(per)Seguidores

sábado, 25 de maio de 2013

Ouça um bom(?) conselho, que lhe dão de graça…

Não procures trabalho. É o que te digo. Não gastes nem o teu tempo nem o teu dinheiro, realmente não vale a pena. Tal como está a cena, com 1 em cada 2 jovens e quase 1 em cada 3 adultos em idade de deixar de trabalhar, à procura de emprego é uma farsa, uma piada, uma mentira e uma maneira estúpida para justificar a incapacidade dos nossos políticos, o baixar as calças eurocomunitárias e o que pouco lhes importa, aos que realmente mandam, que se ainda não tinhas notado, são os que falam alemão.
Risto Mejide
Não procures trabalho. Digo-te a sério. Se tens mais de 30 anos, foste dado como abandonado. Embora te chames Diego Martinez Santos e sejas o melhor físico de partículas da Europa. Não importa. Aqui serás um otário muito caro para manter. Aonde fores pedir, nada. Se aí fora tenho mais do que 20 jovens que não pediram mais do que uma oportunidade, eufemismo de trabalhar de graça. Anda, desaparece que me tapas o sol.
E se tens menos de 30 anos, tu sim, podes gabar-te de algo. Finalmente a geração do teu país duplica o resto da União Europeia em algo, mesmo que esse algo seja a taxa de desemprego. Hei, mas não te preocupes, que como disse o mestre, os recordes estão aí para serem batidos. Fica à espera de que os políticos te lancem uma corda, põe à prova a tua paciência mariana e vais ver como te sais bem.
Por isso atrevo-me a dar-te um conselho que não me pediste: tenhas a idade que tenhas, não procures emprego. Procurar não é nem de longe o verbo adequado. Porque a única coisa a que te arriscas é não encontrar. E a frustrar-te. E a desesperar-te. E a acreditares que é por tua culpa. E a voltares a afundar-te.
Não uses o verbo procurar.
Utiliza o verbo criar. Utiliza o verbo reinventar. Utiliza o verbo fabricar. Utiliza o verbo reciclar. São mais difíceis, sim, mas o mesmo acontece com tudo o que se torna real. É complicado.
Dá no mesmo se te vestes de autónomo, de empresário ou de empregado. Caso ainda não tenhas notado, chegou o momento das empresas unipessoais. Serás o teu CEO, o teu presidente, o teu diretor de marketing e a tua rececionista. A única empresa de que não te poderão despedir nunca. E o teu departamento de I+D (isso que tens sobre os ombros) há mito tempo que tem em cima da mesa a tarefa mais difícil de todos os tempos desde que o homem é homem: desenhar a tua própria vida.
Parece lixado. Porque o é. Mas corrige-me se a alternativa te está a pagar as faturas.
Trabalho não é sequer um bom substantivo. Porque é mentira que não exista. Trabalho há. O que se passa é que agora se distribui por menos gente, que em muitos casos se vê obrigada a fazer mais do que é humanamente possível. Chamam-lhe produtividade. Outra farsa, tão manipulável como todos os índices. Mas de qualquer maneira.
É melhor procurares-te entre as tuas competências. É melhor procurar o que sabes fazer. O que vai mais contigo. Todos temos alguma habilidade que nos faz especiais. Alguma singularidade. Alguma raridade. O difícil não é tê-la, o difícil é encontrá-la, identificá-la a tempo. E entre essas raridades, pergunta-te quais as que poderiam ser compensadoras. Se não é aqui, é fora. Se não é no teu setor, é em qualquer outro. Afinal, o que é um setor hoje em dia.
Não procures trabalho. É melhor procurar um mercado. Ou dito de outra forma, uma necessidade insatisfeita num grupo de gente disposta a gastar, seja em que moeda for. Aprende a falar no seu idioma. E não me refiro só à língua utilizada, mas também.
Não procures trabalho. É melhor procurar um ingénuo ou primeiro cliente. Reduz os teus medos, oferece-lhe um teste gratuito, sem compromisso, e promete-lhe que lhe devolverás o dinheiro se não ficar satisfeito. E pelo caminho, ganha a sua confiança, convence-o de que precisa de ti, embora não tenha dado conta. Não pares até obteres um sim. Virá acompanhado de algum ‘mas’, fica tranquilo, que os ‘mas’ caducam sempre e acabam por cair pelo caminho.
E de seguida, da tudo para que ele fique encantado por te ter conhecido. Não poupes esforços, converte a sua felicidade na tua obsessão. Fá-lo acreditar que és imprescindível. Na realidade nada nem ninguém o é, mas todos pagamos todos os dias por produtos e serviços de que nos convenceram do contrário.
Por último, não procures trabalho. Procura uma vida da qual não queiras sair nunca mais. E um dia a dia em que nunca deixes de aprender. Tenta não te vender e estarás muito mais perto de que alguém te compre de vez em quando. Ah, e esquece-te da estabilidade, isso é coisa do século passado. Tenta gastar menos do que tens. E sobretudo e antes de tudo, nunca te hipoteques, pensa que se alugas não estarás a estragar dinheiro, mas a comprar a tua liberdade.
Até aqui é a melhor ajuda que me ocorre, o mais útil que te posso dizer, quer te chames David Belzunce, Enzo Vizcaíno, Sislena Caparrosa ou Julio Mejide. Já sei, já sei que nem sequer te resolvi nada. Mas se esperavas soluções e que além disso essas soluções viessem de mim, então o teu problema é ainda maior do que eu pensava.
Não procures trabalho. Só assim, talvez, algum dia, o trabalho te encontre a ti.

Ecos da blogosfera – 25 mai.

