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sábado, 3 de agosto de 2013

Uma conduta totalmente isenta de crítica e a seguir…

Rui Machete adquiriu, no início da década passada, cerca de 25.500 títulos da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), dona do BPN, a 1 euro cada, vendendo-as nos anos seguintes ao grupo liderado por Oliveira Costa por 2,5 euros cada. O actual ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros obteve assim lucros de 150% (38.500 euros).
Este negócio tem contornos semelhantes ao que foi feito por Cavaco Silva entre 2001 e 2003, que resultou num ganho de 350.000 euros para a sua família.
O caso BPN continua a queimar as mãos de muita gente. Tanto que, quando alguém que esteve ligado ao banco vai para um lugar público e tem de divulgar o seu curriculum, elimina cuidadosamente essa atividade do seu passado.
Nicolau Santos
Foi isto que fez Rui Machete, foi isto que fez Franquelim Alves, passando aos jornalistas um atestado de incompetência e aos cidadãos, um atestado de estupidez.
Não está em causa a compra ou venda de ações de uma instituição bancária. Mas está em causa saber: 1) se toda a gente podia comprar ações do BPN; 2) se toda a gente que comprou as viu recompradas pelo dobro ou pelo triplo do seu valor original; 3) se esses ganhos assentavam na atividade normal do banco.
Ora para quem não se lembra, o BPN não estava cotado em bolsa. Por isso, só comprava ações do banco quem a administração convidava para tal. Foi assim com Cavaco Silva, que comprou e vendeu ações do BPN tratando diretamente do assunto com o presidente da instituição, Oliveira Costa.
Depois, a compra de ações pelo banco por valores muito superiores aos que as tinha vendido não resultava do livre funcionamento do mercado - mas de uma decisão da administração e, em particular, de Oliveira Costa.
Quer isto dizer que o presidente do BPN beneficiou quem quis - e beneficiou seguramente os seus amigos. Não por acaso, todos (ou a esmagadora maioria) os beneficiados com a venda de ações altamente valorizadas ou com vultuosos empréstimos não reembolsados são membros ou simpatizantes do PSD. E suponho que não é preciso dizer os nomes.
Por isso, se tudo fosse tão normal e transparente, Rui Machete não teria eliminado do seu curriculum as funções que ocupou no BPN. Por isso, também não devia ter dito que isto revelava a podridão da sociedade portuguesa.
É que, se este caso revela alguma coisa, é a podridão com que altas figuras do PSD ligadas ao Estado ganharam muito dinheiro com um banco fantasma que era liderado por um grupo de malfeitores.
E é esse dinheiro fácil que está agora a ser pago, com língua de palmo, por todos os contribuintes. Mais de 4.000 milhões de euros dos nossos impostos servem para pagar as mais-valias e os empréstimos não reembolsados que o BPN concedeu.
Por isso, seria de muito bom-tom que todos os que lucraram com o BPN se calassem e que não nos tentassem convencer que tudo foi limpo e transparente no dinheiro que ganharam. É que, como de costume, os senhores privatizaram os lucros. E deixaram para os contribuintes a socialização dos imensos prejuízos. Haja vergonha! 

Ecos da blogosfera – 3 ago.

Pelo que vamos sabendo, por que não estamos no rol?

No dia em que o italiano Silvio Berlusconi foi condenado por fraude fiscal, o espanhol Mariano Rajoy respondeu perante o Parlamento pelas suspeitas de prémios ilegais. Esta coincidência realça até que ponto os “casos” atormentam a vida política do continente. Correndo o risco de destruir a confiança na democracia.
Infelizmente, são cenas que fazem quase sempre parte do dia-a-dia da vida política na Europa. Dirigentes, por vezes altos funcionários do Estado, são postos em causa por corrupção, falta de ética ou financiamento ilegal do seu partido. A menos de 10 meses para as eleições europeias, que decorrerão no dia 25 de maio de 2014 em França, na Itália e em Espanha, estes factos alimentam a desconfiança da opinião pública relativamente aos políticos e comprometem a democracia.
Mas os factos que lhe são imputados realçam de que forma o sistema político italiano está corrompido e sem fôlego.
Na Itália, Silvio Berlusconi viu o Tribunal de segunda instância confirmar de forma definitiva, na quinta-feira, dia 1 de agosto, a sua condenação a uma pena de 4 anos de prisão por fraude fiscal. Graças a uma amnistia aprovada em 2006, Il Cavaliere, que foi 3 vezes primeiro-ministro, conseguiu reduzir a sua pena para 1 ano e a sua idade avançada, 76 anos, permitiu-lhe não acabar atrás das grades. Mas os factos que lhe são imputados realçam de que forma o sistema político italiano está corrompido e sem fôlego.
Em Espanha, onde a monarquia foi minada por escândalos, o chefe do Governo teve, na quinta-feira do dia 1 de agosto, perante os deputados, de realizar uma humilhante confissão. Sem qualquer credibilidade, Mariano Rajoy negou por completo as acusações do antigo tesoureiro do seu partido, Luis Bárcenas, detido desde o final de junho por fraude fiscal, sobre o alegado financiamento irregular do Partido Popular. Rajoy, que admitiu apenas um erro, o de ter confiado em Barcera, procurou “travar a erosão da imagem da Espanha”. A oposição socialista exigiu a sua demissão, mas nunca mais conseguiu reconstruir-se depois do seu fracasso eleitoral de novembro de 2011, que provocou a queda do partido de José Luis Rodriguez Zapatero.
Ouro sobre azul para os populistas
A França não dispõe, infelizmente, de uma melhor imagem uma vez que, neste caso também, tem de lidar diariamente com casos, que variam em género e em grau, que afetam os partidos da direita e da esquerda. Um ministro da República, Jérôme Cahuzac, mentiu durante meses ao Presidente da República e à opinião pública sobre a existência de uma conta na Suíça. A sua confissão após a sua demissão causou um verdadeiro terramoto político. O Conselho Constitucional chumbou as contas de campanha do antigo Presidente da República, Nicolas Sarkozy, por não cumprir as normas que deveria supostamente promover. Os casos multiplicam-se, à direita, atingindo a galáxia Sarkozy, e à esquerda onde respeitados socialistas são acusados de corrupção. Estes factos aumentaram a desconfiança da opinião pública, cada vez mais instruída com as investigações levadas a cabo, favorecendo a Frente Nacional.
Numa Europa em crise, onde o pessimismo ganha cada vez mais terreno, a Itália, a Espanha e a França, sem mencionar os casos da Roménia e da Bulgária, transmitem uma terrível imagem dessas democracias.
Em maio, uma investigação do Ipsos para o Publicis, envolvendo 6.198 europeus, revelou valores alarmantes. No que diz respeito à questão de saber quem propõe soluções construtivas face à crise, apenas 21% citou o Governo em França, 19% em Espanha, 15% na Itália contra 45% na Alemanha. Se este clima político continuar a deteriorar-se, os populistas tirarão muito provavelmente partido disso em maio de 2014.
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Contramaré… 3 ago.

