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sábado, 2 de agosto de 2014

Nesta novela de polícias (informadores) e ladrões, quem fugirá?

Numa altura em que no mercado se procuram responsáveis além de Ricardo Salgado e da sua equipa de administradores, está instalada a polémica entre o Banco de Portugal, o supervisor, e a KPMG, o auditor. Motivo? As contas do Banco Espírito Santo.
Os resultados semestrais da instituição financeira liderada por Vítor Bento revelaram um prejuízo histórico de 3.570 milhões de euros, deixando claro que a almofada do BES (2.100 milhões de euros), que o Banco de Portugal dissera existir para fazer face aos problemas, é, afinal, insuficiente, tornando necessário um aumento de capital, ou até o pedido de ajuda ao Estado, que já esteve mais longe de acontecer.
Nas últimas 3 semanas, o governador Carlos Costa garantiu em várias ocasiões que a situação financeira do BES, apesar dos problemas, era suficientemente sólida para acomodar as eventuais perdas resultantes da exposição à derrocada das empresas do Grupo Espírito Santo (GES). No entanto, as contas apresentadas na quarta-feira à noite revelaram uma realidade bem diferente e atiraram o rácio de solidez do banco para 5%, quando o mínimo exigido pelo Banco de Portugal é de 7%.
Nos últimos dias, o supervisor bancário colocou o trabalho da KPMG em dúvida. "No passado dia 11 de julho, o Banco de Portugal transmitiu publicamente que, tendo em conta a informação reportada pelo BES e pelo seu auditor externo (KPMG), o BES detinha um montante de fundos próprios suficiente para acomodar eventuais impactos negativos decorrentes da exposição assumida perante o ramo não financeiro do GES sem pôr em causa o cumprimento dos rácios mínimos em vigor", adiantou o BdP. A estocada veio a seguir: "Factos supervenientes, identificados pelo auditor externo apenas na 2.ª quinzena de julho e com um impacto negativo de cerca de 1.500 milhões de euros, vieram alterar substancialmente o valor das perdas a reconhecer na conta de resultados do 1.º semestre, pondo em causa o cumprimento dos rácios mínimos de solvabilidade vigentes".
Questionada a KPMG sobre não ter sido possível detetar os 1.500 milhões de euros, fonte autorizada do gabinete de comunicação da auditora adianta que "entregou atempadamente os relatórios que são sempre baseados na informação que as empresas auditadas fornecem", neste caso o BES. Além disso, acrescentou, "as empresas de auditoria não têm função de polícia. Não podem obrigar os clientes a fornecer informação antes, tendo de fazer fé na que lhes é prestada".
Ainda assim, segundo fonte próxima do processo, há uma explicação possível para a divergência entre a KPMG e o BdP: o governador terá avaliado a exposição do BES ao GES olhando para o relatório da auditora com data de março, que escrutina as contas relativas ao 1.º trimestre do ano, ou seja uma avaliação que não contempla maio e junho, meses durante os quais terão ocorrido operações financeiras que fizeram aumentar o prejuízo do banco.
De acordo com esta fonte, a KPMG identificou estes problemas entre o BES e o GES quando finalmente encerrou as contas do 2.º trimestre e deu nota oficial disso mesmo, mas entretanto o governador do BdP - que meses antes proibira expressamente o BES de aumentar a exposição ao GES - já se pronunciara com base nos números relativos ao 1.º trimestre do ano. Até ao fecho desta edição não foi possível obter uma reação do Banco de Portugal.
Até parece que que houve um furacão que destelhou o BES e os seus tentáculos, fazendo voar tudo o que eram notas e só não voaram os níqueis…
Até parece que esta implosão, como implosão que é, não foi “científica” e tecnicamente preparada por especialistas na matéria, encomendada por empreitada…
Até parece que não houve crimes de toda a ordem e durante anos, perpetrados por um pelotão de “fuzilamento” com uma voz de comando a ordenar: “Fogo!”…
Até parece…
E no meio desta hecatombe bem urdida, que tramará os depositantes (?) e em última instância o cidadão anónimo contribuinte (mais uma vez?), anda o supervisor (o polícia) e o auditor (o informador) a jogarem ping-pong sobre as culpas, que as têm, sem ninguém se preocupar em deter os “reais” responsáveis (mais uma vez?), que não podem esconder os factos hoje, se os esconderam até hoje…
Com mais este exemplo, todos os “especialistas” já concluíram que a supervisão é uma treta, mas mesmo assim insistem em continuar o método, alargando-o até a toda a União Europeia, feita por uma entidade, o BCE, que facilitará ainda mais as omissões no trabalho dos auditores e enganará com mais facilidade a supervisão…
Mas eles é que sabem, eles é que o ganham, eles é que são (ir)responsáveis e nós é que continuaremos a pagar, apesar de nos querem convencer de que a Europa avança para União Bancária com supervisão integrada, apesar de haver também quem pense que a União Bancária: necessária, mas incompleta
E no meio desta novela de ladrões, polícias e informadores, quem é que costuma fugir, se não for baleado?
E quem será baleado? O polícia ou o informador?
Somos todos uns “episódicos” com tanto “tramático” à solta, que até ainda acreditamos que há aparentes ilegalidades cometidas por banqueiros…
No mundo ocidental, continuamos a ser confrontados com aparentes ilegalidades cometidas por
banqueiros. Não é por isso de surpreender que surjam novas exigências para reformar a regulação do sistema financeiro.
Ricardo Reis
A sugestão mais frequente é: mais regulação! Só que os bancos comerciais são talvez as empresas mais reguladas da nossa economia. Têm mais regulamentos, mais supervisores e mais exigências de transparência nos seus negócios do que qualquer outro sector. O problema não é a quantidade de regulações, é a sua qualidade.
Por isso, que tal uma proposta que reduz dramaticamente a regulação, mas aumenta a sua qualidade? Consiste em exigir que um gestor de conta num banco não possa aconselhar investimentos financeiros aos clientes a não ser que tenha uma licença que, crucialmente, vem com responsabilidade fiduciária. Isto quer dizer que quem aconselha tem a responsabilidade legal de o fazer no melhor interesse da pessoa. Não bastaria ao gestor da conta ter de provar em tribunal que não defraudou o seu cliente, ou o enganou claramente, mas teria de mostrar que não deu conselhos que fossem reconhecidos na profissão como sendo imprudentes e inadequados.
Um exemplo talvez seja esclarecedor. Nenhum manual de finanças pessoais acharia boa ideia para um cliente do BES emprestar parte considerável do seu dinheiro a uma única empresa, como a Rioforte ou o ESFG. Outro exemplo: aqui há uns anos fiquei chocado quando soube por várias pessoas que os seus gestores de conta os aconselhavam a contrair empréstimos no banco para financiarem a compra de ações em privatizações, como as da PT ou da EDP. Isto é especulação financeira pura, que deve ser deixada só para os profissionais.
Com a licença e responsabilidade fiduciária, nestes 2 casos, os dois gestores podiam ser processados pelos clientes. Os bancos tinham a responsabilidade de reembolsar as pessoas pelas perdas e pagar multas, e os gestores perdiam o emprego, a licença, e a capacidade de mais alguma vez trabalhar no sector financeiro. Mesmo que o topo do banco, desesperado, pressionasse os seus trabalhadores a venderem maus produtos aos clientes, eles resistiriam internamente, pois seria a sua carreira que estaria em risco. Um sistema semelhante já existe para os auditores de contas.
Para esclarecer as boas práticas de investimento, usando o pessoal dos reguladores, mais alguns membros do sector privado e das universidades, rapidamente se podia constituir um Conselho de Boas Práticas. Ele resumiria em pareceres os conhecimentos que são consensuais em qualquer cadeira de finanças pessoais numa boa faculdade. Os membros desse conselho atribuiriam e retirariam as licenças, e seriam as testemunhas chave nos casos em tribunal. A maior barreira a esta reforma será a ineficiência dos nossos tribunais, mas este problema aplica-se a qualquer proposta de regulação, financeira ou outra qualquer.