Este sábado, pelas 15:30, estarei na Feira do Livro, pavilhão da Leya (ASA BD) com o livro "Enorme, Brutal, Colossal 2012" para a respetiva sessão de autógrafos. De maneiras que não façam como o gajo do cartoon e apareçam :)

O “mini” Conselho Europeu foi “hiper” fanfarronada…

Os dirigentes europeus decidiram reforçar o combate à evasão fiscal. Mas o fosso entre as ambições que proclamam e a sua vontade política real retirou credibilidade às suas palavras, considera um editorialista austríaco.
Raramente os chefes de governo da UE chegam a uma unanimidade tão grande como a alcançada na cimeira sobre a evasão fiscal. É preciso não deixar a menor margem de manobra aos infratores, declararam. É inaceitável esmagar os contribuintes honestos com curas de austeridade e planos de salvamento do euro, enquanto meia dúzia de irresponsáveis se furtam às suas obrigações fiscais, mantendo o anonimato ou enganando as autoridades através do recurso a múltiplas empresas ou a estruturas fiscais complexas.
Daí a necessidade de resposta: transparência em matéria de dados bancários e encerramento dos paraísos fiscais. Foi uma ocasião para fanfarronadas, designadamente da parte dos chanceleres Werner Faymann e Angela Merkel, que já se encontram em fase de pré-campanha. Por seu turno, o primeiro-ministro David Cameron também não se cansou de repetir que o seu país tenciona acabar com os paraísos fiscais. Sim, David Cameron.
Quem ousaria opor-se a tão nobres desígnios? Ninguém dotado de bom senso e que se preocupe com a coletividade. Mas a questão essencial é saber se os chefes de governo, que passaram menos de 2 horas a debater o assunto, são dignos de crédito e em que medida as suas belas palavras estão longe da realidade.
Hipocrisia fiscal
A resposta é simples: são pouco dignos de crédito. As suas decisões não passam de uma compilação de planos e de projetos de lei em curso, que já se encontravam em cima da mesa (em alguns casos, há anos), embelezados por fórmulas do tipo “os nichos fiscais devem ser suprimidos”. Até dá vontade de rir, ouvir os primeiros-ministros ordenarem aos seus ministros das Finanças que aprovem, até ao mês de julho, uma lei europeia contra a fraude no domínio do IVA, que foi posta de lado há apenas uma semana.
As declarações do primeiro-ministro irlandês, presidente do Conselho da UE, que insiste em que o seu país não concede benefícios fiscais, dão igualmente vontade de rir. Então e [a Apple e os outros]?
A Áustria também não escapa a esta hipocrisia fiscal, apesar de o chanceler repetir incansavelmente que deseja que o sistema de intercâmbio automático de informação bancária comece a ser aplicado o mais depressa possível. O seu discurso não resiste à realidade dos factos. Se ele quisesse, o Governo poderia decidir imediatamente que a Áustria renunciasse à derrogação da diretiva europeia sobre intercâmbio automático de informação. Há muito tempo que o poderia ter feito. Mas vimos alguma proposta nesse sentido? Não. Porquê? Porque o Governo deu prioridade a um acordo sobre tributação na fonte com a Suíça e com o Liechtenstein, e não à transparência fiscal. O que se compreende: este ano e no próximo, esse acordo fará, segundo as estimativas, entrar nos nossos cofres cerca de €1.5000 milhões.
Visto de Madrid - Um passo em frente
“A UE lança uma mensagem” contra a evasão fiscal, congratula-se El País. No Concelho Europeu de 22 de maio, os 27 decidiram criar 5 medidas que envolvem a troca automática de dados, a modificação da diretiva sobre a fiscalidade da poupança, a fraude ao IVA, as transferências de lucros entre as empresas-mãe e as suas filiais e a lavagem de dinheiro – que deverão ser aprovadas até o final de 2013, “para que todos paguem os seus impostos”.
O diário, que recorda que a UE “tem o hábito de estabelecer objetivos ambiciosos e de nunca os atingir”, considera que se “este acordo for aplicado com sucesso, muitas coisas mudarão na Europa. Para melhor”.

Contramaré… 25 mai.

"Esse fundo tem vindo a ter uma intervenção crescente no financiamento do Estado português há pelo menos 3 anos, com uns telefonemas, que é sempre pior", afirmou o antigo ministro da Economia, quando questionado sobre a intenção do Governo de legislar para reforçar a compra de dívida pública nacional pela Segurança Social.
O FEFSS tinha em carteira, a 31 de janeiro de 2013, 11.115 milhões de euros, valor que daria para pagar 12,89 meses de pensões. Deste montante, 6.146 milhões de euros, que representa 55,3% do total, estavam aplicados em dívida pública nacional.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Joan Robinson: “Estudo economia diariamente, para nunca ser enganada por nenhum economista.”