O novo secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, estava já metido num problema. Hoje, depois do ‘briefing’ a que quis comparecer, o caso ficou bastante mais sério. Para ele e para a ministra das Finanças – que até tinha ganho algum tempo com a sua ida à Comissão de Inquérito esta semana.
Vejamos este caso:

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Os “DOTORES” estão perdoados, se não voltarem…

O ex-ministro Miguel Relvas, vai ser Alto-comissário da Casa Olímpica da Língua Portuguesa no Brasil, segundo um comunicado divulgado por esta associação cívica sem fins lucrativos, que desenvolverá a sua atividade até ao final dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o objetivo é divulgar a cultura dos países de língua portuguesa, através de "eventos culturais, encontros, exposições, palestras, fóruns, mostras, colóquios, vivências, festas e celebrações".
O antigo braço direito do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que se demitiu em abril no meio de várias polémicas em torno da sua alegada licenciatura, vai desempenhar o cargo "a título não oneroso" e quer promover a língua portuguesa como língua de trabalho do Comité Olímpico Internacional e criar um "espaço de promoção da cultura nacional na cidade-sede do maior  evento multidesportivo do mundo".
Depois do ministro da Defesa e da ministra da Educação do governo Angela Merkel, agora é a vez do Presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, ter de se defender da acusação de ter plagiado ao escrever a sua tese de doutorado. O trabalho, apresentado em 1974, está a ser agora examinado pela Universidade de Bochum, a pedido do próprio político democrata-cristão, que é membro da CDU, o partido da chanceler federal.
Dúvidas sobre o rigor científico de uma tese de doutorado têm um peso especial na Alemanha, onde o título de doutor vai além do valor académico e costuma ter importância não só no meio profissional, como também é usado socialmente como símbolo de prestígio.
Suspeitas de plágio similares à de Lammert causaram em 2011 a renúncia do então poderoso ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, cuja popularidade na altura levara a ser considerado um possível candidato a chefe de governo alemão. Este ano, foi a vez da ministra da Educação, Annette Schavan, renunciar, por causa de escândalo parecido. Outros políticos alemães também se viram confrontados com denúncias similares, como foi o caso da deputada do Partido Liberal (FDP) Silvana Koch-Mehrin, membro do Parlamento Europeu.
Para o austríaco, Stefan Weber, especialista em plágio, detetou no trabalho de Lammert "sinais claros de má conduta científica". "É um plágio. Isso é indiscutível", concluiu Weber, que já participou várias vezes como perito em processos judiciais sobre teses de doutorado. O especialista afirmou que os factos são "esmagadores", acrescentando que, ao analisar o texto "palavra por palavra", fica claro que certos limites "foram ultrapassados". "Se a verdade prevalecer, isso vai acabar na retirada do título de doutor e numa renúncia", prevê.
Falar de Migue Relvas é sempre tempo perdido, mas há sempre uma exceção, quando se ultrapassa o ponto do excessivo… Um “DOTOR” deste calibre, que (mesmo de graça) pretende promover a língua e a cultura portuguesa, é uma graça, só para rir! E pronto. Não se fala mais nisto, só porque não se prevê que vá para lá “grandolar”!
Isto vem mais a propósito de mais um DOTOR (e já vão 3), desta vez alemão, que ainda por cima é o Presidente do Parlamento. Ao menos o nosso DOTOR contentou-se com um cargo de ministro… Por coincidência, os 3 alemães pertencem ao partido da chanceler (o que não a classifica) e 2 deles também foram seus ministros (o que a responsabiliza) e, tal como cá, demitiram-se quando lhes descobriram a falta de habilitações para a certificação do título…
Não deixa de ser curioso, que com o nosso DOTOR, muitos “sociólogos” vieram a cena com a justificação de que os portuguesinhos tinham a mania do "Sr. Dr." e acrescentavam  lá fora era coisa que nem lhes passava pela cabeça. Pelo que se vê, o prestígio académico não tem fronteiras, nem raças, nem religião, nem partidos…
Fica provado que, realmente, para ganhar a vida, o título não ajuda nada e até atrapalha, mas para se subir na política partidária e ascender a altos cargos públicos, até um falso canudo dá mais hipóteses de lá chegar, apenas porque os ditos estão certificados com o necessário e suficiente: a falta de vergonha…
A diferença está apenas no número de DOTORES, que é diretamente proporcional à qualidade de vida dos países e nada tem a ver com as religiões…
Santos e pecadores há por todo o lado e em todos os credos, porque a carne é fraca, a mente ainda mais e o ganho é forte…

Ecos da blogosfera – 2 ago.