Ecos da blogosfera - 2 ago.

A terra é um bom lugar para viver, as pessoas é que estragam…

Cape Town Stadium, África – A imagem de 1 de agosto de 2014
Observar o mundo, visto de cima, não é para todos. A menos que passe horas num avião ou numa nave espacial, algumas perspectivas apenas estão disponíveis para pilotos e astronautas. Com o Daily Overview, essa possibilidade torna-se real.
Lançado em dezembro de 2013, o site promete revelar todos os dias, uma imagem que lhe permita "apreciar a beleza e a complexidade das coisas que já construímos, dos sistemas que desenvolvemos, ou o impacto devastador que causamos ao nosso planeta”, segundo revelam os seus criadores.
Com o propósito de divulgar imagens do mundo não natural, onde a atividade humana “para melhor ou pior, moldou a paisagem”, o Daily Overview já publicou imagens de vários pontos do mundo, como a Cidade Proibida (Pequim), o Porto de Roterdão (Holanda), o Four Seasons Resort Bora-Bora (Polinésia Francesa) ou a prisão de alta segurança em Fremont County, no Colorado (EUA).
Com o uso da aplicação Apple Maps, o Daily Overview inspira-se na teoria do “Overview Effect”, ou do “Efeito Panorâmico” de Frank White (1987), para mostrar que ao “olhar para baixo” podemos ter uma nova perspectiva do mundo e da forma como o tratamos.
White defende que a experiência de observação do mundo, na perspectiva dos astronautas, causa uma “profunda compreensão da interligação da vida, misturado com o senso de responsabilidade para cuidar do ambiente.”
A curta-metragem “The Overview Effect” contém depoimentos de 5 astronautas que experienciaram este efeito e de outros comentadores que explicam a importância de compreender a sociedade e a relação com o ambiente.
Para conhecer o projeto e visualizar todas as imagens, visite também o Facebook e no Instagram do Daily Overview.
O Efeito Overview é uma mudança cognitiva da consciência, relatado por alguns astronautas e cosmonautas durante o voo espacial, muitas vezes durante a visualização da Terra em órbita ou a partir da superfície lunar.

Contramaré… 2 ago.

Luís Vieira disse que cerca de metade destes "pequenos investidores" compraram papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES), como a Espírito Santo International (ESI), a Espírito Santo Financial Group (ESFG) ou a Rioforte, desconhecendo o tipo de produto em que estavam a aplicar as suas poupanças e não conseguem ser reembolsados. "A informação que temos, tanto do Luxemburgo, como do próprio banco, é que estes produtos não são do BES e que são papel comercial da ESI, ESFG ou Rioforte", afirmou.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Eles dão-nos notas, nós damos-lhes, Moedas...

O nome indicado por Passos Coelho para integrar a futura Comissão Europeia foi o de Carlos Moedas, secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro.
Carlos Moedas, atual secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro que ocupa o cargo há 3 anos, foi um dos protagonistas nas negociações com os representantes da troika – FMI, BCE e Comissão Europeia para a aprovação do Orçamento do Estado para 2011, ao lado de Eduardo Catroga.
Coordenador do setor económico do Gabinete de Estudos do PSD, Carlos Moedas foi cabeça de lista por Beja nas últimas legislativas, tendo sido eleito, passando o PSD a ter um deputado pelo distrito alentejano pela 1.ª vez desde 1995.
Carlos Moedas nasceu em Beja e licenciou-se em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico em 1993, fez o último ano do curso na École Nationale des Ponts et Chaussées de Paris e trabalhou até 1998 na área de engenharia para o grupo Suez Lyonnaise des Eaux, em França.
No seu percurso profissional, o novo comissário europeu integrou a equipa do banco de investimento Goldman Sachs - na mesma altura em que António Borges trabalhou na instituição -, na área de fusões e aquisições, e foi gestor de projetos para o grupo Suez, em França, entre 1993 e 1998.
Trabalhou no Eurohypo Investment Bank e dirigiu a consultora imobiliária Aguirre Newman quando regressou a Portugal, em agosto de 2004, onde foi administrador delegado até novembro de 2008, altura em que criou a empresa de gestão de investimentos Crimson Investment Management.
Para uma visão mais apurada do seu currículo, talvez seja bom ler: Globalistas da Carlyle preparam investimentos milionários em Portugal, para lhe conferir o certificado de internacionalismo, que dizem que lhe falta e pelas ligações com gente poderosa...
Independentemente das competências do indigitado, conclui-se que vai para a Comissão Europeia por não ter que fazer no governo, deverá ser um daqueles porta-vozes de um qualquer Comissário, que vai dizer sobre os outros países o que diziam aqueles putos sobre Portugal e pronto!
Só me faz impressão que tenha sido este governo, a 1 ano de se despedir do poder (se o povo quiser), que vai continuar em funções, mesmo que o povo rejeite as políticas que implementou a favor das políticas do executivo que serviu. Este problema já o coloquei várias vezes, sempre que os partidos dos Comissários anteriores perdiam as eleições nos seus países e eles continuavam impávida e “democraticamente” a representar o poder derrubado…
Mesmo que a gente não goste da Maria Luís, mais pelas medidas do que pela pessoa (Juncker gostava), temos que reconhecer que tinha mais trunfos do que o Carlos Félix, sendo caso para dizer que eles dão-nos as notas e nós damos-lhes Moedas…
E fica aqui uma questão filosófica, que não tem a ver apenas com a UE, mas com outros altos cargos mundiais: por que são nomeadas as pessoas mais fraquinhas para os mais fortes cargos?
Só quererão acólitos?