Quando há muita coisa em jogo, não é de admirar que os adversários políticos utilizem todo o apoio que possam obter de economistas e outros investigadores. Foi o que aconteceu quando os políticos conservadores norte-americanos e os responsáveis da União Europeia se basearam no trabalho de 2 professores de Harvard - Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff - para justificar o facto de apoiarem a austeridade orçamental.
Reinhart e Rogoff publicaram um documento que parecia demonstrar que se os níveis de dívida pública fossem superiores a 90% do PIB, constituiriam um entrave significativo ao crescimento económico. Seguidamente, 3 economistas da Universidade de Massachusetts, em Amherst, fizeram o que os académicos devem habitualmente fazer - replicaram o trabalho dos seus colegas e submeteram-no à crítica.
A par de um erro relativamente pequeno de folha de cálculo, identificaram algumas escolhas metodológicas no trabalho original de Reinhart/Rogoff que colocaram em questão a firmeza dos seus resultados. Mais importante, mesmo que os níveis da dívida e de crescimento se mantivessem negativamente relacionados, a evidência de um limite de 90% revelou-se bastante fraca. E, na opinião de muitos, a própria relação poderia ser o resultado de um crescimento reduzido que conduziu a um maior nível de endividamento, ao invés do contrário.
Reinhart e Rogoff contestaram firmemente as afirmações de muitos comentadores que os acusaram de participar voluntariamente, ou mesmo deliberadamente num jogo de embuste político. Defenderam os seus métodos empíricos e insistem que a descrição que os críticos fazem a seu respeito - "falcões do défice" - não corresponde à realidade.
A consequente controvérsia prejudicou um processo salutar de análise e de aperfeiçoamento em termos de investigação económica. Reinhart e Rogoff rapidamente reconheceram o erro de Excel que tinham cometido. As diferentes análises clarificaram a natureza dos dados, as suas limitações e a diferença que os métodos alternativos de processamento originaram nos resultados. Em última análise, a posição de Reinhart e Rogoff não estava assim tão distante da dos seus críticos, quer no que respeita às evidências, quer a nível das implicações políticas.
Deste modo, o ponto positivo desta discórdia é o facto de se ter provado que a economia pode progredir de acordo com as regras da ciência. Por mais divergentes que pudessem ser as suas opiniões políticas, ambas as partes partilhavam uma linguagem comum sobre o que constitui evidência e - na maioria das vezes - adoptavam uma abordagem comum na resolução das divergências.
O problema é outro; reside no modo como os economistas e as suas investigações são utilizados no debate público. O caso Reinhart/Rogoff não foi apenas uma trivialidade académica. Tendo em conta que o limite de 90% se converteu num argumento da política, a sua posterior refutação adquiriu igualmente um significado político mais amplo. Apesar dos protestos de Reinhart e Rogoff, ambos foram acusados ​​de dar cobertura académica a um conjunto de políticas cujas evidências para a sua sustentação eram, na verdade, limitadas. Uma conclusão evidente é que precisamos de melhores regras em termos de procedimento entre os investigadores da área de economia e os decisores políticos.
A solução não passa por uma tentativa por parte dos economistas de anteciparem a forma como as suas ideias serão usadas ou abusadas em debate público e matizarem as suas declarações públicas nesse sentido. Por exemplo, Reinhart e Rogoff podiam ter desvalorizado as suas conclusões - tal como estavam – para evitar que fossem utilizadas pelos falcões do défice. Mas poucos economistas têm sensibilidade suficiente para ter uma ideia clara da forma como as políticas se irão desenvolver.
Além disso, quando os economistas ajustam a sua mensagem de acordo com o público, o resultado é o oposto do que se pretende: rapidamente perdem credibilidade.
Veja-se o que acontece a nível do comércio internacional, onde estes ajustes em termos de investigação constituem uma prática comum. Com receio de fortalecer os "proteccionistas bárbaros", os economistas da área do comércio tendem a exagerar os benefícios do comércio e a minimizar os seus custos distributivos e de outra ordem. Na prática, esta situação conduz frequentemente a que os seus argumentos sejam apropriados por grupos de interesse opostos - empresas globais que procuram manipular as regras comerciais em proveito próprio. Consequentemente, no que diz respeito ao debate público sobre a globalização, os economistas raramente são considerados como intervenientes idóneos.
Mas os economistas devem equilibrar a honestidade dos resultados da sua investigação com a honestidade da natureza provisória daquilo que realmente é válido como evidência na sua profissão. Ao contrário das ciências naturais, a economia raramente produz resultados claros e inequívocos Em primeiro lugar, todo o raciocínio económico é contextual, sendo tantas as conclusões quantas as potenciais circunstâncias do mundo real. Todas as proposições económicas são afirmações de "premissa-conclusão". Por conseguinte, procurar a solução que funciona melhor num determinado contexto é uma arte e não uma ciência.
Em segundo lugar, as evidências empíricas raramente são fiáveis a ponto de pôr termo a uma controvérsia caracterizada por opiniões profundamente divididas. É claro que isto é particularmente verdade no que se refere à macroeconomia, onde existem poucos dados e os que existem estão sujeitos a diversas interpretações.
Contudo, mesmo na microeconomia, onde, por vezes, é possível obter estimativas empíricas precisas utilizando técnicas de randomização, os resultados devem ser extrapolados de forma a poderem ser aplicados em outros contextos. As novas evidências económicas servirão, na melhor das hipóteses, para – pouco a pouco - estimular os pontos de vista daqueles que têm abertura de espírito.
De acordo com a frase memorável do economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, "Uma coisa que os especialistas sabem e que os não-especialistas ignoram, é que a extensão do seu conhecimento é mais limitada do que os não-especialistas pensam." As implicações vão além de não sobrevalorizar o resultado de uma determinada investigação. A autoridade e precisão que os jornalistas, os políticos e o público em geral têm tendência para atribuir ao que é dito pelos economistas é superior àquela que os próprios economistas deveriam realmente aceitar. Infelizmente, os economistas raramente são humildes, especialmente em público.
Existe ainda outro pormenor relativamente aos economistas que o público deveria conhecer: a progressão na carreira dos economistas académicos é feita por meio da astúcia e não da sabedoria. Actualmente, os professores das melhores universidades distinguem-se, não por estarem certos a respeito do mundo real, mas por criarem deturpações teóricas fantasiosas ou por desenvolverem novas evidências. Se estas competências os tornarem igualmente em observadores perspicazes das sociedades reais e lhes propiciarem uma sólida capacidade de discernimento, não será certamente resultado de uma intenção nesse sentido.
Dani Rodrik - Professor de Economia Política Internacional na Kennedy School of Government da Universidade de Harvard e um dos principais estudiosos da globalização e do desenvolvimento económico. O seu livro mais recente é The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O Paradoxo da Globalização e o Futuro da Economia Mundial).

Ecos da blogosfera – 24 mai.

Quem usa Offshore (Fora da margem) será marginal?