Contar a minha história, ajuda-me, depois vomito…

Recordemos o momento quando tudo tremeu. “Mãe, é um senhor.” Enquanto o som dos helicópteros se junta ao ruído da greve geral iminente, eu espalho papéis de tribunal numa mesa e preparo-me para escrever um artigo para o sítio de El Mundo – é preciso contar, denunciar é uma necessidade que nos vai salvar -, para o meu blogue, mas isso ocupou a minha página principal demasiado tempo, praticamente o dia todo. Chamava-se Chegou o dia do meu despejo.
O jogo da forca
De manhã quando estou a trabalhar em casa não abro a porta a ninguém. Abrir a porta de manhã traz sempre más notícias. Mas quem toca à porta às 19:40 são geralmente vizinhos ou amigos.
Quando cheguei à porta percebi o que aquele homem trazia.
"Venho entregar uma notificação do tribunal."
Com um maço de papel debaixo do braço direito, estende-me um papel com a mão esquerda.
"É a ordem de despejo?"
É a sensação dos adolescentes quando são confrontados com os “assuntos dos crescidos”.
Há algum tempo que a aguardava, desde que o banco me tinha dito que, se quisesse saber a situação do meu crédito, tinha de contactar os serviços jurídicos. Quando a banca nos fala em “serviços jurídicos”, sabemos que o assunto transitou para um departamento onde se fala uma língua diferente. É a sensação dos adolescentes quando são confrontados com os “assuntos dos crescidos”. Vão ter de passar por isso, compreendem, mas escapa-lhes o essencial.
"Bem, mais ou menos – hesita – Tem de se apresentar no tribunal e assinar isto."
"E se eu não assinar?"
"Vai acontecer à mesma."
Ouvem-se os primeiros petardos que aquecem uma greve geral que um espírito iluminado chamou de “greve política”, como se existisse outro tipo de greve.
"Crianças, venham à sala."
O despejo
Assino tudo e fico sem alternativa. O tribunal de primeira instância número 4 de Barcelona no nº 111 da Gran via dos tribunais da Catalunha. Processo de execução da garantia hipotecária xxx/2012, Secção 2C. Requerente Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, SA. Procuradora Irene Sola Sole. Devedor Cristina Fallarás Sánchez. Os nomes do requerente e da procuradora estão em maiúsculas, o meu em minúsculas.
De repente o Facebook e o Twitter ficam loucos, os rádios e as televisões também, e anda toda a gente à minha procura. O telefone toca. É o produtor de um programa da noite de grande audiência.
"Olá Cristina, já sabemos da tua história e queríamos convidar-te para vir à emissão a um debate."
"Estou em Madrid para participar no festival Eñe de literatura."
"Preciso que estejas no estúdio às 8 da noite."
"É impossível. Isso é a hora a que acaba a minha mesa redonda. Na realidade tudo me parece complicado porque ainda por cima não tenho bilhete."
"Não faz mal. Enviamos-te um táxi, pagamos uma noite de hotel e fazemos-te chegar um bilhete."
Chego aos estudos da estação privada. Sentam-me ao lado de 2 casais. O casal mais velho andará pelos 70 anos. Ela está preocupada com o cabelo e alisa o vestido num tique nervoso, está do outro lado do ecrã que se habituou a ver durante horas a fio durante uma reforma que sempre imaginou agradável. O marido, apesar do excesso de peso e da tez corada de macho rural instalado na cidade, parece já ter desistido. Vejo uma lágrima discreta cair-lhe da face.
O casal mais jovem inclui um homem já bem entrado nos quarenta, com uma mulher talvez uns 5 anos mais nova. No rosto a emoção de estarem num estúdio de televisão, um lugar quase mítico, reflete-se no seu ar espantado.
“Fomos despejados", explica-me o homem no seu sotaque da Andaluzia. "Primeiro despejaram-nos a nós e agora vão despejar os meus pais porque eles foram fiadores quando comprámos o nosso apartamento". E, com um movimento do queixo aponta para o pai. "Estamos os 4 a viver na rua com as crianças. A única coisa que nos resta é vir à televisão contar a história.”
A aceitação
Senti um murro no estômago. Um murro na cabeça. Que transparece na minha cara. Subitamente já não sei o que estou a fazer ali, com estas 4 pessoas cuja provação me parece distante e estranha. “Isto é a última coisa que nos resta.” Como explicar que ainda não estamos todos no mesmo barco? Como explicar esta vontade súbita de fugir, chamar um táxi e voltar para casa?
Procurei desesperadamente um assistente de produção. Tenho de ter a certeza de que não me vou sentar à beira de um precipício, à beira do qual pendem as pernas destas pessoas que olham para mim e perguntam por que estou aqui. Até aquele momento não tinha verdadeiramente percebido o que eu era. E sou assaltada pela dúvida: também serei um sem-abrigo? Estaria entre as centenas de milhares de pessoas que já não têm nada? Foi isso que me trouxe a este bairro dos arredores de Madrid?
"Desculpe, menina, pode dizer-me o que estou aqui a fazer?", pergunto eu à assistente de produção. Na minha voz um sentimento de irritação mal disfarçado. A jovem olha para mim, surpreendida.
"Participar no debate! Fica sentada entre fulano e fulano, que dão a sua opinião e..."
Quase me desprezo por não ter conseguido, vou lutar, mas como tantos outros fui despejada de casa. Mas ainda posso contar a minha história e isso ajuda-me. E depois, às vezes, vomito.
Leia as primeiras partes deste artigo:
Cristina Fallarás, jornalista espanhola despejada da sua casa, autora do livro "A la puta calle"

