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sábado, 12 de julho de 2014

Economistas, ex-ministros e banqueiros são todos cangalheiros

Questionado sobre se está preocupado com a atual situação do BES, Soares dos Santos afirmou apenas: “Brutal, brutal, brutal”.
O economista e ex-ministro da Economia, Daniel Bessa, afirmou que "o responsável número um da nossa desgraça é um banqueiro central", cujo nome, porém, omitiu.
Se fosse eu a dizer o que disse Daniel Bessa, economista e ex-ministro, perante esta fraude colossal, seria lógico que me chamassem muitos nomes feios ou não me dessem qualquer credibilidade, mas vindo de quem vem, que teve responsabilidade no traçado do trajeto que fizemos, valha-o Deus…
Ou está a dizer que vamos ter outro BPN, agora da responsabilidade de um outro banqueiro central, cujo nome omito, ou está a dizer que com o outro banqueiro central, que ele omitiu, mais as competências de fiscalização atribuídas ao BCE, vai ser um pagode…
Digamos que ao mesmo tempo, está a confessar que economistas, ex-ministros, ministros, Governadores dos Bancos Centrais nacionais e do BCE, mais os banqueiros, são os responsáveis únicos desta ladroagem, (que já sabíamos) que continuará ad aeternum
Afinal, parece que este problema é mais de alcova:
A luta pelo poder na família Espírito Santo, no final do ano passado, alertou para problemas no grupo e revelou uma crise, aguardando-se agora soluções para um dos mais importantes grupos económicos portugueses.
Em novembro de 2013, a rivalidade entre Ricardo Salgado e o primo José Maria Ricciardi pela liderança do Grupo Espírito Santo (GES) acabou por ser reveladora dos problemas no grupo, que se tornaram mais visíveis no prospeto de aumento de capital do Banco Espírito Santo (BES), divulgado em maio deste ano.
Desde então, sucederam-se notícias sobre a situação do grupo, com destaque para a Espírito Santo International (ESI), uma das holding de topo do GES, que controla a Espírito Santo Financial Group (ESFG), que por sua vez controla a área financeira (em que se inclui o BES).
Uma auditoria a esta empresa sediada no Luxemburgo revelou que não foram registados 1.200 milhões de euros de dívidas nas contas de 2012. Além disso, a holding tem capitais próprios negativos de 2.500 milhões de euros, ou seja, está em falência técnica.
Nos últimos dias, foram notícia os atrasos nos pagamentos de aplicações financeiras a clientes do Banco Privée Espírito Santo (banco suíço detido pelo ESFG), que investiram em papel comercial da ESI.
Outro dos problemas passa pelo negócio em Angola, onde o BES detém 55,7% do capital no BES Angola (BESA) e em que o risco de muitos clientes não pagarem os empréstimos levou já o Estado angolano a prestar uma garantia soberana de 18 meses de cerca de 4.000 milhões de euros. Se for usada, pode significar o controlo do banco por parte do Estado angolano.
Por conhecer está o impacto da situação do GES no BES
O Banco de Portugal pronunciou-se já 2 vezes sobre esta matéria para dar a mesma garantia: “a situação de solvabilidade do BES é sólida” e foram tomadas medidas “para evitar riscos de contágio ao banco resultantes do ramo não-financeiro do GES”. No entanto, a questão é complexa, devido às relações intrincadas entre as empresas do grupo.
Exposição
De acordo com a informação conhecida publicamente, o BES tem uma exposição direta de 980 milhões de euros ao ESFG e à Rioforte (holding não financeira do grupo). Além disso, no final de junho, tinha uma exposição indireta de 650 milhões de euros através de papel comercial de empresas do grupo vendidas aos clientes de retalho, a que acrescem 1.900 milhões de euros colocados em clientes institucionais.
Para garantir que esta dívida é paga, o Banco de Portugal obrigou o ESFG a aprovisionar mais 700 milhões de euros nas contas de 2013. No entanto, segundo um analista, se o ESFG “tiver problemas e entrar numa situação de default [incumprimento], há que saber quem responde por isso”, podendo ser o BES chamado a garantir parte desse valor.
Na quarta-feira, a agência de notação financeira Moody’s cortou o rating do ESFG para apenas 3 níveis acima do incumprimento.
Esta quinta-feira, as ações do BES e da ESFG foram suspensas da negociação na bolsa e os mercados aguardam esclarecimentos, esperando-se que seja apresentado o plano de reestruturação do GES, que poderá incluir uma reestruturação de dívida da ESI.

Ecos da blogosfera - 12 jul.

Se o banco for ao charco, o problema é nosso? E dá cadeia?

