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segunda-feira, 3 de março de 2014

Interrogações sobre as epidemias sazonais…

“O pensamento é uma força e a palavra tem poder. O que a mente produz, o universo realiza e o que verbalizamos tem capacidade de se cumprir. Por isso, é preciso exercer vigilância firme e permanente sobre o que pensamos e o que dizemos”. - Vera Pinheiro
Moacyr Scliar, sempre talentoso nas suas crónicas, abordou de forma sábia e eloquente a situação duvidosa que paira sobre o contágio e a proliferação do vírus H1N1, sobre a também chamada gripe A (ZH, 28/07/09). Scliar destacou a importância de falarmos sobre esta epidemia como forma de construir conhecimento e discernimento para as nossas ações de prevenção e enfrentamento a esta nova epidemia. Mas, o que mais nos poderá ajudar para superarmos as nossas angústias e medos com relação a este vírus?
Como seres em relação, torna-se imprescindível a nossa linguagem. Como nunca antes visto, falamos da prevenção como a melhor forma de enfrentarmos o nosso tão rigoroso inverno, e não contrairmos nenhuma gripe. Mas se é verdadeira a afirmação de que a gripe comum mata tanto quanto a nova gripe, por que as autoridades médicas e políticas não se posicionaram de forma mais contundente frente à mesma? Não seria o caso de a mesma ser tratada com mais intensidade e seriedade?
O medo tem a função de medir e mediar as consequências das nossas atitudes. Através dele, vamos criando as noções de perigo e de limite que delimitarão as nossas vidas. O pânico, por sua vez, geralmente leva-nos para a inação ou para ações precipitadas ou desesperadas. Este carece de racionalidade, é levado pelos nossos impulsos, e gera situações de grande insegurança.
São ténues as diferenças entre medo e pânico. Mas é aí que nos podemos valer da expressão dos gregos: “é preciso pensar bem, para viver melhor”. É bem verdade, Scliar, quanto mais pensamos sobre as situações de nossa vida, maiores são as possibilidades de encaminharmos soluções compatíveis com a nossa realidade, também agora com o advento de novos vírus.
O que não corrobora para a compreensão e discernimento do problema é o desencontro e o conflito de informações. Acreditando no poder da prevenção, por que é que nem todos, de forma cabal, aceitam a ideia de que é preciso evitar aglomerações, por exemplo? É verdade que todos deverão passar por esta gripe? É notório que os sistemas de saúde, pública e privada, não estavam preparados para esta nova epidemia. Que medidas concretas estão a ser adotadas para que as estruturas hospitalares e o internamento, mais o remédio, estejam disponíveis no momento em que qualquer um de nós precisar de lhes ter acesso? Quando estas e outras perguntas estiverem respondidas, com certeza, continuaremos com medo da nova gripe, mas não teremos mais pavor para a enfrentar.
O que nos deve contagiar é o espírito de cooperação, seja na esfera pessoal, coletiva ou institucional. O que for bom para toda a gente, que seja amplamente divulgado e disseminado a todos. O que aumentar o nosso medo e pânico, que seja tratado nas esferas do estudo, pesquisa e análise, nos ambientes próprios da medicina e da política. Afinal, as dúvidas servem para nos estimular novos conhecimentos. As nossas certezas servem para nos propiciar condições de “bem viver” e conviver.

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