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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Por desmistificar a fraude económica e da segurança do nuclear

“Só com alguma insensibilidade social se pode afirmar que as centrais estarem em Espanha ou em Portugal é indiferente.” – J. Delgado Domingos
José Delgado Domingos, ex-professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST) e uma voz sonante em batalhas ambientais, sobretudo contra o nuclear em Portugal, morreu.
Dedicou a maior parte da sua vida profissional ao IST, onde se licenciou como engenheiro mecânico em 1959. Cerca de 20 anos depois, foi um dos protagonistas da luta contra a instalação de uma central nuclear em Portugal, em Ferrel. Ao protesto, Delgado Domingos emprestou o seu conhecimento científico, descodificando os argumentos que eram então invocados para justificar a central e explicando à população o que estava em causa.
“Não havia muitos cientistas e em Portugal, muito menos que falassem contra. Delgado Domingos aparece como a voz da ciência. Era um professor, sénior, que vinha desmascarar aquilo”, recorda o ex-secretário de Estado do Ambiente Carlos Pimenta. “Veio do mundo da energia para desmistificar a fraude económica e a fraude de segurança que era o nuclear. E depois aconteceu Three Mile Island e Chenobil”, completa Pimenta.
Delgado Domingos manteve a sua posição militante contra o nuclear, com a mesma veemência e argumentos técnicos, quando o tema voltou à baila há poucos anos, com uma proposta do empresário Patrick Monteiro de Barros para construção de uma central no país.
No IST, Delgado Domingos foi um dos criadores do curso de engenharia do ambiente, no princípio dos anos 1990 – num dos vários capítulos que cumpriu no seu percurso académico. “Foi uma pessoa muito activa, inovadora, conseguiu abordar ao longo da vida as mais diversas áreas”, recorda Manuel Heitor, ex-secretário de Estado da Ciência e dirigente do IN+, centro de investigação do IST a que Delgado Domingos ainda estava ligado – apesar de jubilado desde 2005. “Dos professores catedráticos que continuaram ligados ao IST, era o mais antigo”, diz Manuel Heitor. “Foi uma pessoa muito influente, um dos grandes professores do Técnico. É com muito pesar que vemos o seu desaparecimento”, afirma Arlindo Oliveira, presidente do IST.
Destacou-se particularmente na área da energia. Já retirado do ensino, era presidente da Agência Municipal de Energia de Lisboa (E-Nova). Mantinha também um site meteorológico no IST, que fornecia previsões de vento às Redes Energéticas Nacionais (REN).
Polémico, Delgado Domingos contestava parte dos argumentos científicos sobre as alterações climáticas, criticando a excessiva tónica colocada na redução das emissões de CO2. “Ele gostava de polémica, era uma pessoa muito inteligente”, refere Manuel Heitor.
Porque há sempre um “Patrick Monteiro de Barros” com insensibilidade social, é urgente que entre os cientistas do ambiente e com sensibilidade social algum deles assuma a militância e a argumentação científica, que seja polémico e inteligente, para que não permita que sejamos radioativos...
Obrigado a J. Delgado Domingos, paz à sua alma e segurança para a humanidade!

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