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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Trabalho em saldo, mais desigualdades e sem-abrigo em perigo

Escrevia-se, há dias, em "Dinheiro Vivo.pt", que a "Crise tirou 3.600 milhões aos salários e deu 2.600 milhões ao capital".
Este dado, baseado em números apresentados por economistas e académicos respeitáveis, num colóquio organizado pelo "Observatório sobre Crises e Alternativas", ligado à Universidade de Coimbra, vem confirmar 2 coisas cada vez mais claras.
Por um lado, que as políticas prosseguidas em Portugal, nos últimos anos, produziram uma efectiva transferência de riqueza do trabalho para o capital, aumentando o fosso das desigualdades sociais e económicas; os ricos estão agora mais ricos, à custa dos pobres terem ficado mais pobres. E trata-se de um processo em curso; daqui por uns anos, o fosso será ainda maior porque as políticas continuam as mesmas.
Por outro lado, a notícia demonstra que a doxa neo-liberal da crise e suas consequências inevitáveis vem sendo construída com a cumplicidade, mais ou menos consciente, dos Media portugueses. Para o “Dinheiro Vivo.pt” a transferência de riqueza do trabalho para o capital deve-se à "crise", como se ela fosse uma coisa viva que realmente governa e define as políticas, em vez do Governo de Passos, Portas e Cavaco, em obediência à União Alemã Europeia. A notícia vai mais longe e afirma que "o factor trabalho (…) conseguiu perder 3.600 milhões de euros". A perda de riqueza é pois vista, pelo jornal, como uma conquista, pelo que se calcula que os trabalhadores devem estar felizes e contentes com a perda.
Felizes e contentes devem estar também os sem-abrigo europeus, à beira de uma "solução final" para o seu problema, uma vez que a "Criminalização de sem-abrigo avança pela Europa", como escreve Ana Pereira, no "Público". A jornalista sublinha que “no Sul e no Norte, no Ocidente e no Oriente, regiões e municípios têm avançado com regulamentos e medidas que dificultam o dia-a-dia de quem sobrevive nas ruas”. Ou seja, proíbe-se crescentemente, por esta Europa Contra os Cidadãos, “coisas como deitar-se, dormir, comer ou guardar pertences pessoais no espaço público, mendigar, distribuir comida ou recolher lixo dos contentores”.
Ou seja criam-se regras de maior exclusão para os já excluídos e se eles as infringirem, espera-os a polícia e a cadeia. Mais tarde virá, talvez, o "duche libertador" em que, mostra-o a História, os alemães já foram peritos. Mas, no entretanto, garante-se aos pobres, tecto, cama, mesa e roupa levada. É seguramente mais uma conquista, a celebrar.
Até quando suportarão os cidadãos estas políticas iníquas e criminosas é coisa que não se sabe. Por cá, sabe-se, isso sim, que as realezas vizinhas chegaram a Belém. O espectáculo não pode parar, e viva o faz de conta!

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