Ecos da blogosfera - 1 ago.

Imagine…

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace

You may say
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world

You may say
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will live as one
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só

Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só

Contramaré… 1 ago.

Israel viola propositadamente o direito internacional no decurso de operações militares na faixa de Gaza, declarou a suprema comissária da ONU para direitos do homem, Navanethem Pillay. “Tudo isto tem o aspecto de violação propositada dos compromissos, impostos a Israel pelo direito internacional”, ao referir-se a numerosos ataques do Exercito Israelita contra “casas, escolas, hospitais e prédios da ONU” e apontou: “nenhum destes ataques me parece casual”.
De acordo com Pillay, vários eventos na faixa de Gaza podem ser avaliados como “violações do direito humanitário internacional e do direito internacional da pessoa humana” e acrescentou que os ataques a prédios, utilizados exclusivamente para a prestação da ajuda humanitária, podem ser qualificados como crimes de guerra.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Só “O BES é que sabia” que as “Da. Inércias” eram néscias?

O Banco Espírito Santo (BES) fechou o 1.º semestre do ano com um prejuízo de 3.577 milhões de euros. Estes resultados colocam directamente o BES com os rácios de capital muito abaixo do mínimo exigido pelo BdP.
A auditoria externa ao BES descobriu perdas de cerca de 1.500 milhões de euros na recta final da administração de Ricardo Salgado, afirma o Banco de Portugal, liderado pelo governador Carlos Costa. Estas perdas foram identificadas apenas “na 2.ª quinzena de Julho”, pouco antes da chegada da nova administração de Vítor Bento.
O supervisor e regulador bancário emitiu um comunicado após terem sido conhecidos prejuízos históricos do BES. Num dos pontos, o Banco de Portugal determinou "inibir os direitos de voto inerentes à participação qualificada que a Espírito Santo Financial Group, S.A. e a Espírito Santo Financial (Portugal) - SGPS, S.A. detêm no BES". A ESFG é a maior acionista do BES, com 20,1% do capital do banco.
O regulador anunciou  em comunicado a "suspensão, com efeitos imediatos, dos membros dos órgãos de administração com os pelouros de auditoria, compliance e gestão de riscos, bem como os titulares do órgão de fiscalização".
"Na medida em que a descrição de alguns dos contributos para esses resultados [relativos ao 1.º semestre] parece indiciar a existência de eventuais violações de normas legais, tais indícios irão ser devidamente investigados e, se for o caso, comunicados às autoridades competentes para os fins legalmente previstos", lê-se num comunicado de Vítor Bento.
O Banco de Portugal disse, esta quarta-feira, que factos recentemente descobertos no BES apontam para a "prática de atos de gestão gravemente prejudiciais" e admite consequências contraordenacionais e até criminais para a ex-equipa de gestão liderada por Ricardo Salgado.
A entidade liderada por Carlos Costa refere que a auditoria forense, que já está em curso, vai permitir "avaliar responsabilidades individuais" e aponta diretamente para eventuais responsabilidades de Ricardo Salgado, de Morais Pires e de "outros membros da Comissão Executiva que entretanto renunciaram aos cargos exercidos".
Oficialmente. E “offshoreamente”?
Daniel Deusdado
1. Antes de mais: o Banco de Portugal prometeu que não deixaria falir o BES - fosse qual fosse o prejuízo. O banco será intervencionado pelo Estado ou vendido, mas é demasiado importante para fechar. Numa expressão famosa, "too big to fail". E esta é a salvação dos depositantes e trabalhadores. Posto isto, o problema GES é colossal. A estrutura do Grupo Espírito Santo cruzou negócios e escondeu dívidas tão bem, e por tantos países e offshores, que não houve bancos de Portugal, do Luxemburgo ou da Suíça capazes de desemaranhar tanta "engenharia financeira". Um BPN em ponto grande. O resultado está à vista no BES: são precisos mais de 3.000 milhões de euros para limpar a casa - fora os milhões de milhões de buracos noutras praças financeiras com que Ricardo Salgado vai ter que se entreter. É que os tribunais, lá fora, não funcionam à "velocidade BPN". E se o que Salgado cometeu não é crime financeiro, o que será crime?
2. Vejamos a situação à lupa. Percebe-se agora muito bem o esforço titânico do presidente do BES para não pedir ajuda ao fundo da troika. Imagine-se o que seria alguém entrar para dentro da administração do BES e impedir criminosos empacotamentos de dívida decididos pela administração, de forma a que o mais simplório cliente do balcão comprasse papel comercial BES - sempre com o embrulho da santidade e solidez da marca (embora, por dentro, estivesse o financiamento para sociedades falidas como a Rioforte ou a Espírito Santo Investimento). Qualquer novo administrador fora da quadrilha que dirigia o BES não ficaria em silêncio perante uma decisão da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários) de impedir a venda, por exemplo, de papel comercial em subscrição pública, e depois o tio Ricardo contornar o regulador (dividindo os lotes abaixo dos 150 subscritores para que a operação fosse privada), deixando a CMVM de mãos atadas...
É neste ponto que Salgado se equipara ao americano Bernard Madoff, que depois de perder biliões de dólares e perceber que o buraco não tinha fundo, continuou a receber depósitos para que os que chegavam pagassem aos que iam saindo sem nunca chegar a ver o momento em que o dinheiro não chegava. Mas esse dia chega sempre. E as operações que agora o "novo BES" avalia em perdas de 3.000 milhões de euros são fruto deste crime, agora totalmente à vista.
Esqueçam se Salgado era ou não o nosso último pirata desde a saga dos Descobrimentos, um especialista em offshores ou então essencialmente um perverso lobista que levou muitos políticos a adjudicar obras públicas que demoraremos décadas a pagar. Isso é o passado - uns calaram, outros aproveitaram, outros não. Mas a operação Monte Branco é o menor dos males para o DDT ("Dono Disto Tudo"), é coisa de caução e décadas para a justiça portuguesa. Quando aparecerem os "chuis" da Bolsa de Nova Iorque, é que vamos ver.
3. Repare-se nesta pérola: o Banco de Portugal e a CMVM obrigam o banco a fazer uma provisão de 700 milhões para assegurar o pagamento de papel comercial que ilegitimamente o BES colocou através do balcão. O que fez o líder de uma casa respeitada há 150 anos? Dá a Tranquilidade como penhor - que, na altura, se dizia já valer apenas 300 milhões (erro de quem aceitou...). Mas pior: fez a Tranquilidade subscrever 150 milhões de euros de papel comercial da sua marca mais falida, a Rioforte. Resultado: agora que é preciso vender a Tranquilidade para pagar aos aforradores, ela não vale quase nada. Em termos líquidos, dos 700 milhões de garantias, restam 50... Bom, e ainda há quem ache que se está a bater em Ricardo Salgado por ele estar na mó de baixo. Esta tese não resiste a 1 dos 1.000 factos todos os dias a surgirem na praça pública.
4. A vida, entretanto, continua. O Governo assinou ontem o acordo com a União Europeia para gerir 25.000 milhões de euros do novo quadro comunitário, enquanto, em simultâneo, suspende os apoios à contratação de desempregados de longa duração ou de estágios para jovens - ambos sem aviso prévio e supostamente para piorar as condições de acesso, porque não há dinheiro. Faz o mesmo com os apoios à agricultura, considerando-se incompetente para gerir tamanho sucesso. Não se pode confiar um minuto nas regras do Governo.