O BES é um banco too big to fail. Mas a família não. Há quem fale numa relação incestuosa a nível das holdings.
"Gigante" de Ron Mueck
É verde, viscoso e propaga-se a uma velocidade estonteante. Quem entrar em contacto com o vírus do BES começa a sentir vertigens e arrisca-se a uma queda valente. O trambolhão do BES, que ontem chegou a cair mais de 18%, foi tal que o regulador teve de suspender a negociação das acções, colocando o banco numa espécie de quarentena para não infectar as restantes empresas da bolsa.
O regulador tentou evitar o contágio, mas o pânico rapidamente se instalou nos mercados. A Portugal Telecom, já bastante infectada por ter estado em contado directo com o BES, afundou-se mais 7%, a banca foi toda atrás e nenhuma das empresas do PSI 20 saiu ilesa. Numa questão de segundos, o que valia muito passou a valer pouco e o que valia pouco passou a não valer nada. Os juros da dívida pública dispararam e tiveram a maior subida desde a crise política de 2013, quando Portas apresentou a demissão “irrevogável”.
A crise no BES saltou fronteiras e fez mossa por esse mundo fora. Portugal voltou a ser manchete em todos os jornais internacionais. “Global markets tumble amid fears over portuguese lender”, escrevia ontem o The Wall Street Journal para nos contar que o vírus do BES já tinha contagiado as bolsas europeias e nos EUA. O espanhol Banco Popular cancelou uma venda de dívida convertível, o grupo farmacêutico italiano Rottapharm abortou um IPO e na Grécia o Governo reduziu uma colocação de dívida pública por falta de procura.
O Espírito Santo não é um banco too big to fail a nível europeu. Mas a Lehman Brothers também não o era quando faliu. Pela reacção ontem dos mercados é fácil perceber que existe um risco sistémico, caso o BES vá ao charco. O assunto é particularmente sensível nesta altura em que bancos europeus estão todos a tentar alindar os balanços para realizarem os testes de stresse do BCE.
O Banco Espírito Santo tem nesta altura 2 problemas: um de liderança e outro de contabilidade. O problema de liderança já foi aparentemente resolvido pelo Banco de Portugal, que tratou de afastar Ricardo Salgado e toda a família da gestão executiva do banco. Não se sabe se por falta de competência, de idoneidade ou de honestidade. Nunca o disse. Carlos Costa limitou-se a abrir uma porta para que Ricardo Salgado e Companhia saíssem com alguma dignidade. E nem isso conseguiram.
Resta um problema de contabilidade. É verdade que os rácios de capital do banco são sólidos. Mas o problema do BES resulta de uma intrincada teia de holdings: a ES Control, o quartel- general da família, detém 56,5% da ES International, que, por sua vez, é dona de 100% da Rioforte, que, por seu lado, controla 49% da ESFG, que é o maior accionista do BES, com 25% do capital. Estas empresas da família têm todas relações entre si, emprestam dinheiro e compram coisas umas às outras numa relação que ontem um colunista do Financial Times qualificava de “terrivelmente incestuosa”.
É uma espécie de matrioska financeira. E no final há uma boneca pequenina que está falida. Aliás, uma das justificações dada pela Moody’s para baixar o rating da ESFG é precisamente a “falta de transparência em torno não só da situação financeira do Grupo Espírito Santo, mas também da amplitude das ligações intragrupo”.
O problema é que ao final do dia não se percebe até que ponto o banco está ou não refém dessa cascata de holdings. E aí é que o mercado começa a desconfiar. Se as holdings falirem, o problema é da família, azar o deles. Mas se as holdings contagiarem o banco, o problema já é de todos nós.
O que se sabe até agora é que o BES emprestou 200 milhões à Rioforte e outros 780 milhões à ESFG. É muito dinheiro e aí o problema não é tanto de quem pediu emprestado, mas de quem emprestou. Como dizia o magnata americano Jean Paul Getty: “Se deves 100 dólares ao banco, o problema é teu. Mas se deves 100 milhões, o problema já é do banco.” Apesar de tudo, 1.000 milhões de euros de perdas o BES terá com certeza estofo para aguentar em caso de default das holdings. O problema é que, além dos empréstimos, os clientes de retalho do BES têm uma exposição às holdings da família que chega aos 651 milhões; e a exposição dos clientes institucionais do banco às empresas do grupo é de 1.940 milhões. Em caso de incumprimento, quem vai responder por esta dívida que não é do BES, mas que o banco vendeu nos seus balcões? Há aqui um enorme risco, nem que seja jurídico, que o banco tem de explicar.

Contramaré… 12 jul.

Um banqueiro citado pelo "Financial Times" garantiu que a situação do BES vai exigir uma intervenção do Estado, pois a instituição financeira vai necessitar de uma "uma solução agora - dentro de umas semanas- e isso significa uma intervenção do Estado", uma vez que, o banco precisa de aumentar o capital na ordem dos 2.000 a 3.000 milhões de euros.
Já vários analistas consideram que este caso atingiu o sector financeiro europeu como um "torpedo e reavivou nos investidores os seus pesadelos mais negros acerca da Europa” e dizem que esta situação provocou o aumento dos juros da dívida soberana portuguesa no mercado secundário.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Vida de 3 israelitas vale mais do que as de 101 palestinianos? ou Vítimas do holocausto mudam processos e continuam-no…

Operação militar também deixou 600 feridos na Faixa de Gaza. Violência começou com o sumiço de 3 jovens israelitas na Cisjordânia.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, classificou de "inaceitável" o uso da força militar de Israel contra a Faixa de Gaza e condenou os ataques com mísseis dos israelitas. "O uso excessivo da força por Israel é inaceitável. O meu interesse é proteger os civis e os palestinos estão, mais uma vez, entre a irresponsabilidade do Hamas e a dura resposta de Israel", falou Ban Ki-moon durante o Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira.
Israel intensificou os bombardeamentos à Faixa de Gaza na madrugada desta quinta-feira (10). De acordo com o Exército israelense, os mais de 300 ataques das últimas horas, o dobro da véspera, tinham supostamente como alvo casas de membros do movimento islâmico Hamas e possíveis esconderijos de armas.
Não houve anúncios sobre os resultados das conversas em reunião do Conselho de Segurança.
Primeiro-ministro israelita ameaça "intensificar ataques" e o presidente Shimon Peres diz que uma invasão pode acontecer "a qualquer momento".
Obama condenou o lançamento de foguetes contra Israel pelo grupo palestino Hamas e manifestou preocupação com a possível "escalada das tensões" entre os 2 lados, enfatizando a necessidade de que ambos "façam o que for possível para proteger a vida de civis e restaurar a calma".
1 – Foram assassinados 4 jovens, 3 israelitas e 1 palestiniano;
2 – Israel, cujos cidadãos foram vítimas do holocausto, em vez de resolver a situação pelas vias judiciais, entra em guerra por isso, mata mais de 100 pessoas (70% civis) e faz 600 feridos;
3 – O secretário-geral da ONU conclui que a resposta de Israel é excessiva e inaceitável, logicamente;
4 – Em resposta, Israel intensifica os ataques aéreos, acrescentando 300 raides numa madrugada;
5 – O Conselho de Segurança da ONU pede o fim da violência em Gaza para evitar mais uma guerra;

6 – Israel ameaça com uma invasão terrestre da Faixa de Gaza, pela voz de Shimon Peres, que com Mahmoud Abbas rezaram há pouco tempo, com o Papa Francisco, pela paz entre ambas as nações;