A UE está a levar a sério a luta contra os paraísos fiscais, conforme prova a cimeira que se realizou em 22 de maio com esse objetivo. Mas a limpeza deve começar pela própria casa, onde territórios como Jersey prosperaram, tirando partido da tradicional ambiguidade política. Excertos.
As autoridades deste território semi-independente estão envolvidas numa polémica que nada tem a ver com o passado. Sabem que o seu sistema económico – assente em impostos muito baixos ou inexistentes – suscita cada vez mais suspeitas dos governos e, sobretudo, dos cidadãos de outros países, aos quais, todos os dias, são exigidos cada vez mais sacrifícios, enquanto alguns se livram de ajudar a economia, graças a territórios como este.
“Não somos um casino, mas um centro que recolhe investimentos e os injeta noutros locais. É justamente disso que a Europa precisa. Somos parte da solução e não o problema”, garante o ministro das Finanças, Philip Ozouf. “Este Governo sempre cumpriu as regras internacionais e continuará a cumpri-las”, insistiu, esta semana, o primeiro-ministro, Ian Gorst.
Face aos argumentos do Governo de Jersey e do lóbi financeiro, os ativistas da organização Tax Justice Network qualificam esta minúscula ilha – que tem menos de 100.000 habitantes e acumula depósitos bancários superiores a €140.000 milhões – como o 7.º maior paraíso fiscal do mundo, na lista que esta organização elabora sobre sigilo financeiro. “Apesar de, formalmente, Jersey não ter sigilo bancário, como a Suíça ou as Bahamas, o sigilo é conseguido por outras vias: fundos, empresas deslocalizadas e, desde 2009, fundações”, garante esta ONG, que defende a transparência no sistema financeiro internacional.
Hemorragia de capitais
“A OCDE não nos inclui na sua lista de paraísos fiscais”, repetem as autoridades de Jersey. “Nessa lista, só figuram 2 ilhas minúsculas do Pacífico, Nauru e Niue. Se esse critério fosse válido, não haveria paraísos fiscais no mundo”, replica Mike Lewis, assessor da organização Action Aid. “Todos os paraísos fiscais dizem o mesmo. Só usam as listas da OCDE para tentarem provar que estão limpos”, acrescenta o escritor e jornalista Nicholas Shaxson.
Mas os problemas de Jersey não resultam apenas da pressão das organizações não governamentais nem da mobilização da sociedade civil. Os governos também parecem decididos a travar uma hemorragia de capitais que escapa ao seu controlo.
“A mensagem é simples. Iremos atrás de quem esconde o seu dinheiro”, disse, na semana passada, o ministro das Finanças britânico, George Osborne, depois de o Reino Unido ter detetado 100 casos graves de evasão fiscal, na sequência de uma investigação conjunta com os Estados Unidos e com a Austrália, realizada em Singapura e nas Ilhas Virgens Britânicas, nas ilhas Caimão e nas ilhas Cook. Foi este impulso renovado de realizar cobranças que levou Jersey a aceitar o intercâmbio automático de informação bancária com Londres e Washington.
Organizações como a Tax Justice exigem que, para poder ser levada a sério, esta medida seja alargada a todos os países da UE. Jersey contrapõe que dará esse passo, quando os 27 se comprometerem também a fazê-lo.
Reino Unido controla 1 em 5 paraísos fiscais
O representante do setor financeiro, Geoff Cook, admite ter reservas quanto a esta nova onda de regulamentação. “Queremos ser bons vizinhos e cooperar com o que outros governos decidirem. Mas existe o risco de, se se difundir a ideia de que nós, europeus, vamos divulgar toda a informação sobre os nossos clientes, estes preferirem transferir o seu dinheiro para outros territórios. O intercâmbio de informação está muito bem, se todos o praticarem”, garante este britânico que, como conselheiro delegado da Jersey Finance, representa os interesses de um setor que absorve 40% da economia.
O ministro Ozouf mostra-se muito amável com o jornalista que se deslocou ao seu país. Mas uma pergunta congela o seu sorriso. O próprio Governo britânico estima que um acordo de intercâmbio automático de informação com as 3 dependências da Coroa renderia aos cofres públicos cerca de 1.000 milhões de libras (€1.185 milhões). Não estará o Reino Unido a admitir, assim, que vocês são um paraíso fiscal? “Esses números não são nossos e não os reconhecemos. Mas, mesmo partindo do princípio de que estão certos, esse montante equivaleria ao que pagariam, no total, Jersey, Guernsey e Man, ao longo dos próximos 5 anos”, responde o ministro.
Apesar deste novo papel de irmão mais velho, que obriga os pequenos a seguir as regras, o Reino Unido tem primado, até agora, por uma indefinição que permitia que as suas antigas colónias, os territórios ultramarinos e as Dependências da Coroa agissem como entendessem. O Reino Unido controla 1 em cada 5 paraísos fiscais existentes no mundo e muitos críticos consideram que poderia ter feito muito mais.
Oportunidade perdida?
No seu bestseller Treasure Islands (Ilhas do Tesouro) – que se transformou na bíblia do movimento contra os paraísos fiscais –, Nicholas Shaxson define Jersey como uma combinação de “finanças deslocalizadas futuristas, com um sistema político medieval”.
A estrutura política de Jersey é muito particular, mas o seu sistema tributário não lhe fica atrás. Os legisladores não gostam de complicações mas, em contrapartida, adoram os números redondos: 0% de impostos para as empresas não financeiras; 10% para as financeiras e 20% diretos de imposto sobre os rendimentos, independentemente do valor desses rendimentos.
A aposta é alta. Organizações como a Tax Justice estabeleceram um triplo objetivo: saber quais os particulares, empresas, fundos e fundações que depositam dinheiro nos paraísos fiscais; acordos de intercâmbio de informação entre todos os governos e envolver os países em desenvolvimento, para que estes beneficiem destas melhorias.
Já foram dados alguns passos. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália chegaram a acordo para esquadrinhar os capitais das empresas em paraísos fiscais de meio mundo. Na cimeira desta semana, os dirigentes europeus tratarão de conceber um quadro comum para combater a evasão fiscal. Se os gigantes da política agirem com decisão, os anões como Jersey serão obrigados a responder. Mas ninguém pode garantir que esta não vá ser uma oportunidade perdida. Mais uma.
Evasão fiscal - O Parlamento Europeu faz pressão
O Parlamento Europeu devia avançar com uma resolução, no dia 21 de maio, apelando aos Estados-membros para agir contra a evasão fiscal.
Os deputados europeus querem que “o montante fiscal não cobrado”, isto é, as perdas da UE devido à evasão fiscal, seja reduzido para metade até 2020, explica De Standaard. O diário belga, que recorda que a fraude e a evasão fiscal custam todos os anos um bilião de euros à União Europeia, ou seja 2.000 euros por europeu, realça que
os 27 chefes de Estado e de governo darão prioridade aos esforços para alargar a troca automática de informações tanto a nível europeu como mundial. Também esperam negociar o mais rapidamente possível com os paraísos fiscais que são a Suíça, o Principado do Liechtenstein, Mónaco, Andorra e São Marino para que tomem as mesmas medidas que a UE. Além disso, querem alargar, até ao final do ano, a diretiva que entrou em vigor em 2005 sobre a poupança dos particulares noutros Estados-membros a outras fontes de rendimentos como os fundos de investimento, as fundações e os trusts. A Áustria e o Luxemburgo ainda não estão totalmente convencidos, mas a pressão é tão forte que não passa de uma questão de tempo, revelam fontes europeias.