Ecos da blogosfera - 31 jul.

Um retrato psicológico “a la minute”, que serve a muitos…

Muitos de nós já se terão questionado: será que o poder transforma as pessoas, alterando-lhes a personalidade, ou será que aqueles que chegam ao poder já apresentam traços ou características de doença psiquiátrica?
Pedro Afonso - Médico psiquiatra
É provável que ambas as hipóteses sejam verdadeiras, senão vejamos: um estudo (Davidson et al.) publicado em 2006 na revista Journal of Nervous and Mental Disease, após uma revisão de fontes biográficas de presidentes dos EUA entre 1776 e 1974, mostrou que 18 (49%) preencheram critérios que sugeriam doença psiquiátrica. Neste caso, depressão (24%), ansiedade (8%), perturbação bipolar (8%) e alcoolismo (8%) foram as doenças mais frequentemente reportadas. Também há vários relatos de que Winston Churchil sofria de depressão, a que chamava "o cão negro". Existem ainda inúmeros elementos biográficos que levam a suspeitar que, por exemplo, Mussolini, Mao Tsetung, Khrustchov e Saddam Hussein sofriam de doença bipolar.
Em 2009, num artigo publicado na prestigiada revista Brain, David Owen, médico e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, juntamente com o psiquiatra Jonathan Davidson, defenderam a existência de uma doença psiquiátrica, originada pelo exercício do poder, designada por "síndrome da presunção" (Hubris syndrome). Segundo estes autores, esta síndrome, que partilha elementos com o narcisismo e a psicopatia, corresponde a um padrão de comportamento provocado pela exposição a um cargo de poder por um período variável de 1 a 9 anos. Os sintomas identificados são vários:
- Perda de contacto com a realidade,
- Predisposição para ver o mundo como um lugar para a auto-glorificação através do uso do poder;
- Preocupação exagerada com a imagem e a apresentação,
- Forma messiânica de falar acerca do que estão a fazer, utilização recorrente do "nós" em tom majestático,
- Identificação de si próprios (ideias e pensamentos) com o Estado, como se fossem um só;
- Excesso de autoconfiança com desdém perante os conselhos ou críticas dos outros;
- Assumir apenas responsabilidade para um tribunal superior (história ou Deus), ao mesmo tempo que reitera a crença de que será recompensado nesse julgamento.
O ambiente de poder que rodeia a maior parte dos chefes de governo tem um impacto significativo sobre estas pessoas, mesmo as mais estáveis psiquicamente, uma vez que deixam de ter uma vida normal. Vivem muitas vezes em casas sumptuosas do Estado, rodeados de um séquito de aduladores, têm carros com motorista, seguranças e deslocam-se em ambientes protegidos: de uma suite VIP de um aeroporto para um palácio governamental, ou para um fórum com a elite empresarial. Ora tudo isto dá um nível de vida e um afastamento dos problemas do dia-a-dia que só algumas pessoas muito ricas podem igualar. Mas mais importante é que este estilo de vida origina ao líder político um grande isolamento. Por conseguinte, este começa a acreditar que não é igual aos outros homens. Fica emerso num mundo de ideias geradas apenas por si próprio, e aos poucos, sem se aperceber, vai perdendo o contacto com o mundo real.
A intoxicação pelo poder é um caminho que nem todos os indivíduos têm capacidade para neutralizar. Muitos acabam por ultrapassar a fronteira entre a decisão competente e a incompetência presunçosa. Os políticos, tal como os médicos, têm a vida das pessoas que governam nas suas mãos. Nalguns casos a responsabilidade pode ser ainda maior, já que podem decidir se colocam em risco a vida dos seus cidadãos. Por exemplo, podem decidir subtrair os rendimentos das pessoas, através dos impostos, remetendo os mais frágeis para a asfixia da pobreza; podem criar um clima de insegurança e medo, roubando a esperança no futuro a gerações inteiras; podem cobardemente incentivar a emigração ou de forma inábil obrigarem as pessoas a viver resignadamente num país onde floresce a miséria psicológica.
Importa sublinhar que a síndrome de presunção é um tema controverso e não surge, pelo menos para já, nos manuais de psiquiatria. Mas é curioso constatar que facilmente podemos identificar algumas das características descritas nalguns políticos portugueses. Seja como for, uma das formas mais eficazes de evitar os efeitos devastadores dos políticos presunçosos é através da detecção precoce dos sinais de "intoxicação pelo poder", tais como: a crença de que o sofrimento de um povo corresponde a lamechices, a utilização obsessiva de agências de comunicação e de eventos organizados para autopromoção, a preocupação excessiva com a imagem, a tentativa de controlo da comunicação social, o desdém pelos adversários políticos, a teimosia e a obstinação, o recurso a retóricas políticas extravagantes e enganadoras, nas quais surgem frequentes contradições, e a persistência perversa numa política que comprovadamente não funciona.
Tal como nas psicoses, os afectados pela síndrome da presunção não reconhecem "estar doentes", já que para eles isso é um sinal de fraqueza. Ou seja, raramente se demitem, devendo por isso serem demitidos. Para bem da sociedade e dos governantes afectados, os médicos que descreveram esta síndrome afirmam que ela tem cura, já que é propensa a desaparecer com o afastamento do poder. Finalmente, e citando Chesterton, a perfeita autoconfiança não é apenas um pecado; a perfeita autoconfiança é uma fraqueza. Os homens que acreditam "demasiado" em si mesmos estão todos fechados nos manicómios.