Contramaré… 2 ago.

A taxa de desemprego em Portugal recuou pelo 2.º mês consecutivo, baixando em Junho para 17,4% da população activa. O número de pessoas que estão fora do mercado de trabalho continua em níveis historicamente elevados, com a taxa de desemprego num valor idêntico ao do final do ano passado.
Nas contas do Eurostat, que actualizou os seus dados mensais, havia em Junho 923.000 desempregados em Portugal, menos 9.000 do que no mês anterior, mas mais 62.000 do que um ano antes.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Uma “Noção de Confiança”...

O indicador de confiança dos consumidores voltou a aumentar em Julho, mês que ficou marcado pela crise política, prolongando o movimento ascendente que se observa desde Janeiro, depois de ter atingindo o mínimo da série em Dezembro do ano passado, com subidas em todos os indicadores de confiança sectoriais: indústria, construção e obras públicas, comércio e serviços. Não obstante a recuperação, o indicador ainda se situa num nível mais negativo do que o observado em Julho de 2012.
“O aumento do indicador de confiança dos consumidores, observado nos últimos 2 meses deveu-se ao contributo positivo de todas as componentes, sendo mais significativo no caso das expectativas sobre a evolução do desemprego”, refere o INE.
O indicador de confiança dos consumidores e empresários da Zona Euro atingiu um máximo de 15 meses, em Julho, ao subir para 92,5 pontos, em linha com o antecipado pelos analistas. No mês precedente, o índice tinha ficado nos 91,3 pontos, segundo dados divulgados pela Comissão Europeia.
A economia da Zona Euro mostra sinais de recuperação, depois de ter registado 6 trimestres de contracção. Os economistas antecipam que o PIB da região tenha observado um abrandamento da queda, no período, e estimam que o indicador retome uma tendência positiva, no trimestre iniciado em Julho.
Convém não esquecer que este indicador de confiança, é baseado apenas num sentimento, numa crença, sem qualquer justificação baseada em dados concretos, de outra forma, não passaria incólume à maior crise política na própria coligação.
Por outro lado, e segundo o INE, este “aumento” passa pelas expectativas sobre a evolução do desemprego, com origem na sazonalidade (que se omite), e pelas (novas) promessas de crescimento (do “novo” governo), em que as pessoas querem acreditar (Produção na construção cai pelo 23º semestre consecutivo)… Veremos (o que já vimos)!
Na Zona Euro, parece que acontece o mesmo com o mesmo indicador, só porque a economia dá sinais de recuperação(?), com um abrandamento da queda do PIB, ou seja, com menos contração, que dura há 6 meses, ou seja, perde-se menos… Perspetivas (de economistas)!
Entretanto, passando-se à realidade, pura e (muito) dura, constata-se que há mais pessoas e cada vez mais, a escolherem a morte como solução para a crise financeira, que é uma consequência da crise social que se (sobre)vive e que contraria o tal indicador de confiança, não na economia, mas no futuro, funcionando assim como um indicador de desesperança…
E a desconfiança, aliada à desesperança e baixa estima, é de tal ordem, que entrou pelo governo adentro, a ponto de apresentar uma Moção de Confiança nele próprio, à espera de que os seus correligionários dissessem que os ministros eram os melhores e que as (mesmas) novas medidas vão ter efeitos diferentes dos conseguidos… Até parece que não tem noção do que é confiança…
A Moção foi aprovada, claro, mas a fada Rainha caiu no mesmo pecado…
Vitória, vitória, acabou a história!
A arma está apontada: a crise instalou-se não só na economia do País como também na sociedade, tornando-se causa e consequência do elevado número de homicídios registados em Portugal este ano. Até ao dia 15 de Julho, 71 pessoas já tinham sido assassinadas no País, o que comparando com os primeiros 7 meses do ano passado, já foram mortas mais 9 pessoas em 2013.
Para o psicólogo forense e presidente da Associação para a Intervenção Jus-psicológica, Carlos Poiares, o aumento deste tipo de crime está relacionado com a crise instalada no País. “Falo da crise financeira e da crise social, que é uma consequência”, disse ao jornal.
“Vivemos numa ditadura financeira e as pessoas perderam a esperança de que as coisas mudem. Os problemas psíquicos acumulam-se e agravam-se. Os mais novos ainda podem emigrar, mas e os mais velhos? As pessoas estão desesperadas e caem na violência”, alerta.
A moção de confiança ao Governo foi aprovada com os votos favoráveis do PSD e do CDS, tal como o previsto.

Ecos da blogosfera – 1 ago.