Contramaré… 24 mai.

A maioria parlamentar já tem um projecto para cortar as indemnizações por despedimento a partir de Outubro. Este documento vai substituir a proposta de lei do Governo que gerou fortes críticas à UGT.
De acordo com a proposta, os novos contratos permanentes terão direito a 12 dias de salário por ano de contrato laboral na altura do despedimento, seguindo assim a solução que já tinha sido apresentada pelo Ministro das Finanças.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O resultado (pré)visto é um buraco que se afunda!

Penso que existe um razoável consenso sobre o seguinte: o caminho que levamos não é feliz. Os resultados esperados tardam; o buraco em que estamos metidos afunda-se. Face a isto há, essencialmente, duas perspetivas: uma é dizer a verdade; outra é fingir que sabemos.
Henrique Monteiro
Por mim, digo a verdade. Não sei como sair disto. Não acredito no que estamos a fazer, não vejo senão anos de crise à frente e não acredito nas alternativas que por aí são atiradas. Voltar aos mercados, como todos perceberam, não vale de nada senão voltar à dívida - e por juros mais elevados do que aqueles que a troika nos permite.
Algumas alternativas apontadas são demasiado simplistas para o tamanho do problema que temos (ainda há quem ache que cortando em secretárias, motoristas e viagens, lá chegaríamos. Não digo que não seja um imperativo moral, que o é, mas a dimensão do problema é muito maior). Outras baseiam-se em meros voluntarismos (crescer, sim, mas como?) ou em decisões de instituições ou pessoas que nos são alheias - BCE, Alemanha, União Europeia.
Haveria uma ténue possibilidade de alguém dizer algo como isto: caros concidadãos, não fazendo ideia de como se sai desta crise, começamos por nos tentar pôr de acordo sobre o que não devemos voltar a fazer, o que devemos mudar no que nos trouxe até aqui, estabelecendo regras para que tal não se repita.
E isto seria o primeiro passo fantástico para reformar o país. Infelizmente, alguém colocou na cabeça dos políticos que eles têm de ter soluções, alternativas, caminhos, objetivos e mesmo certezas. Como cada um tem as suas, não passaremos desta cacofonia. Ou daquele palavreado confuso e vazio que saiu do Conselho de Estado. Ora isto, para a maioria dos cidadãos, atónitos e receosos, já começa a ser muito cansativo.
A larga maioria dos portugueses não está satisfeita com a intervenção da troika em Portugal. 82,5% consideram mesmo que o acordo assinado com o Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia deve ser renegociado ou até mesmo denunciado.
Relativamente ao relacionamento entre o executivo e a troika, 45,4% considera que o governo de Passos Coelho tem cedido excessivamente aos nossos credores internacionais, enquanto 32,9% dizem que a troika tem mostrado insensibilidade com a economia nacional. E somente 9,4% dos inquiridos consideram que este relacionamento tem decorrido normalmente.
No que se refere às perspetivas futuras, o pessimismo é 5 vezes maior que o otimismo.
11,8% acreditam em melhores perspetivas para Portugal findo o período de intervenção externa. 14,4% referem que quando a troika sair do país nada de substancial se alterou.
55,1% acreditam que vamos ficar em piores condições, com uma economia em colapso e mais desemprego.
Dom Januário Torgal Ferreira defende uma revolução em Portugal se for aplicada uma taxa sobre as pensões, sublinhando que não consegue entender que a maioria das pessoas que descontou ao longo de anos de trabalho tenha agora de perder parte das pensões. No seu entender se Francisco Sá Carneiro fosse vivo faria uma revolução. Dom Januário classifica ainda o executivo de Pedro Passos Coelho como "um governo que vai ficar para a história pela sua incompetência e pela forma vergonhosa que se comportou com a gente mais miserável do país".
Se o povo é quem mais ordena, aqui fica a avaliação do povo, aos governantes e à troika, para que os primeiros (os seus representantes/delegados) façam por cumprir a sua vontade (que não será a última) e os funcionários entendam as pessoas, já que não são capazes de melhorar a realidade (antes pelo contrário)…
Não há dúvidas de este governo vai ficar para a história pela sua incompetência e pela forma vergonhosa que se comportou (e comportará) com a gente mais miserável e indefesa do país, podendo ser acusado de colaboracionista, o que realmente merece que se faça uma revolução, seja qual for o sentido que cada um queira dar ao conceito…
Assino por baixo, porque o “sadismo” tem limites que a Moral bem conhece!

Ecos da blogosfera – 23 mai.

“Que se lixe a troika”? “Quem se lixa é o mexilhão”!