7 – Os EUA, pela voz (ao telefone) de Obama, condena os foguetes palestinianos contra Israel, omite o massacre dos palestinianos e o excesso de meios israelitas, “preocupado” com a proteção dos civis, como se as bombas fossem capazes de os diferenciar…

Para quem está de fora e tem como maior Valor a vida humana, seja de quem for, estes conflitos cíclicos no Médio Oriente, que matam à manada, quase com prazer, faz mais impressão por ter como atores mais violentos quem foi vítima de violência extrema, no holocausto…
Se é absurdo alguém matar jovens por razões bélico-políticas, mais absurdo é que os 2 países não recorram à justiça para condenar os assassinos e que a “superpotência” dos EUA não tenham mão no processo e que a ONU seja ultrajada na sua missão…
Será que a vida de 3 israelitas vale mais do que as de 101 palestinianos?
Não será isto uma inversão da supremacia da “raça ariana”?
E quem nos quer explicar a origem e a (in)justiça deste conflito sem fim à vista?
Uma chuva de roquetes disparados de Gaza, uma bateria de ataques aéreos israelitas: a nova batalha é tão mortal como fulgurante. O assassinato de 3 jovens israelitas de um colonato da Cisjordânia e de 1 adolescente palestiniano - queimado vivo, em retaliação - geraram uma viva emoção e uma onda de manifestações e confrontos, que logo se instalaram. 10 de julho à noite, o balanço dos 2 dias de ataques é de 81 palestinianos mortos. Intercetadas na maior parte, os roquetes não fizeram vítimas do lado israelita.
Além da vingança das suas mortes e da resposta, que procuram os 2 campos? Qual a vantagem de lançar roquetes face a um exército tão poderoso como o de Israel? E por que multiplicar os bombardeamentos aéreos, quando é impossível superar a contestação na prisão a céu aberto que é Gaza?
Para o Hamas, o objetivo é antes de tudo de "Sobreviver", diz o cientista geopolítico Daniel Nisman, interrogado pelo AFP. Ele não tem "nada a perder", completa Moukhaïmer Abu Saada, politólogo da Universidade de Al-Aqsa em Gaza. Confrontado com enormes dificuldades financeiras, contestado nas ruas de Gaza, que lhe imputa a responsabilidade do bloqueio, o Hamas está acossado. Yediot Aharonot avança 2 explicações para a ofensiva do Hamas. Estando encurralado, optou pelo suicídio coletivo. Ou não leva as ameaças de Israel a sério e está determinado a mostrar-lhe o seu poder.
Pelo seu lado, se Israel não hesitou muito antes de lançar uma ofensiva maciça sobre Gaza, divide-se entre a possibilidade de passar a uma operação terrestre. Para o redator chefe do jornal Israel Hayom, muito à direita, não há dúvidas sobre a questão: "É preciso fazer voltar Gaza à idade da pedra." Isso não significa "destruir todas as habitações e infraestruturas", precisa, mas "livrar-se de todo o arsenal que o Hamas acumulou em 10 anos." O método é simples: "Uma força maciça, que cobriria cada metro do terreno, entraria em Gaza, destruiria todos pontos de resistência e todos os túneis e eliminaria todo o arsenal terrorista Uma vez que a missão fosse cumprida, a força retirar-se-ia."
O Primeiro-ministro Netanyahu está preso entre 2 fogos, resumia um colunista do Al-Monitor a 8 de julho. "Se ele persiste no contenção, vai perder. O Hamas continuará a sua escalada, o alcance dos roquetes estender-se-á para o norte [...]. Em breve será todo o território de Israel e milhões de israelitas que ficarão à mercê das organizações armadas palestinas”. Mas se, pelo contrário, Netanyahu passa à ofensiva de qualquer outra amplitude, como deseja a direita dura, incluindo o ministro das Relações Exteriores Avigdor Liberman, "também irá perder. Vai transformar os 2 meses de verão num pesadelo de suor e sangue. Tel Aviv será bombardeado, a economia vai sofrer um duro golpe, os turistas fugirão, o moral da nação entrará em colapso, o sentimento de insegurança explodirá e autoridade Netanyahu será arruinada. "
A sua autoridade: eis o que joga Netanyahu, assim como a credibilidade de Israel.

Ecos da blogosfera - 11 jul.

Afinal nem todos aprendemos com os erros… Vejam na política!

