 42.500 campos de terror. Quando esta investigação começou, no ano 2000, estimava-se que o número andasse pelos 7.000, mas a História veio a revelar-se 6 vezes mais negra. A contabilidade é esta: 30.000 campos de trabalho escravo, 1.150 guetos judaicos, 1.000 campos de prisioneiros de guerra, 980 campos de concentração, 500 bordéis de escravatura sexual e mais uns milhares de sítios dedicados à eutanásia de velhos e doentes e à prática de abortos forçados.
O curioso é que, apenas 8 anos depois de toda esta germânica atrocidade, 70 países, encabeçados por uma troika deles, resolveram perdoar 62,6% dívida alemã, reconhecendo que, se assim não fosse, Berlim nunca recuperaria e todos tinham a perder ainda mais.
Talvez a explicação esteja no ensaio “Morale and National Character”, escrito pelo antropólogo G. Bateson em 1942, sobre americanos, ingleses e alemães. Diz ele que americanos e ingleses, mais dados a padrões de relacionamento simétricos – um cresce quando o outro cresce e um relaxa quando o outro relaxa – não têm normalmente estômago para “bater em quem já está no chão”; ao contrário dos alemães, mais dados a relacionamentos complementares, do tipo dominação/submissão – quando mais fraco te sentes mais forte me sinto. Segundo escreveu, impor punições à Alemanha implicaria uma dominação constante dos vencedores o que, a médio prazo, resultaria num abrandamento e numa nova escalada alemã.
Em 1953, por muitas razões, fez-se o que estava certo. Perdoou-se. Perdoou-se, ao povo que implementou 42.500 campos de terror, o dinheiro que deviam e que tinha sido usado (também) para os financiar.
O perdão é a dívida da Alemanha. É bom lembrar e, já agora, cobrar.