Criado no início da crise grega, o grupo formado pelo FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, foi o principal protagonista dos planos de resgate dos países europeus em crise. Mas entre as três instituições começa a crescer o desacordo.
"Concordamos que estamos em desacordo sobre a austeridade?"
Em primeiro lugar é curioso o nome “troika” para designar este trio. Uma palavra russa que, segundo Emmanuel Todd, ensaísta e eurocético, apenas traduz o mal-estar europeu.
Após um início difícil, a troika, que nasceu no início de 2010 para orquestrar o plano de resgate da Grécia, luta para se entender. Longe de se aligeirarem, as tensões vão crescendo. Bem como as críticas vindas dos países europeus ou emergentes, de cidadãos e de dirigentes.
Quinta-feira, 16 de maio, durante um fórum europeu em Berlim, Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças – próximo de Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional -, criticou fortemente o trabalho da Comissão Europeia. A fragmentação das responsabilidades em Bruxelas teria, segundo ele, estado na origem dos bloqueios do dossiê grego.
Talvez seja uma forma de este responsável político tentar contrariar a escalada do sentimento antialemão. Mas também é uma tentativa de encontrar os culpados da falha de um resgate que, 3 anos depois, está a deixar Atenas de rastos e cada vez mais atolada em dívidas.
Qualquer que fosse o objetivo, as afirmações de Schäuble fizeram eco da exasperação cada vez maior do FMI em relação a Bruxelas. “O FMI está farto e acha que na Europa é sempre tudo ‘too little, too late’ (muito pouco, tarde demais)”, resumiu uma fonte próxima da liderança das conversações acerca do resgate de Chipre, em março.
De facto, entre a organização de Washington, habituada a correr para salvar países em dificuldades, e a Comissão que tem de equilibrar a gestão dos interesses económicos e políticos, os métodos são diferentes.
Menor colaboração ao nível político
“Os mecanismos europeus são muito pesados: é necessário mais unanimidade, o envolvimento dos parlamentos nacionais, e todo um jogo político complexo que atrasa os trabalhos da Comissão e atrapalha a cooperação com o FMI”, explica André Sapir, economista no laboratório de ideias europeu Bruegel, e coautor de um relatório publicado em maio sobre a ação da troika.
Sapir sublinha que, no terreno, as equipas técnicas sabem colmatar as diferenças e trabalhar em harmonia. Ao nível político é que a colaboração é menos evidente.
Em Bruxelas ninguém se atreve a criticar abertamente o FMI, cuja presença é reconhecida como uma garantia de credibilidade. A participação do Fundo, desejada pela Alemanha e apoiada pelo BCE, tranquiliza os mercados. Mas sob anonimato há quem fale. Com os planos de resgate da Irlanda, de Portugal, de Espanha ou de Chipre, “o FMI tornou-se cada vez mais dogmático”, denuncia uma fonte em Bruxelas.
Na gestão do resgate de Chipre, para o qual organização de Washington desembolsou “apenas” 1.000 milhões de euros, dos 10.000 milhões concedidos, o facto de querer decidir tudo tem provocado muitas irritações: “O FMI tomou um poder desproporcionado”, afirma outra fonte.
A Comissão encara por vezes o Fundo como um mal necessário: é intransigente face às tentações de aligeirar os números do crescimento ou o défice dos países sob resgate para aliviar a situação destes.
Aiatolas da austeridade
Antigamente apelidados de “cowboys”, os peritos do FMI são agora conhecidos como “Aiatolas”. Uma classificação surpreendente tanto mais que o Fundo se revela muitas vezes mais preocupado do que Bruxelas em não sufocar os países com curas de austeridade insustentáveis.
O FMI gosta pouco destas críticas já que enfrenta a exasperação de alguns dos seus Estados-membros, entre os países emergentes. Estes dificilmente compreendem que depois de ter gerido os casos dos países da América Latina, da África e da Ásia com pouca convicção, o Fundo consagre tanto tempo e dinheiro aos Estados da zona euro. “Para estes países, isto é tão escandaloso como imaginar que os Estados Unidos pediam o auxílio do FMI para salvar a Califórnia”, afirma Simon Tilford do laboratório de ideias europeu “Center for European Reform” (CER), com sede em Londres.
A presença do BCE neste grupo também levanta algumas reservas. Nomeadamente internas: os mais ortodoxos defendem que a autoridade monetária deve render-se ao jogo do regateio político, sob pena de comprometer a sua independência. Portanto, o banco central apenas deveria ter um papel de “conselheiro técnico” no seio da troika. Mas a fronteira nem sempre é clara e isso alimenta acusações de conflito de interesses, sublinha Sapir. Na Irlanda, a opinião pública criticou o BCE por agir na sombra, privilegiando o seu próprio interesse.
É sobretudo no caso grego que, desde o início, se cristalizaram tensões. E é ainda em Atenas que podem surgir novas querelas. Convencido de que o país não conseguirá sair da crise sem uma nova ajuda, o FMI apela aos credores públicos – os Estados da zona euro – que aceitem apagar uma parte da sua dívida. Uma opção que os países europeus não querem aceitar. Pelo menos para já.
Para quê alimentar a imagem de uma união monetária mal armada face às desgraças dos seus próprios Estados-membros. “É triste. E só faz aumentar o euroceticismo”, conclui Simon Tilford.

Contramaré… 23 mai.