Contramaré… 31 jul.

Reza Moghadam, que desde 2011 liderou o departamento do FMI responsável pela definição dos programas de ajustamento dos países periféricos da zona euro, vai passar a ser, a partir do Outono, vice-presidente do banco norte-americano Morgan Stanley.
Foi no auge da crise da dívida na zona euro, com o FMI a ser chamado a participar na troika que realizou intervenções na Grécia, Irlanda e Portugal, desempenhando um papel fundamental na definição das políticas do FMI (e da troika) em relação a esses países, nomeadamente com a aplicação de medidas de austeridade que tinham como objectivo uma redução rápida do défice público.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

“Todos os nomes” de quem tudo fez para servir e salvar o país

José da Conceição Guilherme é um dos homens com quem Ricardo Salgado não pode falar por ordem judicial. Suspeita-se que o bancário tenha recebido cerca de 14 milhões de euros do empresário.
Sónia Simões
Os alegados 14 milhões de euros que ofereceu a Ricardo Salgado, como forma de agradecimento às portas que o banqueiro lhe abriu para prosperar em Angola, são apenas um entre vários gestos que teve para com diversos empresários e políticos que têm sido investigados nos últimos anos. “Zé Grande”, como é conhecido o misterioso empresário do ramo da construção, foi assim apelidado não por mero acaso. José da Conceição Guilherme, que nunca aparece publicamente, chegou a oferecer um almoço ao autarca de Oeiras, Isaltino Morais, por altura do seu aniversário – que lhe custou 3.400 euros. Era este o valor aproximado, aliás, dos cabazes que oferecia pelo Natal. Uma carrinha cheia deles. À frente de uma mão cheia de empresas, o empresário até “deu” o seu escritório ao ex-ministro José Sócrates, para a sede de uma empresa que teve com Armando Vara.
Uma das suspeições que recaem sobre Ricardo Salgado será a prenda de milhões que o empresário lhe deu. Quando testemunhou, em dezembro de 2012, o banqueiro justificou aquele valor como uma “liberalidade”. Segundo o Negócios, esta oferta em dinheiro teria sido um agradecimento. Salgado conhecia José Guilherme “há décadas” e este veio pedir-lhe conselhos para investir no Leste. O banqueiro tê-lo-á aconselhado a virar-se para Angola e até lhe deu contactos. E é por aqui que o empresário tem prosperado nos últimos anos.
Num interrogatório feito a um gestor da Akoya – a financeira suíça que está no centro da investigação Monte Branco – Nicolas Weber Figueiredo, detido em maio de 2012, confirmou a ligação do empresário a Salgado. Segundo a revista Sábado, Salgado tinha contas no Credit Suisse em nome da “entidade Savoices”, que recebeu “fundos com origem em contas controladas” de uma outra chamada Solutec. Por sua vez, os beneficiários da Solutec eram José Guilherme e o seu filho Paulo. O gestor explicou que estas sociedades seriam usadas para “transações financeiras no exterior de Portugal suspeitas de fuga ao fisco”.
Os “fundos” da Solutec enviados para a Savoices teriam origem em contas bancárias da família Guilherme abertas no BESA e cujos pagamentos resultavam de negócios em Luanda, designadamente um empreendimento situado na zona de Talatona, “ao que se recorda designado Dolce Vita”, prossegue a Sábado. Nicolas Figueiredo confirmou que “os movimentos financeiros (…) entre a Solutec e a Savoices poderão ter atingido o montante de cerca de 14 milhões de euros”.
Mas esta não foi a 1.ª vez que o nome de José Guilherme apareceu associado a negócios investigados por suspeitas de corrupção. Durante 10 anos o Ministério Público (MP) investigou alegadas irregularidades na câmara da Amadora. O processo acabou arquivado em finais de 2012. E foi no âmbito deste processo que a Polícia Judiciária (PJ) escutou, entre 2003 e 2005, José Guilherme e percebeu que as suas ligações a políticos e empresários decorriam ao mais alto nível.
José Guilherme, natural de Abrantes e residente na Amadora, onde está à frente de mais de uma dezena de empresas (algumas já extintas), foi escutado a falar com o antigo ministro-adjunto de Durão Barroso, José Luís Arnaut, com quem se encontrava pessoalmente no edifício da presidência do Conselho de Ministros. Pedia-lhe ajuda para uma licença de um couto de caça. Ao Diário de Notícias, que teve acesso ao relatório final da investigação, Arnaut admitiu ser amigo de José Guilherme e da sua família e disse nunca ter sido notificado de qualquer processo. Garantiu que nunca tomou qualquer decisão que lhe dissesse respeito.
Um dos outros contactos que a PJ escutou foi com o antigo secretário de estado da Agricultura e presidente da Câmara de Gouveia, Álvaro Amaro. Este terá tentado, através de Luís Marques Mendes, convencer a então presidente da câmara de Oeiras, Teresa Zambujo, para aprovar um projeto nos terrenos que comprara da Fundição de Oeiras.
Aliás, a propósito da discussão sobre o índice de construção no concelho de Oeiras, o Público deu conta em 2008 de uma reunião ocorrida, 4 anos antes, com Teresa Zambujo. Presentes estavam o dono dos terrenos da Fundição de Oeiras, o construtor civil José da Conceição Guilherme, bem como José Manuel de Sousa, presidente da empresa do Grupo Espírito Santo que gere o Invesfundo, o fundo de investimento fechado – que acabou depois por adquirir os terrenos.