Quando é que sacudimos a água do capote e quando é que assumimos as nossas culpas? Pesquisas novas mostram que a maioria de nós apenas assume os erros se estes não puderem ser atribuídos a outra pessoa ou a outra coisa. Porém, quando nos esquivamos à responsabilidade, privamo-nos de aprender.
Gretchen Gavett
No seu recente artigo na HBR, Christopher G. Myers, Bradley R. Staats e Francesca Gino identificam algo a que chamam "ambiguidade da responsabilidade", que desempenha um papel importante na determinação de quando aprendemos com os erros e quando não.
É mais ou menos assim: quando falhamos, apontamos internamente aquilo a que os autores chamam uma "atribuição de responsabilidade" - nomeadamente, assumindo pessoalmente o resultado ou atribuindo-o a circunstâncias externas. Se assumirmos, a pesquisa mostra que é muito mais provável que aprendamos com isso e trabalhemos mais arduamente depois desse erro.
Porém, nos casos em que não é claro que somos responsáveis pelo fracasso, é "menos provável que nos atribuamos internamente o erro e, portanto, menos provável que aprendamos", explica Myers. Salientou que pode ser esse o caso, mesmo quando alguém tem muita responsabilidade no resultado. "Francesca Gino e Brad Staats demonstraram que os cirurgiões aprendem bastante menos com os seus próprios erros (aprendem, pelo contrário, com os seus sucessos e os erros dos outros), provavelmente devido à ambiguidade que deriva de um mau resultado cirúrgico - o cirurgião é responsabilizado pelo resultado, mas não é claro se é responsável", diz. "Por exemplo, pode ter havido uma complicação imprevista, um erro noutra parte do tratamento, etc."
Isto significa que, mesmo quando as pessoas pretendem aprender com os erros, a "ambiguidade da responsabilidade" pode boicotar essas boas intenções.
Os investigadores chegaram a essas conclusões depois de várias experiências com voluntários. Numa delas, os sujeitos tinham de decidir se um carro devia ou não ser aprovado para uma corrida - uma situação modelada a partir da explosão do Challenger. Uma informação crucial - a probabilidade de uma junta falhar (99.99%) - foi omitida, mas estava disponível através de um link. Mais tarde, o mesmo grupo recebeu um teste similar em que tinham de identificar um potencial terrorista, com informação adicional por email.
Aqueles que assumiram responsabilidade pela sua falha em evitar o acidente de carro no primeiro exemplo - "Não dediquei tempo a ler toda a informação e saltei para uma conclusão com base no que me foi inicialmente apresentado, sem ler tudo" - tinham mais probabilidade de ter êxito na segunda tarefa. Aqueles que atribuíram o seu fracasso e a sua decisão desastrosa a um fator externo - "Não se pode esperar que uma pessoa tome uma decisão responsável acerca de qualquer problema quando é deixada de fora dos principais factores envolvidos" - tinham menos probabilidade de ser bem-sucedidos na identificação do "terrorista".
Numa segunda ronda de experiências, dizia-se aos sujeitos que tinham falhado numa tarefa de etiquetagem de uma análise de sangue (mesmo que não tivessem), mas davam-lhes 2 razões diferentes: metade do grupo era informado de que não estivera suficientemente empenhado na tarefa, ao passo que a outra metade recebia a informação de um possível problema com o web browser. Os investigadores descobriram que o último grupo atribuía muitas vezes o seu fracasso a essa possível deficiência do equipamento. Por exemplo: "Aparentemente, o browser teve alguma dificuldade em mostrar/etiquetar aquelas imagens corretamente e isso terá dificultado o meu desempenho em geral". Quando todo o grupo repetiu a tarefa, os que tinham sido acusados de falta de empenho dedicaram mais tempo (um indicador de aumento de esforço) e desempenharam melhor a tarefa que os do problema com o browser.
O problema, no mundo real, é que pode ser incrivelmente difícil diminuir a ambiguidade quando se trata de um fracasso - afinal, muitas das nossas tarefas envolvem equipas, muitos interessados e tecnologia defeituosa, além de outros fatores imprevisíveis. Assim, como podem os gestores incentivar a aprendizagem, quando é difícil apontar a responsabilidade?
Myers tem algumas sugestões, incluindo, para começar, remover os obstáculos que podem criar ambiguidade - por exemplo, um browser que possa ter defeitos ou processos complicados. "Os gestores também podem pensar cuidadosamente sobre o papel da definição do posto de trabalho - o âmbito das responsabilidades e as estruturas a que reportam - criar postos de trabalho que não tenham "pontos cegos" de ambiguidade", sugere.
É igualmente importante tornar o fracasso seguro dentro da organização. "Criar uma cultura de segurança psicológica, onde os indivíduos sejam incentivados a reconhecer e aprender com os fracassos, pode ajudar os empregados a sentirem menos pressão psicológica para evitar a atribuição interna."
Recomenda ainda que se experimentem análises não punitivas da raiz dos erros quando uma equipa falha, o que pode resultar tanto em aprendizagem para os responsáveis como para outros membros da equipa, que aprenderão indiretamente.
"Este pode ser um elemento cultural difícil de construir", avisa. "Mas livros como "Failing Forward" fornecem vários bons exemplos deste género de práticas que podem ser a base dos esforços do gestor". Outro lugar para começar é o número de 2.011 da HBR sobre o fracasso, que inclui um artigo importante da professora Amy C. Edmondson sobre como os líderes podem compreender melhor o fracasso e torná-lo uma parte central das suas estratégias. Edmonson explica a grande diferença entre saber que o fracasso é uma valiosa experiência de aprendizagem e conseguir torná-lo, efetivamente, uma parte central do ethos de uma empresa, e oferece 5 sugestões para os líderes construírem um ambiente psicologicamente seguro. Entre eles: criar um entendimento partilhado, estruturando os tipos de falhas que os empregados podem esperar que ocorram, e recompensar o mensageiro das más notícias.
"A minha experiência é que aprendemos muito mais com os fracassos que com os sucessos", diz AA.G. Lafley da P&G nesse artigo. Ele tem razão, mas esta nova pesquisa, além do que já sabíamos sobre o fracasso, também demonstra que aprender depende de mais do que da capacidade de uma pessoa engolir em seco e admitir: "O erro foi meu!"
Mais um paradigma que se foi, por muito que as citações de “autoajuda” nos queira convencer do contrário …
O sucesso ainda é a melhor maneira de aprendermos mais, motivarmo-nos e fazer melhor”!

Contramaré… 11 jul.

"Os imóveis mais antigos, adquiridos antes de 2004, tiveram uma reavaliação em 2012 e 2013 e como tal terão os valores do IMI atualizados ou muito próximos da realidade, mas os restantes não têm um imposto correspondente à idade e ao preço por metro quadrado", explicou ao Ernesto Pinto, fiscalista da Deco.
O pedido de correção da avaliação pode ser feito a cada 3 anos e é a única forma de alterar os coeficientes que ainda não são atualizados de forma automática. A fatura pode baixar cerca de 15%, lembram os fiscalistas. Fonte oficial do Ministério das Finanças diz que todos os proprietários podem pedir esta reavaliação "de forma completamente gratuita, nos termos da lei". O impresso é disponibilizado no portal das Finanças, onde a AT também tem o seu próprio simulador.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

"Puta" de vidas!