É preciso falar, falar do medo, formular a angústia…

Escrevi "Pode acontecer a qualquer um". Escrevi "Os meus filhos vivem abaixo da linha da pobreza". E a 25 de janeiro de 2012, no jornal El Mundo, também escrevi "Estou para alugar".
"Mulher branca, de 43 anos de idade, jornalista, escritora e editora. Altura – 1,69 m, 60 kg, ruiva descorada, olhos azuis. Estudos universitários, 25 anos de experiência em jornalismo em 4 jornais espanhóis, 4 estações de rádio e 3 cadeias de televisão. 6 livros publicados, incluindo 4 romances. 3 foram premiados. Experiência na organização de redacções, equipas de trabalho, campanhas de comunicação, criação de páginas web e récitas de Gil de Biedma. Capacidade de escrever ou falar sobre literatura, política, economia, culinária, sexo, violência, edição, família e suas dificuldades, desemprego, crime, sindicalismo e penas, no sentido mais amplo.
Está para alugar para: pensar, cuidar de uma casa, mesmo que a missão inclua apanha de couves. Escrever todos os tipos de textos, de ficção ou não, correspondência incluída, mesmo que implique renunciar à respectiva assinatura, se for solicitado [...]. Passear animais ou pessoas, de preferência pessoas. Este serviço inclui a conversa. Projectar ações de obediência ou desobediência, públicas ou privadas.
Qualquer serviço que não esteja incluído na lista e que faça falta será amavelmente considerado e respondido. Dá pelo nome de Cristina. Preços a negociar. Se interessado, é favor contactar cristinasealquila@gmail.com. Para relações sexuais, sexo oral, strip-tease ou similares, é favor abster-se."
Nua e aterrorizada, mas: é preciso falar. Falar do medo, formular a angústia, narrar a culpa.
Tive respostas. A maioria das respostas, apesar das indicações, com pedidos de serviços sexuais, por vezes muito imaginativos. Mas quase ninguém levou a sério a minha oferta. No entanto, era verdadeira, como tudo o que escrevo e publico no diário. Era tão verdadeira como o corte da electricidade previsto para o mês seguinte; tão verdadeira como as moedas contadas para comprar o leite dos pequenos-almoços. Mas essas coisas, é preciso tê-las vivido para as entender, para estar consciente delas. Pensava que estava consciente e, no entanto, o aviso de despejo que me mandou o senhorio teve o efeito de um bloco de gelo que caiu como um peso morto ativando uma mola, deixando uma sensação de culpa. Nua e aterrorizada, mas: é preciso falar. Falar do medo, formular a angústia, narrar a culpa.
A negação
Chamo-me Cristina Fallaras, a desalojada que fala. Exactamente 4 anos antes da minha decisão de falar, numa manhã morna de Novembro, às 10 horas da manhã, precisamente na segunda-feira 17 de novembro de 2008, o director do jornal onde eu era directora-adjunta [ADN, um diário gratuito espanhol, pertencente ao grupo Planeta, que deixou de ser publicado em dezembro de 2011] despediu-me. Grávida de 8 meses. Naquela época, a Espanha tinha 2.500.000 de desempregados – achávamos que era um horror, o que é risível, hoje – e os presságios mais perspicazes previam que a crise larvar se prolongaria até 2010, talvez até ao início de 2011. Absurdo, respondíamos em coro, uma crise não pode durar tanto tempo! O governo de José Luis Rodríguez Zapatero falava de "brotos verdes", de que já tínhamos batido no fundo e que tudo começava a florescer novamente. Pouco depois, o socialista injectaria milhares de milhões de euros nos bancos espanhóis. Dinheiro público.
Foi aí que começou o meu despejo. Pela minha demissão. E com que frivolidade se tomam estas decisões. Em novembro de 2012, o jornal El País despediu 129 jornalistas. Lembro-me de pensar: carne para despejo, venham daí, cá para baixo, arranja-se espaço. Como veterana – em 2008, os despedidos foram cerca de 800.000 -, sei quais são os passos que se seguem.
A saber: primeira etapa. Tenho bastante valor, sou uma grande profissional. Tenho a minha indemnização, uma boa quantia, e tenho o subsídio de desemprego. Pelo menos por um ano e meio. Respiro fundo durante 2 meses, para descansar e engolir o sapo. Esta etapa dura pouco menos de um ano.
Segunda etapa. Está a acabar-se o subsídio, não devíamos ter feito aquela viagem. Vamos mudar as marcas de sabonete, de roupa, de comida. Prioridade para as crianças: que não se apercebam de nada. Tenho que montar qualquer coisa, uma empresa de consultoria, um pequeno negócio, uma agência de comunicação. Vou investir o que resta da minha indemnização para garantir o futuro da família. Estupores de políticos. A segunda etapa abrange todo o segundo ano.
A descida
Preciso de comprimidos. Se me cruzo com um político na rua, torço-lhe o pescoço.
Terceira etapa. Meninos, este ano não há férias. Amor, acabou-se o carro. Bolas, o subsídio de desemprego durou muito pouco. Agora, só as marcas mais baratas, e arroz a granel para os adultos, nada de roupas. A pequena empresa ainda não deu nada, como poderia ser rentável em poucos meses? E se afinal não sou assim tão boa profissional? E porque é que o meu companheiro não arranja trabalho? Se calhar não se está a empenhar muito. Preciso de comprimidos. Se me cruzo com um político na rua, torço-lhe o pescoço. Ou ao empregado do meu banco. Se me voltam a telefonar por causa do atraso da prestação, rebento. Preciso de comprimidos. A terceira etapa compreende os primeiros 2/3 do terceiro ano.
Quarta etapa. Preciso de comprimidos mais fortes. Está tudo com meses de atraso: mensalidade da casa, água, gás. O banco já não me responde. Querido, a carne é para as crianças, eu com uma massa fico bem. É da minha vista ou estou a envelhecer como um raio! Ninguém nos telefona já. Vou ao supermercado; entretém a caixa enquanto escondo pasta de dentes e lâminas de barbear dentro do casaco. A quarta etapa termina com o despejo. O que resta de ti, agora, é apenas estatística.
Leia a primeira parte deste artigo:
Continua: leia amanhã a terceira parte deste artigo.