A 3 de julho de 2005 o jornal Expresso publicava uma manchete onde dizia que o ex-autarca Isaltino Morais e alguns empresários de construção civil estavam a ser investigados. Entre eles estaria José Guilherme. O processo levou o autarca a sentar-se no banco dos réus, em Sintra, por suspeitas de corrupção. Numa das sessões, a ex-secretária e ex-chefe de gabinete de Isaltino falou na relação do autarca com os empresários locais. Um desses empresários, José Guilherme, chegou mesmo a pagar um jantar de aniversário do presidente camarário na Fortaleza do Guincho, que custou 680 contos (3.400 euros), disse na altura a principal testemunha de acusação, Paula Nunes. No final da sessão, o presidente da Câmara de Oeiras afirmou que “todas as testemunhas têm dito a verdade e é com a verdade que se faz um julgamento”, considerando que Paula Nunes não foi uma exceção.
No processo que investigava a autarquia da Amadora, e que foi arquivado, os inspetores da PJ referem ainda que José Guilherme e o filho chegavam a oferecer mais que um cabaz de Natal por pessoa, a autarcas e a funcionários de câmaras. Os cabazes eram comprados no Largo do Rato, em Lisboa, e custavam entre 3.000 e 4.000 euros.
O dinheiro não é um problema para José Guilherme. Neste mesmo relatório policial, José Guilherme é escutado a pedir bilhetes do Benfica ao já falecido Eusébio. “Eu não me importo que seja 200, seja aquilo for”. Alguns bilhetes foram depois oferecidos a Joaquim Raposo, então presidente da câmara da Amadora.
Nesta altura José Guilherme já tinha ligações à SAD do Benfica. A história já foi contada pelo Correio da Manhã e envolve, mais uma vez, o BES. Segundo aquele jornal, quando Manuel Vilarinho precisou, em 2001, de fazer um aumento de capital da SAD, os construtores José Guilherme e Vítor Santos avalizaram a operação, que foi conduzida pelo Banco Internacional de Crédito, entretanto fundido por incorporação com o Banco Espírito Santo (BES), em 2006. Atualmente o empresário detém 856.900 ações, o que equivale a 3,28% da SAD das águias.
A PJ traçou também ligações ao ex-deputado Duarte Lima. Em causa a história de um piano que o construtor comprou para que o político e advogado oferecesse a um jovem promessa da música de nome Domingos António. O caso ocorreu em março de 2004 e também foi apanhado nas escutas, como contou o Jornal i depois de o processo ser arquivado anos depois. Duarte Lima terá pedido que o ajudasse a adquirir o piano para oferecer ao rapaz. A PJ considerou que “Zé Grande”, como constatou que era apelidado José Guilherme, quis “agradar” ao deputado. O contexto político, diz a PJ, “era, e continuou a ser, bastante favorável a Duarte Lima, dada a sua proximidade ao novo primeiro-ministro [Pedro Santana Lopes]“.
Outra das ligações que a PJ estabeleceu durante as escutas foi ao próprio antigo primeiro-ministro, José Sócrates. A 16 de março de 2003, o filho de José Guilherme foi ter com José Bernardo Pinto de Sousa (primo de Sócrates) a uma dependência do BES para lhe entregar “um saco que ali se encontrava guardado há 6 meses de uma conta antiga de José ou de Paulo”, revelou a PJ. Pinto de Sousa foi referenciado no processo Freeport por suspeitas de ter recebido dinheiro.
José Guilherme terá também beneficiado, em 2005, com a alteração dos limites da Zona de Proteção Especial (ZPE) de Moura/Mourão, no mesmo dia em que foi alterada a ZPE de Alcochete – o que deu origem ao chamado processo Freeport. É no município de Moura que José Guilherme explora a zona de caça turística da Herdade dos Arrochais por despacho publicado em Diário da República em 2007, era Sócrates primeiro-ministro. Aliás, José Guilherme não se dedica só à caça por aqui (onde acabou por ser visitado por inspetores da PJ). O empresário está agora a dedicar-se à produção de vinho e até já deu nome a algumas garrafas, que têm feito sucesso em Angola. Por cá, só podem comprar-se através da internet.
As suas ligações a Sócrates vão mais longe. José Guilherme é gestor de uma série de empresas na zona da Venteira, Amadora. E foi numa delas que teve sede, em 1989, a empresa Sovenco – Sociedade de Venda de Combustíveis, da qual José Sócrates, Armando Vara e Jorge Silvério foram sócios durante cerca de 2 anos.
José Guilherme, homem que não aparece publicamente que não fala a jornalistas, chegou a ser referido numa outra notícia do Correio da Manhã, quando um advogado foi torturado e deixado misteriosamente à sua porta. O caso ocorreu em março deste ano e está a ser investigado pela PJ. O advogado Francisco Cruz Martins teve negócios em Angola e será responsável por um buraco de milhões de euros para o Estado angolano com a compra de ações do Banif.
O empresário José da Conceição Guilherme foi investigado e constituído arguido com outros 7 suspeitos numa investigação a alegadas irregularidades na câmara da Amadora. Mas o Departamento Central de Investigação e Ação Penal do MP arquivou o processo e nunca o acusou.
Ufa, que é obra! Mas não se deve dar crédito a tudo que aqui se historia, caso contrário estariam (quase) todos na cadeia, porque (quase) nada terá sido provado…
Não há dúvidas de que vamos conhecendo (quase) “Todos os nomes” sonantes e (quase) todos no ativo, quer servindo o país, tentando salvá-lo, seja no exercício do poder político, financeiro, empresarial, seja na urdidura da comunicação social (os moralistas…), o que lhes deve, doravante, travar a língua e obriga-los a olharem-se ao espelho antes de nos darem (os sábios) conselhos…
Esta gente trabalha mesmo em grande, à imagem do seu doador, enquanto o “Zé Povinho” não passe de um “Zé Pequeno”…
Assim nunca chegaremos a “Zé Povão”!