“Não é qualquer enfermeiro que faz isto”, diz Susana Santos, enquanto conduz. A enfermeira de 44 anos, que também é a coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) do Seixal, parece estar prestes a anunciar uma revelação. “É preciso despir todos os nossos preconceitos. Este tipo de trabalho é o fim de linha”, acrescenta.
Fábio Monteiro
A estrada é em linha reta, uma das mais famosas em Portugal: a reta de Coina, conhecida por ser um local onde se encontram muitas trabalhadoras do sexo. As mais novas têm 16 ou 17 anos, conta, mas não o admitem. São portuguesas, nigerianas, romenas, brasileiras… mas, acima de tudo, são pessoas. E por isso merecem o mesmo acesso aos cuidados de saúde que o resto da população.
Todas as semanas, por 2 vezes, de manhã ou de tarde, uma equipa do projeto Gira Lua, da UCC do Seixal, visita estas trabalhadoras – uma parceria entre o Hospital Garcia da Horta, a Câmara Municipal do Seixal e a IPSS CRIAR-T.
A equipa é constituída por um motorista, uma enfermeira e uma psicóloga ou assistente social, que alternam consoante a semana. Cláudia Guerreiro, enfermeira responsável pelo Gira Lua, diz que as trabalhadoras já as “reconhecem como uma mais-valia para a sua saúde” e que por isso “nunca levantam questões” sobre as intenções das enfermeiras. Desde o início do projeto em 2010, já foram sinalizadas 111 trabalhadoras do sexo.
As enfermeiras tratam do plano de vacinação das mulheres, distribuem preservativos, fazem regularmente testes rápidos de HIV, e encaminham as que necessitam para consultas de psicologia. Durante 2 horas, a carrinha IVECO da UCC do Seixal percorre “a reta” parando ao lado de cada mulher. Quando encontram uma nova trabalhadora, fazem uma entrevista como elemento de referência, de forma a construir “as histórias de saúde e de vida” daquelas mulheres. “Elas sabem que têm a saúde em risco”, explica Susana.
Cláudia Mateus, psicóloga no projeto desde Dezembro de 2013, afirma que “demora o seu tempo” a criar uma ligação de confiança com as trabalhadoras, mas que algumas já recorreram a consultas. “Elas têm os mesmos problemas que nós”, afirma. Mas a enfermeira Susana é cáustica na importância que vê nestas visitas: “Um dia que nós não façamos isto, pode haver uma epidemia.”
Encontrar um “bom trabalho”
Miriam, 36 anos, está sozinha. Estava sentada num pequeno banco de plástico à sombra de um pinheiro, até chegar a carrinha da UCC do Seixal para a visita semanal. Miriam é nigeriana e desde agosto que aquele é o seu “sítio”. “Nos primeiros encontros, é normal darem nomes e idades falsas”, explica a enfermeira Susana Santos, por isso não é de estranhar que ela esteja um pouco desconfiada com as caras estranhas que apareceram naquele dia. Vai olhando para o telemóvel que tem na mão, mas consente falar por causa da “confiança” que tem nas enfermeiras.
“They are good [Elas são boas]”, diz. Ver as enfermeiras todas as semanas é um bom presságio para Miriam. “Sempre que faço o teste [de HIV], o resultado vem negativo”, conta. Mesmo assim, admite que o medo de contrair a doença existe sempre, e que acabam sempre por aparecer “homens parvos” que pedem para fazer sexo sem preservativo. Alguns carros passam e abrandam.
Miriam tem uma falha no meio dos dentes, que lhe dá um sorriso e feições de criança. No cabelo, extensões de cor rubi. Continua a olhar para o telemóvel. Neste dia, Miriam está particularmente contente. Foi entregar uma série de papéis para conseguir um visto de residência em Portugal. Acredita que assim vai conseguir arranjar um trabalho “que não este”. “Um bom trabalho”, acrescenta. Para isso sabe que é importante preservar a saúde ao máximo.
Poucos metros à frente, dá para perceber que Cristina tem uma dívida de gratidão para com a enfermeira Susana Santos, pela forma como a recebe. Há algum tempo, Cristina apanhou um escaldão gigante devido aos banhos de sol que apanha ao lado da estrada. A enfermeira cobriu-lhe o corpo com Biafine para tratar das queimaduras. Cristina, 25 anos, diz ser portuguesa, mas o sotaque denuncia-a. Há 2 anos que a podem encontrar na “reta”. Veste uns calções verdes, tem os braços repletos de pulseiras coloridas e na ponta dos dedos unhas de gel e um cigarro.
Não quer trocar muitas palavras. Desde que foi emitida na televisão uma reportagem sobre tráfico de seres humanos, muitas das trabalhadoras da reta ganharam anti-corpos aos meios de comunicação. “Filmaram-me na íntegra sem pedir autorização”, conta. Cristina não está sozinha. Ela e outra trabalhadora do sexo estão vestidas de forma semelhante, e ambas usam óculos de sol espelhados, modelo aviador. Impossível ver-lhes os olhos.
A colega de Cristina não se apresentou nem disse uma palavra enquanto a carrinha da UCC do Seixal esteve parada ao lado da estrada. Foi buscar os preservativos e voltou para o lado do banco de plástico, rodeado por sandálias e toalhitas de higiene pessoal. E para tirar os óculos de sol, virou as costas à estrada.
Só no sul de Portugal, faltam 700 enfermeiros
Existem 9 enfermeiros na UCC do Seixal, dos quais 7 têm especialização. É graças a isto que Alexandre Tomás, presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros (OE), acredita que aquela unidade consegue manter para lá das suas responsabilidades comuns um “projeto inovador” como as visitas às trabalhadoras do sexo. Porém, nem tudo são boas notícias.
De acordo com o estudo “Unidades de Cuidados na Comunidade: Presente com Futuro!”, faltam cerca de 700 enfermeiros nas UCC para garantir uma resposta “eficaz” aos 4.400.000 de pessoas residentes entre Santarém e o Algarve. De acordo com dados de 2013, ao todo, existem 185 UCC em funcionamento em Portugal, das quais 89 na zona sul do país. “Ao vermos o desempenho destas unidades, que têm especialistas em número suficiente, verifica-se que há um resultado positivo, principalmente no acesso a cuidados de saúde”, afirma Alexandre Tomás. Ainda assim, admite que existe uma “capacidade de resposta limitada” devido à falta de enfermeiros.
O estudo, que decorreu em 2 fases, obteve resposta de 44 UCC na 2.ª fase, no sul do país, o que correspondeu a um universo de 1.700.000 de habitantes. Tendo por base o rácio de 1 enfermeiro para 5.000 pessoas, deveria haver cerca de 357 profissionais, mas só existem 70 – depois de subtraídos os enfermeiros necessários face ao número de camas da Equipa de Cuidados Continuados Integrados (ECCI) -, estando em falta cerca de 287 enfermeiros. Recalculando em proporção à totalidade das UCC no sul do país, “seriam necessários mais 700 enfermeiros”, afirmou Alexandre.