Contramaré… 1 ago.

Rui Rio, criticou, duramente, a gestão do caso dos “swap” feita por Maria Luís Albuquerque, afirmando que a ministra "é um problema para o Governo" e que, se fosse primeiro-ministro, “evidentemente que não” seria ministra das Finanças.
Rui Rio deu vários exemplos de problemas nas relações entre a autarquia e a ministra das Finanças: “A minha experiência é muito má, a minha avaliação, relativamente às suas capacidades, sinceramente, é muito má.”

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Agora é que Portugal vai Subir, Lall? LOL!

Shiva, como Nataraja (rei dos dançarinos)
Vai mudar o rosto do FMI em Portugal. Abebe Selassie será substituído por Subir Lall, um indiano do Departamento Europeu do FMI que acompanha a economia da Holanda e da Alemanha e tem experiência em economias emergentes como a Coreia do Sul, Malásia, Roménia, Rússia e Filipinas.
A saída de Selassie deve-se ao facto de o etíope ter sido promovido a vice-director do Departamento Africano do FMI, onde vai “assumir novas responsabilidades”.
Rasmus Ruffer, do BCE, é o único chefe da Troika que se mantém em Portugal desde o início.
Esta mudança (a 3.ª) do rosto do FMI na troika que nos coloniza, volta a ter algum simbolismo e deixar algumas reticências, sobretudo pela nacionalidade do mesmo e das suas ligações diretas com a Alemanha (BCE) e a Holanda (Eurozona). Explico:
1. Qualquer alteração tem que ter uma razão, que no caso de Selassie (etíope) não deve ter nada a ver com a “promoção”, como já não teve a exclusividade de Poul Thomsen (dinamarquês) na Grécia, o que nos leva logo a pensar, que como dizem, não nos deixamos governar por qualquer um;
2. O 1.º “chefe”, da Europa do norte, que desenhou o memorando mal desenhado, penitenciou-nos logo com esse instrumento e pirou-se (convencido de ter cumprido a sua missão), para penitenciar, mais duramente, o povo grego, por ser mais pecador.
Não se entende que tal eminência, Poul Thomsen, conhecido pela defesa de uma política acelerada de privatizações e cortes desenfreados nos salários e nos serviços públicos, sendo dinamarquês, e indigitado pelo governo que perdeu as eleições em setembro de 2011, pelas políticas erradas que gerou, sem qualquer legitimidade democrática, imponha nos outros países as mesmas medidas ineficazes, que os seus concidadãos rejeitaram.
Bom, bom, seria que fosse trabalhar para o seu país de origem, contribuindo para o melhor bem-estar dos seus;
3. O 2.º “chefe”, oriundo do corno de África, aprovou todas as avaliações com “Excelente”, embora sempre com muitos “mas…”, o que na leitura dos respetivos relatórios se traduzia por um “Insuficiente”, ou seja um desastre, por incumprimento.
Não se entende que tal eminência, Abebe Selassie, que defende a redução dos vencimentos como fulcral para o crescimento, sendo etíope, um dos países africanos e dos mais pobres de sempre, tenha vindo para Portugal resolver os “nossos” problemas, quando seria tão bom para os seus, que fosse trabalhar para o seu país de origem, contribuindo para o melhor bem-estar dos seus. Parece que tive razão quando fiz este mesmo comentário, em fevereiro de 2012, ao ver agora que foi recambiado para resolver os problemas do seu continente e cá estaremos para avaliarmos o progresso que aí irá implementar, só falta saber para quem;
4. O 3.º “chefe”, indiano de nascimento (não se sabe se defende as castas ou a qual pertence), deve ter uma bitola social relativamente baixa como os baixos salários no seu país, que apesar de emergir, continuará a ser um dos países com os habitantes mais pobres do mundo durante várias décadas, pelo que se formos comparados, relativamente àquele regime laboral, estamos tramados, se deixarmos.
Não se entende que tal eminência, Subir Lall, que dá apoio à economia da Holanda e da Alemanha, onde defende um afrouxamento marginal na política orçamental e nas medidas de austeridade nos próximos anos para assegurar que a política fiscal não agir como um empecilho para a recuperação da economia e onde pede a redução da carga tributária dos trabalhadores, o aumento da disponibilidade de cuidados de alta qualidade em tempo integral e ajuda à imigração de mão-de-obra qualificada para promover o crescimento e manter a sua força de trabalho saudável, possa vir para um país tão “pobrezinho”, defender o contrário do que diz para os “ricos”, mantendo as mesmas medidas que até agora nos empobreceram.
Quer dizer… Será que Subir Lall vem para nos impor o que a chanceler alemã lhe disser ou o ministro das Finanças holandês lhe ditar?
Quer dizer… Vamos ter uma troika com um FMI não europeu, mas como se fosse?
Entretanto:
É caso para dizer que podia ir para o seu país, tratar do caso dos seus patrícios…
Qualquer dia, ainda vamos ter o Gaspar (oficialmente) na troika portuguesa…

Ecos da blogosfera – 31 jul.