“Eu penso que isto é lamentável. Revela, por um lado, uma subserviência enorme do ministro das Finanças, do Governo português, perante o governo alemão. Porque não é ao Governo alemão, nem muito menos ao ministro das Finanças alemão, que compete avaliar ou deixar de avaliar o problema de ajustamento português”, afirmou Constança Cunha e Sá. “Não faz sentido absolutamente nenhum que Vítor Gaspar vá para a Alemanha exibir a sua triste figura, fingindo que está num país de sucesso, com um ajustamento e com um caso de sucesso, para alemão ver”.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Paraísos Fiscais: “A verdade é nua e ‘bem passada’”…

Os Chefes de Estado e de Governo dos 27 países que compõem a União Europeia reúnem-se para tentar fechar as negociações sobre as novas medidas de combate à fraude e evasão fiscal, assim como debater as redes transeuropeias de energia.
Devido à evasão e fraude fiscal, Portugal perde num ano mais de 12 mil milhões de euros, tanto quanto o país recebeu da troika para assegurar as necessidades financeiras e o correspondente a 63% do financiamento do Serviço Nacional de Saúde em 2009.
Num cenário de ficção científica, no final do Conselho Europeu que hoje decorre em Bruxelas, Passos Coelho poderia anunciar esta receita extraordinária para o país, sem ser à custa dos contribuintes. O cenário é inverosímil, mas é sobre isso que os líderes dos 27 vão falar hoje em Bruxelas: como tentar travar a fraude e a evasão fiscal que, todos anos agravam ainda mais as contas dos países.
Para travar esta autêntica sangria de dinheiros públicos, os 27 querem reforçar os mecanismos de troca de informação e transparência entre si, que permitam combater a fraude e a fuga aos impostos: "é difícil compreender os esforços ao nível da equidade e da consolidação orçamental e tolerar a fraude e a evasão fiscal", diz um diplomata europeu.
Em cima da mesa estarão igualmente os chamados "planeamentos fiscais agressivos", que fazem com que alguns países tenham sistemas de impostos mais atraentes para as empresas e que acabem por as desviar dos seus países de origem. Mas em discussão estará uma mera "recomendação" da Comissão Europeia e, num domínio em que as decisões são tomadas por unanimidade, dificilmente a discussão irá muito longe: "o objectivo não é falar de uma harmonização de impostos", explica uma fonte europeia.
No entanto, além da discussão, não são esperadas nesta fase nenhumas decisões sobre os assuntos agendados. E questões como o desemprego e o estímulo ao crescimento económico terão que esperar pela próxima cimeira europeia, agendada para o final de junho.
Os designados paraísos fiscais escondem 14 biliões de euros, o que significa uma perda de receita fiscal para os governos em torno dos 120 mil milhões de euros. As contas são da Oxfam, uma organização não-governamental internacional, que trabalha em 90 países e que afirma "O dinheiro perdido equivale a 2 vezes o necessário para que cada pessoa no mundo assolado pela pobreza extrema viva acima do limiar de 1,25 dólares por dia", salienta a organização.
"É escandaloso que tanto dinheiro passe ao lado dos impostos, deixando livres aqueles que mais podem pagar pelo bem público e pelo serviço público", considera Kevin Roussell, membro da organização. "Muitos governos garantem que não têm alternativa ao corte na despesa pública e na ajuda ao desenvolvimento, mas nós encontrámos potencial suficiente na taxação do dinheiro privado que se encontra escondido e que chegaria para eliminar 2 vezes a pobreza extrema", reforça.
A organização divulgou estes dados  numa altura em que os chefes de estado e governo da União Europeia (UE) se vão reunir nesta quarta-feira, para procurarem reforçar a luta contra a evasão e a fraude fiscal. Nas contas da Oxfam, a UE é responsável por 2/3 desta riqueza depositada em paraísos fiscais, como Luxemburgo, Andorra e Malta.
“Os líderes da UE na sua reunião deveriam colocar-se de acordo para agir de imediato de forma a acabar com a evasão fiscal, mas antes precisam de colocar a sua própria casa em ordem”, defendeu a organização, no mesmo comunicado.
Pronto! Depois de há cerca de mês e meio ter rebentado o “OffshoresLeaks”, com nomes e tudo, sobre os “paraísos fiscais”, nada se fez, a não ser esta iniciativa do Conselho europeu, que pretende, tão só, discutir o assunto, porque as decisões serão lá para as calendas germânicas… E enquanto o pau vai e vem, lá vão mais uns milhares de milhões.
Como nos é dado a conhecer, só em Portugal, são 12.000 milhões de euros que voam dos cofres do ministério das Finanças, que põe o Gaspar “atrapalhado” e a infernizar a vida de todos os portugueses (menos os fugitivos) por causa de 4.000 milhões e que pode por em causa (ameaça o mesmo) a consistência contabilística (sustentabilidade) dos deveres do Estado. Ou seja, aquilo a que chamam Estado “Social”, é mais do que sustentável, desde que OS POBRES PAGUEM A CRISE e OS RICOS PAGUEM OS IMPOSTOS…
E como sugere o jornalista, Passos Coelho poderia anunciar esta receita extraordinária para o país, libertando assim os contribuintes de arcarem com as fraudes de qualquer gato-anafado…
Não deixa de ser aberrante, que os “bosses” falem em união bancária e noutras “uniões” de facto, em vez de falarem e implementarem a igualdade na União: igualdade fiscal, igualdade salarial, igualdade de preços, igualdade de direitos sociais, IGUALDADE… Parece pueril falar nestes paradigmas, mas a irracionalidade está na bagunça de na mesma família cada um pagar o cafezinho a preços diferentes, conforme a cor dos olhos ou do ADN…
Além disto, nenhuma decisão será tomada e os assuntos mais prementes, enquanto a “polícia” não atua sobre os “offshorianos”, como o tão chorado desemprego, só mais lá para a frente e o desgraçadinho que aguente!
E se pensarmos “macrofinanceiramente”, ficamos a saber que a perda de receita fiscal para os governos de todo o mundo(?) ronda os 120 mil milhões de euros, o que dava para acabar com a pobreza no mundo, permitindo que os que vivem abaixo do limiar da pobreza, passassem a ganhar 3,5 dólares por dia, mais 50% (que pecado!)...
E pensar, que só a União Europeia é responsável por 2/3 desta riqueza depositada em paraísos fiscais, sonegada aos cofres dos respetivos Estados, mostra que para além de ser ator direto de confiscos aos contribuintes, funciona também como recetador de outros confiscadores… E pode?
Que credibilidade tem estes 27 Chefes de Estado e de Governo que compõem a União Europeia para “legislarem” em prejuízo próprio?
Se houvesse moralidade, comíamos todos… Mas nem todos podemos ir para os “Paraísos”.