Ecos da blogosfera - 10 jul.

O ridículo de 1.000 ideias doutrinárias acentuado numa imagem

O bebé “Ariano Ideal” que aparece na capa de uma revista da propaganda nazi, em 1935, era, na verdade, um bebé judeu. A revelação foi feita pelo próprio bebé da foto, uma menina de nome Hessy Taft, hoje com 80 anos.
Hessy Taft doou uma cópia da revista ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, como parte da campanha ‘Recolhendo Fragmentos’, lançada em 2011 para convencer pessoas a doar materiais ligados ao Holocausto de modo a que fossem conservados para a posteridade.
Hessy, cujo nome de solteira é Levinson, nasceu em Berlim em 1934, filha de pais judeus originários da Letónia. Ambos músicos, os pais de Hessy chegaram à Alemanha em 1928 para trabalhar como cantores de ópera.
Taft contou aos funcionários do museu que o contrato do seu pai foi imediatamente cancelado, assim que as suas origens judias foram descobertas.
Concurso
Em 1935, a mãe de Hessy e a tia levaram-na a ser fotografada por Hans Ballin, um fotógrafo de renome em Berlim.
7 meses mais tarde, para surpresa da família, a empregada dos Levinson afirmou ter visto a foto da pequena Hessy na capa da revista nazi ‘Sonnie ins Hous’. A fotografia tinha sido escolhida num concurso promovido pelo Departamento de Propaganda Nazi, chefiado por Joseph Goebbels. A melhor fotografia, entre as 100 imagens capturadas pelos melhores fotógrafos alemães, representaria o “bebé alemão ariano ideal” e seria capa da revista.
Sem que a família Levinson soubesse, Ballin enviou a foto de Hessy e de outros 10 bebés.
A ironia de a fotografia ser de uma bebé judia foi motivo de piada durante muito tempo na família.
A foto da menina foi igualmente distribuída em postais – em todo o país, e até na Lituânia.
Quando lhe perguntaram o que diria ao fotógrafo nos dias de hoje, Hessy respondeu: “Ainda bem que teve a coragem de o fazer”.
Fuga
Depois de fugir da Alemanha para Paris em 1938, a família escapou da ocupação nazi no norte da França em 1941, emigrando para Espanha e Portugal até conseguir embarcar num navio para Cuba.
Em 1949, os Levinson estabeleceram-se nos Estados Unidos, onde Hessy se formou em química na Universidade de Columbia e se casou, em 1959, com Earl Taft.
O casal tem actualmente 2 filhos e 4 netos. Hessy é professora de química na Universidade de St. John’s.
Apesar de a sua família mais próxima ter sobrevivido ao Holocausto, a maior parte dos seus parentes foram mortos pelos nazis e seus colaboradores.
O ridículo é sempre uma caricatura…
Uma caricatura é sempre o empolamento do ridículo de uma foto…
E uma foto pode ser também uma caricatura do ridículo…
A “raça ariana” não existe! Alguém tinha dúvidas?

Contramaré… 10 jul.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, reafirmou que Portugal tem atualmente um nível de despesa social maior do que tinha quando a crise começou, considerando que é preciso cumprir certos limites porque senão "aqueles que têm mais rendimentos, contribuem mais do que antes para este sistema" e é preciso "cumprir certos limites porque senão aqueles que precisam deixarão de ter".

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Quando os cortes na Saúde não são feitos com bisturi…

Pela nossa Saúde: “Com o SNS empobrecido, acham que os Seguros e as Seguradoras irão tratar-vos?”, José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos
O estudo "Cortar ou investir na Saúde", realizado pela Associação de Inovação e Desenvolvimento em Saúde Pública (INODES), concluiu que, "com a atual crise económica e financeira, tem-se registado um desinvestimento na saúde". "A lógica dos ajustamentos financeiros em vigor - puxar intensa e abruptamente e relaxar só quando é inevitável - impede a harmonização das políticas públicas e ignora os custos sociais dos ajustamentos", lê-se nas conclusões do documento.
Portugal perdeu mais de 700 milhões de euros com a exportação de médicos e enfermeiros em 2011 e 2012, tendo em conta os custos de formação destes profissionais, de acordo com o estudo “Cortar ou investir na Saúde”, realizado pela INODES.
No estudo, é referido o custo médio, por aluno, com a formação destes profissionais: 72.436 por enfermeiro e 101.656 euros por médico.
“A «exportação» de portugueses, maioritariamente jovens qualificados, acarreta um custo económico e social brutal, sendo que muitos dos que partem não regressam, havendo um forte investimento público que é desperdiçado e aproveitado pelos países de acolhimento”, lê-se no documento.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, marcou o 1.º dia de greve com anúncios. Primeiro, a antecipação de uma verba de 300 milhões de euros para os hospitais. Depois, um acordo “sem paralelo” com as farmácias, para que estas possam desenvolver, em parceria com a tutela, “programas de promoção e prevenção da saúde”, assinando um acordo com as farmácias que vai permitir mais apostas em áreas como a “diabetes, a taxa de genéricos e a adesão à terapêutica”. O ministro classificou este acordo como “bastante lato e sem qualquer paralelo no passado”.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, negou hoje razões sindicalistas no apoio à greve dos médicos e disse que o que faz está previsto nos estatutos deste organismo, nomeadamente defender a saúde, os doentes e o sector, reagindo às acusações do Ministério da Saúde de uma alegada colagem da Ordem dos Médicos aos sindicatos.
Para o bastonário, o apoio da Ordem está inscrito nos estatutos deste organismo e também no código deontológico dos médicos. “O Ministério da Saúde faz acusações e furta-se ao diálogo”, disse.
Mário Jorge Neves, dirigente da FNAM, está convicto de que a generalidade dos cidadãos compreende e apoia esta greve, salientando que o protesto visa defender os interesses socioprofissionais, ao mesmo tempo que defende o Serviço Nacional de Saúde.
Os cortes na área da Saúde não são desmentidos por ninguém, são até encorajados por conselheiros de países onde se paga uma brutalidade para os Seguros de Saúde Privada, que se estão nas tintas para os direitos dos cidadãos, plasmados na Constituição… Contabilistas de manga-de-alpaca, adeptos (inexperientes) do Excel e antropomórficos.
É fácil de entender que cortando-se nas despesas, sejam de material, medicamentos ou salários dos agentes da saúde, o “cobertor” não pode tapar o que antes cobria, mesmo com os tais acertos da gestão rigorosa…
E também é fácil perceber que a transformação dos médicos e enfermeiros em “bens transacionáveis” para os países de acolhimento, só isso basta para comprometer a eficácia do presente, hipotecar o futuro e deitar pelo cano de esgoto o investimento que o país fez na formação desses profissionais de saúde, ainda por cima, muito bem formados. Os países mais ricos que os aproveitam incumbem-nos de manter as “escolinhas de formação”, o que os dispensa dos gastos assinando contratos a custo zero, como no futebol…
E por ser tudo verdade, e por haver uma greve de médicos que trouxe à tona os exageros dos cortes (sem bisturi), e as estúpidas consequências no bem-estar dos cidadãos, eis que o ministro da Saúde vem disponibilizar uns cobres para curar feridas, o que já devia ter, não para “lavar a greve” mas para mostrar o rigor da gestão e a manutenção da eficácia do SNS…
Nada mais bonito do que ver os médicos, representados na Ordem e na FNAM a defenderem o direito à saúde dos seus utentes, como Provedores dos seus concidadãos…
Se os doentes não podem lutar, que lutem os que dão saúde!