Convenceram-nos(?) a todos que “isto” é inevitável…

Até 2008, Cristina Fallaras viveu uma vida estável, trabalhando como escritora e vice-diretora de um jornal. Então, grávida de 8 meses, foi demitida e deslizou para o estatuto de mãe desempregada e sem domicílio fixo. Um percurso tragicamente banal, na Espanha em crise. Eis o seu testemunho.
Chamo-me Cristina Fallaras e tornei-me a despejada mais mediática de Espanha. Preferia falar sobre outra coisa, mas entendo que a época e o país impõem este tipo de temas. Na terça-feira, 13 de novembro, pelas 19h40, pouco antes do início da segunda greve geral do ano em Espanha, um indivíduo do 20.º juízo de Barcelona tocou à porta do meu apartamento, na praça da Universidade. Ouviam-se já os helicópteros da polícia e os petardos dos primeiros piquetes de greve, que sempre dão um ar ligeiramente festivo a uma greve geral, quando se está em casa. No preciso momento em que o meu filho Lucas abriu a porta e disse: “Mamã, é um senhor”, deixei, ainda não sei por quanto tempo, de ser escritora, jornalista e editora, para me tornar uma despejada que pode testemunhar por escrito e argumentar diante de uma câmara de televisão. Um testemunho direto, na primeira pessoa, é muito cómodo e tem imenso impacto. A Santíssima Trindade do jornalismo: objeto, sujeito e análise, 3 em 1.
Agora, leitor, imagine um terreno do tamanho de um país, uma área do tipo da pampa. Suspenda tudo e ponha-se a imaginar.
Está? Bem, então olhe para a enorme fenda, implacável e brutal, como aberta pela unha de um deus a rasgar a terra, que corta a superfície em dois. Do buraco emana um sopro gelado, como o de flor de parca [o relento da morte]. Veja igualmente como uma dessas 2 partes (decretemos, por razões sentimentais, que é a da esquerda) cai no abismo, até se imobilizar, suspensa no escuro, arrastando todos os habitantes na queda, estupefactos, confusos. E roídos de culpa.
A outra parte desta terra que estamos a imaginar, e a que chamaremos Espanha, manteve-se no alto, temendo o risco de vir a ter a mesma sorte, com a certeza de que isso vai mesmo suceder, mas de uma forma menos grave: novos cortes nas áreas da saúde, da assistência social, dos direitos recentemente adquiridos pelas mulheres, supressão de alguns pagamentos, cortes salariais... O seu descontentamento é compreensível. Mas, em menos tempo do que levou ao país declarar que a democracia era tão indestrutível como airosa, os habitantes do bloco colapsado foram privados de absolutamente tudo. E entregariam tudo, de bom grado, saúde e futuro, para recolherem as sobras do bem-estar dos de cima.
A catástrofe
Escrevo daqui de baixo, da metade que se afundou. Já vivo há tanto tempo no escuro que os meus olhos se acostumaram à escuridão e distingo claramente os recém-chegados. Entre 2009 e 2010, 2.000.000 de trabalhadores foram parar ao desemprego. Dos 6.000.000 de desempregados, 3.000.000 já não recebem nada, e os outros 3.000.000 de cidadãos irão pouco a pouco perder um subsídio que, em Espanha, pode durar um máximo de 2 anos. E desde 2011, centenas de milhares de despedidos vieram juntar-se a nós. Como há muito que em Espanha não se cria emprego, vamos vendo-os cair e abrimos espaço para se acomodarem. Sabemos todos que é inevitável.
Daqui, mal se distinguem os que ficaram lá em cima; é preciso um esforço de memória. Sabemos como vivem, o que comem, o que compram, como se vestem e se movem, porque ainda há pouco lá estávamos. Mas a miséria impõe os seus esquecimentos e acho que isso nos salva um pouco. Os de lá de cima, em compensação, não nos veem. Não podem. Restam os jornalistas, informadores que tentam, em vão, falar sobre a pobreza, os despejos, as razões para este ou aquele suicídio. Mas se nunca nos foi cortada a eletricidade, a água, ou ambas, a ideia de miséria é sempre romanceada. É por isso que posso hoje ser útil. É uma despejada que fala.
Claro que estou surpreendida por estar aqui em baixo. Um despejo é um processo longo, que começa com um despedimento, mas que nos apanha de surpresa, como se fôssemos apanhados de calças nas mãos. Nus, no meio da grande avenida que percorríamos de táxi de madrugada, mortos de riso.
Todos os dias, por volta das 6 horas, o rádio da minha mesa-de-cabeceira ilumina-se, e uma frase prega-me um muro que me atira para o chuveiro: ganhar a vida. De facto, a vida não é nossa, é preciso ganhá-la. E quando não se ganha a vida, o que acontece? Perde-la, não? E a cada dia sou apanhada outra vez de surpresa, completamente nua.
Continua: leia amanhã a segunda parte deste artigo.

Contramaré… 31 jul.