Ecos da blogosfera - 30 jul.

Quem terá sido o cegueta que não viu tantos pernetas?

Questionados sobre as responsabilidades na prevenção da crise no BES, o FMI e a Comissão Europeia desmarcam-se de culpas e afirmam que a supervisão do banco era do Banco de Portugal.
O Jornal de Negócios apresenta os resultados do seu questionamento sobre o facto de, em 3 anos de troika em Portugal, não ter havido “nem uma única uma referência a problemas no Banco Espírito Santo”.
As respostas vieram do FMI e da Comissão Europeia, que afirmam que não tinham mandato nem poderes nesta matéria. A culpa seria, portanto, do Banco de Portugal, regulador com poderes de supervisão.
“O Banco de Portugal é responsável pela supervisão prudencial dos bancos que fazem parte da jurisdição. A troika não tinha o mandato nem a capacidade para levar a cabo essa atividade durante o programa e não era responsável pela supervisão dos bancos”, cita o jornal económico.
Banco de Portugal desmarca-se
O Banco de Portugal, por seu lado, não aceita a batata quente: “as entidades do ramo não financeiro do Grupo Espírito Santo não se encontram sujeitas” à sua supervisão.
Entretanto, o facto de a troika nunca ter feito qualquer referência a problemas no BES, nos 3 anos de escrutínio das contas portuguesas, tem suscitado comentários de personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa e Guntram Wolff, diretor do think-tank Bruegel, que consideram estranho que o problema não tenha sido detetado pelas entidades internacionais.
Por muito que queiram sacudir a água do capote, quer o Governador do BdP, quer “os do costume”, está-se mesmo a ver que a super visão é mesmo uma especificidade do “Superman”, que é um tipo que foi feito aos quadradinhos, poder que os “donos de tudo isto” não têm nem veem o sol aos quadradinhos… Se vissem, a supervisão far-se-ia com eficácia e rapidez…
Claro que os “Supermen” da troika têm poderes de super visão que os nossos supervisores não têm (senão não os teriam chamado), pelo que as culpas e as desculpas têm que ser repartidas, entre eles, caso contrário ainda vão culpar os depositantes e responsabilizar os contribuintes, por não lerem os jornais de economia e finanças e jogarem na bolsa em vez de jogarem nos Casinos…
E a prova de que o FMI sabe mais do que a “irmã Lúcia” é esta nota à comunicação social, em que sabe o que se passou e poderá passar em todos os bancos portugueses, menos no BES…
Olha qu’isto!
Somos parvos, mas não somos asnos…
O FMI considera que o sistema financeiro português “tem sido capaz de suportar a crise sem uma disrupção significativa, suportado por um apoio de capital público significativo e medidas extraordinárias do Banco Central Europeu”.
“No entanto, tal como reconhece o Banco de Portugal, continuam a existir bolsas de vulnerabilidade [no sistema financeiro português], que tornam necessárias medidas corretivas nuns casos e supervisão intrusiva noutros”, alerta o fundo numa nota enviada à comunicação social, em resposta a um pedido de comentário sobre a situação no Banco Espírito Santo (BES).
No final da nota, a instituição de Washington diz que não comenta instituições financeiras individuais.

Contramaré… 30 jul.

Disparos de um tanque israelita atingiram hoje o depósito de combustível da única central de energia da Faixa de Gaza, interrompendo o fornecimento de electricidade para a Cidade de Gaza e várias outras partes do enclave palestiniano de 1.800.000 de habitantes.
A central já tinha sido atingida na semana passada e operava a cerca de 20% da sua capacidade, o que garantia apenas algumas horas por dia de electricidade para os moradores de Gaza.

terça-feira, 29 de julho de 2014

2 Prémios Nobel da Paz e nada fazem para os merecerem!

O secretário-geral da ONU afirmou esta segunda-feira que o conflito israelo-palestiniano não se resolve porque “há falta de vontade política”.
Ban Ki-moon apontou o dedo aos líderes das duas partes. “Por que é que estes líderes estão a permitir que os seus povos se matem um ao outro? Não é só responsabilidade, é moralmente errado” e pediu o fim imediato da violência em Gaza, dizendo que o território palestiniano está numa “situação crítica”, deixando o apelo: “Em nome da humanidade, esta violência tem de parar”.

Ban Ki-moon dá voz aos milhares de civis que choram, de ambos os lados.