Ecos da blogosfera - 9 jul.

Trabalho em saldo, mais desigualdades e sem-abrigo em perigo

Escrevia-se, há dias, em "Dinheiro Vivo.pt", que a "Crise tirou 3.600 milhões aos salários e deu 2.600 milhões ao capital".
Este dado, baseado em números apresentados por economistas e académicos respeitáveis, num colóquio organizado pelo "Observatório sobre Crises e Alternativas", ligado à Universidade de Coimbra, vem confirmar 2 coisas cada vez mais claras.
Por um lado, que as políticas prosseguidas em Portugal, nos últimos anos, produziram uma efectiva transferência de riqueza do trabalho para o capital, aumentando o fosso das desigualdades sociais e económicas; os ricos estão agora mais ricos, à custa dos pobres terem ficado mais pobres. E trata-se de um processo em curso; daqui por uns anos, o fosso será ainda maior porque as políticas continuam as mesmas.
Por outro lado, a notícia demonstra que a doxa neo-liberal da crise e suas consequências inevitáveis vem sendo construída com a cumplicidade, mais ou menos consciente, dos Media portugueses. Para o “Dinheiro Vivo.pt” a transferência de riqueza do trabalho para o capital deve-se à "crise", como se ela fosse uma coisa viva que realmente governa e define as políticas, em vez do Governo de Passos, Portas e Cavaco, em obediência à União Alemã Europeia. A notícia vai mais longe e afirma que "o factor trabalho (…) conseguiu perder 3.600 milhões de euros". A perda de riqueza é pois vista, pelo jornal, como uma conquista, pelo que se calcula que os trabalhadores devem estar felizes e contentes com a perda.
Felizes e contentes devem estar também os sem-abrigo europeus, à beira de uma "solução final" para o seu problema, uma vez que a "Criminalização de sem-abrigo avança pela Europa", como escreve Ana Pereira, no "Público". A jornalista sublinha que “no Sul e no Norte, no Ocidente e no Oriente, regiões e municípios têm avançado com regulamentos e medidas que dificultam o dia-a-dia de quem sobrevive nas ruas”. Ou seja, proíbe-se crescentemente, por esta Europa Contra os Cidadãos, “coisas como deitar-se, dormir, comer ou guardar pertences pessoais no espaço público, mendigar, distribuir comida ou recolher lixo dos contentores”.
Ou seja criam-se regras de maior exclusão para os já excluídos e se eles as infringirem, espera-os a polícia e a cadeia. Mais tarde virá, talvez, o "duche libertador" em que, mostra-o a História, os alemães já foram peritos. Mas, no entretanto, garante-se aos pobres, tecto, cama, mesa e roupa levada. É seguramente mais uma conquista, a celebrar.
Até quando suportarão os cidadãos estas políticas iníquas e criminosas é coisa que não se sabe. Por cá, sabe-se, isso sim, que as realezas vizinhas chegaram a Belém. O espectáculo não pode parar, e viva o faz de conta!

Contramaré… 9 jul.

O Millennium-BCP, BES, GE Consumer, Interbanco e a financeira da Renault foram vítimas de burlas de um grupo de 11 indivíduos que obtiveram crédito mediante documentos falsos de um arrumador de carros.
Francisco era arrumador e montava praça em frente à igreja da Lapa, no Porto. Com a 4.ª classe, sem trabalho e toxicodependente, ali angariava dinheiro para o vício da droga. Ali, também, conheceu um construtor civil que, um dia, a par de mais 2 amigos do café, traçou um plano de burla a bancos.