Miguel Sousa Tavares admite que tinha "boa impressão" da ministra das Finanças, mas considera que Maria Luís Albuquerque está "fragilizada" e pode não continuar no Governo.
"É pertinente saber por que razão é que ela demorou um ano e meio a reagir", inquiriu, acrescentando que compreendeu a posição do PS no caso, pedindo a demissão da governante, porque "o PS foi diretamente posto em causa com as declarações da ministra das Finanças".

terça-feira, 30 de julho de 2013

9 parágrafos + 1 e (plim!) resgata-se a CONFIANÇA!...

É uma crítica muito habitual aos críticos: estão sempre a criticar. Batem, esfolam, matam noutros a esperança que neles já não vive, envenenam a credulidade com a sua descrença, empregam-se da negra cassandrice. Não pronunciam, prenunciam. Mais que negativos, são negativistas. Está-se bem? Está-se contra. Mas estamos num tempo de viragem - no Governo, na economia, na Europa - e tudo pode correr bem. Cruze os dedos e venha daí.
Pedro Santos Guerreiro
§ 1º O IRC pode atrair investimento. É difícil acreditar num grande sucesso do supercrédito fiscal, medida de desespero a meio do ano contra a queda assustadora do investimento. Não é em 6 meses que se implementam investimentos do zero. Já a reforma do IRC apresentada sexta-feira tem cabeça, tronco e supomos que membros. É tarde de mais para inventar um Estado fiscalmente atraente, mas é tempo de nivelar um Estado fiscalmente repelente. As mudanças devem estar concentradas no investimento, mais que nos dividendos. Mas estamos a falar de uma descida de impostos que devia acontecer ao mesmo tempo de uma descida do IRS, ou dificilmente terá aceitação social.
§ 2º As reformas estruturais podem funcionar. Quais reformas? Er… Passemos ao próximo parágrafo.
§ 3º Os bancos podem não ter mais problemas. Não estamos a falar da chaga do BPN nem da saga do Banif. Se acreditarmos que a economia vai dar a volta, então o malparado descerá e prejuízos brutais como apresentados este semestre pelo BES, BCP e Caixa vão terminar. No final, isso permitiria descer o custo do crédito às empresas. No final de quê? De assumir as perdas que perduram nas carteiras de crédito à habitação. Claro que isso é… mais prejuízos. É melhor mudar de parágrafo.
§ 4º A Europa pode mudar. O delírio dos europeístas seria: Merkel ganharia as eleições alemãs, faria uma coligação alargada e desbloquearia uma mudança política de fundo na União Europeia, com assentimento da França. Nasceriam instituições mais fortes e um "Governo da Europa" com a legitimidade democrática que hoje não existe se não no Parlamento, implicando transferência de mais poderes dos parlamentos nacionais para o centro. Depois, viriam políticas económicas e financeiras integradas, com um novo mandato para o BCE, o que garantiria uma refundação do euro e beneficiaria Portugal, que teria melhores condições para pagar a sua dívida pública e enveredar pelo crescimento. Está de acordo? A sério, está de acordo? Releia este parágrafo e veja se concorda com esse federalismo sem a palavra federalismo. É isso que pode acontecer à UE. Se correr bem.
§ 5º O Orçamento pode ser aprovado. Nas perspectivas mais optimistas, as metas do défice para Portugal são uma ilusão de óptica, pelo que o OE 2014 também o será. Austeridade a fingir. Pois… A verdade é que a flexibilização do défice de 2014 deverá ser aprovada apenas no final deste ano e a proposta de OE será mesmo a doer, com cortes nas pensões e despedimentos na função pública. Está-se mesmo a ver, vai correr bem.
§ 6º A crise política pode ter terminado. Cavaco estava enganado, não será preciso compromisso no Bloco Central. Gaspar estava enganado, a liderança do Governo é forte. Portas estava enganado, há condições para a coligação. Soares estava enganado, Seguro é fixe. Passos estava certo: que se lixem as eleições, começando nas autárquicas. Maravilha, a crise enterrou-se na areia de Verão.
§ 7º Pires de Lima pode ser um guerreiro Jedi. As expectativas estão ingratamente altas, mas o triunfalismo precoce é tão forte que contagia. Que a Força esteja com ele, isto é, connosco.
§ 8º Empresas públicas podem acertar o passo. Os swaps resolvem-se sem mais danos, a RTP pode não precisar de indemnizações compensatórias, os transportes darão lucro operacional, TAP e CTT podem ser privatizados, a dívida pode parar de aumentar. As empresas são competitivas e bem geridas.
§ 9º O crescimento económico pode chegar. O crescimento virá, mas o quando e o quanto são mais importantes que o facto em si. O Estado não tem dinheiro para investimento público nem para subsidiar investimento privado, pelo que a resposta está nas exportações, na dinamização do mercado interno e, sobretudo, na atracção de capital estrangeiro. Para isso, o Estado precisa de eliminar custos de contexto, garantir estabilidade e baixar impostos. É simples: acreditando no § 2º, confiando no sucesso de § 1º e na predestinação de § 7º, basta cumprir o § 6º para que suceda o § 5º, sem surpresas no § 3º e no § 8º, com revelação no § 4º. Não temos pois como não acreditar: vai correr tudo bem. Fiquemos tranquilos. Sobretudo se não existirem § 10.º
§ 10º Agostinho Branquinho pode ser um bom… Agostinho Branquinho?! Na Solidariedade e Segurança Social?! Boys ainda e sempre? Mas está tudo a gozar? Logo agora que estava tudo a correr tão bem!