Ecos da blogosfera – 22 mai.

Unanimidade contra a austeridade! Menos um. Wer?

Em 15 de maio, os dados sobre o crescimento na Europa caíram como uma machadada: a economia da zona euro recuou pelo 6.º trimestre consecutivo. Trata-se do mais longo período de descida do crescimento desde a criação da moeda única, constata a imprensa europeia.
Com o crescimento de -0,2% em média no primeiro trimestre (contra -0,1% na União dos 27) e perspetivas nada melhores para a totalidade do ano (-0,7%), segundo o Eurostat, a tão temível “dupla recessão” tornou-se realidade. Um resultado que a imprensa atribui em grande parte às políticas de austeridade.
"A zona euro bate um novo recorde de duração da receção", resume o Financial Times na primeira página. O diário económico salienta que “este último recorde de decréscimo vem na sequência de um desemprego efetivo que atingiu 12,1% no conjunto dos países, o mais alto nível de sempre”. Assim, estes dados “podem aumentar a pressão sobre o Banco Central Europeu para intervir de novo, depois de ter cortado as taxas de juro este mês e de ter revisto em baixa as suas previsões económicas, que anunciavam uma recuperação no final do ano”.
Para o Financial Times, os novos dados, que revelam que a França voltou a entrar em recessão, aumentaram a pressão sobre o Presidente francês, François Hollande, no sentido de aplicar reformas económicas estruturais:
O Governo alemão está cada vez mais preocupado, pois, se Hollande não agir rapidamente, a gestão de crise da zona euro pode tornar-se incontrolável. Berlim encara a maioria dos países atualmente em crise como sendo possível de gerir, embora uma nova crise em Itália viesse a provocar problemas graves. Mas se a crise atingir a França, Berlim considera que a sobrevivência do euro seria novamente posta em causa.
Em Paris, o jornal Les Echos tem esperança de que a recessão, agora oficial, vai “obrigar a França a enveredar pelas reformas”. No mesmo comprimento de onda do FT, Jacques Attali, economista e ex-assessor de François Mitterrand, apela a que François Hollande empreenda “uma terapia de choque de reformas”:
Quer se trate de competitividade, de redução do défice ou das questões europeias, François Hollande tem feito muito, mesmo muito mais do que o seu antecessor, no mesmo tempo. Mas era preciso ser mais rápido. A presidência é como o cimento de secagem rápida – quanto mais se espera, mais difícil se torna intervir. No entanto, nada do que não foi feito é irreversível. É preciso acelerar o ritmo.
Para o România Libera, a recessão na zona euro significa que 2013 “entrou no vermelho”. O jornal de Bucareste salienta que o mau desempenho da economia europeia preocupa o outro lado do Atlântico, onde
a política de austeridade é vista como uma das principais causas da estagnação. Na verdade, o mundo está alarmado por a Europa ser o único continente que não regista crescimento, e por cultivar obsessivamente o “leitmotiv” do saneamento da dívida pública. Trata-se de uma política que pode levar os povos europeus ao desespero. [...] Há que ter em conta o seu descontentamento.
“A zona euro atola-se em recessão”, salienta, por seu turno, El Correo. A “mais longa da sua curta história”, frisa o diário:
O dilema enfrentado pela zona euro não é apenas sanear a consolidação fiscal com eventuais políticas de estímulo, constantemente expostas a contrapartidas, mas também perceber se os duros e continuados ajustes não estão a estrangular qualquer possibilidade de recuperação.
A Holanda, “que atravessa o seu pior período económico, tirando o da guerra”, não escapou à tendência. Mas aí “os consumidores têm evitado uma recessão mais forte”, como destaca o NRC Handelsblad em título. O jornal diz que um decréscimo de 0,1% no 1.º trimestre de 2013 em comparação com o mesmo período de 2012 indica que a recessão iniciada no 3.º trimestre do ano passado continua. O jornal baseia-se nos mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados em 14 de maio. Apesar de não serem dramáticos, diz o NRC, isso deve-se a alguns “pontos luminosos”:
O comércio externo tem funcionado bem, com um crescimento das exportações de 1% no 1.º trimestre. [...] Mas o que tem sido extremamente positivo é o consumo das famílias. É responsável por quase metade do PIB [...] e aumentou 0,4% em relação ao 4.º trimestre de 2012. Parece pouco, mas é a primeira vez, desde 2011, que os consumidores gastam um pouco mais.
A turbulência na zona euro também afeta os países fora dela. Na República Checa, a coroa sofreu um revés: perdeu 6% em relação ao euro, desde setembro de 2012, salienta o Hospodářské Noviny, em Praga. Para este diário económico,
o arrefecimento da economia em quase 2% do PIB no espaço de um ano é uma surpresa desagradável. [Além disso], a economia checa perdeu o seu último sustentáculo, as exportações.
“A Europa está a sufocar”, destaca o Gazeta Wyborcza, que culpa diretamente a política de austeridade: “Apertar o cinto está a conduzir-nos para a recessão”, adverte o jornal, na altura em que o Instituto de Estatística da Polónia anunciou que a economia do país cresceu apenas 0,4% no 1.º trimestre de 2013, em relação a período idêntico do ano anterior – o pior resultado dos últimos 4 anos e na sequência de 6 trimestres consecutivos de recessão na zona euro.
O GW cita o principal economista do Instituto, Mark Cliffe, que considera que “se a atual estratégia de aperto do cinto continuar, vamos ver mais países entrarem na bancarrota”. O diário salienta que a situação económica é especialmente má nos países que introduziram medidas de austeridade muito estritas, como a Espanha, Itália, Portugal, Chipre e Grécia.
Os dirigentes europeus, em particular os alemães, andaram a argumentar que a redução da despesa era a chave para a superação da crise. É verdade que a estratégia de apertar o cinto provocou défices orçamentais mais baixos; mas, ao mesmo tempo, levou à deterioração das condições económicas e à frustração social.