terça-feira, 8 de julho de 2014

A gestão não é política, mas a política pode passar pela gestão…

O ministro do Saúde diz que a greve dos médicos, marcada para os próximos 2 dias tem motivações políticas e não laborais. A Ordem dos Médicos sustenta pelo contrário que o que está em causa é a defesa do Serviço Nacional de Saúde. Durante os 2 dias de greve estão assegurados apenas os serviços de urgência e emergência.
Agora peguemos na narrativa de um médico (que não faz o outono) para se poder elencar todos os “motivos políticos”…
Uma redução de despesa no SNS, em 3 anos, de 1.500 milhões de euros, é mesmo decisão política, que traz consequências na eficácia do sistema e uma motivação forte para uma intervenção política dos atores da saúde, em favor do direito à saúde.
Ora leiam:
Governo quer atribuir a Medicina do Trabalho aos médicos de Medicina Geral e Familiar. Eles queixam-se e dizem que 40 horas não chegam para atender os 1.900 utentes impostos a cada um.
Não são só as consultas marcadas. Todos os dias, o chamado “médico de família” atende utentes vítimas de doença aguda, como uma febre. Observa grávidas, crianças, idosos. Faz planeamento familiar, passa receitas ou credenciais. E, no final do dia, ainda responde a telefonemas e e-mails de doentes com dúvidas se vale a pena bater à porta do centro de saúde. Tudo isto acrescentou, esta segunda-feira, mais 2 horas e meia ao horário de trabalho previsto do médico Daniel Pinto. O Governo quer acrescentar-lhe mais uma tarefa: a da Medicina do Trabalho. Um dos motivos para o especialista em Medicina Geral e Familiar parar em sinal de protesto e fazer greve. Mesmo que isso implique um excesso de horas de trabalho de compensação nos dias seguintes.
“Já sei que vou fazer greve e que depois vou ter a agenda sobrecarregada. As pessoas estão doentes e precisam”, disse o médico de 32 anos. “As pessoas precisam”. Tem sido este o lema que, desde já, o persegue. Ainda esta segunda-feira, entrou na Unidade de Saúde Familiar (USF) de São Julião da Barra, em Oeiras, às 12.00 quando a sua hora de entrada seria às 14.00. Saiu mais de meia hora depois do previsto. Os utentes precisavam e, para agravar, uma colega está de férias. No final do mês, embora Daniel esteja em horário parcial, o trabalho adicional não significa um pagamento de horas extraordinárias. “O que acontece nas USF é que há uma compensação por desempenho”, explica. Mas isso até dá “de barato”. “40 horas não são suficientes para dar resposta às necessidades de 1.900 pessoas, as pessoas têm dificuldade em marcar a consulta”, explica. E não só as consultas. Todos os dias, Daniel Pinto atende “situações de doença aguda, porque têm febre, vómitos… E tentamos atender no próprio dia”, conta.
“A maior parte dos médicos de família já não está a trabalhar com limite de vagas para esse tipo de doença [aguda]. Acrescem as consultas de adulto, das crianças, das grávidas, do planeamento familiar. Além dessa atividade ainda temos contactos indirectos: as pessoas que precisam de receitas ou credenciais para exames, ou declarações, que emitimos sem necessidade de a pessoa ter que ir uma consulta presencial. Os telefonemas, em que temos de consultar o processo, para tomar decisões. Alguns médicos também usam o e-mail com os doentes. Hoje respondi a 3, seja com pedidos de esclarecimentos seja para o envio de algum exame que tenhamos pedido. Isto são atividades não previstas no nosso horário”.
Para o médico, as listas de utentes a que os médicos estão obrigados desde 2013 são demasiado “extensas”. Daniel Pinto encontra-se em horário parcial, porque dá aulas na Universidade, e tem por sua conta 890 utentes. Cerca de metade dos 1.500 previstos, para cada médico. “Estamos a ser pressionados para chegar a 1.750″, reconhece. Para os especialistas que se encontram no regime das 40 horas semanais, a fasquia eleva-se para 1.900 utentes no mínimo.
Daniel Pinto contesta a ideia do Governo de atribuir aos médicos de Medicina Geral e Familiar a especialidade de Medicina do Trabalho. “A maior parte dos médicos não tem formação em Medicina do Trabalho, os que têm fizeram-na por sua conta. Ninguém põe um oftalmologista a operar um coração”, alerta.
A isto junta-se a falta de meios materiais, que também surge como um alerta para a greve marcada para os próximos 2 dias. “Na nossa unidade de saúde familiar, muitas vezes não temos pílulas nem preservativos e isso pode ter uma grande implicação a nível da saúde.  Às vezes não temos luvas ou espátulas para ver as gargantas. Isto pode ser por cortes ou por desorganização da própria estrutura. Mas o que é certo, é que há 5 anos não notávamos esta falha de abastecimento”, descreve.
Uma falha também constatada pela vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rubina Correia. “Estamos solidários com os nossos colegas na greve porque está a ser difícil assegurar o nosso trabalho com qualidade”. Às listas de utentes e à falta de meios junta-se “a lentidão do sistema informático”. “Quando já estamos saturados e esperamos que as coisas melhorem, percebemos que vão dar-nos ainda mais uma missão”, desabafa.
Os médicos criticam ainda o “Código de Ética” que o Governo quer impor aos médicos. “A ser aprovado, eu não podia estar a contar-lhe tudo o que estou a contar. E isso seria um retrocesso enorme na informação prestada ao cidadão”, afirma o médico Daniel Pinto.
Observatório tece críticas ao governo
“Governação menos transparente e menos participada” é apenas uma das críticas do mais recente relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, em resposta aos “mecanismos que impedem ou limitam os investigadores em saúde de aceder a dados do SNS”.
O Observatório lembra como a crise económica influi na saúde de cada país e tece duras críticas à descentralização do Sistema Nacional de Saúde (SNS) que, na prática, considera que em termos de gestão está longe de um sistema centralizado.
“Verifica-se hoje em Portugal um conjunto de ações e medidas de política que evidenciam uma interrupção, senão um retrocesso, no processo de descentralização do sistema de saúde público. Tal opção, ainda que não programaticamente expressa pelo acual governo, poderá representar um elevado fator de risco do desempenho no futuro e na sustentabilidade do SNS, no quadro de um apertado programa de controlo externo das contas públicas por parte dos nossos credores, superior ao constante no Memorando de Entendimento negociado entre o Governo e a troika”.
O Observatório lembra o último relatório de avaliação do FMI, que em abril dava conta de uma redução de despesa no SNS de 1.500 milhões de Euros, menos 15% que em 2010, mas que as dívidas vencidas no setor continuavam a acumular-se, em particular nos hospitais EPE.