O apelo do presidente Barack Obama por um cessar-fogo "imediato e sem condições" em Gaza afetou as relações já tensas entre Estados Unidos e Israel e colocou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu numa situação delicada com os extremistas do seu governo.
Os analistas interpretaram como um ultimato o pedido feito no domingo pelo presidente dos Estados Unidos ao primeiro-ministro israelita.
O braço executivo da União Europeia disse que vai dar 5 milhões de euros para ajudar nos trabalhos de ajuda de emergência na Faixa de Gaza. A decisão de enviar mais dinheiro para Gaza foi tomada depois de uma escola da Organização das Nações Unidas ter sido atingida por um míssil israelense, matando 16 pessoas.
O comunicado divulgado pela comissária europeia para Ajuda Humanitária Kristalina Georgieva chamou a situação em Gaza de “crise humanitária”. “Estou horrorizada com a perda de vidas e os ferimentos causados a civis em Gaza”, disse Georgieva. “É injusto que hospitais e escolas, onde crianças, mulheres, doentes e idosos aterrorizados buscaram abrigo, se tenham tornado alvos militares.”
A ONU, pela voz de Ban Ki.moon lava as mãos como Pilatos, mas devia decidir como Salomão, se não for capaz de interpretar o genocídio segundo o Direito Internacional, já que não consegue fazer cumprir o pedido de um cessar-fogo imediato e duradouro “decretado” pelo Conselho de Segurança.
Os EUA, pela voz de Obama, faz de conta que é neutro, mas vai assistindo, de longe, à carnificina de inocentes, enquanto no seu país os próprios judeus, ali residentes, se vão manifestando contra a evidência de um crime humanitário, enquanto Kerry nem fazer de conta sabe e dá uma no cravo, outra na ferradura… Netanyahu faz orelhas moucas aos “ultimatos” de Obama, porque sabe que a sua voz não chega ao céu.
A UE, pela voz da sua comissária europeia para Ajuda Humanitária, chora lágrimas de crocodilo por Gaza, enquanto inventa sanções contra a Rússia pelo abate de um avião com 298 mortos, e oferece uns euros para ajuda de emergência aos sobreviventes e às famílias dos mais de 1.000 mortos... Nem se fala de humanidade, crime ou desproporcionalidade, dá-se uma esmola.
E, foi por este comportamento perante a guerra, que Barack Obama e a União Europeia ganharam o Prémio Nobel da Paz?
Um grupo de personalidades escandinavas anunciou hoje que pediu à polícia norueguesa que abra um inquérito sobre as condições de atribuição do Prémio Nobel da Paz por considerarem que nalguns casos estas não estão em conformidade com o testamento de Alfred Nobel.
É cínico, com tanto morto…
 “Temos de os matar – não só os militantes do Hamas, mas toda a população de Gaza!" É o que diz a um correspondente do Guardian um soldado israelita de 22 anos no funeral de um camarada seu, um dos 18 soldados israelitas mortos na enésima invasão de Gaza, um miúdo de 20 anos que fazia o serviço militar obrigatório.
"Não temos escolha: se não lutarmos até ao fim, eles matam-nos." Nas ruas de Jerusalém todos se dizem contra um cessar-fogo: querem que se “dê cabo do Hamas. E isso leva tempo”. Perguntados pelas centenas de palestinianos mortos (até ontem de manhã eram mais de 600, o equivalente aos passageiros de 2 aviões iguais ao da Malaysia Airlines abatido na Ucrânia), 80% dos quais civis, segundo a ONU, 20% crianças. A lengalenga sinistra é a mesma de sempre: “Muita gente foi morta porque o Hamas usa escudos humanos. Os palestinianos não têm respeito pela vida, nós é que temos.” De descrições de inimigos fanatizados e sem apego à vida está a História cheia: os americanos achavam o mesmo dos vietnamitas, era o que os nazis diziam de soviéticos e jugoslavos na II Guerra Mundial... Como explica uma porta-voz da B'Tselem (uma ONG israelita de direitos humanos), “os israelitas não negam que [os palestinianos] morram; simplesmente fazem um raciocínio que os culpa pela sua própria morte”. E queixam-se de que os media “mostram imagens de crianças mortas sem explicar o contexto do conflito” (Guardian, 20 e 21.7.2014).
Pois é, o contexto... A Amnistia Internacional (AI) tem repetido que é precisamente o inverso que se passa: nas sucessivas operações punitivas sobre Gaza, “soldados israelitas utilizaram civis palestinianos, crianças incluídas, como escudos humanos durante as operações militares”. Foi o que aconteceu na operação Chumbo Fundido (22 dias entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009): cerca de 1.400 palestinianos mortos, “incluídas pelo menos 330 crianças” 5 anos depois (e, pelo meio, outra operação, em 2012, que matou mais 160 palestinianos), tudo se repete: Israel, ainda que incomparavelmente menos pressionado que qualquer outro ator internacional, martela a opinião pública com esta propaganda de que, se há mortos, a culpa é da forma perversa como os seus adversários fazem a guerra – mas quando a poeira assentou em 2009, o que as organizações independentes (a AI, as agências da ONU) comprovaram é que o Exército israelita atacou “15 dos 27 hospitais de Gaza”, “uma trintena de ambulâncias”, “matou 16 membros do pessoal médico”. Ao contrário do que dizia a propaganda israelita, “a AI não encontrou indício algum de que os combatentes do Hamas ou doutros grupos armados tenham utilizado os hospitais para se esconder ou para conduzir ataques, e as autoridades israelitas não forneceram provas dessas alegações”. Pelo contrário: “impediram deliberadamente a ajuda humanitária e as equipas de socorro [da Agência das Nações Unidas para os Refugiados e da Cruz Vermelha] de entrar em Gaza, ou obstaculizaram a sua circulação, atacaram veículos, centros de distribuição e pessoal médico.” (AI,Relatório Anual 2010)
Por tudo isto é verdadeiramente patética a discussão sobre se é “desproporcionada” a reação israelita aos rockets lançados a partir de Gaza. Desproporcionada, não; ela é um crime internacional, feito enquanto o resto do mundo olha para os restos do avião Malysia Airlines! Invoca Obama o direito de Israel a defender-se, como se Gaza fosse um país independente que agride outro país independente. Não: é Israel que desde há 47 anos ocupa Gaza (e a Cisjordânia, e Jerusalém Oriental) ilegalmente, e a bloqueia por terra, ar e mar (nenhum barco se pode aproximar da costa, nenhum avião pode aterrar sem autorização militar israelita) desde 2007, controlando todos os seus acessos (salvo Rafah, no qual tem a colaboração do Egito). A retirada militar israelita em 2005 não alterou em nada o estatuto de território ocupado. Em apenas 360 km2 (o tamanho do concelho de Sintra) vivem 1.800.000 de pessoas, 43% delas menores de 14 anos, 80% dependendo de ajuda humanitária por causa do desemprego, da pobreza extrema. Para a AI, “a amplitude do bloqueio e as declarações dos responsáveis israelitas sobre os seus objetivos demonstram que esta medida é uma forma de castigo coletivo infligido à população de Gaza, em violação flagrante do Direito Internacional.”
De todo o quadro de ilegalidades cometidas por Israel que a UE e os EUA toleram, o bloqueio a Gaza supera tudo. Nada há neste planeta mais próximo de um gueto (o mundo deveria pensar a que é que isto soa...) no qual se fecham, até à exasperação total, quase 2.000.000 de pessoas. Os israelitas – e esta coisa a que cinicamente se chama comunidade internacional – comportam-se como se eles fossem todos “terroristas” do Hamas. Os media (veja-se o Huffington Post, 13.7.2014) mostram moradores das colinas próximas de Gaza sentados em cadeiras de praia a aplaudir o espetáculo dos aviões e drones que bombardeiam Gaza. Trazem pipocas, fumam cachimbos de água – enquanto a poucos quilómetros de distância famílias inteiras ficam soterradas debaixo dos escombros, crianças são levadas em desespero para hospitais bombardeados, onde se operam feridos num corredor... “Os palestinianos não têm respeito pela vida!”